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As construções que identificam as leitoras podem afetá-las de inúmeras maneiras conforme o tema abordado dentro do universo plus size, seja ele a moda, a aceitação do corpo através da autoestima, a luta pela inclusão social de um corpo fora dos padrões.

Importante nesta dissertação de mestrado é falarmos que a identificação pode ocorrer também pelo biótipo das pessoas. No entanto, isso não significa que, no público de leitoras desses blogs, não existam pessoas magras. Na verdade as blogueiras falam muito sobre autoestima e isso atrai várias pessoas independentes da sua constituição física. Mas quando ocorre a identificação com o biótipo, a narrativa é a base de como elas enfrentam problemas parecidos devido ao corpo volumoso. As leitoras acabam criando laços com algumas blogueiras devido às histórias de superação e autoestima e falando que o corpo gordo também é normal. Essas redes ajudam a superar um mal-estar vivido por pessoas que não se encaixaram dentro de um padrão estético apresentado nas mídias. Na maioria dos casos, as pessoas que estão fora dos padrões se sentem frustradas, tristes, pois por mais que lutem para emagrecer, sua constituição apresenta características que não as ajudam a perder peso, como as questões de estrutura física ou mesmo fatores genéticos e de saúde deixando-as vulneráveis a comentários externos.

As blogueiras, contando suas histórias, demonstram como combatem a imposição cultural do padrão de beleza midiático através de sua postagem a fim de promover o bem- estar, não só social, mas físico e psicológico. Para exemplificarmos como as narrativas funcionam, iremos discutir algumas postagens e comentários feitos por usuários e fãs das

fanpages.

No blog “Sou gordinha Sim” a proprietária Helena Custódio,devido ao sucesso

da página, criou o blog wordpress em 2012 com uma média de visualização de 723 pessoas em dias normais. O pico máximo de visualização deste ano foi o mês de abril que chegou a 3253. No mesmo dia da inauguração do blog, uma das suas fãs postou a seguinte mensagem:

Amei o blog… Quem criou esta de parabéns

Sou gordinha e tenho muita vergonha de colocar um biquíni e por sinal na frente da minha família eles são muito preconceituosos =\ vivem falando que eu tenho que emagrecer ficar linda como eles dizem que eu era quando solteira, quando estão comigo acho que fazem para me provocar só comentam sobre comida Diet x Light afff não aguento mais, isso sem flar na tiração de sarro :@ Casei com o homem maravilhoso porem gordinho e a minha família não

aceitou sofri muito com o preconceito deles

Porem hj em dia quando leu o blog Sou Gordinha Sim, ou os post no face fico mais feliz em saber quem as gordinhas estão bem mais a vontade e to seguindo

a mais linha de raciocínio :) GORDINHA E FELIZ s2 (Blog “Sou Gordinha Sim” postado dia 08/fev/2014

Em resposta, a criadora da página “Sou Gordinha Sim” disse: "Linda seja feliz independente do seu biótipo não se importe com que os outros falam, o mais importante é ser feliz com saúde claro beijos Helena."

Desta forma, o comentário em aberto são formas de interação participativa que encontramos nos blogs e nas fanpages. Quando a leitora comenta: “quando leu o blog Sou Gordinha Sim, ou os post no face fico mais feliz em saber quem as gordinhas estão bem mais a vontade e to seguindo a mais linha de raciocínio :) GORDINHA E FELIZ”, podemos identificar a força do capital social do blog na identificação com seu problema e deixá-la mais feliz, da cultura participativa e da formação de laços na parte em que engloba “as gordinhas”.

