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6 “INTEGRAÇÃO PRODUTIVA” E A TRANSFERÊNCIA DAS TERRAS DA REFORMA AGRÁRIA PARA O AGRONEGÓCIO TRANSNACIONAL

7. PERCEPÇÃO DOS MEDIADORES SOCIAIS

7.1 MEDIADORES SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS

Comumente, a mediação é interpretada como um traço característico de relações de sociabilidade que perduram há milênios. Grosso modo, ocorre quando se tem dois sujeitos sociais em relativa situação de distanciamento (político, social, cultural, geográfico) e emerge um terceiro com o papel de promover a interlocução entre ambos.

Vários autores têm se dedicado a estudar o assunto, principalmente associando-o à implementação de políticas públicas, aqui entendidas como a definição de arcabouços institucionais (regras, procedimentos e políticas) visando atender a demandas efetivas da sociedade, conforme propõe Neves (2010, p. 174).

a visão de eves (2 8, p. 22) “as ediações são conte tuais por ue pressupõe ações u anas na construção de signi icados e respectivas pr tica s”, por meio da integração a universos sociais específicos. A autora acrescenta ainda ue o ter o a range as relações dialéticas “por ue valori a as representações e as transformações do mundo, a institucionalização, a conciliação, a conformação e o questionamento quanto às regras ue legiti a recon ecidas ordens sociais” (NEVES, 2008, p. 23).

Neves (2008, p. 28) recorre a Weber (1977) para subdividir os tipos de mediação em duas categorias. A primeira consiste no agrupamento de agentes mediadores que vivem pela mediação (prefeito, vereador, padre, professor, chefe de família, etc.), os quais atuam para legitimar modos de dominação personalizada. A segunda traduz as formas de mediação que consagram modos de dominação formal-legal, materializadas nos sujeitos que vivem da mediação, quais sejam os que são atribuídos por representações delegadas, como dirigentes sindicais, servidores públicos e membros do terceiro setor.

Para Ros (2008, p. 99) a relação dialética representada pelas formas de mediação social constitui uma relação de troca entre mediadores e mediados, onde

cada um influencia no comportamento do outro, em contraposição a visões que atribuem uma função passiva a quem está na base das políticas públicas e/ou programas implementados. Neves (2010, p. 183) postula que “o e erc cio da mediação pode também ser compreendido a partir do conjunto de ideias, valores e modos de comportamento transmitidos como formas de incorporação de saberes propiciadores da construção de novas posições e identidades do ator social”.

Bergamasco e Norder (2011, p. 45) explicitam as estratégias e formas de mediação empreendidas pelos assentados de reforma agrária junto ao Estado, precipuamente para reivindicar a democratização do acesso à terra e o desenvolvimento de políticas públicas para os territórios conquistados. As tensões se processam por intermédio de disputas e jogos de forças, sob influência e determinação do contexto social. Deste modo, as relações de poder e dominação exercidas no campo das mediações mudam de acordo com a posição relativa de cada sujeito no espaço em questão, a partir das alianças e conflitos engendradas, conforme propõe Ros (2008, p. 126).

Por intermédio dos critérios descritos nos pressupostos metodológicos, a pesquisa de campo utilizou como instrumental para obtenção de dados a categoria “grupo focal”, o qual consiste em uma técnica substantiva para desvendar diferenças e divergências, contraposições e contradições, a partir do que e como pensam e se manifestam os atores envolvidos na discussão de um determinado tema em comum (GATTI, 2005).

Durante o mês de maio de 2015 foram constituídos 3 grupos focais nas cidades de Concórdia do Pará, Mãe do Rio e Moju, que abrangeram mediadores sociais dos 9 municípios pesquisados. A escolha destas localidades para sediar as discussões a respeito da expansão dos monocultivos de dendê nas terras da reforma agrária foi justificada pela centralidade geográfica, com base na distribuição espacial dos projetos de assentamento.

Inicialmente, cabe dizer que a mobilização dos participantes foi feita mediante convite subscrito pela orientadora e encaminhado pelo discente por vários meios, tais como endereço eletrônico, redes sociais e entrega efetuada pessoalmente.

O grupo focal de Concórdia do Pará foi instituído em maio de 2015 e a reunião com os participantes ocorreu no dia 28/05/2015, na Escola de Ensino Fundamental Guadalupe, situada na área urbana daquele município. Compareceram sete pessoas, na faixa etária de 20 a 65 anos, os quais representavam organizações

como o INCRA de Tomé-Açu, o Sindicato de Empregados Rurais de Concórdia do Pará e Bujaru, a Câmara de Vereadores de Concórdia do Pará e associações de assentados dos PA’s i o u aru. Mesmo tendo confirmado presença antecipadamente, os mediadores dos municípios de Acará, Bujaru e Tomé-Açu não compareceram, tampouco justificaram os motivos. O custeio do deslocamento da equipe de pesquisa foi viabilizado com recursos do CNPq.

O grupo focal de Mãe do Rio reuniu-se no dia 05/06/2015, no auditório da Secretaria Municipal de Assistência Social, e contou com a presença de 11 mediadores sociais, oriundos dos municípios de São Domingos do Capim, Aurora do Pará e Irituia. Destaque-se nesse caso o comparecimento de lideranças de vários PA’s da icrorregião. Em decorrência de eleição sindical acirrada no município de Irituia, a participação de representantes do movimento social e das associações dos projetos de assentamento ficou prejudicada.

Quanto ao grupo focal de Moju, a reunião aconteceu no dia 12 de junho de 2015, na sede do Sindicato dos Empregados Rurais dos municípios de Moju e Tailândia - SERMTAB, e agregou 5 lideranças representativas da própria entidade que sediou o evento, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Moju e de uma cooperativa local de agricultura familiar.

Os trabalhos de campo também foram reforçados por ocasião de visitas técnicas do PPGEDAM/NUMA/UFPA aos municípios de Tomé-Açu e Tailândia, em abril de 2014 e junho de 2015, respectivamente, e de entrevistas in loco realizadas nos PA’s Palheta e Ariacaua, em São Domingos do Capim, no mês de setembro de 2015.

A metodologia utilizada nas reuniões se valeu de três técnicas utilizadas em dinâmicas de grupo, que foram a linha do tempo, a árvore de discussão e o diagrama de Venn. A linha do tempo buscou evidenciar como os mediadores interpretam cronologica e cognitivamente as transformações ocorridas ao longo do tempo, com base nos referenciais que utilizam. A árvore de discussão teve o objetivo de identificar eventuais vantagens e desvantagens da introdução do agronegócio do dend nos PA’s. diagra a de Venn teve o prop sito de a erir o grau de proximidade ou distanciamento de políticas públicas e de instituições governamentais e privadas em relação aos assentamentos.

Em todas essas oportunidades as percepções dos mediadores sociais dos municípios pesquisados acerca dos monocultivos de dendê nas terras da reforma agrária foram evidenciadas, em maior ou menor grau.

7.2 LINHA DO TEMPO

A primeira técnica utilizada nas reuniões dos três grupos focais foi aquela conhecida como linha do tempo, a qual possibilita a reflexão cronológica sobre eixos de discussão mais relevantes traçados pelos próprios mediadores.

Em função da complexidade da expansão da dendeicultura nos municípios da Amazônia Paraense e da multidimensionalidade das transformações provocadas por esta commodity agrícola nas relações sociais, o tempo despendido pelos participantes para concluir a tarefa consumiu a maior parte da atividade.

Para facilitar a sistematização das discussões ocorridas nos subgrupos or ados (e ceto e o u) nos ’s, oram disponibilizados pela equipe de coordenação materiais de expediente como canetas, pincéis, cartolinas, tarjetas, tesouras, cola, fita adesiva e papel A4.

As discussões nos subgrupos foram moderadas pela equipe composta pelos

discentes Elielson Silva (PPGEDAM/NUMA/UFPA), Kelly Gaia

(PPGAA/NCADR/UFPA) e Thiago Bessa (PPGAA/NCADR/UFPA), à exceção do GF de Mãe do Rio onde apenas o primeiro conduziu os debates e o alinhamento metodológico necessário ao alcance dos objetivos planejados.

A organização da tabela 13, concernente à linha do tempo do grupo focal de Concórdia do Pará expressa a percepção dos participantes acerca dos aspectos mais relevantes que eles consideram quando interpretam as transformações na realidade social desencadeadas pela chegada do dendê nas áreas de reforma agrária.