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ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS EXPLICAÇÕES VERBALIZADAS PELAS MÃES AOS SEUS FILHOS DIANTE DE DIFERENTES SITUAÇÕES QUE

PESSOA PASSANDO POR SOFRIMENTO NÃO

4.2.3. ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS EXPLICAÇÕES VERBALIZADAS PELAS MÃES AOS SEUS FILHOS DIANTE DE DIFERENTES SITUAÇÕES QUE

ENVOLVIAM UMA VÍTIMA E/OU UM OFENSOR

 Explicações relativas ao sofrimento da vítima

A partir das explicações dadas pelas mães aos filhos, quando deparadas com uma situação envolvendo uma vítima, foi possível construir três categorias:

- Explica a razão do sofrimento: Nesta categoria, foram englobadas as respostas em que

as mães, como espectadoras, diziam elucidar os filhos as causas do sofrimento das pessoas, fazendo com que estes atentassem para a situação de angústia do outro. Exemplo: “Eu falo assim: Olhe, encontrei uma pessoa ali, mas me doeu tanto de ver a situação,

como o mundo às vezes é ingrato, a questão da oportunidade. Pessoas que poderiam não estar ali e estão porque faltou oportunidade” (suj. 63).

- Comenta fatos da mídia: A construção desta categoria se deu a partir das respostas em

que as mães mencionaram que utilizavam a televisão e a internet para comentar com os filhos acerca do sofrimento humano. “A gente já conversou em algumas situações, em

casos que acontecem na televisão, algumas tragédias na televisão. Pelo que eu pude ver ela também sente pena, sente que as pessoas poderiam até mudar os acontecimentos das coisas” (suj. 30).

situação e a angústia do outro e a falta de cuidado para não passar por situações de sofrimento também. Exemplo: “Você vai se separar da sua família, você vai pagar pelos

seus atos” (suj. 70).

As frequências de respostas relativas às categorias recém-mencionadas foram agrupadas conforme Tabela 16 e foram submetidas a uma análise por meio do teste Qui- quadrado para uma única amostra. O resultado deste teste apontou para uma diferença significativa entre as frequências de respostas, destacando-se a categoria Explica a razão

do sofrimento, com a maior freqüência de respostas.

Tabela 16 - Frequências e percentuais das explicações que as mães dizem dar aos filhos em situações de sofrimento do outro (N = 87)

Categorias F %

Explica a razão do sofrimento 30 78,95

Comenta fatos da mídia

Alerta para as conseqüências 4 4 10,53 10,53

Total 38 100,00

[X2 (2) = 35,598 p≤ 0,05]

As frequências referentes às explicações dadas pelas mães em situações de sofrimento do outro foram submetidas ao teste Qui-quadrado para duas amostras independentes. O resultado deste teste não identificou diferenças significativas entre as frequências de respostas às categorias em função dos grupos de idade dos filhos, do sexo dos filhos e em função do contexto escolar (Apêndice III, Tabelas 24, 25 e 26).

 Explicações relativas ao ofensor

A partir das explicações dadas pelas mães aos filhos, quando deparadas com uma situação envolvendo um ofensor, foi possível construir cinco categorias:

- Explica a situação de agressão: Nesta categoria, foram englobadas as respostas em que

situação de angústia que uma pessoa pode causar na outra. Exemplo: “Eu só falo assim com ele, que eu fico chateada, com raiva mesmo, com ódio porque fulano fez isso assim, assim e assim” (suj.59).

- Comenta fatos da mídia: A construção desta categoria se deu por meio das respostas

em que as mães mencionaram que utilizavam a televisão e a internet para comentarem com os filhos acerca do sofrimento humano. Exemplo: “Ele gosta muito de filme de guerra. Ele é louco pela segunda guerra mundial. Aí, quando eu vejo, a gente sempre conversa, desde quem sofreu um sofrimento físico ou não, até quem causou ou não”

(suj.56).

