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5.2 Qualidade Ambiental em Belém-Pará

5.2.1 Resultados da aplicação do modelo de Borja de 1998

5.2.1.3 Índice de limpeza urbana (ILpu)

A coleta de lixo tem um papel importante no contexto urbano uma vez que a não regularidade deste serviço favorece a população a descartar os resíduos em terrenos baldios, margens de canais, calçadas e vias públicas, tendo implicações diretas na redução da qualidade do ambiente e qualidade de vida da população.

O cálculo do índice de abastecimento de água é dado pela divisão entre domicílios atendidos pela rede geral nos bairros e total de domicílios no bairro. Este indicador mostra a porcentagem da população atendida pelo serviço de abastecimento de água fornecido pela concessionária local (COSANPA). Quanto maior for a porcentagem de domicílios atendidos nos bairros melhor classificado o bairro na escala de avaliação da qualidade ambiental pois parte de sua população possui acesso à água.

Este indicador corresponde a 20% do índice de qualidade ambiental. A justificativa para o uso deste indicador, bem como, a justificativa para a atribuição deste valor foram descritas no tópico 4.4. Os resultados dos índices de limpeza pública (ILpu) para cada bairro podem ser visualizados na Figura 9.

Figura 9- Índice de limpeza urbana para a área continental do município de Belém/PA obtido a partir da metodologia de Borja de 1998.

Foram obtidos dois níveis de classe para este indicador: excelente e bom com predomínio do nível excelente. O índice de limpeza urbana nos bairros variou entre 0,66 a 1,00 com média de 0,97. Dos 48 bairros analisados apenas dois bairros (Aurá e São Clemente) apresentaram índices com valores abaixo de 0,9 conforme Figura 7. As informações disponíveis, demonstram que o serviço ofertado na capital paraense se apresenta como excelente, porém, ainda não alcança a universalidade e integralidade para este serviço.

A coleta de lixo é realizada pela Prefeitura municipal de Belém (PMB) e obedece a 108 roteiros conforme registrado em seu site, ocorrendo em dias alternados, nos períodos noturno e diurno na porta das residências e sem a separação dos resíduos (PMB, s/d). Apesar da coleta é comum em Belém o lixo ser acumulado em esquinas a céu aberto formando pequenos lixões (Figura 10).

Figura 10- Locais de disposição irregular de resíduos sólidos. A) Disposição de lixo nas proximidades do canal no bairro da Pedreira (Canal Antônio Baena); B) Disposição irregular de lixo no bairro da Marambaia (Canal Água Cristal).

Fonte: Autora (2017) e Medeiros (2018).

Os resíduos depositados pela própria população em locais inadequados (ruas, rios e córregos) resultam em: entupimento de bueiros com consequente aumento no número de alagamentos, mal cheiro, proliferação de moscas, baratas e ratos, entre outros. Isto demonstra que apesar do valor de ILpu obtido ser acima da média este não traduz a qualidade ambiental para a porção continental da cidade de Belém, uma vez que, nesta

área têm-se uma quantidade significativa de pontos de descarte irregular comprometendo sobremaneira a qualidade do ambiente e qualidade de vida da população.

Ainda sobre estes pontos de descarte irregular, os dados da Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN), em reportagem exibida no dia 05 de dezembro de 2018 pelo jornal O Liberal, mostram que Belém tem mais de 500 pontos críticos no município, o que reflete, por ano, crescimento de gastos públicos para a limpeza destes locais (MAGALHÃES; MAGALHÃES, 2018). Na Figura 11 registramos outros pontos de descarte irregular localizados em diversos bairros de Belém.

Figura 11 - Pontos de descarte irregular em alguns bairros de Belém. A) Estrada do Tapanã; B) Rua da Marinha no bairro da Marambaia; C) Canal São Joaquim; D) Canal Água Cristal (bairro: Marambaia); E) Ponte do Galo (bairro: Pedreira); F) Avenida Bernardo Sayao.

Fonte: Autora (2019).

O descarte irregular de resíduos sólidos na capital paraense, a exemplo das margens dos canais da rua Antônio Baena (Pedreira) e canal Água Cristal (Marambaia)

preocupam os moradores, pois segundo os mesmos, o lixo tem sido um dos fatores que contribuem para a proliferação de doenças, a exemplo da leptospirose (Figura 12) (LIMA et. al., 2012).

Figura 12 - Distribuição espacial e estimativa de densidade de Kernel para os casos de leptospirose no município de Belém do Pará, no período de 2006 a 2011.

Fonte: Lima et. al., 2012.

A gestão e disposição inadequado dos resíduos sólidos na cidade causam diversos impactos socioambientais, registrados na literatura, como: degradação do solo, comprometimento dos corpos d’água e mananciais, intensificação de enchentes, contribuição para a poluição do ar e catação em condições insalubres nas ruas e nas áreas de disposição final (PONTE, 2006; ARAÚJO; SOUZA; LOBATO, 2010; ANDRADE; BRAGA; FERNANDES, 2015).

A questão dos resíduos sólidos na cidade de Belém constitui um dos desafios da sociedade atual. O equacionamento da produção excessiva e a disposição final ambientalmente correta é um tema prioritário e que ainda está longe de ser solucionado.

Os resíduos sólidos produzidos no município de Belém tinham como destino o aterro sanitário do Aurá (popularmente conhecido como lixão do Aurá) que foi desativado em função de problemas sociais, ambientais e para cumprir a Lei |da Política Nacional de resíduos sólidos (PNRS) (Lei nº 12.305) que exigia de todas as administrações públicas a construção de aterros sanitários, independente do porte e localização, para receber os resíduos produzidos pela população (VALE et. al., (2011); MITSCHEIN; VILAR, 2017). Contudo, mesmo após a normativas descritas na PNRS ainda é possível observar no município de Belém problemas relacionados à produção e gestão ambientalmente adequadas dos resíduos sólidos.

Após o fechamento do lixão do Aurá, Belém passou a depositar os resíduos sólidos no CPTR Marituba para atender os municípios da RMB. Entretanto, a operação deste empreendimento vem apresentado fragilidades relatadas pela população local, por meio de manifestações, solicitando ao poder público a retirada do aterro sanitário. Dentre os problemas ambientais relatados tem-se: contaminação do ar, da água e do solo, problemas estes que refletem negativamente na economia local, devido ao mal cheiro decorrente da decomposição dos resíduos (VASCONCELOS JÚNIOR; CORRÊA, 2017).

A solução/minimização para o problema dos resíduos sólidos perpassa por uma análise crítica do sistema de gerenciamento existente destacando os seus pontos fortes e a partir daí construir sobre eles. Não basta apenas importar novas tecnologias é preciso adotar soluções que funcionem e adaptá-las para a nossa realidade. E mais do que dar a destinação adequada é preciso planejar, implementar políticas públicas e fiscalizar. É preciso reduzir, reutilizar, reciclar e repensar.