UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL
VERBALIZAÇÕES DE MÃES REFERENTES AOS SEUS
SENTIMENTOS EMPÁTICOS
Natália Lins Pimentel Pequeno
Natália Lins Pimentel Pequeno
VERBALIZAÇÕES DE MÃES REFERENTES AOS SEUS
SENTIMENTOS EMPÁTICOS
Dissertação submetida como requisito para a obtenção do título de Mestre em Psicologia Social, João Pessoa - 2011
Prof
aDr
aCleonice Pereira dos Santos Camino
Orientadora
Natália Lins Pimentel Pequeno
VERBBALIZAÇÕES DE MÃES REFERENTES AOS SEUS
SENTIMENTOS EMPÁTICOS
Dissertação Aprovada em:____/____/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
Cleonice Camino
UFPB
(Orientadora)
_______________________________
Júlio Rique
UFPB
(Leitor)
_______________________________
Márcia Paz
UFPB
______________________________
Lilian Galvão
AGRADECIMENTOS
Obrigada, Deus, pelas oportunidades de experimentar a vida e pelas maravilhosas possibilidades que ela oferece. À professora Cleonice Camino, pela orientação acadêmica, pela paciência e incansável disposição em ajudar. Agradeço pela aprendizagem adquirida no Programa de Iniciação Cientifica, pelo enriquecimento nesta etapa da minha vida e, certamente, nas ulteriores. É com ela que vejo, frequentemente, exemplos de dedicação e é com ela que estou experimentando a beleza da pesquisa na Psicologia do Desenvolvimento.
Ao professor Júlio Rique, pelas valiosas contribuições que me ajudaram no desenvolvimento e conclusão deste trabalho, pelo incentivo e conhecimento, possibilitando uma melhor formação acadêmica e pessoal.
Às professoras Márcia Paz e Lilian Galvão, pela disponibilidade para participar e avaliar este estudo, contribuindo com críticas e sugestões, possibilitando uma melhor finalização da dissertação.
Aos professores da Graduação em Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social, por todo o conhecimento adquirido no campo de estudo, tornando-me uma pessoa entusiasmada e, principalmente, satisfeita com a opção profissional escolhida.
A todos os professores e integrantes do Núcleo de Pesquisa em Desenvolvimento Sócio-Moral (NPDSM), pelas sugestões acadêmicas dadas nos nossos encontros semanais, pelo carinho e atenção, e pela grande amizade construída.
Ao meu colega e amigo, Pablo Queiroz, por sempre estar ao meu lado, dividindo angústia e momentos de alegria. Juntos, demos os primeiros passos no mundo da pesquisa científica: primeiramente como pesquisadores voluntários, em seguida no Programa de Iniciação Científica e, por fim, no Mestrado.
A todas as mães que aceitaram participar deste estudo, me permitindo, por meio da entrevista, entrar nos seus lares, na sua dinâmica familiar, nas suas relações com seus filhos, muitas vezes conflitantes, e, principalmente, expondo os seus sentimentos e situações que traziam angústia e sofrimento. Um agradecimento especial a essas participantes por terem compreendido o valor desta pesquisa, e pelas ricas palavras que deram vida a esta dissertação.
E, finalmente, não poderia deixar de agradecer,
Aos meus pais, Noêmia Lins e Marcos Pequeno, por terem se esforçado e me incentivado, dia após dia, na minha formação profissional e na minha formação de valores.
Ao meu marido, Uirá Assis, pelo carinho e paciência, no decorrer das minhas atividades acadêmicas, e pelo apoio e incentivo em todas as minhas escolhas feitas.
Ao meu filhinho, Luan Lins Assis. É por ele que me esforço todos os dias para ser uma pessoa melhor e digna do seu respeito e admiração.
Aos meus irmãos, Manuela Lins Pequeno e Marcos Lins Pequeno, pelo carinho e pelo apoio constante: pelo silêncio na hora do estudo, pelo lanchinho pronto quando eu
me esquecia de comer “mergulhada” nos estudos, pelas tardes com Luan, meu filho,
possibilitando um ambiente tranquilo para a conclusão da dissertação.
Aos amigos e colegas, em especial, José Roniere Batista, Luciene Araújo e Dalila Vasconcelos, pelo incentivo e pela amizade. Por tornarem situações tensas em momentos inesquecíveis, por me darem apoio e conforto em momentos difíceis, por torcerem pelo meu sucesso.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS VIII
LISTA DE QUADROS IX
RESUMO X
ABSTRACT XI
INTRODUÇÃO 12
CAPÍTULO I – TÉCNICAS DE SOCIALIZAÇÃO
16 1.1.Práticas educativas: Influência dos pais no processo de socialização
16
1.2.Importância dos pais no processo de Internalização Moral 18
1.3.Técnicas disciplinares 20
1.4.Componentes das técnicas disciplinares 23
1.5.Fatores que influenciam a escolha da técnica disciplinar 24
1.6.Estudos Empíricos 26
CAPÍTULO II – EMPATIA
36 2.1. Breve trajetória do conceito de Empatia
36
2.2. A perspectiva de Hoffman acerca da empatia 39
2.3 Estudos Empíricos 55
Objetivo Geral 63
Objetivos Específicos 63
CAPÍTULO III – MÉTODO 64
3.1. Amostra 64
3.3. Procedimento 67
3.4. Análise dos dados 69
CAPÍTULO IV – RESULTADOS 73
4.1. Análise dos dados sócio-demográficos 73 4.2. Análise de conteúdo dos discursos das mães referentes
aos seus sentimentos empáticos 75
4.3. Análise lexical dos discursos das mães referentes
aos seus sentimentos empáticos 123
CAPÍTULO V – DISCUSSÃO 130
CAPÍTULO VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS 145
REFERÊNCIAS 150
APÊNDICE 155
Apêndice I – Instrumento utilizado no estudo empírico 155
Apêndice II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 157
Apêndice III – Resultados que não apresentaram diferença significativa 158
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Frequências e percentuais das idades das mães participantes 73 Tabela 2 - Frequências e percentuais do nível de instrução das mães participante
73 Tabela 3 - Frequências e percentuais do número de filhos das participantes
Tabela 9 - Frequências e percentuais de repostas referentes aos sentimentos das mães ao deixarem de ajudar uma pessoa necessitada 79
Tabela 10 - Frequências e percentuais de repostas referentes aos sentimentos das mães verem uma pessoa passando por um sofrimento que não merece 80 Tabela 11 – Frequências e percentuais das recomendações que as mães dizem dar aos filhos em situações de sofrimento do outro 92 Tabela 12 - Frequências e percentuais das recomendações que as mães dizem dar aos filhos em situações de agressão 95 Tabela 13 - Frequências e percentuais das recomendações que as mães dizem dar aos filhos em situações de agressão em relação ao contexto escolar dos filhos 96 Tabela 14 - Frequências e percentuais das recomendações que as mães dizem dar aos filhos ao verem uma pessoa precisando de ajuda 98 Tabela 15 - Frequências e percentuais das recomendações que as mães dizem dar aos filhos ao verem uma pessoa passando por um sofrimento que não merece 101 Tabela 16 - Frequências e percentuais das explicações que as mães dizem dar aos filhos em situações de sofrimento do outro 105 Tabela 17 - Frequências e percentuais das explicações que as mães dizem dar aos filhos em situações de agressão 107 Tabela 18 - Frequências e percentuais das explicações que as mães dizem dar aos filhos ao verem uma pessoa precisando de ajuda 109 Tabela 19 - Frequências e percentuais das explicações que as mães dizem dar aos filhos ao verem uma pessoa passando por um sofrimento que não merece 111 Tabela 20 - Frequências e percentuais das respostas referentes às situações de sofrimento verbalizadas pelas mães 116 Tabela 21 - Frequências e percentuais das respostas referentes às situações de maus-tratos verbalizadas pelas mães 118 Tabela 22 - Frequências e percentuais das respostas referentes às situações de necessidade de ajuda do outro, verbalizadas pelas mães 120 Tabela 23 - Frequências e percentuais das respostas referentes às situações de sofrimento, ocorridos com pessoas consideradas inocentes, verbalizadas pelas mães 122
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Frequências e percentuais dos sentimentos mencionados pelas mães em diferentes situações 82 Quadro 2: Frequências e percentuais dos modos de verbalização das mães aos filhos –
angustia empática ou angústia simpática - mencionados pelas participantes nas situações que envolvem uma vítima e/ou um agressor 86 Quadro 3: Frequências e percentuais das recomendações e explicações que as mães dizem