- Critica a sociedade: Esta categoria foi construída a partir das críticas levantadas pelas

mães à sociedade em geral, muitas vezes voltadas para o governo ou para a segurança pública, como também para a própria população que nada faz ao deparar-se com uma situação de violência. Exemplo: “Deveria existir nas escolas a matéria corrupção (...). Existem vários tipos de violência. Não só os crimes bárbaros que vemos na televisão, mas também a negligência dos que estão muito bem vestidos e governam o nosso país. São crimes da mesma forma e devem ser punidos também” (suj.86).

- Mostra o que deve fazer: Esta categoria foi formada pelas afirmações por meio das

quais na própria situação de agressão, as mães diziam que mostravam aos filhos quais foram os seus comportamentos diante do ofensor e da vítima, sem, entretanto, mencionar se os filhos deveriam ou não se comportar da mesma maneira. Exemplo: “Tem horas que a situação exige que você tenha mais coragem, que seja uma coisa mais ativa... Quem tem que dar limites somos nós. Isso eu faço com maior tranquilidade” (suj.55).

- Dá exemplos de agressão: Nesta categoria, as mães responderam que apresentavam

a-dia. Exemplo: “Eu falo de alguns exemplos de algumas pessoas que passaram por

problemas (agressão) como este” (suj. 52).

As frequências de respostas às categorias, formadas a partir das explicações dadas pelas mães em situações de agressão, estão apresentadas na Tabela 17 e foram submetidas a uma análise por meio do teste estatístico Qui-quadrado, para uma única amostra. O resultado desse teste apontou para uma diferença significativa entre as frequências de respostas às categorias, destacando-se, com a frequência mais elevada, a categoria

Explica a situação de agressão, e com a frequência mais baixa, a categoria Dá exemplos de agressão.

Tabela 17 - Frequências e percentuais das explicações que as mães dizem dar aos filhos em situações de agressão (N = 89)

Categorias F %

Explica a situação de agressão

Comenta fatos da mídia Critica a sociedade 28 15 14 37,84 20,27 18,92

Mostra o que deve fazer 11 14,86

Dá exemplo de agressão 6 8,11

Total 74 100,00

X2 (4) = 18,024 p≤ 0,05

Ao fazer uma análise das frequências, referentes às categorias apresentadas na Tabela 17, por meio do Qui-quadrado para duas amostras independentes, não foram verificadas diferenças significativas entre as frequências de respostas às categorias em função dos grupos de idade dos filhos, do sexo dos filhos e do contexto escolar dos filhos (Apêndice III, Tabelas, 27, 28, 29).

 Explicações relativas a uma pessoa necessitada de ajuda

A partir das explicações dadas pelas mães aos filhos, quando deparadas com uma situação envolvendo uma vítima, foi possível construir quatro categorias:

- Esclarece sobre o valor da ajuda e dá exemplos: Nesta categoria, foram englobadas as

respostas em que as mães, como espectadoras, diziam elucidar para os filhos a importância de ajudar as pessoas, fazendo com que seus filhos atentassem para a situação de angústia do outro. Também foram englobadas as respostas em que as mães diziam dar exemplos de situações cujas pessoas que precisavam de ajuda eram socorridas. Exemplo:

“Eu me sinto uma pessoa pequena, eu sinto que ta faltando alguma coisa. Quando eu ajudo, eu me sinto bem aliviada, bem aliviada” (suj. 42).

- Explicita medo ou dúvida de ajudar: Esta categoria engloba as respostas nas quais as

mães afirmaram que tinham receio ou dúvida de ajudar as pessoas, já que elas não conseguiam diferenciar quem realmente estava bem intencionado e necessitando verdadeiramente de ajuda. Exemplos: “Eu digo a ele assim: se chegar uma pessoa batendo à noite, essas coisas, eu não sei se eu abriria minha porta, né? Eu tenho medo”

(suj. 2); “Até nisso você tem que parar para analisar a situação e ver se realmente aquela pessoa ta falando a verdade ou mentindo pra poder ser ajudado” (suj. 62).

- Explicita o motivo de não ajudar: Esta categoria engloba as respostas em que as mães

diziam explicar aos filhos os motivos que as levavam a não ajudar uma pessoa que pedia ajuda. Exemplo: “Mas a gente fica, hoje em dia então. Eu converso e explico que nesse

aspecto é muito difícil você hoje em dia ajudar... Não abro a porta pra ninguém” (suj.

