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RAFAEL DOMINGUES ADAIME

CLÍNICA EXPERIMENTAL:

PROGRAMAS PARA MÁQUINAS DESEJANTES

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA NÚCLEO DE ESTUDOS DA SUBJETIVIDADE

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

RAFAEL DOMINGUES ADAIME

CLÍNICA EXPERIMENTAL:

PROGRAMAS PARA MÁQUINAS DESEJANTES

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA NÚCLEO DE ESTUDOS DA SUBJETIVIDADE

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia Clínica sob orientação do Prof. Doutor Luiz Benedicto Lacerda Orlandi.

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Banca Examinadora

________________________________

________________________________

________________________________

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Agradecimentos

Maria Alice Domingues Adaime e Silsomar Adaime. Fabiana Faleiros.

Anderson Borba. Luiz B. L. Orlandi.

Peter Pelbart, Suely Rolnik, Marilia Muylaert, Alexandre Henz.

Fabiane Borges, Felipe Ribeiro, Veridiana Zurita, Alessandra Galasso, Bruno Bernardi, Rodrigo Araújo, Eduardo Fernandes, Juny Kraiczyk, Giuliano Obici, Júlio York, Juliana Dorneles, Damian Kraus, Silvia Mecozzi, Cristiane Mesquita,

Anita Malufe, Edson Barrus, Mariana Marcassa, Lucélia Zamborlini, Lorene Soares, Cecília Galletti, Aledyson Marques, Isabel Vieira, John Laudenberger,

Rosa Blanco, Eduardo Aragon, Bruno Vasconcelos, Audrey Landell, Milene Gouget, Rosalina Santacruz, Patrícia Camelato, Geandre Tomazoni, Fabiana

Prado, Alex Kazuo, Gabriel Kolyniak, Flávio Fraschetti, Daniel Ávila, Daniel Fagundes, Eduardo Moraes, Vitor Freire, Guilherme Oliveira, César Rosa, Luiz

Fuganti, Marcos Medeiros, Kaloan, Igor, Aline, Tati, Mari, Hugo, Juliano Reis, Luiz Ramos, Moizés Vasconcelos, Túlio Tavares, Flávia Samarone, Tatiana Scherer, Anderson Barbosa, Renata Bessi, Milena Durante, João Vitor, Alice,

(5)

Resumo

(6)

Abstract

(7)

Sumário

Parte I: Partir {08}

Esquizos {10}

Uma nova saúde {14}

Esquizoterapia {18}

Caso Diego {24}

Replicantes {46}

Parte II: Viajar {56}

A espreita dos guerreiros {58}

Um corpo para brincar {60}

A literatura é uma saúde {66}

Um corpo para falar {76}

Parte III: Manter {91}

Um corpo para viajar {93}

(8)

PARTE I

(9)

Programa

Não considerar o desejo uma superestrutura subjetiva que fica

pisca-piscando. Fazer o desejo passar para o lado da infra-estrutura, e a família o

ego, a pessoa para o lado da antiprodução. Abandonar uma abordagem do

inconsciente pela neurose e a família, para adotar aquela, mais específica,

dos processos esquizofrênicos, das máquinas desejantes.

Desfazer-se do significante. Deixar-se deslizar pelos caminhos das

multiplicidades concretas. Parar de ficar opondo o homem à máquina: sua

relação é constitutiva do próprio desejo. Promover uma outra lógica, uma

lógica do desejo real. Promover uma outra análise, isenta do simbolismo e da

interpretação, e um outro militantismo, arranjando meios para libertar-se por

si mesmo das significações da ordem dominante. Conceber agenciamentos

coletivos de enunciação que superem o corte entre sujeito da enunciação e

sujeito do enunciado. Ao fascismo do poder opor as linhas de fuga ativas e

positivas que mobilizam o desejo, as máquinas de desejo e a organização do

campo social inconsciente. Não é fugir, você próprio, “pessoalmente”, dar o

fora, se mandar, mas afugentar, fazer fugir, fazer vazar, como se fura um

cano ou um abscesso. Fazer os fluxos passarem sob os códigos sociais que

querem canalizá-los, barrá-los. A partir das posições de desejo locais e

minúsculas, pôr em xeque, passo a passo, o conjunto do sistema capitalista.

Liberar os fluxos, ir longe no artifício, cada vez mais.

{ Félix Guatt ar i1 }

(10)

Esquizos

(11)

cor po se m ó r gão s, o nde insta la suas máq uinas de se jan te s e pro d uz um pe r pé tuo e sco ame nto de for ças at ivas. O e squizo sabe par tir, e po de me smo que se ja se m sair do lu gar. E le não é de o utro mun do, não fala de o utr o mu ndo e não pro d uz de lír io s ir re ais , é do cao s que e le traça se us p lano s. Se ja no me smo l ugar o u de slo can do -se no e spaço, trata- se de uma via ge m em inte ns idade , de mo do que as máqu inas de se ja nte s i mpõ e m a var iação do se u re gime de funcio na me nto ne ste o u naq ue le pla no de ativ ida de2. O s e squ izo s são o s cavale ir o s do de se jo :

“3Este s ho me ns do de se jo (o u talve z ainda não e xista m) são co mo Zaratustra : co nhe ce m i ncr íve is so fr i me nto s.. .

{“. .. ale gr ia não tinha e u sab ido nun ca o que e ra, nunca na minh a vi da e u t inha ti do se nsação que não fo sse de an gúst ia o u ir re miss íve l de se spe ro ; não sabia de o utr o esta do que não fo sse esta do r fe ndi lhada que to das as no i te s me pe r se gu ia4. }

“ver t ige ns. ..

{“E po r um insta nte alcance i o está gio de êxtase que se mpr e qu is atin gir, que é a passa ge m co mp le ta atravé s do te mpo cro no ló g ico num me r gulh ar e m dir e ção às so mbras in te mpo rais , e il umi nação na co mp le ta de so lação do re ino mo r tal e a se nsação de mo r te mor d iscando me us calca nhar e s e me im pe lin do para fr e nte co mo um fan tasma pe r se gu indo se us pr ó pr io s calcan hare s, e e u me smo cor re n do e m busca de uma tá bua de salvação de o nde to do s o s anjo s alçaram vô o e m dir e ção ao vácuo sagrado do vaz io pr imo r dia l, o fu lgo r po te nte e inco nce bí ve l re luz in do na radian te Essê ncia da Me nte , inco n táve is ter ras- ló tus de sabr o chando na mágic a te pi dez do cé u5.”}

2

Conf. Deleuze, Gilles; Guattari., Félix. O Anti édipo: capitalismo e esquizofrenia, Subcapítulo “O processo”, item “Partir”, Assirio e Alvim, p. 136.

3

Idem. Experimentação em colagem. Os textos em colchete são intersecções de outros autores, em conexão maquínica com o Anti Édipo, também da passagem sobre Partir.

(12)

“e do e nças.

{Es to u re sfr iado há duas se manas . Impo ssí ve l curar um re sfr iado numa si tuação de cao s ps ico ló gico, de alime nt ação paupé rr i ma, de co nfl ito fr ívo lo co m L ila; e o e sfo r ço físico so b este so l to r na qual que r me dicame n to ine ficaz . As per spe ct ivas eco nô micas co ntin uam ine xiste n te s6.}

{Es tranha se nsação de não e star vivo. Cansaço e fad iga ge ral . Exce ssiva me nte fraco para qua lque r de se jo. E pr o ssi go ne sta cor r ida pe la ta ça.. . O co r po vai se guin do a sua vida inde pe nde n te . E e u vo u se guin do minha vida de pe nde nte do cor po7. }

“T ê m se us e spe ctr o s. Ele s de ve m r e inve ntar cada ge sto.

