LUME E O TEATRO FÍSICO?
Alana Saiss Albinati171 Faculdade de Artes do Paraná
RESUMO
Este trabalho é parte de uma pesquisa de iniciação científica que teve inicio em julho de 2011 e será concluido em junho de 2012. A pesquisa completa intitula-se “Teatro
físico: de Barba172 à Burnier173”, busca estabelecer as relações entre esses dois
diretores teatrais juntamente com os seu respectivos grupos “Odin Teater” e “LUME
Teatro – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp”174. Além disso
pretende-se encontrar como eles identificam sua relação com o termo “Teatro Físico” (termo este que geralmente é utilizado para descrever e integrar suas linhas de pesquisa). Até o presente momento analisou-se a relação deste termo com o grupo LUME Teatro e, sendo assim, essa é a tematica deste resumo expandido.
Palavras-chave: teatro físico - origem; teatro físico – definições; LUME Teatro;
171
Graduanda do ultimo ano curso de Bacharelado em Artes Cênicas da Faculdade de Artes do Paraná.
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Eugenio Barba nasceu em 1936. Discípulo de Jerzy Grotowski. Em 1964 cria seu próprio grupo, Odin Teatret Nordisk Teaterlaboratorium, no qual é diretor até hoje. Também desenvolveu a antropologia teatral.
173
Luis Otavio Burnier (1956 – 1995). Estudante da Mímica Decroux (1975 – 1983), funda em 1985 o grupo LUME Teatro – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas da Unicamp. No inicio da década de 80 estabelece relação artística e de amizade com Eugenio Barba e seu grupo Odin Teatret.
174
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS:
A necessidade de denominar e entender de forma racional as experiências práticas me fez querer explicar as técnicas de um treinamento de ator que iniciei em
2006 com o diretor Hermison Nogueira175. Durante este período ouvia com frequência
que nossa prática tratava-se de teatro físico. Então, algumas perguntas deram início a pesquisa que culminou no projeto de iniciação cientifica “Teatro Físico: de Barba a Burnier” com a orientação de Diego Baffi, sendo elas: Teatro físico, o que é isso? Não é
todo teatro que é físico?
MÉTODOS E RESULTADOS
Na referida pesquisa de iniciação cientifica foco em trabalhar com os grupos Odin Teater e LUME Teatro, isso porque as pesquisas destes grupos conversam, e por vezes, recebem o título de pesquisadores de teatro físico, sem necessariamente concordarem com isso. Um exemplo é o artigo “Elementos Do Treinamento Do Ator Que Potencializam a Criação Teatral”, de Marília Gabriela Amorim Donoso, que trata
da relação do LUME com a Cia Luis Louis176 onde ela afirma: “Estes grupos, embora
com linhas de pesquisa diferentes dentro do universo do teatro físico, têm em comum
o fato de trabalhar o ator a partir da pré-expressividade.”177. No site178 da Cia. Louis
Luis há um panorama do teatro físico no Brasil, relacionando-o com a história da mesma, onda há a seguinte afirmação: “O Brasil conta, hoje, com centros de pesquisa na área do Teatro Físico que se equiparam aos melhores do mundo. Destacam-se: o
Grupo Lume, Barracão Teatro, Solar da Mímica e o Estúdio Luis Louis.”179
Assim, inicio esta pesquisa a partir do que pode ser entendido como uma possível origem e algumas definições para o termo:
O termo teatro físico, tem sua origem na Inglaterra na década de 70 pelo ator/dramaturgo/diretor Steven Berkoff que depois de ter estudado em Paris com Jacques Lecoq e Etienne Decroux retornou a Inglaterra adaptando e dirigindo espetáculos sobre textos clássicos, explorando ao máximo a capacidade física de seus atores, a crítica inglesa na época sem saber como definir o trabalho de Berkoff, o chamou de teatro físico, o termo acabou se espalhando e também sendo apropriado por outros diretores e companhias que começaram a explorar a fisicalidade dos atores na sua atuação em contraste com o teatro extremante baseado no texto falado onde o corpo era completamente ignorado. 180
Se formos atrás de possíveis definições para o termo, encontraremos ainda:
175
Diretor, ator e professor do curso extracurricular de teatro do Colégio Estadual do Paraná
176
Centro de pesquisa e criação da mímica total do Brasil, com sede em São Paulo/Brasil
177
DONOSO, Marilia Gabriela Amorin. Elementos Do Treinamento Do Ator Que Potencializam a Criação Teatral.
178
http://www.cialuislouis.com.br/index.htm Acesso em 15/maio/2012
179
http://www.cialuislouis.com.br/tf-panorama.htm Acesso em 15/maio/2012
180
O termo Teatro Físico tornou-se conhecido nas artes cênicas nas ultimas três décadas do século XX. Cunhado na Inglaterra, vindo a definir uma extensa gama de criações que transitam entre a Dança, Teatro, a Mímica e o Circo. É resumido como a síntese entre fala e fisicalidade, é utilizado para definir todo o tipo de teatro que não tem como ponto de partida para a constituição da cena o texto escrito e onde a participação colaborativa dos atores, diretores, cenógrafos, dramaturgos e demais criadores seja crucial.181
A definição comum para Teatro físico é de um trabalho que pode se utilizar de texto, mas tem como foco principal o trabalho físico dos artistas, seus corpos seus movimentos no espaço. Um teatro extremamente visual onde a gestualidade/movimentação é o elemento primordial, colaborando ou as vezes substituindo a dramaturgia textual, também podendo substituir o cenário ou elementos cênicos pelo movimento/corpo dos artistas.182
Tem-se aqui duas afirmações que exprimem visões diversas do termo. A primeira delas tem o teatro físico como uma “síntese entre a fala e a fisicalidade”, a segunda como “um teatro extremamente visual”.
