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2.7 Gordofobia

2.7.3 Feminismos e gordofobia

Como já dissemos anteriormente, o fato do padrão de corpo feminino magro e jovem no Brasil é uma questão cultural. O movimento feminista está ciente disso e tem a noção de que esta visão não irá mudar tão facilmente. O feminismo sobre o qual iremos discorrer aqui é feito por mulheres plurais que criticam o machismo e as questões de padrões de corpo.

Em um artigo da Revista Fórum, “As questões que o feminismo abraça”, pela escritora Jarid Arraes, que entrevistou várias feministas, deixa claro o posicionamento destas mulheres em relação ao movimento plus size e à gordofobia.

O que percebemos são discursos muito ligados aos das blogueiras plus size, em relação à aceitação do corpo, como o “ame suas curvas”. O diferencial são as questões voltadas aos discursos mais hostis e menos afetuosos, mais severos e menos suaves. Neste aspecto, ele se mostra muito mais eficaz socialmente, pois é argumento nas

fundamentações e nas questões políticas sociais e menos na mudança interior da mulher, como é a questão da autoestima. "É importante que a mulher ame o seu corpo, mas é ainda mais importante que sua dignidade seja resgatada, para isso é preciso combater a gordofobia que vem do lado de fora, de uma sociedade hostil.” (ARRAES, 2014).

Essa afirmação acima mostra que as militantes querem combater socialmente um problema que vem de fora, da sociedade, que afeta diretamente a elas. Diferente do movimento plus size que tenta mostrar para a mulher que independente da sociedade preconceituosa ela pode se sentir bem se estiver bem.

O papel da feminista militante é denunciar abusos e defender os direitos sociais

das mulheres, e no nosso caso a discriminação em relação ao estereótipo do corpo. Elas

promovem que o sofrimento por ser gorda pode ser superado a partir do momento em que se quebra as questões sociais do estilo de padrão midiático de beleza. Ir em busca da beleza, mesmo gorda, não é prioridade para o movimento. A mulher pede por respeito, sendo “bonita” ou não e ela deve ser respeitada pelas suas escolhas.

Para as feministas, ser bonita não é a questão do problema, na verdade isso não importa, o que está em questão é a aceitação do corpo e os questionamentos sociais dos padrões midiáticos de que a beleza é uma construção social e cultural. Narrativas, e aqui repito, muito parecidas com os das blogueiras plus size. A diferença é que as blogueiras

plus size falam que todas as mulheres são bonitas, para se aceitarem e se sentirem bonitas

(autoestima), que não é o padrão que deve ser mudado, mas sim elas próprias.

Existem poucos espaços de debate para as mulheres gordas e feministas envolvendo o levantamento das dificuldades e situações e resoluções do que pode ser feito para a melhoria da vivência da mulher. Pois além das mulheres sofrerem discriminação, elas ainda sofrem bullying pelo fato de ser gorda.

As ideias do feminismo podem hoje ser fundamentais para ajudar as mulheres na busca de seus direitos e na construção de uma consciência corporal positiva. Além disso, os ideais do feminismo podem ajudar na construção de argumentos que lutem pelos direitos das mulheres gordas. A questão do sofrimento com o corpo em relação ao padrão de beleza é encarada com um ponto de partida para as modificações internas e externas dessa mulher. Tanto no movimento plus size, como no feminismo dizem que não é o corpo da mulher gorda que está errado, mas sim a sociedade que bombardeia por todos os lados corpos magros, sarados e malhados, dizendo e mostrando que o certo é o da capa de revista e não o seu próprio corpo. Que seu modo de agir e pensar devem seguir padrões determinados. Como se essas revistas fossem guias ao sucesso à felicidade. (PRADO,

2013). Se libertar desses discursos midiáticos torna-se praticamente impossível. "Para enfrentar essa realidade, é necessário um trabalho contínuo que quebre os hábitos machistas; é preciso conscientizar as pessoas de que o corpo feminino não é propriedade pública e que ser gorda não é uma licença para discriminação." (ARRAES, 2014)

Para Arraes, na citação acima, a questão do preconceito com as mulheres está diretamente ligada ao machismo, ponto que não é de discussão nesta dissertação. Mas o que nos interessa na citação de Arraes é o fato da pessoa ser gorda ela sofre preconceito. Para as feministas, a quebra do padrão de beleza somente será possível a partir da conscientização social e um movimento político.