dar aos seus filhos em diferentes situações que envolviam uma vítima e/ou um agressor 89
Quadro 4: Frequências e percentuais das recomendações dadas pelas mães, aos filhos, em
Quadro 5: Frequências e percentuais das explicações dadas pelas mães, aos filhos, em situações que envolviam uma vítima e/ou um ofensor 113 Quadro 6: Frequências e percentuais das situações verbalizadas pelas mães que envolviam
uma vítima e/ou um ofensor 124
RESUMO
realizem comportamentos pró-sociais, de ajuda, generosidade, etc. Diante da compreensão da importância da habilidade empática e do papel dos pais para o seu fortalecimento, o presente estudo teve como objetivo geral verificar os sentimentos empáticos que mães de diferentes contextos sócio-econômicos experimentam, as situações que podem provocar esses sentimentos, o que elas falam aos seus filhos sobre esses sentimentos e como falam. Participaram da pesquisa 100 mulheres alfabetizadas, mães de crianças e adolescentes que estudavam em escolas públicas e privadas, da cidade de João Pessoa - PB. As mães foram distribuídas igualmente em relação às variáveis: sexo, idade e contexto escolar dos filhos. As mães participantes responderam um roteiro de entrevista, com questões referentes a situações que envolviam uma vítima e um agressor. Os resultados encontrados, a partir da análise de conteúdo semântico, indicaram que: os sentimentos mais verbalizados pelas mães, nas situações estudadas foram Compaixão, Raiva, Culpa e Injustiça; as mães, ao conversarem com seus filhos, davam mais recomendações do que explicações; as recomendações mais frequentes foram: Ajudar o próximo, não maltratar e ser generoso; as explicações mais frequentes foram: explicita a razão do sofrimento, explicita a situação de agressão e a situação de injustiça como também esclarece sobre o valor da ajuda; as situações que mais faziam insurgir nas mães os mais variados sentimentos empáticos foram Tragédia/doença/morte e Pobreza. Os resultados da análise lexical indicaram a formação de quatro classes apresentadas em dois grupos. O primeiro grupo, Contextos relacionados a empatia, reuniu as Classes 1 (Situações evocativas de empatia) e 4 (Estrutura familiar). O segundo grupo, Sentimentos empáticos, reuniu as Classes 2 (Sentimento de injustiça empática – role-taking) e 3 (Sentimentos empáticos – Comportamento pró-social) Nas classes 1 e 4 emergiram explicações das mães de como funcionava a sua dinâmica familiar e suas experiências com seus sentimentos empáticos no dia a dia. Nas classes 2 e 3, foi verificada uma separação do sentimento empático de injustiça dos demais sentimentos. De um modo geral, verificou-se que: os sentimentos empáticos verbalizados pelas mães são os mesmos trabalhados por Hoffman em sua teoria; elas conversam com seus filhos e se preocupam com a formação sócio-moral deles, entretanto, estão mais preocupadas em recomendar e orientar os comportamentos dos filhos, do que em esclarecer a situação, explicar a origem de determinado sentimento voltado para o próximo ou discorrer acerca da importância de tentar compreender as pessoas que estão em volta.
Palavras-chave: Mães – Sentimentos Empáticos – Técnicas de Socialização
ABSTRACT
Empathy, according to Martin Hoffman’s studies, is understood as an affective response
Understanding the importance of empathic ability and the role of the parents for its
strengthening, the general aim of this study is to verify mother’s empathic feelings of
different socio-economic status, the situations that can cause these feelings, what they say to their children about these feelings and how they do it. To achieve this goal 100 literate women participated in the research, they are mothers of children and adolescents who attended public and private schools in the city of João Pessoa-PB. Participants were equally distributed in relation to gender, age and children´s school context. Mothers participants completed a semi-structured interview with questions pertaining to situations involving a victim and an abuser. The results found in the semantic content analysis indicated that : the feelings verbalized by mothers in situations were: Compassion, Anger, Guilt and Injustice; mothers, when talking to their children, gave more recommendations than explanations, the most frequent recommendations were: help another person, not hurt and be generous, the most frequent explanations were: explicit the reason of suffering, the situation of aggression and injustice as well as clarify the value of helping; situations that made mothers have more empathic feeling were: Tragedy / illness / death and poverty. The results of lexical analysis indicated the formation of four classes presented in two groups. The first group, Contexts related to empathy, joined Classes 1 (situations evocative of empathy) and 4 (family structure). The second group, empathic feelings, brought together the two classes (feeling of empathic injustice - role-taking) and 3 (empathic feelings - pro-social behavior). In classes 1 and 4 we have mothers explanations about how their family dynamics worked and their experiences with their empathetic feelings in everyday life. In classes 2 and 3, there was a separation of empathic feeling of injustice of others feelings. In general, it was found that: the empathic feelings verbalized by mothers were the same of what Hoffman worked on his theory, they talked with their children and worried about their social and moral development, however, they were more concerned to recommend and guide their children's behavior than to clarify the situation, explain the origin of certain feeling toward the other person or talk about the importance of trying to understand people around them.
INTRODUÇÃO
A violência, o desrespeito, a desigualdade, a intolerância, a exclusão social
causam conflitos e preocupações tanto a população brasileira, como também a diferentes
povos em diversas partes do mundo. São conflitos existentes entre/dentre países por
motivos religiosos, étnicos, econômicos, políticos, entre outros. Diante dessa realidade
prejudicial à vida em sociedade, há a necessidade de uma cultura que respeite mais o
outro, mais tolerante, fraterna, que fortaleça os valores fundamentais dos Direitos
Humanos.
Em nosso próprio cotidiano encontram-se situações de conflitos de menores
dimensões, mas que podem causar sérios transtornos na vida de alguém. Insultos, ataques
físicos, fofocas, alcunhas, comentários depreciativos sem justificativa, ameaças e
chantagens, isolamento social da vítima e situações de vergonha são algumas formas de
agressão que já podem fazer parte do repertório de comportamentos de um individuo no
início do seu desenvolvimento. Na tentativa de procurar soluções para acabar com esses
conflitos e hostilidades ou, pelo menos, amenizá-los, eles são debatidos na mídia, nas
conversas do cotidiano, como, também, no meio acadêmico.
Muitos estudos são realizados e apontam diversos caminhos na busca de melhores
condições para a vida em sociedade. Mas, talvez, a forma mais eficiente para se trabalhar
este tema seja por meio da educação. Neste caso, julga-se que a educação moral, a
educação pró-social e a educação em Direitos Humanos são fundamentais. Este tipo de
educação tem lugar inicialmente na família, onde o indivíduo tem acesso aos seus
primeiros contatos sociais. Nesse sentido, uma atenção especial deve ser dada às técnicas
Hoffman (1975a, 2003) considera que as técnicas que os pais adotam na educação
dos filhos são cruciais para que os comportamentos de respeito, justiça, cooperação e
altruísmo sejam fortalecidos ou enfraquecidos. No momento em que os pais dão
informações claras, verbalizam sentimentos, atitudes e comportamentos frente a
determinadas situações, podem auxiliar no desenvolvimento da habilidade empática, o
que possibilita a motivação para agir com base na justiça, na solidariedade e na
generosidade.
Algumas investigações voltadas para as técnicas de socialização utilizadas pelas
mães foram realizadas pelo Núcleo de Pesquisa em Desenvolvimento Sócio-Moral –
NPDSM. Uma delas foi a pesquisa desenvolvida por Camino, Camino e Moraes (2003),
na qual os autores realizaram estudos empíricos sobre as práticas maternas de controle
social e julgamento moral. Outra investigação também foi feita com o intuito de analisar
as relações existentes entre a percepção das práticas parentais de socialização e os valores
dos adolescentes. As principais conclusões destes estudos revelaram que a socialização
no contexto familiar reflete no processo de construção de valores dos adolescentes
(Moraes, Camino, Costa, Camino & Cruz, 2007). Apesar da importância atribuída aos
pais na formação empática dos seus filhos, as pesquisas sobre técnicas de socialização
não tem procurado averiguar como eles socializam seus filhos em relação aos sentimentos
empáticos.
No estudo da empatia, em um enfoque desenvolvimentista, destaca-se o psicólogo
americano Martin Hoffman. Ele define a empatia como uma resposta afetiva voltada mais
para a situação de outra pessoa do que para a própria (Hoffman, 1990, 2003). É com o
desenvolvimento da empatia que a criança e o adolescente tornam-se capazes de se
engajarem em atividades sociais positivas, formando relações saudáveis e de ajustamento
indivíduo, a empatia também é muito significativa para o desenvolvimento de atividades
pró-sociais ou morais, possibilitando reações intencionais em benefício do próximo
(Hoffman, 2003).
Serpa, Del Prette e Del Prette (2006) verificaram que as mães são mais empáticas
do que os pais e que uma maior empatia da mãe estava associada a uma maior empatia
dos filhos e das filhas. Outros estudos também revelaram que as mães possuíam maiores
níveis de afeto, cuidado e conforto na interação com seus filhos, ênfase nos sentimentos
das outras pessoas, e menos uso de disciplina autoritária do que os pais (Barnett, King,
Howard & Dino 1980; Cecconello & Koller, 2000). Desta forma, fica claro como elas
desempenham um papel importante na educação moral de seus filhos.
O estudo da empatia vem recebendo uma maior atenção por parte dos
pesquisadores. Este tema vem, muitas vezes, associado a pesquisas voltadas para a
moralidade, a emoção e o comportamento social. Entretanto, segundo Pavarino, Del
Prette e Del Prette (2004), ainda há poucos estudos disponíveis sobre a empatia na
literatura da Psicologia no Brasil. Ainda no que se refere à realidade brasileira, estudos
feitos em importantes portais de pesquisa do País indicam que há uma carência de estudos
sobre os componentes constituintes da empatia e sobre suas relações com aspectos sociais
e desenvolvimentistas, considerando, assim, a necessidade de se realizar mais trabalhos
empíricos e teóricos sobre a empatia (Sampaio, Monte, Camino & Roazzi, 2009).
Em relação à empatia, um recente estudo foi realizado por Pequeno, Camino,
Queiroz e Santos (2009), cujo objetivo foi verificar qual a percepção dos jovens e
adolescentes a respeito das verbalizações de suas mães referentes aos sentimentos
empáticos de tristeza, raiva, culpa e injustiça. Nos resultados, os autores verificaram uma
baixa freqüência de respostas sobre a verbalização dos sentimentos empáticos pelas mães,
Dada a importância atribuída às mães em relação ao seu papel na formação
empática dos seus filhos (Barnett et al., 1980; Cecconello & Koller, 2000; Serpa et al.,
2006), dada a relevância da empatia para a emissão de julgamentos pró-sociais, e dada a
ausência de pesquisas na área, pretende-se realizar um estudo cujo objetivo é: verificar
quais os sentimentos empáticos que as mães falam para os seus filhos, as situações que
despertam nas mães os sentimentos empáticos e como eles são verbalizados. Entende-se
que o alcance desse objetivo pode contribuir para a implementação de programas sociais
de intervenção com fins profiláticos, ajudando os pais na promoção de habilidades sociais
e outros comportamentos empáticos da criança e do adolescente.
Em termos da organização desta dissertação, apresentar-se-ão dois capítulos
principais para estruturar a fundamentação teórica. O Capítulo I, intitulado “Técnicas de
Socialização”, apresentará aspectos relacionados às formas de atuação das mães, que
abrangem desde atitudes de aceitação até atitudes de controle dos comportamentos
indesejados dos filhos e imposição de limites aos filhos. Neste Capítulo também serão
apresentados estudos empíricos na área. No Capítulo II, denominado “Empatia”, o leitor
encontrará uma apresentação da teoria de Martin L. Hoffman e estudos empíricos acerca
da empatia. O Capítulo III apresentará o método referente ao estudo empírico, seguido
dos resultados (Capítulo IV) e discussão (Capítulo V). Por fim, a conclusão dos resultados
obtidos encontra-se no Capítulo VI, onde serão apresentadas as considerações finais, que
colocarão em relevo os principais resultados, as dificuldades encontradas na realização
do estudo, as perspectivas para estudos futuros e as possíveis contribuições desta
dissertação para o contexto social em que se insere.
CAPÍTULO I
“Se pudesse subir até o ponto mais alto de Atenas, levantaria minha voz para proclamar: Concidadãos, por que revirais e raspais cada pedra para acumular riquezas, mas cuidais
tão pouco dos vossos filhos, quem um dia ides ceder tudo” Sócrates.
1.1. PRÁTICAS EDUCATIVAS: INFLUÊNCIA DOS PAIS NO PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO
A socialização é entendida como o processo pelo qual as crianças adquirem
crenças, valores e comportamentos considerados importantes e apropriados pelos
membros da sociedade. A família possui um papel muito importante neste processo, em
todas as sociedades, entretanto, ela não é a única instituição envolvida. Ainda há a escola,
a mídia e os grupos de pares, por exemplo. Nos primeiros anos de vida, as crianças ficam
mais expostas aos seus familiares, possuindo uma função inicial bastante importante no
que se refere à socialização infantil (Brody & Shaffer, 1982). Segundo Salvo, Silvares e
Toni (2005), o adequado desenvolvimento infantil é o somatório de diversos fatores,
porém os pais estão entre os mais importantes.
Segundo Montandon (2005), os trabalhos que enfocam a influência dos pais
afirmam que suas condutas afetam o desenvolvimento da personalidade dos filhos e suas
relações com os outros. As práticas educativas adotadas por eles dependem de muitos
fatores: história da família, tipo de funcionamento familiar, integração da família na
comunidade, período histórico, origens culturais, sexo e reações comportamentais dos
filhos, como também pertencimento social. A partir desses fatores, as atitudes, as técnicas
e as formas de atuação vão se formando nos pais para a socialização de seus filhos, e
A dinâmica do grupo familiar é muito poderosa no processo de
desenvolvimento da criança. Estudos empíricos corroboram a relação entre estilos
parentais e comportamento e julgamento morais ao encontrarem correlação positiva entre
comportamento moral, e pró-social, de crianças e práticas maternas voltadas para o
desenvolvimento da empatia (Eisenberg et al, 1993).
Existem diferentes tipos de práticas adotadas pelos pais que se distinguem por
atitudes mais ou menos autocráticas ou democráticas, persuasivas ou coercitivas.
Baumrind (1971) foi uma das precursoras nos estudos nesta área, propondo três estilos
parentais na prática de socialização:
- Autoritário: os pais controlam muito, impõem muitas regras indiscutíveis, sem explicar
a necessidade da obediência e se apoiam em punições. Além desta postura, os pais
geralmente apoiam pouco e não possuem sensibilidade, no ponto de vista da criança.