Como continuidade da busca por definições optei por entevistar os integrantes do LUME. Dia 07 de fevereiro de 2012 entrevistei Carlos Simioni, ator mais antigo do
grupo, que iniciou os trabalhos junto ao fundador Luis Otavio Burnier em 1985:
[...]eu acho que o LUME não faz teatro físico, ele parte do físico. Em suma pra mim o teatro físico é quando os atores usam o corpo mas o espectador ta vendo sempre o desenho do corpo. Muitas coisas são contadas pelo corpo.[...] Então nesse sentido o teatro físico pra mim é isso é corpo total, onde o corpo tem que falar.[...] Até pensamos: nós também fazemos teatro físico. Porque até então, na época era teatro experimental. Depois apareceu o teatro físico. Mas dai quando a gente começou a ver grupos de teatro físico, a gente via que era só corpo, só corpo, desenhos do corpo, modulações do corpo, falar com o corpo. E no caso a gente não estava interessado no corpo e sim naquilo que o corpo trazia[...] Agora porque a Pina Bausch, teatro-dança nao é teatro físico nao sei, porque ela vem da dança só por isso.
A partir das respostas dadas por Simioni entendo que, para ele, o termo “teatro físico” não permeia as pesquisas do LUME, além de não haver uma preocupação na construção de uma definição especifica, unica e certa para o termo, mas baseia suas reflexões no resultado expressivo de grupos que identifica e se identificam como pertencentes a esta categoria.
Em estrevista com Renato Ferracini, dia 09/05/2012, outro ator integrante do LUME, também indago sobre o termo “teatro físico”, e obtive as seguintes respostas:
Eu não sou uma pessoa muio favorável a este tipo de nomenclatura teatro físico.[...] Para diferenciar o teatro baseado no personagem, no drama e no texto de um teatro baseado muito mais em uma fisicidade, numa potência
181
http://www.dan.ufv.br/evento/artigos/GT5_LuizAugustoMartins.pdf - Teatro Físico – Vibração e Troca Humana nas manifestações populares da Espanha e no teatro de Federico Garcia Lorca - Luiz Augusto Martins
182
física do ator ou dançarino, denominou-se [...] principalmente na Europa de Teatro físico. E nos Estados Unidos também. [...] É muito comum essa denominação lá. [...] mas aqui no Brasil isso não pegou fortemente. [...] Muita gente também não sabe como denominar o que o LUME faz [...] É como se fosse um termo curinga.[...]
CONCLUSÃO
Se partimos do princípio que o surgimento do termo teatro físico tenha sido com a imprensa, como afirma a revista Mimus, por essa não saber denominar as novas formas de trabalho e suas criações, a afirmação de Ferracini de que podemos encarar o termo como “coringa” é pertinente e justificaria o porque o LUME não se reconhece nele. Trata-se de um grupo versatil, com diferentes pesquisas que tem por base uma forte pesquisa na fisicidade do ator, que ganha este título não por auto nomeação, mas pela provável necessidade de rotulação por terceiros. Após essa primeira etapa da pesquisa, realizei dia 06/04/2012 uma entrevista com Eugenio Barba, que, juntamente com pesquisa bibliográfica, visará discutir de que forma o termo teatro físico pode ou não relacionar as pesquisas de Barba as pesquisas do Lume Teatro.
REFERÊNCIAS
SIMIONI, CARLOS. Depoimento. [07 de fevereiro de 2012]. Campinas- SP. Entrevista concedida a Alana Saiss Albinati
FERRACINI, RENATO. Depoimento. [09 de fevereiro de 2012]. Campinas- SP. Entrevista concedida a Alana Saiss Albinati
DONOSO, Marilia Gabriela Morim. Elementos Do Treinamento Do Ator Que Potencializam a Criação Teatral. Disponível em: <http://www.portalabrace.org/vcongresso
/textos/processos/Marilia%20Gabriela%20Amorim%20Donoso%20%20Element os%20do%20treinamento%20do%20ator%20que%20potencializam%20a%20cri acao%20teatral.pdf >. Acesso em: 15/maio/2012.
MARTINS, Luiz Augusto. Teatro Físico – Vibração e Troca Humana nas manifestações populares da Espanha e no teatro de Federico Garcia Lorca. Disponível em: <http://www. dan.ufv.br/evento/artigos/GT5_LuizAugustoMartins.pdf>. Acesso em: 10/maio/2012.
SEIXAS, Victor de. O Que é Teatro Físico? Mimus, revista on-line de mímica e teatro
físico. Número 1, volume1. Disponível em:
<http://www.mimus.com.br/glossario2 .pdf> Acesso em: 13/maio/2012.
LOUIS, Cia. Luis. Panorama da Mímica Contemporânea e do Teatro Físico Brasileiro. Disponível em: <http://www.cialuislouis.com.br/tf-panorama.htm>. Acesso em: 15/maio/2012.