{Não so mo s r ãs pe nsa nte s, ne m apar e lho s de o bje t ivação e máqu inas r e gistra do ras de vísce ras co nge lada s – te mo s co nstan te me n te de par ir no sso s pe nsame n to s de no ssa do r e mate r nalme n te tran smi tir- lhe s tudo o que te mo s e m nó s de sangue , co ração, fo go, praze r, pa ixão, to r me nto, co nsciê nc ia, de stino, fatal idade . Vi ver – assi m se chama para nó s, tran smudar co nstan te me n te tudo o que nó s so mo s e m luz e chama ; e també m t udo o que no s atin ge ; não po de mo s fazer de o utro mo do8.”}

“Mas um tal ho me m se pr o duz co mo um ho me m livr e , ir re spo nsáve l , so lit ár io e ale gre , cap az afi nal de fazer e dize r algo sim ple s e m se u pr ó pr io no me , se m pe dir per mi ssão, de se jo a que na da fal ta, fluxo que atrave ssa as bar rage ns e os có d igo s, no me que não mai s de sig na e u al gum”.

{“Mas d ize i, me us ir mão s, de que ainda é capaz a cr iança , de q ue ne m me smo o le ão fo i capaz? Em que o le ão rapina nte te m ainda de se tor nar cr iança? Ino cê ncia é a cr iança , e e sque cime nto, um co me çar- de -novo, um jo go, um a ro da r o dando por si me sma, um

6

José Agrippino de Paula, Lugar público, Papagaio, p. 116.

7 Idem, p. 79.

(13)

pr ime ir o movime n to, um sagrado d izer- sim9}

“Ele sim ple sme nte de ixo u de te r me do do de vir lo uco.

{“Ele quer co n tinu ar, e para is to e le pe de a lo ucura . ( .. .) Ele não supo r ta faci lme nte o pe so da exis tê ncia , e sabe que qual que r co isa que aco n te ça, aco nte ce co m e le . O o utro e stá se m pre ao lado, mas so me nte ao lado. E le r e spo nde para e le me smo o so m que ve m de fo ra. (. ..) Ele sabe que a luc idez é o que causa maio r me do.1 0”}

Ele vi ve sua vi da co mo su bli me doe nça que não mais o at ing ir á”.

* * *

9 Idem. Zaratustra. p. 230.

(14)

Uma nova saúde

“A psico lo gia que se e mpe nha e m re duz ir o de sco nhe cido ao co nhe cido , o u se ja, ao co tidia no e ao co mum, é a causa de ssa diminu ição e de sse de spe r dício assustado r de e ner gia, que me pare ce ter che gado ao último gr au. E me par e ce que tanto o te atr o co mo nó s me smo s de ve mo s acabar co m a psico lo gia”

{Anto nin Ar taud – Par a acabar co m as o br as pr imas}

Em sua pe r fo r mance Par a acabar co m o juíz o de De us1 1, Ar taud pro põ e m uma po ssibil ida de par a e scapar da ação do s siste mas de co ntr o le , atr avé s da de sco be r ta do que chamo u de co r po se m ór gão s. O juíz o de de us, inimigo múlti plo e de po te ncial vir ó tico , fo i apr e se ntado ali por Ar taud em se us dife r e nte s disfar ce s - o Estado ame r icano co le tando o sê me n das cr iancinhas par a pro duz ir so ldado s e tr abalhado r e s, músculo s se m de se jo , siste ma ao qual Ar taud o põe m o r ito do pe io te e ntr e o s índio s Tar ahumar as: “pr e fir o o po vo que co me da pr ó pr ia ter r a o de lír io do qual nasce r am”. O se gundo juíz o é a Cr uz , que no r itual ser á der r ubada pe la che gada do pr ime ir o ho me m, abso lutame nte nu e vir ge m e m cima de um cavalo ne gr o. O te r ce iro é o Se r : “o nde che ir a a me r da che ir a a ser . <a busca da fe calidade > (...) o ho me m te ve me do de pe r de r a me r da, o u ante s de se jo u a me r da, e par a e la sacr ifico u o sangue . (... ) Do is caminho s e stavam diante de le , o infin ito de fo r a e o ínfimo de de ntr o . E e le esco lhe u o ínfimo de de ntr o ...”. O último inim igo do ho me m, par a Ar taud, é o O r ganismo , o nde o juíz o co nstr ó i a mo r ada de De us. Então Ar taud e nco ntr a o cor po que há po r baixo do o r ganismo , e le de sco br e o cor po se m ór gão s, o de sco nhe cido siste ma ino r gânico do cor po , único me io de se te ntar nasce r de no vo -

(15)

inve nção e xpe r ime ntal r adio fô nica. Par a Ar taud, o ho me m é e nfe r mo po r que é mal co nstr uído, é ne ce ssár io nasce r de no vo -

quando tive r e m co nse guido um co r po se m ó r gão s, e ntão te r ão

libe r tado o co r po do s se us auto matismo s e de vo lvido sua

libe r dade. A per fo r mance de Ar taud é uma inve nção de saúde , uma clínica, de nunciando o que r e pr ime e indicando o caminho do que libe r a.

“Nó s, o s no vo s, se m no me , de dif íci l co m pre e nsão , nó s o s

re be nto s pr e matur o s de um futur o ainda não pr o vado , nó s

ne ce ssi tamo s, par a um no vo fim , ta mbé m de um no vo me io , o u

se ja , de uma no va saúde , mai s for te ale r ta ale gre fir me audaz

que to das as saúde s até ago r a. ( ... ) Uma ta l que não ape nas se

te m, mas co nsta nte me nte se ad quir e e é pre ciso adqu ir ir , po is

se m pre de no vo se aba ndo na e é pr e ciso aban do nar ”.

Nie tz sche - G aia Ciê nc ia

Par a Nie tz sche , fo i atr avé s de um lo ngo tr abalho so br e a me mór ia que o ho me m fe z do ho me m o se u me lho r animal de estimação, to r nando - o , até cer to po nto ne ce ssár io , unifo r me , igual e ntr e iguais, co nstante , e po r tanto co nfiáve l... co m a ajuda

da mo r alidade do co stume e da camisa- de -fo r ça so cial1 2. Esse tr abalho Nie tz sche chamo u de mne mo té cnica - uma co mple xa maquinar ia de impr imir na me mór ia (maté r ia1 3) um siste ma de cr ue ldade , auto r iz ado e o r ganiz ado pe la co nstr ução de uma justiça base ada na re lação “dano e do r”, “culpa e dívida1 4”. Nie tz sche , assim co mo Ar taud, de sco bre um antído to , uma clínica, o e sque cime nto. “Esque ce r não é uma simple s fo r ça

12

Genalogia da Moral, II. 2, Companhia das Letras, p. 48.

13 Henri Bergson, Matéria e Memória, Martins Fontes, pp.01-02: “A matéria, para nós, é um

conjunto de 'imagens'. E por 'imagem' entendemos uma certa existência que é mais do que aquilo que o idealista chama umarepresentação, porém menos do que aquilo que o realista chama uma coisa – uma existência situada a meio caminho entre a 'coisa' e a 'representação'”.

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ine r cial, mas uma fo r ça inib ido r a ativa1 5”. Par e ce uma de sco be r ta muito simple s – co ntr a a me mó r ia da mor al, o e sque cime nto . Mas co mo esque ce r? É cer to que não basta ape nas que re r . Se há no cor po e ssa me mó r ia da mo r al co mo “pano de fundo ”, co mo ace ssá-la e co mo dilu í- la? Essa me mó r ia não te m uma for ma, assim co mo as le mbr anças do no sso passado e mpír ico , e la está dir e tame nte co lada no cor po . É e xatame nte po r isso que Ar taud diz que de ve mo s de ixar de se r autô mato s, po r que a me mó r ia do juíz o atua muito mais do que r e pre se nta, e la faz o co r po re spo nde r ime diatame nte co m um sim ao s se us co mando s - o sim

do came lo e do asno , e m Zar atustr a1 6. Par a Nie tz sche , a fim de se cr iar uma saúde num co r po mar cado pe lo s tr aço s de ssa me mór ia, pr ime ir o se r ia ne ce ssár io e nco ntr ar um mo do de “fe char te mpo r ar iame nte as po r tas e jane las da co nsciê ncia; per mane ce r impe r tur bado pe lo bar ulho e a luta do no sso submundo de ó r gão s se r viçais a co o pe r ar e dive r gir ”; dar um pe que no passo par a fo r a das zo nas de se r vidão ; dize r não ao s auto matismo s instala do s no co r po – o não afir mativo do le ão que inte r ro mpe a e missão do s fluxo s de co mando . Co m isso , já dar ia par a se ntir “um po uco de so sse go , um po uco de tábula r asa da co nsciê ncia, par a que no vame nte haja lugar par a o no vo (... ), e is a utili dade do esque cime nto , ativo , co mo disse , e spé cie de guar dião da po r ta, de z e lador da o r de m psíqu ica( .. .)1 7”. Mas ainda se r ia pr e ciso re aliz ar um o utr o mo vime nto , to r nar -se cr iança: “Ino cê ncia é a cr iança, e e sque cime nto , um co me çar de -no vo , um jo go , uma r o da r o dando po r si me sma, um pr ime ir o mo vime nto , um sagr ado dize r - sim” (Z ar atustr a). E o que faz a cr iança e m sua ino cê ncia? Se de ixada livr e , e la não faz o utr a co isa que não se ja to mar o mundo numa e xper ime ntação , se ntir até onde po de andar , ve r co mo as co isas funcio nam , to car o ro sto do s adulto s, se ntir o s o bje to s co m a bo ca. Po de r ia- se diz er

