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De acordo com Brandalise et. al., (2009) para quantificar um fenômeno é preciso percebê-lo. Percepção é uma palavra derivada do latim perceptione definida como uma atividade, um entender-se para o mundo (TUAN, 1980 apud OLIVEIRA; COSTA, 2017, p. 154). É uma tomada de consciência pelo homem do ambiente em que está inserido, valorizando-o e o protegendo-o (FAGGIONATO, 2007; FREITAS; MAIA, 2009; AUDINO, 2017). Segundo Tuan (1980) a percepção ambiental é uma resposta dos sentidos aos estímulos externos no qual certos estímulos são registrados enquanto outros são bloqueados.

Del Rio (1999, p. 3) apud Oliveira e Costa (2017) define percepção como “[...] um processo mental de interação do indivíduo com o meio ambiente que se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos e principalmente, cognitivos”. Para Suess et. al., (2013) a percepção ambiental está ligada à cultura, história, tempo, experiência e espaço de cada pessoa.

Segundo Pacheco e Silva (2007) em Almeida, Scatena e Luz (2017) a "percepção ambiental é uma representação científica que tem sua utilidade definida pelos propósitos

que embalam os projetos do pesquisador". Vale ressaltar que existem vários conceitos de percepção ambiental na literatura, no entanto, na grande maioria, os principais aspectos levantados são: a relação entre o homem e a natureza, como cada indivíduo percebe o meio em que vive, o que espera do seu meio e como utiliza a sua ação cultural neste meio. De acordo com Carlos, 1996, p.17-18 apud Santos e Stevam (2015) o homem percebe o mundo através de seu corpo e de seus sentidos sendo o lugar a porção do espaço (bairro, rua, praça) apropriada para a vida e reconhecida em todos os cantos.

Cada indivíduo percebe, reage e responde de forma distinta às ações do espaço em que vive sendo estas diferentes percepções associadas à personalidade, à idade, às experiências, aos aspectos socioambientais, à educação e à herança biológica (MELAZO, 2005; BRANDALISE et al. (2009); RODRIGUES et. al., (2012); FERREIRA et. al., (2018)).

As manifestações recorrentes são resultantes das percepções (individuais e coletivas), julgamentos e expectativas de cada indivíduo (VILLAR et. al., 2008). Essas diferentes percepções sofrem influência dos sentidos humanos (visão, audição, tato, olfato e paladar) sendo estes que, em conjunto, garantem aos indivíduos uma percepção de mundo.

Nos últimos anos as cidades tornaram-se palco de profundas transformações em que a falta de sensibilidade e a percepção inadequada da realidade tem promovido a utilização dos recursos naturais de forma insustentável comprometendo a estabilidade ambiental e social. Neste sentido, estudos que visem avaliar a qualidade ambiental urbana, têm fornecido informações essenciais para a compreensão de recortes do espaço geográfico para o diagnóstico das condições ambientais, além de fornecer subsídios para políticas de planejamento urbano e ambiental (NUCCI, 2001; MARTINELLI, 2004; LIMA, AMORIM, 2007; DIAS; GOMES, ALKMIN, 2011; SANTOS; SOUZA, 2014; LIMA, 2013; RIBEIRO; MENDES, 2015;).

A maior parte dos estudos sobre qualidade ambiental urbana apresentam a inserção de uma abordagem objetiva, ou seja, levam apenas em consideração a perspectiva técnica. No entanto, as informações a partir da perspectiva objetiva, isoladamente, não transmitem em sua totalidade à realidade da qualidade ambiental e, neste sentido, vários autores reforçam a necessidade de se veicular diferentes técnicas e tipos de conhecimentos para a avaliação de espaços urbanos (VAN KAMP et. al., 2003). Segundo Bassani (2001) a qualidade ambiental está diretamente relacionada a uma série de conceitos que refletem as ações das pessoas nos diversos ambientes por eles

usados e, portanto, qualquer análise relativa a possíveis soluções deve considerar o comportamento do homem sobre o ambiente. Neste contexto, nos últimos 20 anos, à percepção ambiental tem recebido destaque como ferramenta que associa a psicologia, geografia, biologia e ecologia com a sociologia e antropologia configurando-se como ferramenta essencial para a compreensão da relação dos indivíduos com o ambiente no qual eles vivem, satisfações, insatisfações e expectativas (MELAZO, 2005; MARCZWSKI, 2006; FAGGIONATO, 2007; QUADROS; FREI, 2019). Através destes estudos é possível conhecer os significados que os indivíduos atribuem ao meio ambiente, identificar fontes de satisfação e insatisfação e definir formas mais precisas para a implementação de ações mais assertivas para sensibilizar, conscientizar e incentivar a participação popular na tomada de decisões (LIMA, 2003; FERNANDES et. al., 2004; PALMA, 2005; SALGADO; OLIVEIRA, 2010; CARVALHO; SILVA; CARVALHO, 2012).

Uma das dificuldades para a proteção dos ambientais naturais, ressaltadas pela UNESCO em 1973, está na existência de diferentes percepções dos valores e importância dos mesmos entre indivíduos de culturas diferentes ou de grupos socioeconômicos distintos, no plano social, nesses ambientes (ROPPA et. al., 2007). Neste sentido, passa- se a adotar o termo percepção ambiental no seu sentido mais amplo como a tomada de consciência do ambiente pelo homem (MELAZO, 2005). Sobre diferenças nas percepções dos indivíduos, Torres e Oliveira (2008) ressaltam o entendimento de aspectos positivos e negativos de cada segmento da sociedade de forma a possibilitar a adequação de ações às necessidades específicas de cada grupo, contribuindo assim, para que as atitudes necessárias sejam tomadas de forma coerente.

Na literatura, nas últimas décadas, dada a sua relevância, estudos de percepções têm sido utilizados como indicadores de saúde ambiental (VITTE, 2004; COSTA; COLESANTI, 2011; SANTOS; SOUZA, 2013; SANTOS; SOUZA, 2014; OLIVEIRA; COSTA; 2017). Segundo Moniz, Carmo e Hacon (2016) a prática da incorporação de saberes populares na produção do conhecimento tem contribuído para a ampliação da visibilidade social dos problemas e vulnerabilidades em cenários reais fortalecendo indivíduos e grupos para o enfrentamento dos problemas de saúde ambiental.

Por ser um campo crescente, literaturas brasileiras que versam sobre a percepção de ambientes e a importância da percepção como instrumento de gestão e planejamento de ações educativas podem ser vistas nos trabalhos de Fernandes et. al., (2004), Vitte

(2004), Torres e Oliveira (2008), Rodrigues et. al., (2012); Lucena e Freire (2014); Gonzaga, Ribeiro e Araújo (2015), entre outros.

3 ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO DA ÁREA DE ESTUDO