O blog “Grandes Mulheres”, de Paula Bastos, jornalista, foi criado em novembro de 2009 e em um texto da blogueira denominado “Quando me tornei uma gordinha

legal”, ela narra suas dificuldades com alguns relacionamentos que teve, que fez de tudo

para alguns homens, para que se sentisse aceita e superar o fato de ser gorda. Mas ao mesmo tempo começou a perceber que tudo o que ela fazia para agradar ao outro, ela poderia fazer para agradar a si mesma, portanto, gostar mais de si mesma e elevar sua autoestima. Ela termina o texto da seguinte maneira:

Eu sou uma mulher maravilhosa e não uma gordinha legal, entendem a diferença? Você também pode ser: deixe o passado para trás, encare o desafio da mudança e dê um passo de cada vez para conseguir viver melhor. É assim que as coisas mudam, é assim que a gente progride e é isso que faz a mágica acontecer! Estamos juntas! Paula Bastos (blog Grandes Mulheres postado em 17/fev/2014)

Em um dos comentários:

Parabéns pelo seu texto! Adorei e assim como muitas me descreveu, não me considero gordinha e o peso até q não é um problema, mas a auto estima sim… Sempre achei, como você, que tinha que me acabar para agradar os outros e só me ferrei…

Pode ter certeza que ganhou mais uma fã… Mais uma na luta para se aceitar como é…

Beijos

No caso do depoimento de Paula Bastos pode ser percebida a identificação com a narrativa da história como Malini e Antoun propõem; os problemas de namoro em relação à sua insegurança com o corpo. Do modo que ela mudou consigo mesma e como ela fala para a leitora também seguir os passos dela. Importante salientar que o depoimento não

veio de uma leitora gorda, com problemas em relação ao seu peso, mas sim com relação à sua autoestima, podemos apontar aí a formação do capital social.

O blog de Kéka Demétrio fundou sua fanpage em 2009. Ela é uma das atuantes contra o preconceito contra os gordos, sendo convidada pela jornalista Ana Paula Padrão a escrever uma coluna semanal no blog Tempo de Mulher, portal do MSN, postando na

sua fanpage, com 15.42639 seguidores no dia 30 de dezembro de 2013, a seguinte frase:

Coisa chata!! Véspera de Natal, Fim de Ano, e a mídia abarrotada de: Dietas para o ano novo; Porque você não consegue emagrecer; Dicas para não extrapolar nas festas de fim de ano; Alimentos que você pode comer e não vai engordar nas festas de final de ano e blá blá blá. Ahhhh, tenham dó!!! Deixem a gente viver uns dias sem essa pressão toda, sem essa cobrança estúpida. Já nem se pode mais viver as festas de final de ano em paz!!!!! (Fanpage Keka Demétrio postado em 30/dez/2013)

Um dos comentários:

“Vanessa”: Keka Demétrio hoje estou aqui para te desejar em FELIZ 2014 e te agradecer por ter feito a diferença em minha vida,á partir do momendo que te conheci aprendi a me amar,a nw me importar tanto com as opiniões alheias,a ter auto-estima mesmo gordinnha!Aprendi que emagrecer é para saude e nw por beleza pqe essa nos acompanha independente do peso!A beleza interior essa só nós mesmos podemos ver e sentir e essa nw tem preço!!Que Deus continue iluminando vc para que vc possa continuar iluminando nossas vidas!!FELIZ 2014

Keka Demétrio comenta sobre as questões das propagandas da mídia com a cobrança de manter o corpo em forma, podemos aí apontar um exemplo de dispositivo de poder com relação à vigilância do corpo. Em relação ao espaço aberto de interação, a leitora cita que aprendeu com a Keka a se amar e não importa com a opinião alheia.

Nesses pequenos exemplos, dentre vários outros que poderíamos ter trazido, podemos perceber nas postagens das blogueiras e nos relatos dos fãs que as seguem, o acolhimento, o carinho, os “laços de afetos” que são demostrados. Com prioridade percebemos também a presença do outro, como nos exemplos acima: a família, o namorado ou mesmo a mídia, sempre querendo trazer este corpo diferente para dentro do padrão midiático. Temos então a presença do outro nos relacionamentos e a identificação com as narrativas expostas em relação à “precariedade das aparências”, de tal forma que

                                                                                                                           

a leitora do blog ao se deparar com essas narrativas consegue então olhar um pouco para si e consegue deixar de lado, por alguns minutos que seja, a sua insegurança com o corpo.