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O processo de urbanização é inevitável no mundo (HUNG, 2010). Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU, 2014), atualmente mais de 54% da população mundial vive em cidades. Ainda segundo a ONU (2014) essa proporção tende a aumentar e até 2050 espera-se que 66% da população mundial resida em áreas urbanas, sendo, portanto, um dos principais desafios para o futuro segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

De acordo com dados do World Bank a urbanização ocorreu de forma gradual nos países desenvolvidos1 (CERATTI, 2013). Enquanto isso, nos países em desenvolvimento 2este processo ocorreu de forma acelerada e desordenada. Os estudos da entidade apontam que mais de 90% do crescimento urbano ocorre no mundo em desenvolvimento, aumentando em cerca de 70 milhões o número de habitantes em áreas urbanas, por ano. Conforme organismo, nas duas décadas seguintes (2010-2020) a população urbana das duas regiões mais pobres do mundo a exemplo do – Sul da Ásia e África Subsariana – duplicará. Como resultado deste processo estes países enfrentarão inúmeros desafios em atender às necessidades do crescimento da população urbana, inclusive para a habitação, para as infraestruturas, transportes, energia e emprego, assim como para os serviços básicos como a educação e os serviços de saúde.

Segundo estudo desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos (ONU, 2012 apud FRANCE, 2012), a América Latina é uma das regiões mais urbanizadas dos países em desenvolvimento. Sua taxa média de urbanização encontra-se em torno de 76%, bem maior do que a da Ásia e África. Assim como em outros continentes, o processo de urbanização nesta região ocorreu de forma desordenada tendo como características a falta de acesso à moradia adequada e serviços essenciais por grande parcela da população. Os dados mostram ainda que 80% da população nesta área mora em cidades, número este bem superior ao de países desenvolvidos.

1 Países desenvolvidos ou Centrais caracterizam-se por atividades dos setores terciário e secundário; tem acesso a bons serviços de educação, saúde, segurança social e o nível médio de rendimento é elevado. Fonte: Almeida Filho, 2011.

2 Países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento São países condicionados pelo desenvolvimento dos países desenvolvidos ou centrais ao tempo em que servem de base para sua aceleração. Fonte: Almeida Filho, 2011.

No Brasil, especificamente na Amazônia, região de grande extensão e rica biodiversidade, o processo acelerado de urbanização não tem sido diferente. Segundo Oliveira e Trindade (2013), na década de 1970 a população urbana da Amazônia Legal correspondia a 37%, em 1980 esse percentual subiu para 46% passando para 56% em 1991 e atingindo no ano de 2010 a marca de 73%. De acordo com Becker (2001, p.61) a Amazônia tornou-se uma floresta urbanizada com 61% da população em 1996, vivendo em núcleos urbanos, apresentando ritmo de crescimento superior as demais regiões do país a partir de 1970. Ainda segundo a autora, as cidades se tornaram um dos maiores problemas ambientais da Amazônia, dada a velocidade de imigração, desconcentração da população, grande variedade de situações, além da carência de equipamentos e serviços (BECKER, 1998).

Para Serre (2003) a questão urbana na Amazônia é importante pois tem relação com os problemas ambientais da região. O processo de ocupação da Amazônia caracteriza-se pelo crescimento urbano acelerado com ausência de infraestruturas, falta de saneamento básico e a pobreza da população (KAMPEL; CÂMARA; MONTEIRO, 2001; BECKER, 1995, 1998, 2001). Em geral, a moradia e a expansão urbana não obedecem a qualquer consideração ambiental. Desse modo, é de grande importância à busca de alternativas sustentáveis que alinhem crescimento urbano e a qualidade ambiental e de vida da população. Sobre desenvolvimento sustentável, segundo Serre (2003) um dos grandes desafios para as políticas públicas urbanas será conseguir integrar na prática o conceito de desenvolvimento sustentável3.

Conforme o último relatório da ONU Habitat (2016), dentre os problemas decorrentes do processo de urbanização estão: o crescimento urbano, mudança nos padrões da família, número crescente de moradores urbanos, vivendo em favelas e assentamentos informais. Somando-se a estes, podemos citar: a pobreza, a segregação socioespacial, escassez de áreas verdes, concentração de calor, poluição e mal-uso dos recursos naturais, especialmente não renováveis.

As transformações das características naturais provocadas pela urbanização e acentuadas pelo planejamento inadequado, provocam diversas alterações no ambiente urbano, sendo o clima, um dos componentes deste ambiente, que também passa por diversas mudanças e que tem sido um aspecto pouco considerado no planejamento de

3 Desenvolvimento Sustentável: É aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. Fonte: Barbosa (2008).

cidades orientais (ASSIS, E. S., 2006; UGEDA JUNIOR, 2008; BARBOSA; NASCIMENTO JÚNIOR, 2009; MONTEIRO; MENDONÇA, 2013).

As modificações no ambiente natural alteram a composição da atmosfera, o balanço de energia e hídrico da região que pode resultar na formação de um clima urbano. Estas alterações são provocadas por vários fatores, entre os quais tem-se: retirada da vegetação, aumento da circulação de veículos e pessoas, impermeabilização do solo, concentração de edificações, canalizações dos córregos, além do lançamento de partículas e gases na atmosfera (LOMBARDO, 1985).

Um claro indicador dos efeitos da urbanização no clima local é a formação de ilhas de calor urbanas (ICU) (SOUZA, 2012; SOUZA; NASCIMENTO; ALVALÁ, 2015). Além de provocar mudanças no conforto térmico causa também mudanças no ciclo hidrológico, pois alteram de forma significativa a drenagem, potencializando o risco de enchentes e trazendo riscos à saúde humana (BENINI; MEDIONDO, 2015). Os principais efeitos são: aumento do escoamento superficial e a redução no tempo de escoamento, causando o aumento das vazões máximas e antecipando o pico de cheias.

Em suma, a sobreposição dos diversos problemas atrelados à exposição diferenciada altera o ambiente natural, deteriora a qualidade ambiental, reduzindo de forma significativa à qualidade de vida de uma população (RUFINO, 2002). Segundo a ONU (2012) o gerenciamento de áreas urbanas será um dos desafios mais importantes do século XXI e, neste sentido, estudos sobre a qualidade ambiental inserem-se como um fator de relevante importância para avaliar as condições que os espaços urbanos oferecem à população, sendo um subsídio importante para o planejamento da paisagem (MINAKI; AMORIM, 2007).