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5.1 Breve Síntese entre os sistemas de avaliação da Qualidade Ambiental

5.1.2 Método de Nucci

Carlos Nucci em 1996 desenvolveu um método quantitativo para avaliação da qualidade ambiental em paisagens urbanas fundamentado no estudo da Ecologia e Planejamento da Paisagem. De forma sintética, a ecologia e planejamento da paisagem é uma teoria do planejamento que incorpora os princípios ecológicos na avaliação das potencialidades (limites e aptidões) da natureza e da paisagem para acolher os usos humanos (NUCCI, 1998).

Este método tem como característica um tratamento integrado e uma análise diversificada de um fenômeno incorporando as partes que o compõe (MINAKI; AMORIM, 2007). O sistema de avaliação de Nucci consiste no agrupamento de dados passíveis de serem representados cartograficamente resultando na confecção de cartas de uso e ocupação do solo, poluição, déficit de espaços livres públicos, verticalidade da edificações, enchentes, densidade

populacional e deserto florístico. A partir destes chegamos a carta síntese de qualidade ambiental urbana.

De acordo com este método não há aplicação de valores quantitativos aos atributos. A carta de qualidade ambiental apresenta apenas uma valoração qualitativa devendo ser analisada de forma relativa, ou seja, as áreas que apresentam todos os sete atributos têm uma pior qualidade ambiental em relação as áreas que apresentam seis atributos, cinco atributos e assim por diante (NUCCI, 1998). Ainda segundo a metodologia, todos os atributos são considerados como tendo o mesmo peso na capacidade de reduzir a qualidade ambiental. Neste sistema, também não é considerado se o atributo poluição é mais prejudicial que o atributo deserto florístico, apenas que estes diminuem a qualidade ambiental e que devem ser considerados no planejamento urbano.

O sistema desenvolvido por Nucci é uma das metodologias mais replicáveis a nível de Brasil. Nas últimas décadas, aplicações desta metodologia e suas respectivas derivações podem ser encontradas nos trabalhos desenvolvidos por Buccheri Filho e Nucci (2006), Minaki e Amorim (2007), Schmidt (2009), Buccheri Filho e Tonetti (2011), Lima (2014), Paiva et. al., (2017), entre outros.

Os pontos fortes deste método, devem -se a:

 Análise a partir de uma visão sistêmica: avaliação da qualidade ambiental integrando o subsistema natural e antrópico;

 Espacialização dos atributos: importante para identificação dos locais com baixa qualidade ambiental;

 Escala de detalhe: nível de avaliação da qualidade ambiental detalhada na escala de rua/bairro.

Os pontos fracos deste modelo referem-se:

 Atributos utilizados: número reduzido de indicadores utilizados para a avaliação da qualidade ambiental urbana;

 Não estabelecimento de pesos: não utilização de pesos diferenciados para os indicadores utilizados uma vez que o fato de um lugar não ter problemas de enchentes não significa que ele apresente baixa qualidade ambiental;

 Custo para execução da metodologia: aquisição de dados junto aos órgãos locais o que reduz os custos para a aplicação da metodologia.

5.1.3 Método de Borja

Segundo Borja (1997) a avaliação da qualidade ambiental urbana deve incorporar os diversos níveis de conhecimento da realidade integrando três planos de investigação: científico, técnico e cultural conforme descrito no Quadro 11.

Quadro 11- Método de Avaliação da Qualidade Ambiental desenvolvido por Borja

PLANO DE INVESTIGAÇÃO

CONHECIMENTO

CIENTÍFICO TÉCNICO CULTURAL

AGENTES Pesquisador Experts Pesquisa de campo Informantes chaves

TÉCNICA Pesquisa bibliográfica Consulta simultânea Levantamento das condições ambientais Entrevistas Grupo focal PRODUTO Marco conceitual Indicadores de qualidade ambiental - Situação ambiental da área de estudo; - QAU segundo a perspectiva do técnico (1) Percepção ambiental da área de estudo (2) QAU segundo a perspectiva da comunidade Revisão bibliográfica

Consultoria Pesquisa de campo

CONTRIBUIÇÃO METODOLÓGICA PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA

Fonte: Adaptado de Borja (1997, p. 64).

O plano científico tem como objetivo integrar o campo das ideias e conceitos sobre qualidade ambiental urbana (QAU) ao sistema de indicadores, tendo como objetivo promover uma visão interdisciplinar (Borja, 1998). Neste plano são previstos revisão da literatura e consulta simultânea a uma rede de experts visando a proposição de um sistema de indicadores (Borja,1998).

O plano técnico visa um segundo nível de aproximação da realidade pautando-se numa perspectiva exógena do lugar a ser investigado a partir de critérios técnicos formais. Neste plano é investigada a situação ambiental da área de estudo e a qualidade ambiental urbana segundo uma visão técnica17.

A análise da perspectiva técnico-científica, a partir de uma avaliação objetiva, propõe um sistema de indicadores composto por categorias de análises, variáveis, indicadores e índices.

Cada categoria de análise apresenta um índice que irá compor o IQAU. Este modelo de avaliação utiliza 8 categorias de análise a saber: moradia, saneamento, infraestrutura urbana, serviços urbanos, infraestrutura social e cultural, conforto do ambiente, paisagem urbana e cidadania18.

O plano cultural se situa no terceiro plano de investigação da realidade e incorpora a subjetividade para a leitura e avaliação da realidade através da percepção de quem mora no lugar usando como agente de investigação as informantes chaves e a comunidade local19.

Os procedimentos teórico-metodológicos do modelo indicam que é possível empreender, a nível local, um processo com a participação de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, representantes do poder público local e da sociedade civil organizada contribuindo para ações transformadoras20.

Inegavelmente esta proposta representa um salto significativo na tentativa de contribuir com pesquisas que avaliem a qualidade ambiental em espaços urbanos pelos seguintes aspectos:

 Investigação: integra os planos de investigação científico, técnico e o cultural;

 Análise sistêmica: integra uma análise quantitativa e qualitativa de forma a observar de duas formas a realidade local;

 Participação democrática dos stakeholders: colaboração dos envolvidos para estabelecimento de indicadores de avaliação ambiental;

 Incorporação da participação popular no processo de avaliação: auxílio das comunidades locais para a identificação dos impactos ambientais e para a proposição de sugestões para minimização/solução dos problemas;

 Reflexão e pensamento crítico: Estimula a população a fazer uma reflexão e análise dos problemas ambientais contribuindo para ações transformadoras;

 Participação de experts: incorpora a participação de pesquisadores no desenvolvimento e definição dos sistemas de indicadores;

 Contempla atributos do ambiente natural, ambiente construído, infraestrutura e serviços urbanos;

 Monitoramento da qualidade ambiental: contribui como uma importante ferramenta para a avaliação/monitoramento dos espaços urbanos;

 Instrumento informacional: contribui como fonte de informação fundamental para conhecer e agir na realidade local.

18 Ibid., p. 00-00. 19 Ibid., p. 00-00. 20 Ibid., p. 00-00.

No entanto, a pesquisa não utiliza um comparativo entre os indicadores qualitativos e quantitativos, bem como, espacialização dos resultados para melhor observação dos problemas ambientais apesar de sugerir que as informações resultantes sejam referenciadas. Ainda, percebemos que os indicadores sugeridos para avaliação ambiental não podem ser aplicados em todos os sítios dada as especificidades de cada lugar.