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6 “INTEGRAÇÃO PRODUTIVA” E A TRANSFERÊNCIA DAS TERRAS DA REFORMA AGRÁRIA PARA O AGRONEGÓCIO TRANSNACIONAL

7. PERCEPÇÃO DOS MEDIADORES SOCIAIS

7.3 ÁRVORE DE DISCUSSÃO

A árvore de discussão é um instrumento metodológico construído

coletivamente utilizado na metodologia deste trabalho, com o objetivo de aferir a opinião dos mediadores sociais no que concerne às eventuais vantagens e desvantagens inerentes ao processo de expansão do agronegócio do dendê nas terras da reforma agrária.

Figura 11 - Árvore de discussão 1 - GF Concórdia do Pará

Figura 12 - Árvore de discussão 2 -GF Concórdia do Pará

As vantagens associadas à cadeia de produção da dendeicultura identificadas pelos participantes do grupo focal de Concórdia do Pará estão relacionadas a aspectos econômicos e sociais que são objeto de legitimação simbólica e reprodução discursiva. Num primeiro bloco, questões como oportunidade de renda, acesso ao mercado, geração de empregos, crédito do PRONAF Eco e impulsionamento do setor de comércio e serviços emergem como os principais pontos favoráveis suscitados pelos mediadores. Num segundo bloco, surgem outros elementos como melhoria da infraestrutura, da assistência social e qualificação profissional. Indiferente à tendência de especialização da agricultura por contrato discutida na linha do tempo apresentada anteriormente, um dos subgrupos apresentou a “diversi icação produtiva” co o vantage , o ue pareceu contradit rio.

No que se refere às desvantagens que afetam o campesinato, os aspectos agrários, fundiários e ambientais agregam as principais perversidades apresentadas durante a discussão. O enfraquecimento da agricultura familiar, o êxodo rural para os centros urbanos, a escassez de terras e o crescimento desordenado da

população são ameaças que colocam em xeque a reprodução física, social e econômica dos camponeses. Por outro lado, o uso intensivo de agrotóxicos, a pressão sobre os recursos naturais, a poluição, o desmatamento de nascentes de igarapés, e outros crimes ambientais põem em risco a biodiversidade e o equilíbrio ecológico nas áreas rurais onde o agronegócio do dendê se expande. Também se insere nesse contexto os acidentes laborais e a desestruturação das formas de trabalho camponesas baseadas em laços de sociabilidade.

Figura 13 - Árvore de discussão 1 - GF Mãe do Rio

Figura 14 - Árvore de discussão 2 - GF Mãe do Rio

As ilustrações constantes nas figuras 13 e 14 traduzem as discussões travadas durante a reunião do grupo focal de Mãe do Rio, acerca das vantagens e desvantagens relacionadas à expansão da dendeicultura na microrregião que compreende os municípios de Aurora do Pará, Irituia e São Domingos do Capim. As vantagens apontadas pelos mediadores sociais estão distribuídas entre acesso ao crédito do PRONAF Eco, qualidade dos insumos químicos, adubação orgânica (aproveitamento da biomassa), expectativa de renda oriunda da produção, limpeza das áreas com maquinário e o fato de trabalhar na sombra. Percebeu-se ainda no discurso de alguns assentados “integrados” ao dend ue a introdução desta atividade agrícola no lote contribuirá com a conservação ambiental, à medida em que supostamente contribuirá com a mitigação das mudanças climáticas.

Novamente se observa que o fetiche da renda e o financiamento bancário facilitado para a implantação do dendê são determinações centrais que sustentam a legitimação e a estratégia de convencimento dos assentados de reforma agrária que aderem aos monocultivos de palma.

No que respeita às desvantagens, observa-se que são compostas por uma diversidade de questões que demonstram as contradições da commodity, além das incertezas e críticas dos camponeses ao avanço do dendê na região. O endividamento das famílias, a resistência dos bancos em financiar a produção familiar, os riscos inerentes à monocultura, a penosidade do trabalho nos dendezais, a degradação do solo e a contratação de mão-de-obra formam um conjunto de ameaças que preocupam os mediadores presentes. De igual forma, emergem os problemas ambientais, sobretudo aqueles associados aos efeitos dos agrotóxicos utilizados nos monocultivos.

Figura 15 - Árvore de discussão - GF Moju

Embora cada microrregião onde existam monocultivos de dendê mantenha suas particularidades, a árvore de discussão do grupo focal de Moju reproduz a din ica veri icada nos dois ’s a nterior ente retratados.

O acesso a crédito para o dendê, a renda, o impulso ao comércio e serviços, a geração de empregos, o giro do capital na economia local e a melhoria do sistema

de transporte constituem as principais vantagens atribuídas pelos mediadores sociais ao agronegócio da palma. Novamente o foco se concentra nas mesmas questões abordadas por membros de outros municípios, como se fosse um mantra.

Quanto às desvantagens, os pontos suscitados pelos presentes abrangem uma série de questões que se dividem entre causas e consequências da expansão dos monocultivos de dendê. A fragilidade organizacional dos agricultores, associada a ausência de representação social e política efetivas, potencializa a subordinação a que estão submetidos diante do modelo da “integração produtiva”, uma vez que desarticulados se tornam cada vez mais vulneráveis na relação assimétrica com as empresas. Exemplo disso é que os agricultores não participaram da elaboração dos contratos a que estão submetidos por 25 anos.

Quanto ao crédito, este se configura como uma fábula que ao mesmo tempo

em que facilita o acesso dos camponeses ao PRONAF Eco gera um saldo devedor significativo, o qual pode resultar em inadimplementos a longo prazo em decorrência da oscilação das cotações da commodity óleo de palma no mercado internacional. A penosidade do trabalho nos dendezais e as agressões à saúde e ao meio ambiente completam a percepção dos mediadores a esse respeito.

O dendê é igual um pai que quando ele se relaciona com a mãe daquele filho é aquele cara especial com a gestante, tá tendo carinho, aí quando o moleque tá com seus 5 ou 10 anos ele ó, rachou fora. A mãe ficou lá com o moleque. Então é de corte e costura, é calçado, é comida, passando até a faculdade, do primário ao ensino médio até a faculdade. O que acontece com o cara? Ele vai dar um pedacinho do salário dele para ajudar a mãe completar o estudo do filho, que na verdade não dá pra pagar nem com remédio, com calçado, com nada (M.S, 2015)

Desta forma, a despeito de ganhos pontuais com a introdução do dendê nas

terras da reforma agrária, os participantes dos grupos focais enumeram um rol de problemas e desafios que expressam contradições estruturais no presente e reforçam a incerteza com relação ao futuro. A metáfora utilizada por uma mediadora local é uma tradução de como os camponeses interpretam a inserção do dendê na produção familiar.