15

F. NIETZSCHE, Ecce Homo, Companhia das Letras, P. 47.

16 F. NIETZSCHE, Assim Falou Zaratustra, Civilização Brasileira, p. 51.

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que há uma clinica das me tamo r fo se s e m Nie tz sche , apo ntando no se ntido da pr o dução de um de vir - cr iança, co mo um mo to r , uma pe que na máquina cuja função é se mpr e acio nar um pr ime ir o mo vime nto , mas um mo vime nto que se r e pe te co mo ar ticulaçõ e s se mpr e r e no vadas.

Winnico tt1 8 e xpe r ime nto u a inve nção de uma máquina de sse tipo e m psico te r apia, chamo u- a de br incar. Ele inve nto u o br incar co mo dispo sit ivo clínico e , e m to r no disso , co nstr uiu sua idé ia de saúde e de singular idade.

“É no br incar , e so me nte no br incar , que o indiv íduo , cr iança o u

adulto , po de se r cr iativo e utiliz ar sua per so nalida de inte gr al: e

é so me nte se ndo cr iativo que o indiví duo de sco br e o e u (se lf)1 9”.

“D e se jo afastar a ate nção da se quê ncia psicanálise , psico te r apia ,

mate r ial de br incade ir a, br incar , e pr o po r tudo isso no vame nte ,

ao inve r so . Em o utro s ter mo s, é a br incade ir a que é unive r sal e

que é pr ó pr ia da saúde ... 2 0”.

“O nde o br incar não é po ssíve l, o tr abalho e fe tuado pe lo

ter ape uta é dir igido no se ntido de tr az e r o pacie nte de um e stado

e m que não é capaz de br incar par a um e stado em que o é , e se

é o te r ape uta que não po de br incar , e ntão e le não se ade qua ao

tr abalho2 1”.

18

Donald W. Winnicott, O brincar e a realidade, Imago.

19

Idem. P. 80.

(18)

Esquizoterapia

Cada um de nó s també m tê m os se us co nce ito s par a o que no s blo que ia e o que po de r ia no s libe r tar . Q uase to do s que co me çam psico te r apia, de alguma for ma sabe m diz e r do que lhe s faz so fre r e de ixam escapar suas idé ias a re spe ito do que po de ajudar , me smo que não pe r ce bam.

“Se fal ta e nxo fr e a no ssa vi da, o u se ja, se lhe fa lta uma magia co nstan te , é po r que no s apraz co n te mplar no sso s ato s e no s per de r em co nside raçõ e s so br e as fo r mas so nhadas de no sso s ato s, em ve z de se r mo s impu lsio na do s po r e le s2 2” ( Ar taud ).

A par t ir do trab alho de Guat tar i e De le uze e m to r no da esq uizo anál ise , ve nho se n tin do e pe nsando a po tê ncia cl ínica da e xpe r ime n tação na pr ática psico te r ápi ca. A par t ir de suas per ce pçõ e s e idé ias do que se ja m o de se jo e o inco nsc ie nte , esse s au tor e s suge r e m que uma ação cl íni ca po de se r dis parada por me io de e xpe r ime ntaçõ e s. Co mo e star ate nto ao que blo q ue ia e ao q ue libe ra, para daí inve ntar as e xper i me ntaçõ e s ade qua das a cada caso? Um cami nho po ssíve l , por o nde co me çar, é a inve nção de uma e spr e ita clín ica a par tir da qua l, e co nta ndo co m um var ia do e sto que de le i turas, po de -se inve ntar pr o ce dime nto s de e xper i me ntação que po ssam ser vir para, em cada caso, prati car uma so n dage m do s de slo came nto s que po ssam fu ncio nar.

A e xpe r ime ntação co nside r ada ne ssa per spe ctiva no s co nduz às po ssibili dade s de pr o dução de inco nscie nte, de pr o dução de subje tivação , de mo vime nto s cr iativo s. Estamo s nas viz inhanças

(19)

de co mo e la é inve stida pe lo s ar tistas e xpe r ime ntais , co mo Jo hn Cage2 3. Par a e le , o te r mo e xpe r ime ntal que r diz e r “pr o duz ir ato s cujo s e fe ito s se de sco nhe ce ”. Fr e qüe ntar um co njunto de estr ato s quaisque r , de funcio name n to to nal, co mo por exe mplo : as histó r ias familiar e s, o s e nre do s das r e laçõe s de tr abalho , as co njugali dade s padr o niz adas, os blo que ame nto s do cor po , o s pro ble mas par a falar , as no r matiz açõ e s e sco lar e s... per ce ber co mo isso funcio na e que co nse quê ncias te m par a um indiví duo o u co njunto so cial. A par tir daí, e xper ime ntar as o po r tunidade s que cada or ganiz ação no s o fe r e ce par a fle xibil iz á- la, e ve ntuais mo vime nto s de de ster r ito r ializ ação , linhas de fuga po ssíve is e tc. Ficar à e spre ita. Inve ntar dispo si tivo s2 4 o u ato s de cujo e fe ito

nada se sabe, o u se ja, pr o duz ir avar ias nas máquinas to nais, nas estr utur as re pr e se ntat ivas, par a daí e xtr air um o utr o tipo de funcio name nto .

Jo hn Cage co me ça suas e xper ime ntaçõ e s a par tir do te rr itó r io da música to nal; por e xe mplo , e le subve r te o piano , apar e lho supr e mo da música ocide ntal , inse r indo pe que nas pe ças e m suas cor das (mar te lo s, pr e go s, par afuso s, e tc.), o bje to s que pr o duz e m que br as no siste ma or igina l, ao me smo te mpo que co nstitue m a inve nção de um no vo dispo sit ivo musical (piano s pr e par ado s); pe que no s mo vime nto s par a e nco ntr ar e fe ito s impr e visíve is ; po der ia- se diz e r que o gr ande “bar ato ” de Cage , e talve z de to do “e xpe r ime ntado r ”, se ja enco ntr ar - se co m esse s e fe ito s inusita do s, sur pre e nde r -se diante do o ce ano ilimi tado das po ssibili dade s, abr indo no cor po plano s de co mpo sição par a a pro dução de mo vime nto s cr iativo s.

Numa clí nica fun cio nan do a par t ir da e squ izo análi se , po der ia -se

23 Músico americano, que criou o termo música experimental. 24

(20)

fazer co mo na ar te expe r ime nta l, e star se mpre ate nto ao ti po de maqu inar ia que e stá o peran do para blo que ar o ind iví duo nas dife r e nte s sit uaçõ e s que e le vive nc ia. Q ue linha s se gme ntár ia s pre nde m suas aber tura s de saí das, q ue máq uina s mo lare s to maram co mp le tame nte para si o p lano de o r ganiz ação e co mo e las impe de m que o CsO2 5 se de slo que ao pla no de ima nê ncia. A par tir daí, co mo diz R icar do B asbaun2 6, “é pr e ciso ino cu lar o ger me da dife r e nça na estr u tura da co isa”, po is , me smo que se afe te ape nas um e le me nto numa mu lt ipl ici dade , já te r e mo s fe ito o sufic ie nte para mudar t udo. Inve ntar pro gra mas e xpe r ime nta is jun to co m o pac ie nte para a cr ia ção de novas te r r ito r ial idade s e xiste ncia is, de ix ando - lhe clar o que a clín ica é um enco ntr o a se r co mpar ti lhado, que não e xiste m curas mi lagr o sas e que o ana lis ta não é uma e spé cie de i nte r me diár io o u atrave ssado r que sabe algo so bre e le que e le não sabe , algo que só po de ser de sco dific ado por um r e gime de si gno s ao qua l ape nas o ana lis ta ter ia ace sso.

