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2. PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

2.2 DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO EM ESTUDO

O universo da pesquisa compreendeu o conjunto de municípios com projetos

de assenta entos “integrados” ao agroneg cio do dend , o qual vincula as famílias assentadas às grandes corporações agroindustriais que comandam esse mercado.

Nos últimos anos, especialmente após o ZAE elaborado pela Embrapa (2010), verifica-se um movimento de empresas em direção ao nordeste do estado, estendendo-se por um arco formado desde os municípios de Santo Antônio do Tauá e Igarapé Açu, localizados no Salgado Paraense, passando por Bonito e Ourém, situados às proximidades da Rodovia BR-316 (Pará-Maranhão), percorrendo os municípios situados às margens da Rodovia BR-010 (Belém-Brasília) adentrando até Garrafão do Norte, seguindo para a microrregião de Tomé-Açu, cortada pelas rodovias estaduais PA 140, PA 252, PA 256, PA 150 e PA 151 e por fim, chegando aos municípios de Cametá, Baião e Mocajuba, na região do Baixo Tocantins, de acordo com a figura 1, elaborada pela Embrapa Amazônia Oriental.

Figura 1 - Arco da expansão dos monocultivos de dendê na Amazônia Paraense

Fonte: EMBRAPA Amazônia Oriental

Neste território, um conjunto de doze grandes empresas de capital nacional e transnacional organizam-se constituindo um mosaico de capitais em uma monótona paisagem: a Biopalma/Vale; a Petrobrás Biocombustível, em parceria com a portuguesa Galp Energia; a norte-americana Archer Daniels Midland Company (ADM); o Guanfeng Group, da província de Shandong, na China; a Agropalma, empresa controlada pelo conglomerado Alfa; a Mejer Agroflorestal Ltda; a Novacon Reflorestadora, a Dentauá e a Marborges, estas últimas de capital nacional.

Neste trabalho será considerada parte deste território, que se estende pelos municípios de Acará, Aurora do Pará, Bujaru, Concórdia do Pará, Irituia, Moju, São Domingos do Capim, Tailândia e Tomé Açu, que compõem o espaço agrário onde estão sediadas as terras da re or a agr ri a “integradas” ao agroneg cio do dend , em consonância com o objeto pesquisado. Feito este recorte, observa-se a incidência de sete empresas e, entre estas, aquelas que apresentam maior concentração de terras.

Os municípios que compõem o território da reforma agrária subordinada ao agronegócio do dendê se estendem por uma área de 29.578 km2, que corresponde a 19,4 vezes o tamanho da cidade de São Paulo e a 2,4% do território paraense, com uma população total de 401.069 pessoas, sendo que 43% dos habitantes

residem nas cidades e 57% nas áreas rurais, de acordo com o Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Este novo território da ação pública situa-se no eixo onde o boom dos plantios de palma de óleo têm ocorrido de maneira mais vigorosa, de acordo com as fontes secundárias pesquisadas. No município de Moju, estão situadas quatro empresas agroindustriais do ramo da dendeicultura, quais sejam: Agropalma, Biopalma, Marborges e a chinesa Guanfeng Group.

De acordo com Monteiro (2013), foi neste município que se desenvolveu em 2 5 a pri eira iniciativa de “integração” da agricultura a iliar co a agroind stria, para produção de óleo de palma, mediante parceria firmada entre Governo do Pará, membros da comunidade Arauaí, Prefeitura Municipal de Moju e a empresa Agropalma. Posteriormente essa estratégia incorporou o Projeto de Assentamento Calmaria II, localizado no mesmo município, onde se firmou um arranjo interinstitucional entre INCRA, FETAGRI, SECTAM, BASA e Agropalma que permitiu a integração de 35 (trinta e cinco) famílias assentadas de reforma agrária.

No município de Tomé-Açu estão sediados grandes monocultivos das empresas Biopalma, Petrobrás Biocombustível (PBIO) e Novacon Reflorestadora, os quais foram alavancados, sobretudo, após o lançamento do PPSOP, em 2010. A propósito, nesta localidade se criou recentemente um clima de tensão política em razão da frustrada expectativa de construção de uma usina esmagadora da Belém Bioenergia, holding criada através da parceria comercial firmada entre a Petrobrás e a portuguesa Galp Energia (SAMPAIO, 2014). Uma das principais referências associadas à produção agrícola deste município diz respeito aos sistemas agro lorestais ( A ’s) i plantados a partir de 970, após o declínio do ciclo da pimenta-do-reino (piper nigrum). Atualmente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolve estudos e experimentos sobre a viabilidade de introdução do dend e A ’s.

No município de São Domingos do Capim estão presentes a companhia norte-americana Archer Daniels Midland Company (ADM), uma das global players do ramo alimentício e de fertilizantes no mundo, e a Biopalma, controlada pela Vale. Os plantios de dendê foram impulsionados a partir de 2011, e estão divididos entre áreas próprias (pólos de produção das empresas), arrendamentos fundiários de a endas por 25 anos e “integração” produtiva co a agricultura a iliar.

No território de Concórdia do Pará estão instaladas as empresas Dentauá e Biopalma, as quais possuem extensos plantios homogêneos de dendê, principalmente às proximidades das rodovias PA 140 e PA 252. Neste local, a primeira experiência malsucedida com a cultura da palma de óleo ocorreu no início dos anos 2000, na gestão do ex-prefeito Evaldino Bento Celestino, que em parceria com a Secretaria Estadual de Agricultura tentou organizar um pólo produtivo no município, baseado na inserção de agricultores familiares.

Em Acará estão presentes as empresas Biopalma, Agropalma e Marborges, sendo que a primeira é a que chegou mais recentemente, entretanto, detém a maior faixa de terras sob seu controle. As duas outras companhias se instalaram na década de 1980, no bojo dos incentivos fiscais concedidos pela SUDAM.

No município de Tailândia encontram-se territorializadas as companhias agroindustriais Agropalma (principal delas), a Belém Bioenergia (BBB) e a Biopalma. É naquele espaço que estão localizados os maiores monocultivos de dendê na Amazônia, em áreas apropriadas pela Agropalma.

No município de Bujaru incidem os plantios da empresa Biopalma, os quais foram implantados a partir de 2010. Em Aurora do Pará e Irituia o controle da produção de dendê é exercido pela empresa ADM, que até o momento não possui nenhuma unidade de processamento para receber a matéria-prima contratualizada com os agricultores, conforme será abordado no capítulo que trata a respeito da agricultura por contrato nos assentamentos.

Os municípios onde os projetos de assentamento com incidência de produção de dend estão locali ados so reia co as classes de reas “pre erencial” e “regular” de inidas no on ea ento Agroecol g ico, Produção e ane o para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia, elaborado pela Empresa Brasileira de Produção Agropecuária (Embrapa).

Figura 2 - Mapa de localização dos municípios da pesquisa

O emprego simultâneo dos critérios apresentados permitiu que se

identificassem 9 (nove) municípios da Amazônia paraense com a presença de projetos de assentamento de reforma agrária com agricultores familiares integrados à produção de dendê, mediante contratualização com as grandes companhias agroindustriais que atuam no território pesquisado. Os municípios são os seguintes: Acará, Aurora do Pará, Bujaru, Concórdia do Pará, Moju, São Domingos do Capim, Tailândia, Tomé-Açu e Irituia, conforme evidencia a figura 2.

2.3 MODELO PARA AFERIÇÃO DA ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA