Índice de abastecimento de água (Iabst)

De acordo com Dias, Gomes e Alkmin (2011) o índice de abastecimento de água pela rede pública é um importante indicador de qualidade ambiental pois bairros com nível alto de abrangência deste serviço são considerados mais bem-dotados de infraestrutura.

O índice de abastecimento de água foi estabelecido com base nos dados fornecidos pelo IBGE ano base 2010. O índice foi construído a partir da razão domicílios ligados a rede e total de domicílios no bairro conforme descrito no Quadro 6 e os resultados obtidos para este índice podem ser observados na Figura 7.

Figura 7 - Índice de abastecimento de água para a área urbana do município de Belém/PA obtido a partir da metodologia de Borja de 1998.

Fonte: Autora.

Para este índice foram obtidos cinco níveis de classe: excelente, bom, suficiente, medíocre e péssimo. De maneira geral o Iabst para os bairros apresentou uma variação

de 0,17 a 0,99 enquanto o Iabst médio foi de 0,73 caracterizando um padrão bom conforme escala de avaliação. Na cidade de Belém, conforme dados do IBGE (2010), embora este serviço contemple mais de 70% da população, somente cerca de 39% dos domicílios, na área de estudo, são servidos pela rede de esgotamento sanitário, ou seja, há uma expressiva parte da população paraense que lança seus esgotos em fossas, rede de águas pluviais através de ligações clandestinas ou diretamente nos recursos hídricos degradando-os.

A estruturação da rede de abastecimento da cidade se adequou à forma como foi se organizando o espaço urbano (central, transição e de expansão da cidade de Belém). Os bairros com os melhores índices de abastecimento de água estão localizados, em sua maioria, na porção sul da área de estudo (Centro de Belém), destacando-se pela presença de monumentos históricos, dotados de equipamentos públicos, instalações portuárias, etc. Isto revela, de forma clara, uma segregação socioespacial e o favorecimento de privilégios sociais para a população de melhor poder aquisitivo.

O bairro de Águas Lindas, localizado entre os limites dos municípios de Belém e Ananindeua, e o bairro de São Clemente, localizado na área de expansão da cidade, apresentaram índices na classe péssimo, os piores registrados na área de estudo. Em campo, registramos bairros com condições precárias de esgotamento sanitário, abastecimento público e equipamentos urbanos a exemplo dos bairros Águas Negras e Agulha localizados no Distrito de Icoaraci (Figura 8).

Figura 8 - Condições de infraestrutura de alguns bairros localizados próximos a Augusto Montenegro. A) Bairro: Águas Negras; B) Bairro: Agulha; C) Moradora lava roupa em poço artesiano (Distrito de Icoaraci).

Fonte: Autora (2017); G1PA (12/01/2018).

A deficiência destes serviços resulta na degradação dos recursos hídricos e como reflexo dessa condição podemos ter uma maior propensão da população a doenças de veiculação hídrica (PAIVA; SOUZA, 2018), comprometendo seriamente a qualidade de vida da população paraense. Vale ressaltar que, a deficiência nos serviços de saneamento e abastecimento de água não é um privilégio da capital paraense e situações semelhantes podem ser observadas em diversos estados brasileiros. Como exemplo de sucesso de planejamento, nas últimas décadas, podemos citar a cidade de Curitiba (MENDONÇA, 2004).

Outro ponto relevante diz respeito a fiabilidade do serviço de abastecimento de água na cidade de Belém que mesmo sendo atendida por duas empresas (COSANPA e SAAEB) apresentam sistemas de abastecimento pontuais e descontínuos. Cabe registrar que mesmo nos locais com melhores resultados para este indicador, interrupções no abastecimento em Belém são uma constante na maioria dos bairros investigados. Segundo Tyilianga (2017) a insuficiente cobertura deste serviço traduz-se na baixa qualidade de

vida da população, na degradação dos mananciais de água disponíveis e, consequentemente, dos ecossistemas.

Toda e qualquer interrupção no sistema de abastecimento de água quer seja por produção e reserva insuficientes para vencer as demandas nos horários de pico, paralização dos conjuntos de motor-bomba ou pane nos equipamentos, entre outros, geram insatisfação quanto ao serviço ofertado. No caso de vazamentos, além do incômodo pela ausência do fornecimento da água a fiabilidade do serviço pode também prejudicar a qualidade da água, pois o processo de esvaziamento das tubulações gera pressões negativas que podem provocar a sucção de contaminantes presentes no solo nos tubos (CARMO, 2009).

Os exemplos concernentes à cidade de Belém quanto ao saneamento básico e abastecimento público, tornam evidentes a necessidade de melhoria e expansão destes serviços. Segundo o estudo realizado pelo instituto Trata Brasil (2015) o saneamento básico é um fator essencial para um país ser considerado desenvolvido. Este serviço traz diversos benefícios, sobretudo, na redução da mortalidade infantil, expansão do turismo, valorização dos imóveis, despoluição dos rios e preservação dos recursos hídricos OLIVEIRA; SCAZUFCA; PIRES, 2018.

De acordo com o relatório Ranking do saneamento 2018 à capital Paraense ocupa a 96º posição no ranking das cidades com os piores índices de atendimento urbano de água (OLIVEIRA; SCAZUFCA; PIRES, 2018). Os municípios que investem mais em saneamento, a exemplo das regiões sul e sudeste, apresentam melhores índices de saneamento básico. Assim, o desenvolvimento de políticas públicas que busquem a melhoria para este segmento com o objetivo de universalização do acesso a estes serviços, promovendo a saúde pública se fazem necessários.

No que se refere às políticas públicas, o último plano Plurianual (PPA), intitulado “Belém 400 anos - reconstrução da cidade rumo ao desenvolvimento sustentável”, referente ao quadriênio 2014-2017, apresentou algumas ações estratégicas para sanar o problema, entretanto, o que se observa é que o município tem realizado parcos investimentos no setor (PLANO PLURIANUAL 2014/2017). Além disso, as obras de saneamento existentes estendem-se por longos anos para a sua finalização inviabilizando assim, um avanço na melhoria e qualidade do serviço prestado. Torna-se imperioso que a administração pública incentive e execute ações mais rápidas e efetivas, em parceria com a comunidade local e órgãos de pesquisa, garantindo assim, a universalidade e

qualidade do serviço prestado, bem como, um meio ambiente ecologicamente equilibrado.