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DESENVOLVIMENTO DO SOFRIMENTO EMPÁTICO

2.2. A PERSPECTIVA DE HOFFMAN ACERCA DA EMPATIA

2.2.4. DESENVOLVIMENTO DO SOFRIMENTO EMPÁTICO

Considerando os modos de excitação empática, Hoffman (2003) divide o desenvolvimento do sofrimento empático em cinco estágios, compreendendo que elas estão presentes em todas as culturas e evoluem juntamente com o desenvolvimento cognitivo. Os estágios são: Empatia global, Empatia egocêntrica, Angústia empática

quase-egocêntrica, Verdadeira angústia empática, Angústia empática além da situação. Empatia global: o estado interno do outro é desconhecido e pode ser assumido

como sendo o mesmo da criança. Quando um bebê escuta o choro de outro bebê, fica perturbado, sendo este comportamento o precursor primitivo da ativação empática (Hoffmann, 1981). O bebê demonstra sinais de solidariedade – o que pode indicar a capacidade de solidarizar-se com o sofrimento do outro no futuro – mesmo sem ter adquirido, ainda, a percepção de sua individualidade. Há sinais de solidariedade, mas não há, ainda, possibilidade de comportamento de ajuda consciente. Quando uma criança leva

uma queda e chora, a outra que observa olha para a criança chorando, e é capaz de se comportar como se estivesse prestes a chorar também, colocando o polegar na boca e enterrando a cabeça no colo da mãe (Hoffman, 1982, 1975a, 2003). Segundo Hoffman (1975a), a resposta da criança ainda é bastante primitiva e ele usa o termo empatia para descrever este estágio, mas compreende que a criança neste momento não se coloca no lugar da outra pessoa e não tenta imaginar com esta se sente. A ação da criança neste estágio é de motivação hedonista, pois ela busca eliminar o desconforto no self.

Empatia egocêntrica: a criança pode experimentar sofrimento empático através

dos modos simples de excitação. A criança distingue sua experiência do outro de forma bastante rudimentar, pois ela começa a percebê-lo como entidade física distinta de si mesmo. Exemplo deste estágio ocorre quando um menino com um ano e seis meses de idade busca sua mãe para confortar o choro do amigo, mesmo a mãe do amigo estando presente – um comportamento que, embora confuso, não é inteiramente egocêntrico porque indica que a criança está respondendo com apropriado afeto empático (Hoffman, 1990).

Angústia empática quase-egocêntrica: Neste estágio, a criança consegue

diferenciar a sua angústia da angústia do outro, não mais confundindo os dois sentimentos. Isto se torna possível com a habilidade do role-taking, mesmo não estando, ainda, completamente desenvolvido. Como o desenvolvimento da capacidade de se diferenciar do outro ainda não está completa, a criança não conhece o estado interno da vítima. Desta forma, o modo como a criança procura amenizar o sofrimento do outro pode não funcionar, já que esta age de acordo com o seu funcionamento interno (Hoffman, 2003).

Verdadeira angústia empática: a criança responde afetivamente em relação ao

mais adequada com a situação de sofrimento. Esta nova capacidade torna-se possível no momento em que os dois últimos modos de excitação empática - associação mediada e role-taking – são suscitados no individuo (Hoffman, 2003).

Angústia empática além da situação: Ao final da infância, possuindo uma clara

concepção de si mesmo e dos outros, como pessoas que possuem suas próprias histórias e identidades, torna-se possível conhecer que os outros sentem prazer e dor, não apenas na situação imediata, mas também em sua larga experiência de vida. O sofrimento empático pode ser combinado com uma representação mental do sofrimento de todo um grupo ou classe de pessoas (pessoas que vivem em condição de miséria ou portadores de uma doença crônica).

O desenvolvimento do sofrimento empático ocorre, segundo Hoffman (1990), a partir de uma seqüência de quatro estágios:

-No primeiro momento, a criança tem uma carência de um senso de separação entre ela e outro.

-No segundo estágio, por meio do desenvolvimento cognitivo, com a capacidade de descentração, a criança adquire a consciência de que os outros são entidades físicas distintas. Considerando os estudos acerca da noção dos objetos permanentes, realizadas por Piaget (1970), por volta dos dois anos de idade a criança compreende que os objetos continuam a existir mesmo quando não são mais visíveis ou percebidos pelos outros sentidos. Substituindo objetos por pessoas, foi percebido que os bebês adquirem a noção de permanência de pessoas antes de objetos, isto é, antes do segundo ano de vida a criança já tem a consciência de que as mães são entidades físicas separadas dela.

-Em um terceiro momento, tendo atingido um senso de separação, a criança ainda tem uma limitada compreensão a respeito do outro. Por volta dos sete ou oito anos de idade, o egocentrismo começa a dar lugar ao reconhecimento de que os outros têm a sua

própria perspectiva. Assim, a criança compreende que os outros têm sentimentos e outros estados internos independentes do seu. Isto só é possível com o desenvolvimento do role-

taking (Hoffman, 1975a).

- No momento que a criança/adolescente desenvolve a capacidade cognitiva para integrar suas próprias experiências internas ao longo do tempo, ela pode formar uma concepção de si mesma como tendo sentimentos e pensamentos em diferentes situações, mais ainda lembrando que permanece a mesma pessoa. A criança/adolescente toma consciência de que possui uma identidade e esse conhecimento pode ser ampliado para a visão de que os outros também possuem sentimentos e pensamentos em diferentes situações. Assim, se constroem conceitos acerca das experiências de vida do outro (Hoffman, 1975a). Este quarto nível de diferenciação da criança e do outro possibilita o surgimento do estágio mais elaborado da teoria de Hoffman - Angústia empática além da

situação. A compreensão de que os outros têm experiência além da situação imediata e

tem suas próprias histórias e identidades como individuo é adquirida.

Um conhecimento da condição de vida da vítima pode entrar em conflito com a sua expressão imediata. Assim, os sinais expressivos podem perder muito de sua força para um observador que sabe que eles refletem um estado transitório (o telespectador observa que uma pessoa com doença terminal está sorrindo ao assistir a um filme de comédia). Sabendo que os sentimentos imediatos podem não corresponder à situação real da vítima, Hoffman (1990) aponta para a importância de compreender que a empatia não é uma exata combinação de sentimentos entre a vítima e o observador, mas é uma resposta afetiva que é mais apropriada para a situação do outro do que para a sua própria situação.