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3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA PESQUISA

3.3 AGROESTRATÉGIAS, DESTERRITORIALIZAÇÃO E MERCANTILIZAÇÃO DA TERRA

A interpretação do atual contexto de acumulação capitalista na Amazônia, especialmente numa conjuntura em que a reprimarização da economia intensifica a pressão sobre os recursos naturais e os territórios tradicionalmente ocupados, pode ser evidenciada a partir das agroestratégias e preendidas pela “parceria p lico- privada” entre as instituições de stado e as elites do inantes.

No conceito formulado por Almeida (2010, p. 102), as agroestratégias a range “u con unto eterog neo de discursos, de ecanismos jurídicos-formais e de ações ditas e preendedoras”. on siste ta é e estudos prospectivos realizados por agências de risco, as quais atuam fortemente no mercado de capitais e e undos de investi ento. Adicional ente, re ne “u con unto de iniciativas para remover os obstáculos jurídicos-formais à expansão do cultivo de grãos e para incorporar novas extensões de terras aos interesses industriais, numa quadra de elevação geral do preço das co odities agr colas e et licas”.

Na perspectiva teórica construída por Almeida (2010a, 2010b) e Almeida e Acevedo Marín (2010) as agroestratégias emergem a partir de um contexto onde prevalece uma visão triunfalista do agronegócio e do potencial agrícola brasileiros, fundada na ideia de expansão da produção de commodities em larga escala como única saída para o propalado desenvolvimento econômico. Esta visão desconsidera a racionalidade de uso dos recursos naturais pelos camponeses e povos e comunidades tradicionais, os quais são rotulados como resquícios do atraso e obstáculos diretos ao avanço da fronteira.

O avanço das agroestratégias está diretamente associado a elevação geral do preço das commodities agrícolas no mercado internacional, tais como soja e dendê, o que tem intensificado a pressão sobre o mercado terras e os recursos naturais, numa relação diretamente proporcional.

É neste sentido que Almeida e Acevedo Marín (2010, p. 148-49) asseveram que há em curso na Amazônia um conjunto de agroestratégias do grande capital para promover a desterritorialização de territórios tradicionais, mediante a remoção de obstáculos jurídicos, institucionais e normativos que possibilitem a incorporação de novos estoques de terras ao mercado e o controle dos conhecimentos dos recursos genéticos. Essa dinâmica é influenciada pela oscilação dos preços de

co odities e pelos neg cios ditos “sustent veis”, representados pelos agrocombustíveis.

A tentativa sistemática de flexibilização da legislação vigente nas instâncias parlamentares e judiciais representa uma ameaça clara aos direitos territoriais, estimula a intensificação das tensões sociais no campo e aumenta a pressão sobre as florestas.

Almeida e Acevedo Marín (2010, p. 150) identificam que a médio prazo há u a clara intenção de “retirar da i o ili ação recursos naturais ue passa a se tornar objeto de compra e venda. Destruiriam assim o que foi conquistado e or al ente recon ecido”. ssa possi ilidade incluiria a destinação de compensações aos povos e comunidades tradicionais afetados pelas estratégias triunfalistas do agronegócio. É nesta perspectiva que se insere a sofisticada estratégia utilizada pelas agroindústrias de dendê em promover a agricultura por contrato com assentados de reforma agrária da microrregião de Tomé-Açu, visando converter em monocultivos as terras destinadas àquela finalidade social, retirando- as da imobilização.

Almeida (2010a, 2010b) assevera que a reconfiguração atual das agroestratégias promove a desterritorialização de comunidades tradicionais na Amazônia, mediante a expansão da fronteira agrícola, como por exemplo a produção de agrocombustíveis. Este processo consiste em um conjunto de medidas que visam incorporar novos estoques de terras ao mercado, a fim de atender os interesses do agronegócio.

Este processo de mercantilização da natureza para incorporar terras ao agronegócio transnacional trata o meio ambiente numa perspectiva instrumental, o qual deve oferecer as matérias-primas necessárias para a acumulação de capital. Polanyi (2 , p. 93) assinala ue “o tra al o e a terra nada ais são do ue os próprios seres humanos no qual consistem todas as sociedades, e o ambiente natural no qual elas existem. Incluí-los no mecanismo de mercado significa su ordinar a su st ncia da pr pria sociedade às leis de ercado”. autor acrescenta que a ruptura violenta que marcou a transição da sociedade moderna para uma economia de mercado, por meio de um sistema autorregulado, foi determinada, sobretudo, pela “trans or ação do tra al o e da terra co o ercadorias, co o se tivesse sido produ idos para a venda” (P A Y I, 2 2, p. 43). Entretanto, a nova ordem econômica ao subverter a lógica de organização das

sociedades, passou a utilizar o tripé oferta-procura-preço para atribuir valor aos elementos naturais e sociais, de maneira fictícia.

De acordo com Leite e Sauer (2014, p. 195) nos últimos anos tem se verificado em todo o mundo a emergência de uma corrida pela apropriação de terras, notadamente em função da demanda por alimentos, agroenergias e matérias- primas (commodities). Os principais alvos desse movimento caracterizado como

landgrabbing4 são os países da África e da América Latina, principalmente o Brasil.

Na perspectiva de Backhouse (2013, p. 6) o controle sobre o acesso e o uso da terra pelo agronegócio transnacional do mercado de óleo de palma na Amazônia paraense adota uma estratégia fundamentada na associação entre concentração fundiária e supostas medidas de proteção ao clima e ao meio ambiente, naquilo que se convenciona chamar de greengrabbing5

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Desta forma, as iniciativas voltadas à retirar da imobilização os territórios

tradicionalmente ocupados e as terras da reforma agrária, por meio da flexibilização de cláusulas de inalienabilidade contratuais e da subordinação da gestão sobre as unidades produtivas familiares enquadram-se como agroestratégias do capital na Amazônia.

3.3 TRIUNFALISMO E AFIRMAÇÃO POLÍTICO-IDEOLÓGICA DO