56).

- Explicita as consequências de não ajudar: As respostas que formaram esta categoria

referem-se às explicações que as mães diziam dar filhos sobre o que poderia ocasionar a não preocupação com a situação do outro. Exemplo: “Eu falo para minha filha que eu me sentiria culpada porque, lá na frente, quando ela sair e encontrar lá fora, ela querer praticar alguma coisa... Se eu souber que essa pessoa fez alguma coisa errada, isso me doeria muito” (suj. 3).

As frequências de respostas relativas às categorias recém-mencionadas foram agrupadas, conforme Tabela 18, e foram submetidas a uma análise por meio do teste estatístico Qui-quadrado, para uma única amostra. O resultado desse teste apontou para uma diferença significativa entre as frequências de respostas às categorias, destacando- se, com a frequência mais elevada, a categoria Esclarece sobre o valor da ajuda e dá

exemplos.

Tabela 18 - Frequências e percentuais das explicações que as mães dizem dar aos filhos ao verem uma pessoa precisando de ajuda

Categorias F %

Esclarece sobre o valor da ajuda e dá exemplos Explicita medo ou dúvida de ajudar

Explicita o motivo de não ajudar Explicita as consequências de não ajudar

22 16 10 9 38,60 28,07 17,54 15,79 Total 57 100 X2 (3) = 7,499 p>0,05

Quanto aos resultados das análises com o Qui-quadrado para amostras independentes com as frequências das respostas às diferentes categorias, não se verificaram diferenças significativas em função dos grupos de idade dos filhos, do sexo dos filhos e em função do contexto escolar (Apêndice III, Tabelas 30, 31 e 32).

 Explicações relativas a uma pessoa passando por um sofrimento não

merecido

Em relação às explicações verbalizadas pelas mães aos filhos, quando deparadas com uma situação envolvendo uma situação de injustiça, foi possível elaborar sete categorias:

- Explicita a situação de injustiça: Nesta categoria, foram englobadas as respostas em

que as mães, como espectadoras, diziam que elucidavam aos filhos situações injustas. Exemplo: “O pai dela (amiga da filha) faleceu , era ele quem ajudava, dava dinheiro a ela. Depois que ele faleceu, ela começou a passar dificuldade” (suj. 36).

- Explicita a situação da vítima: As respostas que formaram esta categoria referem-se às

explicações que as mães diziam dar aos filhos sobre a situação de sofrimento, angústia, da vítima da injustiça. Exemplo: “A minha irmã era uma pessoa maravilhosa. Mesmo que ela não tivesse como ajudar, ela arrumava um jeito de ajudar. Se ela estivesse sofrendo, ela escondia. Nunca demonstrava tristeza alguma e de repente veio uma doença e a levou (...). É inexplicável, não entendo” (suj.94).

- Critica a sociedade: As respostas formadoras desta categoria se referem às críticas que

as mães fizeram à população em geral por julgar de forma inadequada as situações. As críticas foram voltadas, também, para o governo ou para a segurança pública que são, muitas vezes, responsáveis ou nada fazem pelas condições injustas da realidade social. Exemplo: “Há a negligência de pessoas que estão no poder e não são punidas. Essa é a maior violência, injustiça, que vejo” (suj.85).

- Coloca sua situação de injustiça: A construção desta categoria se deu por meio das

respostas em que as mães diziam utilizar suas próprias situações para exemplificar condições injustas aos filhos. Exemplo: “Quando converso com ela, eu uso sempre o que aconteceu comigo para servir de exemplo (...) pessoas que tem câncer” (suj.21).

- Questiona a veracidade da injustiça: As respostas que formaram esta categoria

referem-se às explicações das mães aos filhos sobre o comportamento do individuo envolvido em uma situação de sofrimento, examinando se este merecia ou não passar por este estado de angústia. Exemplo: “Quando uma pessoa é boa, mesmo ela passando por um sofrimento, eu digo que é porque tem algo lá atrás na vida dela que ta fazendo com que ela sofra no presente. Aí eu fico sem saber se eu sinto pena ou não da pessoa” (suj.