- Permissivo: os pais exercem um controle fraco sob o comportamento do filho e um
apoio forte. Tendem a aceitar os desejos da criança, exigindo pouco dela. Os pais
geralmente fazem poucas exigências e permitem que os filhos expressem livremente seus
impulsos e sentimentos.
- Autoritativo (diretivo): os pais controlam e, também, apoiam. Eles fazem exigências
adequadas à situação. Explicam o porquê da necessidade de obediência aos limites
estabelecidos. Procuram fazer com que a criança participe das decisões tomadas dentro
do contexto familiar. Fixam regras e encorajam a independência. São exigentes e atentos.
Dessa forma, a prática educativa ocorre de forma racional e democrática, reconhecendo
a necessidade da construção da autonomia e respeitando a perspectiva do filho.
Posteriormente, Baumrind ainda propôs o quarto estilo – não engajado – que
ocorre quando os pais têm uma atitude caracterizada pela indiferença e até pela
de Baumrind impulsionaram a sistematização dos modelos teóricos e incluíram as noções
de práticas educativas e estilos parentais.
Considerando que os estilos parentais são o somatório de atitudes, técnicas e
formas de atuação utilizadas pelos pais no processo de socialização, a contribuição dos
estudos de Martin L. Hoffman para o estudo da socialização é de suma importância no
momento em que ele discorre sobre diferentes técnicas adotadas pelos pais e demonstra
a importância do poder parental para a internalização moral da criança. Hoffman (1975b)
defende a idéia de que as experiências de socialização de crianças podem desempenhar
um papel importante para reforçar ou enfraquecer a tendência empática natural, moldando
as suas atitudes, em desenvolvimento, em relação aos outros.
1.2. IMPORTÂNCIA DOS PAIS NO PROCESSO DE INTERNALIZAÇÃO MORAL
Hoffman (1975b) considera que é mais provável a disciplina parental ser um
antecedente do que uma consequência da internalização moral da criança, já que análises
teóricas e empíricas demonstraram esta relação. Ele inicia este argumento definindo o
termo poder, que pode ser compreendido como uma potência particular existente que
compele outra pessoa para comportar-se em um caminho contrário ao seu desejo. Para
ele, fica claro que os pais têm o mérito de possuir uma maior força, pois eles são
percebidos como os “fornecedores” emocionais e materiais das crianças. A diferença no
poder é particularmente crucial no encontro disciplinar parental – interações nas quais os
pais desejam mudar os comportamentos da criança considerados inadequados por eles.
O ingrediente-chave para a internalização moral é a predisposição para a
do hedonismo na criança parece ser algo inato, e o desenvolvimento da motivação para
controlá-la para propósitos sociais parece ser produto da socialização. Segundo
Hoffman (1975b, 2003), as experiências de socialização para o desenvolvimento das
motivações mais importantes são aquelas, comunicadas pelos pais, na infância, em que
há o conflito entre necessidades hedonistas e demandas morais. É nesse encontro
disciplinar, com os pais, que a criança é compelida a trabalhar o controle dos seus
impulsos. Assim, para que a criança adquira esses recursos internos de controle
necessitará de experiências envolvendo técnicas disciplinares.
Segundo o autor, as crianças podem ter influência nos pais – estudos de
observação direta têm mostrado que elas são participantes ativos, que estão em contínua
interação desde o nascimento e as respostas dadas servem como estímulo, reforço, para
comportamentos dos pais (Bell, 1971; citado por Hoffman, 1975b) –, mas são
basicamente elas quem mais se ajustam aos pais, e não o inverso. Sabendo deste potencial
poder, os pais passam para o difícil exercício de escolha entre quais técnicas de controle
utilizarão no momento do encontro disciplinar.
1.3. TÉCNICAS DISCIPLINARES
A partir da análise de uma série de pesquisas sobre o emprego de diferentes
técnicas disciplinares, Martin Hoffman as organizou em três categorias, as quais ele
sim por meio de diferentes combinações e intensidades, contribuindo variavelmente para
a internalização moral e o sentimento de culpa (Hoffman, 1975b, 2003).
1.3.1. AFIRMAÇÃO DE PODER – PODER ASSERTIVO
O conteúdo disciplinar utilizado na técnica Afirmação de Poder pode ser implícito
ou explicito. A afirmação de poder ocorre quando há o uso de componentes de alto poder
assertivo: força física, privação material ou de privilégios ou ameaça de que isso ocorra
(Hoffman, 1975b). Assim, esta orientação moral está baseada em técnicas disciplinares
que usam dois tipos de forças: punição – espancamento, agressão – e constrangimento –
colocando a criança de castigo, retirando algo importante para a criança, deixando-a fora
de alguma atividade prazerosa. Estas duas forças podem ser muito diferentes em relação
aos seus efeitos.
O uso mais coercitivo e arbitrário desta técnica envolve grande força ou ameaças
para mudar o comportamento da criança, sem limites ou explicações. Do ponto de vista
da criança, o poder assertivo sem limites viola sua necessidade de concluir alguma tarefa,
sua liberdade de ação e, após certa idade, sua expectativa em relação às demandas nas
quais será exposta. O poder assertivo também suscita raiva, tentativa da criança para
restabelecer a sua liberdade – reatância – medo, hostilidade, ansiedade, além de perpetuar
o senso de oposição entre os seus desejos e as normas sociais. Essas emoções intensas
têm efeito de redução na criança e interferem no funcionamento cognitivo, na situação.
1.3.2. RETIRADA DO AFETO
diretas, mas sem poder assertivo, de sua raiva ou desaprovação em relação ao
engajamento da criança em um ato indesejado ou prejudicial. Exemplo deste conteúdo
ocorre quando a mãe fala a uma criança da pré-escola que se ela mantiver determinado
comportamento, irá embora e a deixará sozinha.
A Retirada do Afeto se utiliza do relacionamento afetivo entre pais e crianças e
pode ser considerada uma melhor opção quando comparada ao uso do poder assertivo,
mas ainda é uma opção que produz resposta perturbadora na criança. Esta técnica de
disciplina parental comunica o forte sentimento negativo dos pais em relação ao
comportamento ocorrido e deixa claro que o ato é errado, mas traz ansiedade na criança,
pois há ameaça de uma ruptura no elo afetivo entre ela e o adulto. Mesmo sem recorrer à
força física, esta técnica disciplinar é punitiva.
Tanto os efeitos do Poder Assertivo nas crianças como os da Retirada do Afeto podem ser atenuados com uma explicação compreensível, na qual elas possam localizar
os aspectos dos seus comportamentos que foram desaprovados pelos pais (Hoffman,
1975b, 2003).
1.3.3. INDUÇÃO
Técnica disciplinar que aponta as consequências do comportamento da criança
nos outros e esclarece os sentimentos experimentados pela vítima diante de sua ação. A
indução comunica a desaprovação do pai em relação ao ato da criança, indicando
de explicação, a indução se diferencia das demais técnicas disciplinares em dois
importantes pontos:
- Chama a atenção para o sofrimento da vítima, deixando este ponto bastante
saliente e, assim, estimulando a tendência empática da criança (usando-a como uma
aliada) ao ativar alguns ou todos os seus mecanismos que despertam a empatia e causando
nela o sofrimento empático.
- Aponta o papel da ação da criança na causa do sofrimento. Por meio dessa
explicação, cria condições para emergir o sentimento de culpa na criança baseado na
empatia, que é um sentimento de depreciação intensa por si mesma por ter prejudicado o
outro.
Assim, segundo Hoffman (2003), os pais levam à criança a saírem do seu ponto
de vista ao apontar a perspectiva da vítima. Essa perspectiva pode ser entendida pelo
esclarecimento de suas intenções ou seu legítimo desejo, indicando, assim, que o
comportamento anti-social da criança foi injusto.