Vimo s que Ar taud apo sta na inve nção de um cor po se m ór gão s, Nie tz sche no s pr o ce sso s de e sque cime nto ativo dispar ado s pe la po tê ncia e xpe r ime ntal do de vir -cr iança e que Winnico t t faz to da sua o br a gir ar em tor no do br incar. Mas é atr avé s da esquiz o análise , de G uattar i e De le uz e , que ir e mo s e nco ntr ar co ne xõ e s ampliad as e ntr e e sse s co nce ito s e e le me nto s, no se ntido de faze r mo s a psico te r apia aco nte ce r a par tir de suce ssivas e xpe r ime ntaçõ e s. A que stão pr incip al de ssa pe squisa é justame nte e sta: co mo inve stir numa clínica psico te r ápica esquiz o analí tica , co mo inve stir numa esquiz o t er apia, que pr ivile gie a expe r ime ntação co mo se u pr incipa l dispo sit ivo de inte r ve nção?

(21)

“O Cor po se m Ór gão s gr ita : fize ram- me um o r ganismo ! do braram- me inde vi dame nte ! ro ubara m me u co r po ! O j uízo de De us ar ranca -o de sua ima nê ncia, e lhe co ns tr ó i um or gan ismo, uma sig nif icação, um suje i to. É e le o e strat ifica do. Assi m, e le o scila e ntre o s do is pó lo s: de um la do, as su per fíc ie s de estra tif icação so br e as qua is e le é r e baixado e su bme ti do ao juízo, e , por outr o la do, o plano de co nsistê nc ia no q ual e le se de se nr o la e se abr e a e xpe r ime ntação. E se e le é um l imi te , se não se ter m ina nunca de che gar a e le , é po r que há se mpr e um estra to atr ás de o utr o estra to. (. ..)Co mb ate per pé tuo e v io le nto e ntre o p lano de co nsis tê ncia , que libe ra o CsO, atrave ssa e de sfaz to do s o s e strato s , e as supe r fície s de estra tif icação que o blo que ia m e r e baixam2 7”.

Mas o que quer e mo s diz e r quando falamo s e m e xpe r ime ntação ?

A ps ico te rapia é ape nas um mo do, um est ilo, uma co nfig uração de clí nica , assi m co mo tan tas o utras co isas po de m ser – l istá -las se r ia uma tare fa se m fim . Q uando a psico te rap ia é in je tada de o utro s mo do s de cl ín ica, atravé s do s pr o ce sso s e xpe r ime ntai s, e la é le vada a um li mi te e m que a fu nção de inve ntar e xpe r ime n taçõe s faz co m que a pr ó pr ia psico te rap ia se ja re inve s tida ince ssante me nte pe lo s dis po sit ivo s que cr ia . Po r exe mplo, Guat tar i diz ia, isso é mu ito co nhe ci do, que e m ce r to s caso s de ver - se - ia r e ce i tar po e sias2 8. Te mo s aí do is mo do s de

clín ica func io nando e m inte r se cção – psico te rapi a/po e sia , duas co nfigura çõe s clí nicas acio nando um pr o ce sso e xper i me ntal . Imagi ne mo s e ntão, que o te rape uta não ape nas re ce ite a poe sia para se r li da pe lo pac ie nte e m o utr o mo me nto, mas que pr o po nha que a le i tura se ja fe ita dura nte uma se ssão, se ja pe lo pacie nte , por e le pr ó pr io, o u po r ambo s num sis te ma de r e ve same n to. O s

27 DELEUZE, Giles & GUATTARI, Félix. Mil Platôs. V.3, Ed. 34, P. 22.

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e fe ito s de ssa e xpe r iê ncia po de r iam afe tar, de mo do impr e visí ve l e irr e ver sí ve l, tanto o pacie nte e o te rape uta , co mo a psico te rap ia e m to do s o s se us te r r itó r io s. A clí nica não é assu nto pr ivado das ciê nc ias da saúde , da psico te rapi a o u das ps ico -anál ise s, assim co mo as e xpe r ime ntaçõ e s não o são de cie nti stas e ar tis tas. A po e sia po de estar atrave ssada po r uma po tê ncia clín ica, tanto qua nto a psico te rapia . No mo me nto e m q ue faze mo s a que stão da e xper i me ntação to mar maio r e spaço no campo da psico te rap ia, e stamo s mu lt ipl icando a in ter ve nção de dife r e nte s co nf iguraçõ e s clín icas no s pr o ce sso s de i nve nção de saúde do cam po psico ló gi co. Há se mpr e invas ão de do mín io s uns pe lo s o utr o s po r que do mín io alg um te m o mo no pó lio do s fluxo s mo le cular e s.

O s pro ce sso s e squiz o s (o u maquínico s ) po de m este nde r -se po r do is caminho s dife re nte s, e ao me smo te mpo muito pró ximo s um do o utr o - o pr ime ir o diz re spe ito ao s de sabame nto s (br e ak down), as catástr o fe s, ao pe r igo da que da e m um bur aco ne gro , e o se gundo é o das abe r tur as de saída (bre ak thr o ugh), da co mpo sição de plano s que suste nte m a pro dução de se jante (co mpo sição de platô s), “isso po r que o Co r po se m Ó r gão s (CsO ) não pár a de o scilar e ntre as supe r fície s que o e str atifica m e o plano que o libe r a2 9”. Pe la pr ática da e xpe r ime ntação , co mo o pe r ação no plano de imanê ncia , e do no madismo , co mo mo vime nto po r e sse plano , o CsO faz funcio nar a de sar ticulação co mo o po sição ao co njun to do s e str ato s r e lacio nado s a nó s – o or ganismo , a signif icânc ia e a subje tiv ação3 0.

O s blo co s que co mpõ e m este tr abalho pr e te nde m co mpr o var o quanto ve m se ndo viáve l e ssa pr ática de uma e xpe r ime ntação e , por co nse guinte , o quanto é co nsiste nte a per spe ctiva de uma

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esquiz o te r apia.

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Caso Diego

O caso que apre se ntar e i a se g uir, de um me nino de de z ano s que

pr atica ps ico te rapia co mi go há se is me se s, é e xe mplo de co mo o disp arado r de cr iação de e xpe r ime ntaçõ e s cl ínica s po de vir do pró pr io caso.

Pare ce que e le vive e m um mundo à par te , mas de re pe nte ,

quando que stio nado , e le re spo nde co mo se estive sse

par ticipan do da aula3 1.

Essa fr ase , pre se nte no R e lató r io so bre o aluno D ie go, re sume o que a e sco la te ve co mo mo tivo par a suge r ir à mãe do gar o to que pro cur asse um psicó lo go par a te ntar ajudá- lo . Se gundo o re lató r io , Die go (1 0 ano s) estava co m pr o ble mas de distr ação, e por causa disso diz iam que havia o co r r ido uma que da e m se u de se mpe nho co mpo r tame ntal e acadê mico . Na visão da mãe o me nino també m par e cia muito tímido e distr aí do , mo tivo pe lo qual e la falava que não ficar ia tr anqüila em pe r mitir que e le saísse soz inho ; e la tinha me do , pr incip alme nte , de que e le se per de sse o u fo sse atr o pe lado .