Para as feministas as relações das transformações estéticas através de procedimentos como cirurgia plástica, redução de estômago ou tratamentos, não invalidam a luta contra os padrões. Pois mesmo em busca do tal padrão, a mulher ainda continuará sofrendo com a imposição dos mesmos já que são atitudes naturalmente culturais e as mulheres, independente de quem ela seja, estará sujeita a essas convenções.

Algumas feministas criticam o movimento plus size em relação à etiqueta numerada das roupas, ao formato de corpo que a moda plus padroniza, que são ditas como “falsas gordas”, ou seja, aquelas mulheres que vestem manequim 46, que possuem um corpo mais roliço. Este tipo de corpo não se encaixa no que é o plus size. Em relação a numeração da indumentária, elas criticam empresas que fabricam roupas com numeração limitada, até o número 54, por exemplo. É o que comentamos sobre o “gordo midiático”. Existe dentro das questões empresariais um padrão de roupa que restringe os moldes maiores de roupas. Feministas falam que o plus size é uma forma maquiada de integração dos gordos. Quem faz este comentário é a blogueira Jéssica Balbino, jornalista e escritora, autora dos livros “Hip-Hop – A Cultura Marginal” (2006) e “Traficando Conhecimento” (Ed. Aeroplano, 2010). "A mulher que continua fora do padrão estabelecido pelas castas mais altas, segue sem conseguir comprar roupas, segue sem conseguir se encaixar. Mas está tudo maquiado pelo selo de plus size. Do 44 ao 54”. (BALBINO, 2014)

Novamente percebemos nesta citação que há um padrão dentro do plus size, as questões mercadológicas estão explicitas e não a questão da diversidade de corpo.

Não só feministas, mas militantes anti gordofobia criticam o movimento plus size, por acharem que blogueiras plus somente falam de moda e não discutem questões mais complexas e profundas em relação a atuação social e de diretos legais.

Em nossa dissertação, consideramos essa visão como equivocada, pois as blogueiras que desde 2009 estão abrindo portas para as mulheres se sentirem bem com

seu corpo fora do padrão midiático de beleza. É uma forma de inclusão da mulher gorda, ela acabou sendo mais vista socialmente, mesmo sendo pelo mercado da beleza. Gizelli

Sousa blogueira feminista e escritora do blog Lugar de Mulher38 tem uma visão diferente

a favor das blogueiras plus size com ela fala: "temos muito o que aprender com as blogueiras plus   size de moda, que estão há anos desbravando a internet e tocando em assuntos que dizem respeito à mulher gorda”. (SOUSA, 2014).

O que podemos entender por todas as questões levantas em relação ao feminismo e a gordofobia é que o feminismo usa de meios políticos para combater a gordofobia, contrapor o preconceito perante uma sociedade com argumentações sensatas, diferente do movimento plus size que é mais direcionado as questões do bem estar e autoestima. O movimento feminista também tem a capacidade de agregar forças para combater a o preconceito no ciberespaço, pois por esta ferramenta elas podem se expressar livremente, mas da mesma forma serem criticadas e ameaçadas por levantarem a bandeira por um corpo mais democrático.

Neste capítulo fizemos uma cartografia pelo do universo plus size, passando por todos os temas em que o corpo plus size se manifesta. No próximo capítulo iremos investigar os discursos das blogueiras, de como elas lidam com o preconceito e como são os discursos em relação a autoestima, os cuidados de si e a busca pela felicidade.

                                                                                                                           

CAPÍTULO 3

Neste capítulo iremos discorrer sobre o fenômeno da força comunicativa dos blogs focados no mundo plus size. Iremos analisar suas criações de rede, a natureza de suas narrativas (LEÃO, 2004), a formação de laços afetivos e de confiança. Partimos do pressuposto de que as blogueiras conseguem formar e manter estes laços que são denominados Capital Social conceituado por Costa e as interações entre blogueiras e seguidoras por Santaella.

Para as discussões e reflexões sobre o tema trazemos um fato ocorrido dentro do meio plus size que foi o falecimento de uma seguidora devido a pressões de padrões estéticos.

Para finalizar iremos refletir sobre a relação do bem-estar do corpo e suas reflexões sociais dentro das narrativas das blogueiras com base em Freire Filho e Sibila.