Hoffman considera importante destacar para a criança as consequências de sua
ação para o outro, pois as crianças mais jovens podem sentir empatia e chorar junto com
a vítima sem perceber que causaram o sofrimento nela, ou elas poderão apenas se afastar
ou sair, evitando assim a empatia ou o sentimento de culpa. As crianças podem, além
disso, estar distraídas em relação ao papel causal de suas ações - em brigas e discussões,
ou quando as vítimas de sua ação estão com raiva e reagem, ao invés de se sentirem tristes
ou magoados – por causa de ambiguidades nas situações que permitem projetar ou
racionalizar a culpa. Fazer com que as crianças percebam as reais consequências de suas
ações sem se perderem neste processo cognitivo e afetivo, bem como capitalizar as
capacidades empáticas da criança e a culpa, requer que os pais mostrem claramente o
A técnica indutiva reduz, portanto, o impulso da criança e as normas morais
comunicadas pelos pais fornecem o mínimo de recurso necessário para a internalização
moral e o controle (Hoffman, 1975b, 2003).
1.4.COMPONENTES DAS TÉCNICAS DISCIPLINARES
Hoffman (2003) considera que, não importa qual técnica disciplinar será utilizada
pelos pais, todas elas possuem dois componentes: grau de controle e grau de conteúdo.
O grau de controle é a propriedade que as técnicas possuem de provocar uma ativação afetiva na criança, possibilitando o bloqueio de um comportamento motivado.
Hoffman (2003) afirma que certa quantidade deste componente é necessária, mas é
provável que, em nível elevado, pode provocar uma perturbação no nível cognitivo da
criança. Ele também considera que o componente grau de controle em nível muito baixo
não seria suficiente para obter uma mudança na atenção da criança e um aumento na
aprendizagem.
O grau de conteúdo de uma técnica, segundo Hoffman (1970), é o aspecto
qualitativo apreendido pela criança. Se a técnica disciplinar dá uma informação pertinente
para a criança, ele apreende seu conteúdo, não se importando tanto com a sua origem.
Assim, em momentos futuros, a criança poderá utilizar o conteúdo com autonomia em
outras situações.
Por meio destes dois componentes, grau de controle e grau de conteúdo, a criança
constrói um sistema internalizado de normas que será útil para o controle do seu
comportamento (Hoffman, 2003).
Ao analisar a atuação destes componentes nas técnicas disciplinares, Hoffman
provocar um nível elevado de ansiedade. Esta organização dos componentes é encontrada
na técnica afirmação de poder e pode ter como consequência o favorecimento da identificação da criança com um modelo agressivo e esta pode focalizar a sua percepção
nas consequências punitivas de suas ações. O controle do seu comportamento seria em
função de um medo racional ou irracional.
A indução se utiliza de ativação afetiva na criança, mas esta tem como função de
apenas provocar uma ansiedade suficiente para predispor a um nível elevado de
aprendizagem. Esta técnica, ao dirigir a atenção da criança à situação do outro, ativa os
processos empáticos que vão permitir experimentar o sofrimento do outro e reparar as
consequências de suas ações. Para Hoffman (1975a), a base do altruísmo se encontra nas
experiências empáticas do indivíduo.
1.5. FATORES QUE INFLUENCIAM A ESCOLHA DAS TÉCNICAS DISCIPLINARES
As técnicas disciplinares não ocorrem apenas nos primeiros encontros, mas
durante toda a infância e na adolescência. Com o aumento da internalização, espera-se
que determinados comportamentos emitidos pelos filhos sejam diminuídos, reduzindo
também a necessidade de encontros disciplinares em torno desses comportamentos.
Aparentemente, parece simples o exercício de escolha entre quais técnicas de controle
serão utilizadas pelos pais. Entretanto, em um estudo realizado por Hoffman (1960; citado
por Hoffman, 1975b), foi perguntado aos pais o motivo que os levavam ao uso de cada
técnica de controle. As respostas dadas por eles foram que escolhiam a técnica ao acaso
ou que, apenas raramente, a escolha da técnica era ditada com antecedência. É bastante
influenciados por fatores externos, como métodos de outros pais, e pela visão de
especialistas. Assim, é razoável afirmar, segundo os estudos realizados, que a utilização
das técnicas se dá por meio de reflexões de suas razões conscientes, embora não
necessariamente fiquem claras quais as respostas dadas nos encontros disciplinares.
Oliveira, Frizzo e Marin (2000) consideram que as atitudes maternas –
predisposição ou julgamento afetivo sobre a tarefa de criar filhos – estão associadas à
própria cultura da mãe. Assim, o que se espera da criança em cada fase do
desenvolvimento, como também as atitudes no ideal parental são estabelecidos
culturalmente. Entretanto, os referidos autores consideram que há grande margem de
variabilidade entre as mães de uma mesma cultura.
Também é evidente que atributos parentais como educação e valores pessoais
afetam o comportamento disciplinador dos pais. Estes atributos podem ser assumidos e
existir muito antes da emergência do encontro disciplinar como um fator significativo na
relação pais e filho. Em um estudo realizado por Hoffman e Saltzstein (1967), foi
encontrada uma relação positiva entre valores humanísticos e indução, e uma relação
negativa entre valores humanísticos e poder assertivo. Em outro estudo realizado por
Hoffman (1971, citado por Hoffman, 1975b) foi verificado diferentes tipos de influências
nos relacionamentos familiares: a ausência do pai parece ter um efeito nas técnicas
disciplinares escolhidas pelas mães, como também a estrutura de poder na relação entre
o casal pode definir essa escolha. Fica claro, então, que a disciplina parental é
significativamente influenciada tanto pela personalidade, como pelas circunstâncias de
vida dos pais (Hoffman, 1975b).
Alguns estudos apontam, ainda, que a chance das mães desenvolverem atitudes
psicopatogênicas, como intrusão, irritabilidade e rejeição do papel no lar, cresce
podem levar à práticas de repreensões e ameaças, como também podem manifestar
práticas negligentes, como ausência de supervisões e falta de mínimos cuidados
essenciais dos filhos (Oliveira et al., 2000)
Hoffman (1975b) considera bastante provável que a criança traga certas
tendências comportamentais para o encontro disciplinar que são independentes das
técnicas utilizadas pelos pais e que podem, sem perceberem, ter efeitos sobre ela. Estas
tendências podem derivar de fatores genéticos e de interações prévias com os pais,
especialmente na primeira infância, antes da disciplina ter ficado evidente. Essas
possibilidades poderiam ser: tendências agressivas, orientação pessoal, atitude emocional
para com os pais e nível de desenvolvimento cognitivo. Em relação à cognição, pode-se
esperar que crianças cognitivamente mais avançadas possibilitem mais a utilização da
indução pelos pais do que crianças menos aptas à compreensão do conteúdo verbal dessa
técnica.
1.6. ESTUDOS EMPÍRICOS
Ao realizar um levantamento bibliográfico, por meio de palavras chaves em
relevantes bases de dados brasileiras (Index Psi, PEPsic e Scielo Brasil), foi fornecido por
Martins et al. (2010) um panorama de pesquisas publicadas no Brasil a respeito das
práticas parentais. Uma das constatações foi a de que o estudo destas práticas teve um
crescimento significativo apenas nos últimos anos. Segundo o levantamento desses
autores, há a necessidade de investigações relacionando práticas parentais e suas
consequências para o desenvolvimento na infância e na adolescência e que estudar esta
relação poderá evidenciar determinadas práticas como fatores de risco ou de proteção ao
A seguir, serão apresentados estudos que demonstraram que o uso de práticas
disciplinares dos pais – técnica indutiva e de alto controle interno – favorece o
desenvolvimento do julgamento moral, da empatia e da motivação para comportamentos
pró-sociais. Por fim, serão apresentados estudos empíricos considerando o ponto de vista
de crianças e adolescentes em relação às técnicas de socialização adotadas pelos pais.