A e sco la te m ape nas uma tur ma , que no iníc io t inha 35 e ago ra 25 alu no s. Trata -se de um pro je to de um ho me m que e le s chamam de “Dir e to r ”, mas que quase nunca está na esco la; faz visi tas duas ve ze s ao ano e mo ra no Canadá . Há se te ano s o Dir e tor e sco l he u 35 cr ianç as de fam íl ias de baixa r e nda e o fe re ce u bo lsas de e stu do s in te grais para to das e las, co nsti tui ndo -se co mo uma inst it uição de car áte r fi lan tró p ico. As

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palavras do Dire to r para as mãe s, quando do in ício do pro je to, eram mui to pr o me te do ras, mas po uco claras: Nó s te mo s plano s par a o fut uro do s se us f ilho s. Ne nhuma famíl ia paga me nsa lid ade e a esco la or gan iz a o ano das cr ia nças: se gunda a se xta das 7 .3 0 as 16 hs; fre que n te s v iage ns a um sít io que pe r te nce ao Dir e tor, o cupando - lhe s o s fer ia do s e uma se mana das fé r ias de um mê s e m ja ne iro ; ma is o ja ntar no d ia 25 de de ze mbr o. Não e xiste ne nhuma e spé cie de co ntra to e ntr e as fam íl ias e a ins ti tuição. A mãe de Die go, assi m co mo quase to das as o utras, trabal ha co mo e mpre gad a do mé stica e não acr e dita ter o utra po ssib il idade de ver o fi lho e stu dando em uma e sco la par t icu lar, alé m de ssa. A idé ia de te r o filho expu lso e , lo go, passando a fre que n tar a r e de púb lica , é vis ta co m muito de sagrado po r to das e las. Por e ssa raz ão, o disc ur so da mãe de Die go e xpr e ssa o s se ntime n to s de que m se nte -se re fé m de uma in sti tui ção q ue não lhe passa um mín imo de po de r de in ter v ir no fut uro esco lar do se u filho, se m passar pe lo r isco de se r e m e xpulso s do pr o je to.

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sur pre sa e um po uco se m je i to quan do e m po uco s d ias e la anunc io u que havia e nco ntrado um psicó lo go para o fi lho. Ela pe nso u que is so po der ia sig nif icar que a esco la tin ha um espe cta ti va de que e le s não co nse gu isse m dar co nta do e ncaminh ame nto, me smo po r que , e m o utras situ açõe s, a e sco la havi a e ncaminha ndo aluno s ao s pro f issio na is co m q ue m po ssuía re laçõ e s. A Dir e to ra - mul her do Dire to r – po de r ia de sco nfiar que e la e scutas se se gre do s atravé s do mur o e po der ia e star far ta de man te r uma re be lde e m sua esco la. Essa luta de fo r ças entr e a mãe e a Dir e to ra po der ia se r um dispo si tivo que e star ia faze ndo Die go inve ntar um mun do para si , habi tado co m mu ita tim ide z e silê ncio. Die go par e ce u co nco r dar co m is so qu ando e u disse para a sua mãe , e m uma de no ssas se ssõ e s, que via no atr ito e ntr e e la e a Dir e to ra um do s po ss íve is mo ti vo s para o impas se que e le e stava vive ndo – ate n to a co nve r sa, e le e sbo ço u um so r r iso e vibr o u co m o s do is braço s, quase impe r ce pti ve lme nte , se m que a mãe pe r ce be sse .

Die go e stava fican do se m ação e as pr o fe sso ras per ce be ram q ue havi a al go de e stranho, co mo e xpõe m e m o utra frase do re lató r io : “No ta- se que duran te a e xpla nação de um assu nto re le van te ao co n te údo a se r de se nvo lvido, sua po st ura é se mpre de d istração, se mpr e man ipu lando se us mate r iais , co mo de se nha ndo, br incan do co m se u láp is e bo r racha co mo se fo sse m br inq ue do s (s ic)”3 2. E las co nside rava m que durante to do o te mpo de suas aulas, o gar o to e stive sse dis traí do br inca ndo co m se u láp is e sua bor racha , co mo se e stive sse de se nhando . A ce na de scr ita pe la pr o fe sso ra co lo ca o fo co do pro ble ma na que stão da dis tração, no fato do garo to não e star co m sua ate nção no co nte údo que está se ndo dado. Por e sse mo tivo, se gu ndo o re lató r io, e le não e star ia apr e nde ndo e se u r e ndime n to havia caído. Mas por o utr o la do, a me sma frase po ssu i um se nti do

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dife r e nte , po is mo stra que Die go, ape sar de tu do, co nse guiu inve nt ar um mundo para si atravé s do br incar co m o lá pis e a bor racha e do de se nho ; aí ve mo s co mo e le pro duz iu sua clín ica e te mo s o ind icado r de po r o nde co me çar as e xper i me ntaçõ e s. Talvez , alé m das in te r fe r ê ncias que a lu ta que a sua mãe e a dir e to ra pro ta go niz avam , e le e stive sse te ntan do faze r uma ne go ciação e ntr e o mundo que pr e fe r ia, br inca ndo e de se nhando, e o mu ndo que a pr o fe sso ra lhe apre se nt ava co mo se ndo

re le vante. Pe lo que dize m e m o utro mo me nto do re lató r io, as pro fe sso ras sabia m que Die go go st ava e spe cialme n te das ativ ida de s pr o po stas nas au las de Ar te : “é mui to cr ia tivo qua ndo se trat a de de se nvo lve r algo co mo : de se nho s, o bje to s co m sucata e outr o s. (. ..) Apr e se nta muit a vo nta de de par ti cipar e f ica apar e nte me nte ale gre quan do são pr o po sto s de se nho s li vre s e /o u co m t int a”(sic ). A lé m de se r mu ito in ter e ssado ne ssas ativ idade s, pare ce que Die go po ssu i algu mas vir tu de s e faci lida de s: “Q uando é pro po sto um de se nho o aluno é cuida do so no s de talhe s, co m traço s suave s e fir me s. Faz le i turas de ilus traçõ e s, o bse r van do de talhe s e m que as ve ze s a sala não pe r ce be . Sua per ce pção é be m eficaz , no que se tra ta de de se nho s abstra to s e geo mé tr ico s”(s ic) .

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A par tir de sse s e le me nto s, po r o nde po de r íamo s co me çar a cr iar

e xpe r ime ntaçõ e s que ajudasse m Die go a sair do impasse que e s -tava vive ndo ? Pr ime ir o , não re sta dúvidas, er a ne ce ssár io o bte r das suas po stur as e palavr as o s indicado r e s de sua pr ó pr ia dispo -sição de sair de ssa situação e de que mo do ; er a ne ce ssár io saber , po r e xe mplo , se Die go go star ia de pe r mane ce r naque la e sco -la, o u me smo , se e le de se java co ntinuar estudan do , se de algum mo do e le co nside r ava isso impo r tante o u inte r e ssante . Fo r am ne -ce ssár ias po ucas co nver sas par a que ficasse clar o que e le go sta-r ia de co ntinuasta-r na me sma e sco la, caso a situação me lho sta-r asse . Essa sér ie de co nve r sas co m e le , so br e o que go star ia de faz er , do nde algumas for am r e aliz adas junto co m sua mãe , fo r am um pr ime ir o mo vime nto no se ntido de gar antir a Die go que na psico ter apia haver ia e spaço e te mpo par a que e le falasse o que acha -va se r me lho r pr a si. As ve ze s, po r causa da sua timide z inicia l, er a ne ce ssár io e sper ar por um lo ngo te mpo até que e le re spo n -de sse uma pe r gunta que e u faz ia, e ne sse te mpo -de espe r a, não r ar o er a pre ciso que e u inte r vie sse par a e vitar que sua mãe re s -po nde sse -po r e le . Esse ti-po de inte r fe rê ncia da mãe favo re cia co m que Die go mantive sse sua po sição de po uca ação e m no me pró pr io , situação que pre cisava se r mo dificada par a que e le co -me çasse a pr o duz ir alguns espaço s de singular id ade . Po r causa disso , as se ssõe s de psico te r apia funcio navam co mo e nco ntr o s e m que e le pude sse e xpr e ssar -se mais livr e me nte , o nde e le ser ia escutado , me smo que de mo r asse a falar . De po is de gar antido o se u e spaço , numa re lação de co nfiança co m o psico te r ape uta e , ficando clar o que o o bje tivo de no sso s enco ntr o s er a e nco ntr ar um mo do de ajudá lo a vive r me lho r , e r a pre ciso cr iar dispo sit i -vo s po r o nde Die go pude sse inve stir em mo do s de sair daque la situação co mplica da, e r a pr e ciso inve ntar as br incade ir as e e xpe -r ime ntaçõ e s ade quadas ao se u caso .

