• Nenhum resultado encontrado

Os dados foram submetidos a dois procedimentos de análise: no primeiro foi realizada uma análise de conteúdo seguindo a proposta de Bardin (1977). No segundo procedimento, foi realizada uma análise lexical por meio do software ALCESTE. Ainda, em relação aos dados sócio-demográficos, foram calculadas as suas frequências e as porcentagens.

Primeiramente, as respostas gravadas foram transcritas na íntegra e, em seguida, foram categorizadas utilizando a Análise de Conteúdo Semântico descrita por Bardin (1977). As respostas dadas pelas participantes foram analisadas por três juízes. Inicialmente foi feita uma leitura geral de todas as questões destacando as características principais de cada uma. Depois foi realizada uma leitura pormenorizada de cada questão pelos juízes, sendo categorizadas com a concordância de, pelo menos, dois terços deles.

Os dados foram submetidos a uma análise das frequências por meio do Qui- quadrado (X2). Quando 1/4 das frequências esperadas eram menores do que cinco ou quando alguma categoria não possuía frequência de respostas, em algum dos grupos de comparação, somava-se o valor cinco em todas as frequências obtidas para, assim, realizar a análise estatística.

Para a segunda forma de análise, utilizou-se o software ALCESTE – Análise Lexical por Contexto de um Conjunto de Segmentos de Texto – na versão 4.5 (Reinert 1986/1990). O referido programa oferece uma análise lexical quantitativa que considera a palavra como unidade e a sua contextualização o corpus. O software, apesar de originalmente trabalhar com a língua francesa, possui dicionários em outros idiomas, fato que permite sua utilização com materiais em português. O ALCESTE é uma técnica de análise de dados textuais que permite a exploração da estrutura e organização do discurso dos atores sociais. Este programa permite acessar as relações existentes entre os universos lexicais que dificilmente seriam identificadas na análise de conteúdo tradicional (Nascimento & Menandro, 2006)

Todas as entrevistas transcritas formaram o corpus analisado pelo Alceste. A partir dos segmentos de textos do corpus da pesquisa, realizou-se uma Análise Hierárquica Descendente, permitindo a análise das raízes lexicais e oferecendo os

contextos em que as classes estão inseridas. O banco de dados foi formado a partir do modelo proposto por Camargo (2005) As etapas operacionais serão descritas a seguir.

Para formatação do corpus, todas as entrevistas transcritas foram colocadas em um único arquivo do Microsoft Office Word Windows 2007, salvo no tipo texto-txt. Seguindo este modelo, as linhas de comando foram digitadas antes de cada conteúdo semântico da entrevista, com o intuito de separar cada Unidade de Contexto Inicial (UCI). Estas unidades dizem respeito às respostas dadas pelas participantes frente às questões da entrevista semi-estruturada. Nas linhas de asteriscos ou de comando foram digitadas as variáveis descritivas (idade, escolaridade, número de filhos, ocupação, horário da ocupação, estado civil e religião das mães; e idade, sexo e tipo de escola dos filhos). Exemplo de uma participante (UCI):

**** *ind_97 *idm_2 *escm_5 *nfil_2 *trab_1 *hor_3 *est_2 *rel_2 *gru_2 *sex_1 *esc_2

Todo o mundo sente. A empatia é algo inato no ser humano. Uns mais e outros menos. A gente tem dó por vários motivos. Às vezes pela própria situação de dor, às vezes sente a dor associada à falta de condição financeira. O sentimento número um é o sentimento de dó mesmo. A gente se coloca muitas vezes no lugar do outro. O meu sentimento é esse então. Com certeza. Desde pequenininha que eu tentei passar isso, tentei fazer com que elas se colocassem no lugar do outro, sentissem a dor do outro e, na medida do possível, tentassem ajudar o outro, no que estivesse no alcance da gente. Elas foram educadas assim. Deixa eu lembrar de algo, tem tantas coisas. Uma amiga delas tinha apenas uma avó. Não tinha mãe e não tinha pai e essa avó morreu. Essa amiga tinha justamente a idade delas, na época tinha catorze anos, foi uma dor muito grande e ela ficou sozinha. Muitas vezes, nessa idade da adolescência, são muitas indagações, são muitas queixas, é a fase da revolta e eu tentava sempre mostrar para ela a situação da outra que, em meio a tantas dificuldades, a outra era ainda muito feliz. Este foi um dos casos que mais me marcou, que mais a gente vivenciou juntas. A gente tenta administrar porque a reação do ser humano é querer sempre rebater, é querer sempre descontar aquilo. Uma ação provoca uma reação. Aí a gente sente raiva, sente esse desejo de descontar, de vingança. Mas a gente tenta administrar porque é uma obrigação nossa entender o lado do outro, porque está havendo aquilo ali, é um sentimento difícil de a gente tentar controlar (...).

As variáveis localizadas na linha de comando, neste caso, se referiram a uma das mães que participou da entrevista (suj. 97), tendo a idade entre 25 e 34 anos (*idm_2), o nível de escolaridade superior (*escm_5), com dois filhos (*nfil_2), possuidora de uma ocupação profissional (*trab_1) que exige dois turnos diários (*hor_3). Ainda consta na linha de comando que a participante é casada (*est_2), possui religião evangélica (*rel_2)

e que um dos seus filhos (àquele na qual a entrevista foi direcionada) é adolescente entre 14 e17 anos (*gru_2), do sexo feminino (*sex_1) e estudante de escola privada (*esc_2). Após a formatação do corpus, segue a análise no software Alceste, que envolve quatro etapas operacionais:

Etapa A - Leitura do Texto e Cálculo dos Dicionários

Nesta etapa são realizadas três ações: a primeira é o reconhecimento das UCI, reduzindo-as, de acordo com a pontuação utilizada, em unidades de contextos elementares (UCE); a segunda ação é a redução das palavras as suas raízes, ao seu radical comum; e a terceira é o agrupamento das raízes das palavras e o cálculo das suas frequências.

Etapa B: Cálculo das Matrizes de Dados e Classificação das UCE

Nesta etapa três ações também são desempenhadas: primeiramente as UCE são selecionadas para serem consideradas num cálculo de matrizes de formas reduzidas versus UCE. Após este momento, há a realização do teste do χ², associando as formas reduzidas as classes compostas por UCE, tendo o grau de liberdade igual a 1. A última ação é a confecção da Classificação Hierárquica Descendente (CDH). Assim, as UCE que possuem frequências elevadas de determinados radicais são agrupadas formando uma determinada classe da CDH.

Etapa C: Descrição das Classes de UCE's:

Primeiramente são comparados os valores obtidos nas duas últimas Classificações Hierárquicas Descendentes e considera-se apenas a parte estável dos resultados para a determinação dos perfis de classe, definidos pelo χ2 de associação de formas reduzidas às

suas respectivas classes. Por fim, uma Análise Fatorial de Correspondência efetua o cruzamento entre as formas reduzidas e as classes formadas.

Esta etapa é destinada aos cálculos complementares e nela são formadas as listas de formas reduzidas associadas a contextos. Neste momento, são identificados os segmentos repetidos e, finalmente, realiza-se a Classificação Hierárquica Ascendente, que consiste no cruzamento entre as UCE das classes e as formas reduzidas características da mesma classe (Nascimento & Menandro, 2006).

CAPÍTULO IV

RESULTADOS