Vulchinich, Bank e Patterson (1992) examinaram a relação entre práticas
disciplinares dos pais, relacionamento com colegas e comportamento anti-social dos
filhos em um estudo longitudinal de dois anos. Participaram do estudo 206 meninos, com
nove ou dez anos de idade, e seus respectivos pais. Os resultados encontrados
demonstraram que as práticas de disciplina, principalmente das mães, estão relacionadas
com o comportamento anti-social em pré-adolescentes. A análise revelou que o
comportamento anti-social dos filhos teve um impacto negativo sobre as práticas
disciplinares dos pais, como também o oposto: as práticas de disciplinas utilizando poder
assertivo influenciaram o comportamento anti-social dos meninos. Além destes
resultados, o estudo não encontrou evidências de que a baixa popularidade do filho com
seus pares influenciariam diretamente no seu comportamento anti-social. Estes resultados
demonstraram que determinado comportamento inadequado de crianças pode contribuir
para a sua própria manutenção.
Em um estudo sobre crenças e práticas parentais, Cruz (1999) buscou: identificar
as crenças que pais possuíam acerca do poder de controle sobre o desenvolvimento
infantil dos filhos; identificar as práticas parentais utilizadas no desajustamento social e
explorar a natureza da relação entre as crenças e as práticas de controle parental. Para a
realização da pesquisa, participaram do estudo158 mulheres e 102 homens com filhos
medir as crenças parentais e outra para medir a frequência com que os pais utilizam as
práticas de controle. Com base em determinados resultados da pesquisa, foi verificado
que os pais se consideram os principais responsáveis pelo ajustamento social
(Internalidade). Assim, segundo eles, o controle parental estava acima de outras
instituições, como a escola (Outros poderosos) e acima do destino, de fatores casuais
(Acaso). Ainda, em relação aos resultados, as mulheres, mais que homens, demonstraram
acreditar no Acaso e na Internalidade como determinantes do ajustamento social dos
adolescentes e utilizam a indução como forma de intervir na educação dos filhos.
Alvarenga e Piccinini (2001) realizaram uma pesquisa cujo objetivo foi investigar
as diferenças entre as práticas educativas relatadas por mães de crianças com problemas
de comportamento envolvendo externalização (grupo clínico) e mães de crianças sem
problemas de comportamento (grupo não clínico). Participaram do estudo 30 díades
mãe-criança, de nível sócio-econômico baixo e médio-baixo, do sexo feminino e masculino.
As díades foram designadas aos grupos clínico e não-clínico com base na pontuação da
criança no Inventário de Comportamentos da Infância e Adolescência - CBCL. As mães
responderam a uma entrevista sobre práticas educativas envolvendo situações
estruturadas e espontâneas. Os resultados obtidos a partir da análise de conteúdo das
entrevistas permitiram verificar que as categorias que compuseram as práticas indutivas
foram mais mencionadas pelo grupo não clínico do que pelo clínico. Quanto às categorias
que compuseram as práticas coercitivas, os resultados mostraram que todas elas foram
mais mencionadas pelas mães do grupo clínico. Mesmo considerando que os resultados
da presente pesquisa não são de forma alguma indiscutíveis ou passíveis de generalização,
Alvarenga e Piccinini (2001) concluíram que o uso freqüente de práticas maternas
coercitivas pode estar associado a problemas de comportamento das crianças,
Ao realizar três estudos empíricos sobre práticas maternas de controle social e
julgamento moral, Camino, Camino e Moraes (2003) entrevistaram, primeiramente, 110
crianças e suas respectivas mães, para analisar as relações existentes entre as técnicas
usadas pelas mães e o julgamento moral das crianças. Neste primeiro estudo foi verificado
que os escores mais altos de julgamento moral encontram-se nas crianças submetidas a
um alto controle interno e a um baixo controle externo, confirmando a hipótese de
Hoffman (1970) de que as crianças aprendem dos pais não somente normas determinadas,
mas, também, princípios que permitem deduzir novas normas que as guiam em situações
novas. Um segundo estudo foi realizado, tendo como amostra 222 crianças e suas
respectivas mães e, mais uma vez, foi observado o efeito negativo do controle externo
sobre o desenvolvimento moral, como também foi verificado que o estilo indutivo facilita
mais o julgamento moral das crianças do que o estilo externo. O terceiro estudo
possibilitou a validação do instrumento de Técnicas de Controle Materno, utilizado nas
pesquisas anteriores, e relacionou os controles (externo e interno) validados com o
desenvolvimento do julgamento moral. Ao observar o comportamento de 22 mães em
situação de laboratório, foi verificado que mães que se auto-avaliaram como
empregadoras de alto controle externo no questionário realmente empregavam este
comportamento com seus filhos.
Em um estudo realizado por Salvo et al. (2005) com trinta crianças – com idades
entre onze e treze anos, da rede pública de ensino – e um de seus pais, com o objetivo de
levantar quais práticas educativas eram preditoras de problemas de comportamentos e
competência social, foi verificado que a monitoria positiva – conjunto de práticas parentais que envolvem atenção e conhecimento dos pais acerca do local onde o filho se
encontra e das atividades que são desenvolvidas pelo mesmo – e o comportamento moral
a criança a se colocar no lugar do outro e propiciando situações para que ela repare seus
atos no intuito de promover reflexões, desenvolver a empatia e, conseqüentemente,
comportamento moral – são variáveis preditoras de comportamentos pró-sociais.
Um estudo realizado por Motta, Falcone, Clark e Manhães (2006) foi realizado
com o objetivo de avaliar em que contextos sociais e diante de que praticas educativas as
crianças apresentam mais dificuldade ou facilidade para se tornarem empáticas. Assim,
participaram da pesquisa 77 crianças, com idades entre 6 e 12 anos. Destas, 37 viviam em
abrigos e 40 residiam com as próprias famílias. A partir dos resultados, foi constatado
que as crianças educadas em lar se revelaram mais empáticas e que os educadores deste
contexto eram mais empáticos, mais calorosos, menos punitivos e mais interessados nos
comportamentos das crianças, esclarecendo as conseqüências dos atos inapropriados. Os
resultados encontrados por Motta et al (2006) sugerem que as práticas educativas
positivas – técnica indutiva - favorecem o desenvolvimento da empatia em crianças
Serpa et al. (2006) analisaram a influência da empatia e procedimentos educativos
de pais e mães sobre o repertório pró-social e empático de meninos pré-escolares, de uma
cidade do interior de São Paulo, que constituíram dois grupos: 11 meninos muito
empáticos e 11 meninos pouco empáticos (GPE). Os resultados desta pesquisa mostraram
que as características interpessoais das crianças, em termos de empatia e comportamentos
pró-sociais, estão relacionadas ao repertório social e educativo dos pais. Os pais dos
meninos muito empáticos relataram ou demonstraram dirigir a atenção dos filhos para o
problema de outras pessoas, incentivar a ajuda ou a partilha, permitir ou conseqüenciar
positivamente a expressão de sentimentos pelos filhos, inclusive sentimentos de tristeza,
facilitando a discriminação das emoções em si e nos outros, evitando que a criança as
Em um estudo realizado por Prust e Gomide (2007) com o objetivo de verificar a
relação entre comportamento moral dos pais e dos filhos, foram convidadas 60 famílias,
com adolescentes do sexo feminino e masculino, do 8º e 9º ano do ensino fundamental de
escolas públicas e privadas de Curitiba, para comporem a amostra, sendo 30 destes
familiares considerados de risco e 30 de não risco. Neste estudo verificou-se que o índice
de comportamento moral dos filhos correlacionou-se positivamente com os índices dos
pais e das mães: quando os pais apresentavam médias elevadas de comportamento moral,
os filhos também apresentavam e, quando havia baixo índice entre os pais, o mesmo
ocorria com os filhos. Foi verificado ainda que os pais do grupo de risco não tinham
argumentos morais e não davam oportunidades aos filhos de experimentarem as virtudes
de solidariedade, justiça e empatia. Os grupos não considerados de risco realizavam suas
tarefas educativas exercitando sempre a empatia. Prust e Gomide (2007) concluíram o
estudo afirmando que é preciso que os pais incorporem, entre suas tarefas educativas, o
exercício de atividades que desenvolvam as virtudes dando oportunidades aos filhos para
vivenciarem situações nas quais os valores morais estão presentes.