62).

- Menciona a justiça de Deus: Esta categoria foi construída considerando as falas das

ser considerado, e não a justiça terrena. Também fez parte da construção desta categoria as explicações das mães aos filhos acerca dos ensinamentos bíblicos relacionados com o sofrimento não merecido. Exemplo: “O Diabo é o anjo da mentira e ele tem os seus joguinhos, mas nós também temos os nossos segredos e formas de defesa. Lembrar sempre que Deus é justiça” (suj. 90).

- Diz que a vítima merece: Esta categoria foi elaborada a partir das verbalizações das

mães que afirmavam aos filhos que as situações que aparentemente eram injustas ocorriam porque as vítimas faziam por merecê-las. Exemplo: “O primo dele foi morto e a gente achava que não merecia. Mas quando a gente foi procurar, apareceram algumas coisas. No fundo, no fundo, tinha algo por trás... Eu digo que quem procura coisa ruim, vai encontrar coisa ruim” (suj.60).

Em relação às explicações dadas pelas mães, recém- mencionadas e apresentadas com suas respectivas frequências na tabela 19, foi constatada uma diferença significativa entre as frequências de respostas às categorias, verificando-se que as categorias: Explicita

a situação de injustiça e Explicita a situação da vítima foram as que apresentaram as

maiores frequências de respostas. As duas últimas: Questiona a veracidade da injustiça e Diz que a vítima merece também se destacaram significativamente ao realizar o teste estatístico do Qui-quadrado.

Tabela 19 - Frequências e percentuais das explicações que as mães dão aos filhos ao verem uma pessoa passando por uma situação que não merece (N = 85)

Categorias F %

Explicita a situação de injustiça Explicita a situação da vítima Menciona a justiça de Deus Critica a sociedade

Coloca sua situação de injustiça Questiona a veracidade da injustiça Diz que a vítima merece

29 22 14 12 10 8 6 28,71 21,78 13,86 11,88 9,90 7,92 5,94 Total 101 100,00 X2(6) = 28,253 p≤ 0,05

As frequências referentes às explicações dadas pelas mães aos seus filhos acerca de situações de sofrimento não merecido foram submetidas ao teste do Qui-quadrado, para duas amostras independentes. Os resultados desse teste não indicaram diferenças significativas entre as frequências de respostas às categorias em função dos grupos de idade dos filhos, do sexo dos filhos e em função do contexto escolar (Apêndice III, Tabelas 33, 34 e 35).

Para facilitar a observação geral dos resultados referentes às explicações que as mães dizem dar aos filhos em situações que envolvem uma pessoa em sofrimento, uma pessoa agredindo outra, uma pessoa necessitada de ajuda e uma pessoa passando por algo não merecido, foi construído o Quadro 5. Os totais das frequências de explicações que as mães dão nas quatro situações pesquisadas foram submetidas a uma análise por meio do teste estatístico Qui-quadrado, para uma única amostra. O resultado desse teste apontou para uma diferença significativa entre as frequências dos totais de respostas em relação a cada situação, destacando-se, com a frequência mais elevada, a situação que envolvia uma

Pessoa passando por sofrimento não merecido. A situação que envolvia uma Pessoa em sofrimento também se destacou, com a frequência mais baixa. Além desse resultado

encontrado, percebe-se que o número de categorias construídas na situação que envolve uma Pessoa passando por um sofrimento não merecido é bem maior quando comparada com as demais situações.

Quadro 5: Frequências e percentuais das explicações dadas pelas mães, aos filhos, em situações que envolviam uma vítima e/ou um ofensor.

SITUAÇÃO EXPLICAÇÃO F %

SOFRIMENTO DA VÍTIMA Explica a razão do sofrimento 30 78,95

Comenta fatos da mídia 4 10,53

Alerta para as conseqüências 4 10,53

TOTAL 38 100,00

OFENSOR Explica a situação de agressão 28 37,84

Comenta fatos da mídia 15 20,27

Critica a sociedade 14 18,92

Mostra o que deve fazer 11 14,86

Dá exemplo de agressão 6 8,11

TOTAL 74 100,00