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5.2 Qualidade Ambiental em Belém-Pará

5.2.1 Resultados da aplicação do modelo de Borja de 1998

5.2.1.5 Índice de poluição sonora (Ips)

O ruído25 tem sua ocorrência associada as atividades humanas, especialmente oriundo da urbanização, transporte e indústrias (SINGH; DRAVAR, 2004). E junto a outras formas de poluição tornou-se um risco para a qualidade ambiental e de vida, sendo um importante indicador na análise da qualidade dos espaços urbanos (REZA; RAHMAN, 2016; ARNDT; PHILIPS; BARBOSA, 2010). Segundo a organização mundial da saúde (WHO, 2003), a poluição sonora é o problema ambiental que afeta o maior número de pessoas.

Na Região Metropolitana de Belém (RMB), em 2017, mais de 31 mil chamadas de denúncias de poluição sonora foram registradas na central de ocorrências do CIOP correspondendo a aproximadamente 27% do total de chamadas recebidas pelo órgão conforme notícia publicada no jornal online (G1PA) no dia 24 de julho de 2017. Segundo dados do CIOP (2017), todos os bairros apresentaram denúncias de poluição sonora na cidade e, com base nestes dados, esta pesquisa construiu um índice de poluição sonora para os bairros localizados na área urbana do município de Belém.

Para o cálculo do índice de poluição sonora foi utilizado o mesmo procedimento para a construção do índice de alagamentos. Este indicador mostra os bairros com maiores frequências de denúncias de poluição sonora nos bairros de Belém. Quanto maior for a porcentagem pior é a classificação na escala de avaliação. Após a construção do índice estes valores foram normatizados para uma escala de 0 a 1. Convencionou-se que para bairros com valores próximos a 0 a estes seriam atribuídos baixa qualidade ambiental e valores próximos ao valor 1 melhores condições ambientais. Este indicador responde por 10% do índice de qualidade ambiental urbano conforme descrito no capítulo anterior.

Após a construção do índice de poluição sonora os mesmos foram espacializados e os resultados podem ser vistos na Figura 22.

Figura 22 - Índice de Poluição sonora dos bairros localizados na área urbana do município de Belém/PA obtidos a partir do modelo de Borja de 1998.

Conforme mapa acima são observados cinco níveis de classe: excelente, bom, suficiente, medíocre e péssimo. Os índices de poluição sonora (Ips) variaram de 0 a 1,0 com média de 0,74 enquadrando-se no padrão bom. De acordo com o cartograma os bairros com valores correspondentes acima de 0,8 (verde) apresentam menores registros por km2 de ruído e, portanto, com melhor nível de qualidade ambiental, enquanto, os bairros com valores próximos a 0 correspondem aos bairros com pior nível de qualidade ambiental. Localizam-se preferencialmente fora da área central da cidade.

Os bairros com os piores índices de poluição sonora registrados foram: Condor, Jurunas e Sacramenta inclusos na classe péssima e Canudos, Cremação, Fátima, Guamá, Montese, Pedreira e Telégrafo enquadrados na classe medíocre. Os bairros inclusos nestas duas categorias descritas encontram-se situados na Primeira Légua Patrimonial, área mais urbanizada da cidade. As infrações denunciadas ocorreram em maior escala nas áreas habitacionais seguidos por veículos e estabelecimentos comerciais (casas de show, bares e eventos) (CIOP, 2017).

O ruído intenso é prejudicial ao bem-estar físico, mental e social ao indivíduo a ele exposto (PETIAN, 2008). A exposição excessiva ao ruído afeta o desempenho fisiológico e mental, reduz o desempenho no trabalho, irritação, perturbação do sono, entre outras. As nocividades vão depender da durabilidade, repetição e intensidade aferida em decibéis (MACHADO, 2004). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) ruídos acima de 85 decibéis podem causar perdas auditivas permanentes se a exposição for contínua (SILVA, 2009).

Pesquisas sobre exposição sonora e incomodo causado a população na cidade de Belém são incipientes (LEÃO; ALENCAR; VERÍSSIMO, 2008; SILVA et. al., 2017). Os poucos trabalhos existentes não são atuais e contemplam medições em apenas alguns pontos da cidade a exemplo da pesquisa de Negrão (2009). O trabalho mais robusto de poluição sonora foi o mapeamento acústico de bairros localizados na primeira Légua Patrimonial realizado pelas instituições Unama/Semma/Fidesa em 2004 que culminou no Mapa acústico de Belém (MORAES; LARA, 2004) (Figura 23).

Figura 23 - Mapa acústico da 1º Légua Patrimonial do município de Belém/PA.

Fonte: Moraes e Lara, 2004.