Weber, Prado, Viezzer e Brandenburg (2004) consideram de bastante relevância
não só compreender quais práticas que os pais estão adotando são consideradas adequadas
para formação de seus filhos, mas também saber se o que está sendo feito pelos pais é
interpretado pela criança e o adolescente como se espera. Sabendo da importância de
compreender a visão do filho no processo de socialização, alguns estudos se interessaram
por este tema, como serão vistos a seguir.
Um estudo realizado por Costa, Teixeira e Gomes (2000) com 378 adolescentes,
do sexo masculino e feminino, que cursavam o ensino médio em três escolas públicas de
as dimensões de responsividade e exigência parentais. Além de atingir o objetivo
principal, concluindo que os instrumentos traduzidos e adaptados deram uma garantia
razoável de que os significados dos itens são equivalentes aos originais, Costa, Teixeira
e Gomes (2000) verificaram que, segundo as respostas dadas pelos estudantes, a presença
das mães é percebida como mais marcante no ambiente familiar, no que diz respeito às
práticas educativas dos filhos, do que a presença dos pais. No que diz respeito às
frequências de estilos observadas, destacou-se o elevado percentual de pais tidos como
autoritativos e negligentes. Estes resultados indicaram que na percepção de uma
significativa parcela dos adolescentes, seus pais são responsivos, mas, ao mesmo tempo,
também lhes impõem limites. Além disso, outro grupo igualmente significativo de jovens
vê seus pais não apenas pouco envolvidos com eles, mas também pouco preocupados em
estabelecer algum tipo de controle sobre o seu comportamento.
Montandon (2005), com o objetivo de avaliar a influência da educação parental,
levou em consideração o ponto de vista das crianças em relação ao sentindo que elas
atribuíam à sua socialização e a sua experiência. Para a realização do estudo foram
entrevistadas 68 crianças de 11 e 12 anos, estudantes de uma escola pública genebrina.
Ao analisar as respostas dadas por elas a respeito de suas famílias e de suas expectativas
em relação aos pais, foi verificado que quase todas têm uma idéia clara do que esperam
dos pais: as crianças colocaram as dimensões morais e relacionais em primeiro lugar:
amor, apoio, compreensão, consolo. Elas esperam uma “boa educação”, que seus pais
lhes indiquem como se comportar, como se controlar e que lhes ensinem regras de
interação com os outros. Algumas esperam dos seus pais um estímulo à autonomia, um
preparo para quando se tornarem “mais velhas” e, ainda, houve crianças que
mencionaram que gostariam que seus pais lhes dessem uma orientação, transmitindo-lhes
realizadas, apenas um terço das crianças sentem-se incondicionalmente apoiadas por pais
que se interessam por elas. Montandon (2005) finalizou este estudo concluindo que as
crianças esperam afeto e apoio dos seus pais, além de orientação e segurança, mas, em
seu cotidiano, sentem-se muito mais cercadas que amparadas, espreitadas que escutadas.
Um segundo estudo realizado por Montandon (2005), inspirado no anterior, foi
focado na experiência que as crianças tem da autonomia. Para a realização da pesquisa
foi necessária a participação 388 crianças de 11 e 12 anos, que responderam um
questionário e, além deste instrumento, 40 delas foram entrevistadas individualmente e o
restante participou de entrevistas em grupo. A partir dos resultados encontrados, foi
possível averiguar que, segundo as crianças, os pais têm um papel crucial a desempenhar
a respeito da autonomia dos filhos. São eles que dão responsabilidades, dão explicações
para o futuro, encorajam a se virarem, mostram e depois deixam fazer, dão confiança e
ajudam a se organizar, dão bons conselhos, ensinam coisas que ajudam e, também, dão
exemplos.
O estudo realizado por Moraes et al. (2007) buscou verificar, a partir da percepção
de adolescentes, a relação existente entre as práticas parentais de socialização e os valores
ideais para uma sociedade. Assim, considerando que as interpretações dos próprios
adolescentes fazem parte do processo de socialização, participaram da pesquisa 2.004
jovens com idades variando entre 10 e 18 anos, estudantes de escolas públicas e privadas
das cidades de João Pessoa e Campina Grande. Os resultados demonstraram que a
percepção dos filhos acerca das práticas de socialização está organizada em três
dimensões: aceitação, coerção e displicência. Já na análise dos valores, os resultados
mostraram a formação de quatro agrupamentos: materialistas, hedonistas, religiosos e os
pós-materialistas (estar profissional: responsabilidade, dedicação ao trabalho;
alegria, amor, conforto, auto-realização). Foram encontradas relações significativas entre
as práticas parentais de socialização e os valores de adolescentes. Como exemplo, tem-se
as relações concernentes aos valores pós-materialistas, nos quais foram observadas
relações negativas entre as dimensões coerção e displicência e esses valores. No que se
refere à aceitação, foi encontrada uma relação positiva entre essa prática e os valores
pós-materialistas. Diante dos resultados, foi permitido supor que a socialização no contexto
familiar reflete no processo de construção de valores dos jovens.
Pequeno et al. (2009), em um estudo realizado com 86 estudantes, de escolas
públicas e privadas da cidade de João Pessoa – PB, buscaram verificar qual é a percepção
dos jovens e adolescentes a respeito das verbalizações de suas mães referentes aos
sentimentos empáticos de tristeza, raiva culpa e injustiça. Para isto, foram realizadas
entrevistas semi-estruturadas, utilizando, como instrumento, um roteiro de perguntas que
visava compreender o que jovens e adolescentes percebiam das falas de suas mães a
respeito de situações que envolviam uma vítima e um agressor. Nos resultados
encontrados, foi verificado que a maioria das respostas dadas pelos filhos indicava que as
falas de suas mães a respeito de seus sentimentos não possuíam conteúdo, principalmente
quando foi verificado o sentimento de injustiça empática. Muitos jovens e adolescentes
disseram ainda que não lembravam ou que não haviam escutado suas mães falarem dos
seus sentimentos de injustiça.
Ainda no estudo realizado por Pequeno et al (2009), foi constatado que quando as
mães verbalizavam situações que envolviam alguém em sofrimento, suas falas
demonstravam buscar uma forma de prevenção, para que seus filhos não fossem
causadores do sofrimento em outras pessoas, como também para que não se descuidassem
e não fossem vítimas destas situações. Muitas situações de agressão verbalizadas pelos
adolescentes percebem as verbalizações dos sentimentos de raiva de suas mães com mais
facilidade quando o conteúdo estava relacionado com o seu grupo de pertença. Os autores
finalizaram o estudo concluindo que as mães e os adolescentes estão sofrendo influência
dos meios de comunicação em massa, principalmente a televisão, já que muitas situações
que envolviam uma vítima e um agressor mencionados por eles eram divulgadas por
telejornais nacionais e locais. Este instrumento de comunicação estaria abrindo um canal
de diálogo a respeito de situações do sofrimento do outro e contribuindo para a emissão
de sentimentos empáticos nas mães e, conseqüentemente, nos filhos.