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ape nas alguns, e stavam funcio nando agre gadame nte par a impe dir que sua po tê ncia expe r ime ntal típica de cr iança, se u de vir cr ian ça, vie sse a re aliz ar se ple name nte . O utr o s dispo sit ivo s blo que a -dor e s po der iam se r inse r ido s ne sse s mapas, po ré m, se jam quais o u quanto s e le s fo sse m, não o to mar íamo s no se ntido de de sco -br ir uma or ige m o u causa par a o s impasse s do me nino , par a daí co nstr uir uma ar que o lo gia mo nume ntal /me mo r ial a ser analisada e e labor ada. A e squiz o análise , a par tir da qual e stamo s pe squi -sando mo do s e e fe ito s de uma psico te r apia e xper ime ntal , apo nta no utr o se ntido . No tr abalho car to gr áfico de um caso , se gundo De le uz e , de ve -se faz er co m que o s mapas se supe r po nham de tal mane ir a que cada um e nco ntr e no se guinte um re mane jame nto ,

e m ve z de e nco ntr ar no s pre ce de nte s uma o r ige m: de um mapa a

o utro , não se tr ata da busca de uma o r ige m, mas de uma avalia

-ção do s de slo came nto s3 3. De sse mo do , o s mapas na clínica são

co nstr uído s co mo distr ibu ição de impasse s e de aber tur as, se ndo a função do psico te r ape uta, subsum indo - se ao caso3 4, ativar uma espé cie de espr e ita clínica par a co br ir ambo s o s flanco s. Não é só uma inve r são de se ntido , mas uma mudança pr agmática. No mo me nto em que co nstr uímo s o s mapas de um caso apo ntando no se ntido do s de slo came nto s, to do s o s no vo s tr aje to s e as no vas e xplo r açõ e s de me io s ir ão o pe r ar uma r e distr ibu ição co mple ta do s plano s que co mpõe m o s ter r itó r io s e xiste nciais do indiv íduo num dado mo me nto – numa multi plic ida de , basta inse r ir um e le -me nto par a que tudo mude . A par tir disso , a e squiz o análise pro -põe m o utro s me io s de inte r ve nção clínic a:

“O nde a Psicanál ise diz : Par e , r ee nco ntr e o se u e u, se r ia pr e ciso

diz er : vamo s mais lo nge , não e nco ntr amo s ainda no sso Co r po

se m Ó r gão s, não de sfize mo s ainda suficie nte me nte no sso e u.

Substi tuir a anamne se pe lo e sque cime nto , a inte r pr e tação pe la

e xpe r ime ntação . Enco ntr e se u co r po se m ó r gão s, saiba faz ê -lo , é

33 Cf. Gilles Deleuze, Critica e clínica, Ed. 34, p. 75.

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uma que stão de vida o u de mor te , de juve ntude e de ve lhice , de

tr iste z a e de ale gr ia. É aí que tudo se de cide3 5

Essa inve r são de se ntido na clínica só é po ssíve l por que De le uz e e Guattar i libe r tam o de se jo da r e lação suje ito - o bje to , o nde havia sido institu ído e m to r no do Édipo psicanal ít ico , e o de sco bre m co mo fluxo , ino mináve l e assignif ican te . Par a e le s de se jo é fluxo e cor te de fluxo , e o inco nscie nte é um co mple xo de máquinas de se jante s – daí a de no minação inco nscie nte maquínico . Máquina é qualque r siste ma de fluxo e co r te de fluxo , se ja uma máquina té cnica, so cial o u de se jante - e ssa última , que supe r a simulta ne ame nte o me canismo da té cnica e a o r ganiz ação do or ganismo3 6. Se ndo o inco nscie nte maquíni co , mo le cular , ave sso às e str utur as e r e pre se ntaçõ e s que o re pr ime m e re calcam, e le e stá vo ltado par a a cr iação – o inco nscie nte e ntão é co nce bido co mo fábr ica3 7, po vo ame nto de máquinas de se jante s funcio nando po r aco plame nto r izo mático , fluindo num plano de co nsistê ncia que auto r iz a to das as tr ave ssias po ssíve is3 8. Dito de o utro mo do , par a a esquiz o análise a que stão se r ia “(.. .) passar o de se jo par a o lado da infr a- estr utur a, par a o lado da pr o dução , e nquanto se far á passar a família , o Eu, a pe sso a par a o lado da anti- pr o dução3 9”. Não se ndo o caso de uma supe r ação dialé tica o u e vo lutiva, que e stá aí co lo cada, já que a dife r e nça e ntr e as máquinas de se jante s e as o utr as é de re gime de funcio name nto s, o u se ja, enquanto as máquinas de se jante s funcio nam de mo do mo le cular num plano de co nsistê ncia , as máquinas té cnicas e so ciais funcio nam de mo do mo lar num plano de or ganiz ação . O s do is plano s co e xistindo num me smo co r po , enquanto que o cor po se m ó r gão s, co mo um pê ndulo , o scila e ntre o s do is, cor r e ndo o per pé tuo r isco de se r captur ado e e str atifica do pe lo plano de

35 Gilles Deleuze e Félix Guattari. Mil Platôs: Capitalsimo e Esquizofrenia. V. 3, Ed. 34, p. 11. 36

Conf. Gilles Deleuze e Félix Guattari, O Anti-édipo, Assírio e Alvim, pp. 280-281.

37

Conf. O Anti-Édipo.

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or ganiz ação e suas maquinaçõ e s mo lar e s, assim co mo de sucumbir às fo r ças disjunt ivas do plano de co nsistê ncia e esvaz iar se numa ale ato r ie dade caó tica impr o dutiv a, do nde faz -se ne ce ssár ia uma pr udê ncia co mo ar te das do se s, par a que o CsO se ja libe r ado suave me nte par a o lado do plano de imanê ncia do de se jo , to r nando - se ple no e cr iativo . Nunca inte r pr e te , e xpe r ime nte ! À té cnica inte r pr e tativa psicanalí tica a esquiz o análise pro põ e m a expe r ime ntação r izo mática co mo dispo siti vo de fle xibil iz ação , se r á po r suce ssivas e xper ime ntaçõ e s que se po de r á e fe tivame nte vive nciar pr o ce sso s de cr iação de inco nscie nte , a par tir de um r e mane jame nto da me mór ia e da ampliação do s ter r itó r io s indivi dua is singular iz ado s. “O nde o inco nscie nte fo i vo ltado par a o futur o , cuja tr ama não ser ia se não o pr ó pr io po ssíve l, o po ssíve l à flo r da linguage m , mas també m o po ssíve l à flo r da pe le , à flo r do só cius, à flo r do co smo ...4 0”.

* * *

Te nho no tado que to do caso tr az indíc io s o u signo s que faz e m pe nsar e m saídas po ssíve is. Par a o co me ço de um pro ce sso e xpe -r ime ntal em psico te -r apia isso é fundame nta l e e stá di-r e tame nte ligado ao que diz De le uz e , que de ve mo s no s subme te r ao caso , ficar e mbaixo , não so bre co dificá - lo co m inte r pre taçõ e s, ficar , co mo disse mo s, à e spr e ita do que o caso po de indicar - no s co mo saída po ssíve l pe la via da e xper ime ntação . O caso de Die go co n fir ma isso . Me smo que e le não te nha dito nada so br e o se u so fr i -me nto a ningué m , a esco la pe r ce be u que algo não ia be m, o que chamar am de distr ação. Die go não diz o que e stá aco nte ce ndo , não fala que te m um pr o ble ma par a a mãe , ne m par a a pro fe sso r a, ne m par a mim. Se não fo sse pe la fala da mãe e pe lo re lató r io , a julgar ape nas pe lo se u mo do tímido , não se r ia po ssíve l di

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ze r que lhe ho uve sse um pr o ble ma. Se e u pe r guntava a e le se ir mal de no tas er a bo m o u r uim o u o utr a co isa, e le ape nas co ncor -dava o u disco r -dava co m a cabe ça. Então , de o nde par tir ? É o caso que diz – Die go se nte -se fe liz co m as ativida de s de ar te e go sta de br incar ; te mo s aí a indicação de uma saída po ssíve l pe la via da e xpe r ime ntação , o u me lho r , te mo s a indica ção de uma e x-per ime ntação po ssíve l, que po ssa vir a ser pro dutiva no se ntido da inve nção de saídas. No caso de Die go , e m de se nhar há algo que faz par tir ! É assim que De le uz e e G uattar i diz e m do s mo vi -me nto s que dispar am de ste r r ito r ializ açõ e s abso lutas4 1. Co m Die -go e ntão , co me çamo s e xpe r ime ntando de se nhar .