Os resultados mostram que os níveis de ruído estavam muito altos na maior parte do dia e que havia a necessidade de ações rápidas para reduzir os riscos à saúde da população belenense.

Ao comparamos os dados desta pesquisa com o mapa acústico de Belém é possível observar semelhanças no que diz respeito a localização dos bairros com maiores problemas relacionados ao ruído. De posse destas informações é possível inferir que as

atuais ações locais não estão surtindo o efeito desejado e que é preciso fazer valer a lei para que todos possam ter seus direitos garantidos.

De acordo com o relatório publicado pelo Imazon (LEÃO, ALENCAR; VERÍSSIMO, 2008) alguns primeiros passos foram dados a exemplo da criação da Lei Estadual 6.896 e, em Belém, a Lei Municipal 8.512, que exigem isolamento acústico para os estabelecimentos que comercializam bebida alcoólica. Além desta ação, os órgãos locais competentes desenvolvem diversos projetos de prevenção e combate à poluição sonora a exemplo do Centro Integrado de Operações (CIOP), que oferece o serviço 190 no qual o cidadão pode alertar as autoridades sobre qualquer abuso cometido em relação ao ruído. A partir desta ligação o CIOP registra a ocorrência e encaminha para os órgãos competentes (DEMA, Batalhão da polícia Ambiental ou viatura da PM que esteja passando pela área).

Para minimizar o ruído na cidade foram sugestionadas algumas ações pelo Imazon (LEÃO; ALENCAR; VERÍSSIMO, 2008):

Sinalizar: Identificação de áreas sensíveis a ruídos;

Inspecionar veículos: O uso de transportes automotivos contribui para a produção de ruídos e, portanto, é necessário inspecionar veículos para verificar a proteção acústica e sua adequação as normas de trânsito e da lei de poluição sonora;

Reduzir ruídos em vias públicas: A partir de campanhas educativas estimular a redução de ruídos em avenidas de grande fluxo;

Fiscalizar: Fiscalização preventiva para controlar e combater a poluição sonora;

Divulgar: Disponibilizar informações sobre a situação da poluição sonora em Belém estimulando o debate sobre possíveis consequências e medidas de prevenção e combate ao ruído.

Apesar destas ações, os registros de poluição sonora só crescem a cada ano conforme pode ser observado na Tabela 4.

Tabela 4 - Registros de ocorrências de poluição sonora ao longo dos anos no município de Belém/PA.

Ano Nº de registros Base de dados

2003 3.262 DEMA

2005 7.202 DEMA

2010 7.562 DEMA

2017 54.358 CIOP

Fonte: Compilação CIOP (2017), DEMA (2003, 2005 apud LEÃO, ALENCAR; VERÍSSIMO, 2008; DEMA, 2010)

Conforme observado na Tabela 4 houve um aumento significativo no número de registros de ocorrências na cidade de Belém. Em 2010, segundo o relatório estatístico da Divisão especializada em Meio Ambiente (DEMA), a maioria das denúncias registradas ocorriam principalmente nos finais de semana e em horário noturno sendo as residências responsáveis por 40% das denúncias. Em 2017, os registros de poluição sonora tiveram um aumento de mais de 700% em comparação ao ano de 2010 batendo recorde em denúncia no Centro Integrado de Operações (CIOP).

Com base nestes dados surgiram alguns questionamentos: Como fazer? Quais as consequências da poluição sonora na população? Quais medidas/ações são necessárias para sanar este problema? Para responder a estas e outras perguntas, sugerimos:

O que fazer?

 Estudos para investigar as causas e efeitos da poluição sonora na população de forma a subsidiar planos de ações para minimizar/solucionar o problema da poluição sonora na cidade;

Como fazer?

 Estudo envolvendo a parceria entre órgãos da administração pública, instituições de pesquisa e comunidades locais;

 Uso de ferramentas de avaliação para identificar e medir quantitativamente e qualitativamente a gravidade da situação de forma a subsidiar estratégias;

Quais Medidas/ações?

Medidas Estruturais:

 Mapeamento sonoro dos bairros de forma a fornecer um diagnóstico visando a elaboração de estratégias para redução do ruído;

 Monitoramento constantemente dos pontos de maior incidência de ruídos;

 Barreiras acústicas: construção de elementos arquitetônicos que possam funcionar como barreiras acústicas;

 Massas de vegetação: plantação de vegetação natural em posições estratégicas como barreira acústica para a redução da poluição sonora;

 Jardins verticais: construção de jardins verticais em muros, fachadas, paradas de ônibus, etc. de forma a amenizar os ruídos;

 Aplicação de multas coercitivas no caso de reincidência.

Medidas Estruturais:

 Implantação de projetos de educação ambiental extensivos nas residências, escolas e nos bairros como forma de sensibilizar a população;