CAPÍTULO II
EMPATIA
2.1. BREVE TRAJETÓRIA DO CONCEITO DE EMPATIA
Pode-se considerar que o termo empatia é recente – século XX – e originou-se da
palavra einfuhlung, usada pela primeira vez por Robert Vischer, na Alemanha em 1873,
em estudos sobre a psicologia da estética e percepção da forma, significando “sentir-se
dentro”. O termo alemão era compreendido como um processo de imitação interno
ocorrido durante a apreciação de obras de arte e no qual a projeção do self fazia com que
sentimentos surgissem nos observadores dessas obras (Wispé, 1990).
Theodor Lipps, ao escrever sobre einfuhlung, em 1897, desenvolveu o conceito
para a Psicologia. Para o teórico, a aparência no sentido da obra de arte pode fornecer
satisfação estética do objeto, mas o objeto não é em si a satisfação estética. Assim, a
explicou como uma pessoa apreende o significado dos objetos estéticos e a consciência
das outras pessoas - experiência da imitação interior, ou mímica motora, como passou a
se chamar posteriormente (Wispé, 1990).
De acordo com Wispé (1990), Titchener traduziu o termo alemão Einfuhlung como empatia em 1909, através do grego, empatheia, que significa literalmente “em” (en)
“sofrimento ou paixão” (pathos). O significado dado ao termo traduzido por ele não é
bem claro, mas ele percebeu a importância da empatia no estudo da percepção e na
sociedade: a empatia contribuiu nos estudos referentes à ilusão de ótica, emoções e
sentimentos morais. Segundo Titchener (citado por Wispé, 1990), as pessoas que
possuem o mesmo nível intelectual e moral podem alcançar o outro pela empatia.
O conceito da empatia utilizado nas teorias de Lipps e Titchener foi empregado
no campo da Psicologia Experimental, e, na década de trinta, alguns teóricos da
personalidade como Downey, Allport, Murphy, Dollard e Miller estenderam o conceito
de empatia para diferentes estudos nessa área. No início da década de cinqüenta, o termo
empatia foi emprestado e revitalizado especialmente pelos psicoterapeutas rogerianos. O
novo conceito de empatia foi crucial para o tipo de psicoterapia que Rogers desenvolveu,
já que o autor o considerava necessário para que o terapeuta desenvolvesse uma
compreensão empática pelo cliente no processo terapêutico. Em uma de suas últimas
definições, Rogers afirmou que ser empático “significa penetrar no mundo perceptual do
período, o conceito só tinha sido objeto de reflexão teórica, ao invés de ser analisado por
meio de investigações empíricas (Wispé, 1990).
Segundo Wispé (1990), desde a década de sessenta,o conceito de empatia vem se
tornando cada vez mais importante na área da Psicologia Social. Muitos estudos iniciaram
com o interesse de buscar uma explicação para o comportamento altruísta. Embora, no
início, os pesquisadores não tenham evocado o conceito de empatia, eles introduziram
diferentes tipos de variáveis dependentes: ajudar, doar, intervir.
Segundo Hoffman (1975a), a possível contribuição da empatia para o altruísmo é
encontrada na literatura desde a década de 20, quando Stern, em 1924, sugeriu que a
empatia contribui para atos como tentativa de conforto, ajuda, cuidados com uma pessoa
em dificuldade. Em 1933, Isaacs compreendeu a empatia como uma raiz da reciprocidade,
e, ainda na década de trinta, Anna Freud considerou que o espectador, ao sentir empatia,
projeta suas próprias necessidades e, ao agir com altruísmo, ganha a satisfação vicária de
seus esforços para satisfazer sua própria necessidade.
Sampaio et al. (2009) citam os trabalhos clássicos de Baldwin, Isaacs, Murphy e
Feshback sobre a empatia dentro da área de Psicologia do Desenvolvimento. Entretanto,
segundo Wispé (1990), alguns destes teóricos não utilizaram o termo propriamente dito.
Diferenças de sexo em relação à empatia tornaram-se uma preocupação natural na área
do Desenvolvimento e levou a uma grande quantidade de pesquisas que apontou as
dificuldades em analisar o conceito de empatia empiricamente.
Plutchik (1990), dentro do campo da Psicologia Evoluitva, considera que a
empatia tem uma importante colaboração no contexto evolucionário porque esta
possibilita a ligação de um individuo com outro, especialmente entre a mãe e seu filho. A
do ambiente, incluindo predação, quando é recém-nascido. Ante a necessidade de buscar
a sobrevivência desde o nascimento, certos mecanismos inatos devem operar na criança
e na mãe para auxiliar nesse processo de luta pela vida. Isto ocorre, por exemplo, quando
um bebê com fome, ao chorar, atrai o adulto que o alimenta. Assim, as crianças possuem
um efeito poderoso no estado afetivo dos pais, inclinando-os a se moverem em direção a
elas. Plutchik (1990) concluiu que o sentimento empático fornece uma base fundamental
para o vinculo social entre pais e filhos.
Plutchik (1990) sugere ainda que a empatia é um fenômeno generalizado no
mundo animal e que envolve uma variedade de padrões de comportamento que se utilizam
da mímica e da afetividade. A empatia é, segundo o autor, um esquema inato,
geneticamente determinado, que contribui para a padronização do comportamento do
grupo e para a adaptação, aumentando a chance de sobrevivência da cada membro da
espécie.
No estudo da empatia, em um enfoque desenvolvimentista, destaca-se o psicólogo
americano Martin Hoffman. Seguindo uma perspectiva psicogenética e evolutiva, o
teórico considera que a empatia elaborada em um esquema de desenvolvimento pode
fornecer a base para a compreensão da teoria moral (Hoffman, 1990).
2.2. A PERSPECTIVA DE HOFFMAN ACERCA DA EMPATIA
2.2.1. DEFINIÇÃO DO TERMO EMPATIA
Hoffman (1990, 2003) define a empatia como uma resposta afetiva voltada mais
para a situação de outra pessoa do que para a própria. Ela não se refere a um encontro
outros sentem. A empatia, segundo o autor, é uma habilidade para experimentar e
expressar tanto emoções positivas como negativas, porém, quando é produzida
principalmente nos momentos em que o espectador observa uma pessoa vivenciando
situações negativas, dolorosas, ela pode funcionar como um motivador para o
desenvolvimento do julgamento moral e para comportamentos altruístas.
Altruísmo tem sido implicitamente definido como um comportamento intencional
em beneficio de alguém, envolvendo algum dispêndio para o individuo responsável pelo
ato. A ação pode ser, por exemplo, uma ajuda dada ao ver o outro em sofrimento – resgate,
como também uma doação anônima para alguém em necessidade. Segundo Hoffman
(1975a), os homens são capazes de motivação egoísta e altruísta e ele propõe uma teoria
para explicar como a tendência para o altruísmo pode se desenvolver no indivíduo.
Hoffman (2003) considera que a empatia torna possível a vida em sociedade.
Mesmo aparentando ser uma habilidade frágil, ela persiste por toda a evolução,
permitindo a continuidade da existência humana. Assim, o teórico afirma que a empatia
deve ser analisada a partir de uma perspectiva psicogenética e evolutiva.
Tomando por base a perspectiva de Hoffman acerca da empatia, o autor oferece
uma teoria do desenvolvimento moral pró-social em crianças, reunindo idéias das teorias
da aprendizagem social e comportamental, que envolvem conceitos como: reforçamento,
punição e imitação; idéias da teoria do desenvolvimento cognitivo, que envolve conceitos
como: perspectiva do outro, reciprocidade, desequilíbrio cognitivo e construção
progressiva; e idéias das teorias do desenvolvimento emocional e motivacional, que
envolvem conceitos como: identificação parental, ansiedade pela falta de amor, empatia,
simpatia, culpa e internalização moral (Eisenberg & Morris, 2001).