O jo go do rabisco fo i inve ntado po r Winnico tt co mo expe r ime nta ção clínica e o co rr e e ntre o psico te r ape uta e o pacie nte , ge r al -me nte uma cr iança. Eis o pro gr ama: um do s do is faz um pr i-me ir o tr aço no pape l e o o utr o co mple me nta o de se nho ; e assim suce s-sivame nte e alte r nadame nte . Eu fiz uma pe que na mo dificação no pro gr ama do jo go , não faze ndo a tr o ca do pape l de po is de do is r abisco , de ixando , assim, o de se nho pr o duz ir - se e xte nsivame nte pe lo pape l, e m se ssõe s que dur avam e m mé dia uma ho r a e me ia. Pro pus a Die go que de se nhásse mo s junto s e expliq ue i o jo go do r abisco. Ele ace ito u a pr o po sta co m e ntusiasmo , po r tr atar - se de de se nhar .

Desenho 1

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A pro po sta er a de se nhar mo s livr e me nte , o u se ja, se m faze r có pi -as, por é m, duas image ns de ro sto s fo r am co piadas de livr o s que estavam por pe r to . Ao ce ntr o , o ro sto de um po r co que e stava de se nhado na capa de uma e dição do livr o A R evo lução do s B i-cho s4 2, de Ge or ge Or we ll, que estávamo s le ndo junto s, co m o pro pó sito de pe squisar , ve r co mo funcio nava a sua re lação co m a le itur a o por co ancião de óculo s e r a o líde r do s bicho s r e vo luci -o nár i-o s. A-o lad-o , a esque r da, -o r -ost-o de um s-o ldad-o pinta d-o n-o quadr o A re ndição de B re nda o u As lanças, de Die go Ve láz que z , que estava e m um livr o na me sa que usávamo s par a de se nhar . O s do is r o sto s for am inco r po r ado s. Apr o ve ite i o inte r e sse de le no livr o co m có pias das o br as de Ve láz que z e suger i que e le e sco -lhe sse alguma de las par a que nó s do is te ntásse mo s co piar , no me smo e stilo do jo go do rabisco , um de se nhando apó s o o utr o . Ele fo lhe o u o libr e to e esco lhe u A Vê nus ao espe lho , que de se

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nhamo s dur ante duas se ssõe s, cer ca de trê s hor as de tr abalho .

Desenho 2

O r e sultado da có pia no s sur pr e e nde u, havíamo s ido alé m das no ssas e xpe ctativas . Fique i cur io so po r sabe r po r que e le havia esco lhido justame nte e sse , e m que há uma mo ça nua e uma cr i -ança ange lical e , de ce pcio nando minhas po ssíve is co nfabulaçõ e s inte r pr e tativas, e le disse que “e sse e ra mais fácil de de se nhar ”. Ente ndi que o je ito e r a co ntinuar mo s de se nhando e ampliar mo s o s dispo siti vo s que po de r íamo s ter a dispo sição . De se nhar havia mo str ado suas vir tude s.

“...uma psico te r apia de tipo pr o fundo po de se r e fe tuada se m tr a

-balho inte r pr e tativo ( ... ). O mo me nto significa tivo é aque le e m

que a cr iança se sur pr ee nde a si me sma, e não o mo me nto de

minha ar guta inte r pr e tação4 3”.

(35)

Em um de no sso s e nco ntr o s, co nvide i- o par a passe ar co migo pe lo bair r o e filmar mo s nas r uas co m a câme r a de víde o . Em no ssa se ssão ante r io r , havíamo s me xido um po uco co m a câme r a, de mo do que e le já sabia co mo manuse á- la minimame nte . Suge r i que e le le vasse a câme r a co nsigo e que filmasse o que quise sse , e nquanto caminháva mo s. Andamo s algumas quadr as e e le filmo u muito po uco , pare ce ndo pre o cupado co m a re ação do s tr anse un -te s que o bse r vavam o que faz íamo s. Entr amo s numa padar ia par a co mpr ar água e de po is se ntamo s e m fr e nte , numa pe que na e sca -dar ia. Pe r gunte i se e le pre fe r ia filmar o u de se nhar , e e le disse , se m titube ar : de se nhar!

Ao me smo te mpo e m que e le co mia le ntame nte o salgadin ho que co mpr ar a na padar ia, o bse r vava ate nto a mo vime ntação de car -ro s e pe sso as no cr uz ame nto . Pe r gunte i o que e le e stava ve ndo naque la e squina, o que lhe chamava a ate nção - as pe sso as!, e le disse . Suge r i par a Die go que cada um de nó s filmasse alguma co isa naque le cr uz ame nto po r dez se gundo s e de po is passasse a câmer a ao o utro , par a que fiz e sse o me smo , e assim suce ssiva -me nte , co mo no jo go do r abisco . Fiz e mo s isso dur ante uns tr inta minuto s e na se mana se guinte assistimo s o r e sultado junto s na te le visão .

Saímo s da padar ia e fo mo s até um se bo par a co mpr ar livr o s de ar te , do s quais po der íamo s faze r no vas có pias de pint ur as, já que

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Lo go e le pe r gunto u par a mim o que e u achava de le le var um in -ce nso par a dar a mãe . R e spo ndi que sim, achava uma ó tima idé ia, não ape nas po r tr atar se de um pr e se nte , mas pr incipal -me nte par a de ixá- lo faz e r a e xper iê ncia até o final , co m o ato da co mpr a. Co m ajuda da mo ça e le e sco lhe u um ince nso de mor ango e outr o de sândalo , pago u e então saímo s caminha ndo e m dir e ção a minha casa, o nde sua mãe e star ia e sper ando . Mas no caminho , per ce be ndo que estávamo s adiantado s, le ve i- o ao bar do Z é , que te m e m suas par e de s gaio las co m canar inho s e aquár io s co m pe i -xe s e car amujo s. Ali, Die go expe r ime nto u água mine r al co m gás, pe la pr ime ir a vez , e acho u amar ga e pe diu limão e açúcar ao se u Zé . Che gamo s e m casa e e le e ntre go u o pr e se nte a mãe , que na se mana se guin te disse me , r indo e achando a situação e ngr aça da, que o s viz inho s “cre nte s” estive r am pr eo cupado s co m o che i -ro de macumba e xalando da casa.

A cr iança não pár a de diz e r o que faz : e xplo r ar os me io s, po r tr aje to s dinâmico s, e tr açar o mapa co rr e spo nde nte . Os mapas

do s tr aje to s são esse nciais à atividade psíqu ica. O que o pe que

-no Hans re ivindica é sair do apar tame nto familiar par a passar a

no ite na viz inha e re gre ssar na manhã se guinte .. .4 4

No e nco ntr o se guinte , pe squisando e m minha estante de livr o s, Die go inte r e sso u-se pe la image m de Nie tz sche na capa de um e dição da O br as Inco mple tas, ao que passamo s a faze r o utro de se nho . Ao final , e le fico u muito sur pr e so co m o re sultado e mo s -tr o u e ufór ico par a a sua mãe , quando e la che go u par a buscá- lo :

Desenho 3

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Em no sso pr ó ximo e nco ntr o , a fim de inte r fer ir na r e lação e ntr e Die go e sua mãe , no se ntido de que e la pude sse co ntr ibuir e m li -ber ar maio r e s po ssibil ida de par a e le to mar o mundo numa expe -r ime ntação , e també m par a que e le e xpe r ime ntasse de se nhar , suge r i ao gar o to que co nvidásse mo s sua mãe par a de se nhar co no sco . Ele go sto u da idé ia. Pe di par a que e le pró pr io a co nvidas -se e e xplicas-se co mo funcio nava o jo go do r abisco . Inicialme n te , e la te ve re ce io s e m br incar co no sco, mas acabo u ace itando o co nvite , quando Die go disse - lhe que er a par a usar a cr iativi dade. Co me çamo s cada um de se nhando de po is do o utr o , e de po is pas -samo s a de se nhar to do s ao me smo te mpo .

