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3.4 INSTRUMENTOS PARA DEFESA DOS DIREITOS COLETIVOS

3.4.2 Ação Civil Pública

A Lei da Ação Civil Pública disciplina as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados ao meio-ambiente; ao consumidor; a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; por infração da ordem econômica, à ordem urbanística; à honra e à dignidade de grupos raciais; étnicos ou religiosos; ao patrimônio público e social.106 Apresenta-se como importante instrumento na defesa dos interesses

coletivos.

Os mecanismos contidos nesse dispositivo legal visam possibilitar o efetivo alcance da ordem social e do processo coletivo justos, para tanto previu: “o princípio da obrigatoriedade da ação civil pública para o Ministério Público […], o controle pelo Conselho Superior do Ministério Público do princípio da obrigatoriedade […], a faculdade de qualquer pessoa do povo e a obrigação do servidor público e tribunais de provocarem a atuação do Ministério Público”.107

A ação civil pública, pela regência da Lei nº 7.347/85, é considerada uma espécie de ação coletiva, a exemplo do mandado de segurança coletivo e da ação popular. Definida pela doutrina como uma “ação de objeto não penal proposta pelo Ministério Público”, trata da defesa dos interesses transindividuais e pode ser proposta pelos colegitimados ativos, elencados no artigo 5º do referido diploma legal108.

Quando a Ação Civil Pública tutelar um direito individual, como por exemplo o tratamento de saúde de uma criança ou de um idoso, será classificada como “ação civil pública individual, na qual não será possível falar em coisa julgada erga omnes […] ou outros institutos próprios do processo coletivo”109 Conforme

Neves, “a ação civil pública tem o mais amplo campo de cabimento dentre todas as

106 BRASIL. Lei nº7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7347orig.htm>. Acesso em: 28 maio 2017.

107 CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso à justiça: juizados especiais cíveis e ação civil pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 129.

108 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor,

patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 73-74 109 ZANETI JUNIOR, Hermes; GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direitos difusos e coletivos. 2. ed. Salvador: JusPOIVM, 2011. p. 26.

ações que compõem o processo coletivo comum”. Pode-se tutelar diversos direitos materiais como os afetos à saúde pública, educação, além daqueles tuteláveis pelo microssistema coletivo (difuso, coletivo e individual homogêneo).110

Conforme releitura de Marinoni, feita por Zavascki:

[…] a ação civil pública é instrumento com múltipla aptidão, o que a torna meio eficiente para conferir integral tutela aos direitos transindividuais: tutela preventiva e reparatória, para obter prestações de natureza pecuniária (indenizações em dinheiro) ou pessoal (de cumprir obrigações de fazer ou não fazer), o que comporta todo o leque de provimentos jurisdicionais: condenatórios, constitutivos, executivos, mandamentais e meramente declaratórios.”111

Pelo exposto, constata-se que houve significativo avanço processual com o advento da Lei da Ação Civil Pública, assim como é notório o importante papel que a ação civil pública ocupa na defesa dos direitos coletivos no sistema processual brasileiro.

No que diz respeito a propositura da ação civil pública, especialmente a ambiental, o Ministério Público destaca-se em relação aos demais legitimados. Se de um lado tal situação demonstra uma atuação efetiva do órgão ministerial, e por isso positiva, de outro demonstra a inércia por parte dos demais112.

O artigo 3º da Lei da Ação Civil Pública, estabelece, de forma evidente seus três objetivos: prevenção, reparação e ressarcimento dos danos causados. Tais objetivos visam proteger os interesses metaindividuais que, em razão da sua dimensão social, são considerados indisponíveis. Por isso, admite-se, pelo menos em tese, a prevalência do objetivo de prevenção, sobre o de reparação e deste sobre o de ressarcimento.113

110 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo: volume único. 3. ed.

Salvador: JusPodivm, 2016. p. 88.

111 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual de processo de conhecimento. apud ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 57.

112 DANTAS, Marcelo Buzaglo. Ação civil pública e meio ambiente. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. Acesso restrito via Minha Biblioteca. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788502136533/pageid/410>. Acesso em: 14 jun. 2017.

113 SOUZA, Motauri Cicchetti de. Ação civil pública e inquérito civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 37.

Essa perspectiva, conduz a construção do conceito da ação civil pública no sentido de defini-la como instrumento de acesso à justiça e de promoção de defesa dos direitos coletivos. Para tanto, confere ao Ministério Público e a outros órgãos legitimados poderes para provocar a atividade jurisdicional.114

Balizou-se, assim, o panorama do direito coletivo brasileiro, com a conceituação dos importantes direitos difusos, coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos. Também foi possível identificar os dispositivos legais que compõem o microssistema processual coletivo, dimensionando sua importância na defesa dos direitos supracitados. Por fim, tratou-se da ação civil pública, importante instrumento para a atuação do Ministério Público.

Esses assuntos relacionam-se profundamente com o tema da pesquisa, sua compreensão tem como importância alicerçar o desenvolvimento do trabalho. Na medida em que se deseja conhecer o papel social do Ministério Público, é vital que, de forma antecedente, tenha-se a consciência dos instrumentos disponíveis para o desempenho desse papel. Da mesma forma, é a necessidade de alcançar os conceitos sobre o tema direitos transindividuais.

Para o quarto capítulo, busca-se reconhecer as formas e a amplitude de atuação do Ministério Público, no sistema processual brasileiro. Inclui-se, a partir dessa perspectiva, uma discussão sobre a forma como a informação da sociedade acerca dos seus direitos pode promover o acesso à justiça. Pretende-se, ao final, promover uma reflexão sobre o papel social do Parquet na defesa dos direitos transindividuais.

114 RIZZARDO, Arnaldo. Ação civil pública e ação de improbidade administrativa. 3. ed. Forense, 06/2014. Acesso restrito via Minha Biblioteca. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-309-5660-

4 O AVANÇO SOCIAL DECORRENTE DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

De todos os entes habilitados a agir em defesa dos direitos transindividuais, o Ministério Público tem posição de destaque. A legislação pátria, constitucional e infraconstitucional, o legitimou a atuar de formas diversas assumindo importante papel no cenário do processo coletivo.

Neste capítulo será discutido como a atuação do Ministério Público na defesa dos direitos transindividuais interfere na sociedade. Para tanto, torna-se importante delinear as atribuições e a forma de atividade por ele desempenhada. Complementando o tema, por estar conexo, será tratado o acesso à justiça decorrente da atuação ministerial.