(38)
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Q uando já e stávamo s no ter ce ir o mê s de e nco ntr o s, a Dire to r a pe diu par a a mãe de Die go per guntar - me “qual fo i o milagr e ? ”. Die go havia se de slo cado daque la cr ise . R espo ndi que não sabia, que ape nas tinha te ntado não atr apalhá- lo . Co mo dir ia Guattar i: “Não atr apalhar . Em o utr as palavr as, de ixar co mo e stá. Ficar be m no limi te , adjacê ncia do de vir e m cur so , e de sapar e ce r o mais ce do po ssíve l4 5”. Sua mãe també m no to u suas tr ansfo r maçõe s, assim co mo e le pró pr io . Então , quase no final do ano le tivo , mar camo s uma r e união na e sco la, da qual par ticipar am e u, Die go e sua mãe , a dir e tor a e as pro fe sso r as que escr e ve r am o r e lató r io . De um mo do ge r al, a e sco la per ce be u que Die go te ve uma signif icat iva me lho r a, po r é m, e le não co nse guiu re cupe r ar as no tas baixas e ainda mo str ava- se muito tímido par a falar co m e las. Te ndo uma avaliação ger al po sitiva do aluno , gar antir am que e le co ntinuar ia na esco la no pr ó ximo ano e fize r am vo to s par a que e le me lho r asse ainda mais. As pro fe sso r as pe dir am minha o pinião so br e algumas car acte r ísticas do aluno , co mo por e xe mplo , o que e u achava do me nino fre qüe nte me nte não r espo nde r a e las quando que stio nado . Isso pare cia- me muito significa tivo , já que Die go , de po is de estabe le ce r mo s a co nfiança ne ce ssár ia par a o tr abalho clínico , mo str o u-se muito co municat ivo e m no sso e nco ntr o s. Disse - lhe s que talve z isso tive sse a ve r co m o fato de nó s, adulto s , ger alme nte não te r mo s dispo sição par a sabe r do mundo da cr iança a par tir de las pr ó pr ias - o que e la pe nsa e faz – e que por causa disso , suas açõ e s acabavam se ndo sufo cadas pe las inte r pr e taçõ e s que faz íamo s a par tir do s no sso s re fer e nciais. Um e xe mplo de ssa situação , fo i um de se nho que pe di par a Die go faze r quando e le não que r ia co me ntar um caso que lhe aco nte cer a na e sco la, lo go no pr ime ir o mê s de te r apia. Por te r

bagunçado o u co nve r sado dur ante uma aula, a Dire to r a fo i a sala par a r e pr e e ndê -lo , o que fo i mo tivo , na é po ca, de pr e o cupaçõ e s da sua mãe em r e lação a uma po ssíve l expulsão . Co mo e le não

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que r ia falar co migo so bre isso , pe di- lhe que de se nhasse so z inho esse e nco ntr o e ntr e e le e a dir e to r a:

Desenho 5

Co nside r e i, a par tir daí, que havia impe dime nto s na r e lação que Die go tinha co m algumas pr o fe ssor as e que po de r ia ser inte r e ssante cr iar um no vo tipo de e xper ime ntação par a que e le e xpe r ime ntasse o falar. Assim, quando no s e nco ntr amo s no ano se guin te , co mbine i co m e le alguns ho r ár io s em que e le te le fo nar ia par a mim, de sua casa. Asso ciado a e ssas se ssõ e s te le fô nicas, Die go ganho u de sua mãe um te le fo ne ce lular o que inte nsifico u o ato da fala e m sua expe r iê ncia diár ia tr ansfo r mando significa tiva me nte a po ssibi lida de de se co municar co m as pr o fe ssor as, se gundo disse r am- me .

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Die go que e le não pr e cisar ia mais fre qüe ntar a psico te r apia, se gundo avaliação da e sco la, o me nino e stava muito be m. Já estavam quase pe dindo par a que o tr abalho to do fo sse de sfe ito , po is o me nino to r nar a-se quase hipe r ativo ; mas isso fo i co lo cado e m to m de br incade ir a, de um mo do ge r al, a e sco la mo stro u- se muito satisfe i ta co m a tr ansfo r mação . Se gundo a mãe , Die go passe ava fre qüe nte me nte se m a sua co mpanhia, o que ante s e la não pe r mitia, expe r ime ntava r o upas e mo chilas do s co le gas, tinha me lho r ado sua ate nção nas aulas, e alé m disso , co me çar a a namo r ar co m uma co le ga de e sco la.

Er a che gada a ho r a de de sapar e cer o mais r ápido po ssíve l? Co mo sabe r quando é a hor a de par ar co m o s e nco ntr o s em psico te r apia? Se to másse mo s co mo me dida a r e so lução do s pro ble mas apo ntado s pe la e sco la, sim, talve z fo sse a ho r a. Mas aque le s er am o s pr o ble mas da esco la e m re lação ao aluno . De sde o início da te r apia, co nside r amo s que a par tir do mo me nto e m que fiz e mo s um aco r do e ntr e nó s do is, e sua mãe , a e sco la te r ia sido co lo cada e m o utr o plano , o que que r ia diz er que e u tr abalhava par a Die go , e não par a esco la, co mo e u se mpr e faz ia que stão de diz e r . Pe r gunte i ao s do is o que achavam, se de ve r íamo s co ntinuar o u não . A mãe de ixo u que Die go de sse sua o pinião - e le disse que quer ia co ntinu ar e nco ntr ando - me , e e u disse que co ncor dava, ao que a mãe , vir ando par a e le , inte r fer iu:

Viu? Po de ficar tr anqüilo agor a. Ainda não e r a o mo me nto de par ar co m o s no sso s e nco ntr o s, Die go ainda apr e se ntava o scilaçõ e s em suas r e ce nte s me tamo r fo se s e po der ia co rr e r o r isco de uma r e caída; e le havia mo difica do - se , mas quanto a esco la não po de r íamo s sabe r .

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Em um do s no sso s pr ime ir o s e nco ntr o s, e m julho de 20 07 , e u havia pe dido que e le fiz e sse um de se nho da sua famíli a. Ele de se nho u se u ir mão , a mãe e e le , re spe ctivame nte :

Desenho 6

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Desenho 7

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D es en h a n d o co m u m j o v em

Em cer to mo me nto da psico te r apia, um jo ve m disse me que e sta va co m me do de vive r o ine spe r ado , co m me do de so ltar o co n -tr o le imaginár io que tinha so br e o s aco nte cime nto s vivido s no pre se nte e pe nsava que isso lhe atr apalhava de mais; que r ia te r uma so ltur a maio r par a vive r mais dispo níve l ao s impr o viso s que a vida to mada no instan tâne o pr o vo cava. Em o utro caso , quando apar e ce u uma que stão muito par e cida, re ce ite i Água Viva, de Clar ice L ispe ctor , par a pr o vo car o pacie nte a se ntir o s e fe ito s da

escr ita na po nta do pe nsame nto, co mo diz a e scr ito r a. Te nte i o me smo co m e sse jo ve m, mas não funcio no u, e le ne m pr o curo u o livr o . Então , po r causa do s e fe ito s que as expe r ime ntaçõ e s co m o jo go do r abisco co m Die go tive r am par a e le e par a mim, pr o pus ao jo ve m uma se ssão de de se nho , utiliz ando o jo go do r abisco . Par a mim, de se nhar co m Die go tinha sido uma e xper iê ncia de bor da, o nde e u se mpre e stava à e spre ita do tr aço que e le faz ia, das r e açõe s que e le tinha , o u da histó r ia que estava se ndo de se -nhada, par a daí re aliz ar me us mo vime nto s, lo go de po is que e le co ncluía o de le .

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Referências

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