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As jurisprudências destacadas a seguir foram escolhidas com a finalidade de apresentar exemplos da atuação do Ministério Público na defesa de cada um dos Direitos Transindividuais descritos neste trabalho: direito difuso, coletivo e individual homogêneo.

Ementa: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL COLETIVA. DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS (DIFUSOS E COLETIVOS) E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. DISTINÇÕES. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ARTS. 127 E 129, III, DA CF. LESÃO A DIREITOS INDIVIDUAIS DE DIMENSÃO AMPLIADA. COMPROMETIMENTO DE INTERESSES SOCIAIS QUALIFICADOS. SEGURO DPVAT. AFIRMAÇÃO DA LEGITIMIDADE ATIVA. 1. Os direitos difusos e coletivos são transindividuais, indivisíveis e sem titular determinado, sendo, por isso mesmo, tutelados em juízo invariavelmente em regime de substituição processual, por iniciativa dos órgãos e entidades indicados pelo sistema normativo, entre os quais o Ministério Público, que tem, nessa legitimação ativa, uma de suas relevantes funções institucionais (CF art. 129, III). 2. Já os direitos individuais homogêneos pertencem à categoria dos direitos subjetivos, são divisíveis, tem titular determinado ou determinável e em geral são de natureza disponível. Sua tutela jurisdicional pode se dar (a) por iniciativa do próprio titular, em regime processual comum, ou (b) pelo procedimento especial da ação civil coletiva, em regime de substituição processual, por iniciativa de qualquer dos órgãos ou entidades para tanto legitimados pelo sistema normativo. 3. Segundo o procedimento estabelecido nos artigos 91 a 100 da Lei 8.078/90, aplicável subsidiariamente aos direitos individuais homogêneos de um modo geral, a tutela coletiva desses direitos se dá em duas distintas fases: uma, a da ação coletiva propriamente dita, destinada a obter sentença genérica a respeito dos elementos que compõem o núcleo de homogeneidade dos direitos tutelados (an debeatur, quid debeatur e quis debeat); e outra, caso procedente o pedido na primeira fase, a da ação de cumprimento da sentença genérica, destinada (a) a complementar a atividade cognitiva mediante juízo específico sobre as situações individuais de cada um dos lesados (= a margem de heterogeneidade dos direitos homogêneos, que compreende o cui debeatur e o quantum debeatur), bem como (b) a efetivar os correspondentes atos executórios. 4. O art. 127 da Constituição Federal atribui ao Ministério Público, entre outras, a incumbência de defender “interesses sociais”. Não se pode estabelecer sinonímia entre interesses sociais e interesses de entidades públicas, já que em relação a estes há

vedação expressa de patrocínio pelos agentes ministeriais (CF, art. 129, IX). Também não se pode estabelecer sinonímia entre interesse social e interesse coletivo de particulares, ainda que decorrentes de lesão coletiva de direitos homogêneos. Direitos individuais disponíveis, ainda que homogêneos, estão, em princípio, excluídos do âmbito da tutela pelo Ministério Público (CF, art. 127). 5. No entanto, há certos interesses individuais que, quando visualizados em seu conjunto, em forma coletiva e impessoal, têm a força de transcender a esfera de interesses puramente particulares, passando a representar, mais que a soma de interesses dos respectivos titulares, verdadeiros interesses da comunidade. Nessa perspectiva, a lesão desses interesses individuais acaba não apenas atingindo a esfera jurídica dos titulares do direito individualmente considerados, mas também comprometendo bens, institutos ou valores jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma comunidade maior de pessoas. Em casos tais, a tutela jurisdicional desses direitos se reveste de interesse social qualificado, o que legitima a propositura da ação pelo Ministério Público com base no art. 127 da Constituição Federal. Mesmo nessa hipótese, todavia, a legitimação ativa do Ministério Público se limita à ação civil coletiva destinada a obter sentença genérica sobre o núcleo de homogeneidade dos direitos individuais homogêneos. 6. Cumpre ao Ministério Público, no exercício de suas funções institucionais, identificar situações em que a ofensa a direitos individuais homogêneos compromete também interesses sociais qualificados, sem prejuízo do posterior controle jurisdicional a respeito. Cabe ao Judiciário, com efeito, a palavra final sobre a adequada legitimação para a causa, sendo que, por se tratar de matéria de ordem pública, dela pode o juiz conhecer até mesmo de ofício (CPC, art. 267, VI e § 3.º, e art. 301, VIII e § 4.º). 7. Considerada a natureza e a finalidade do seguro obrigatório DPVAT – Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Lei 6.194/74, alterada pela Lei 8.441/92, Lei 11.482/07 e Lei 11.945/09) -, há interesse social qualificado na tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos dos seus titulares, alegadamente lesados de forma semelhante pela Seguradora no pagamento das correspondentes indenizações. A hipótese guarda semelhança com outros direitos individuais homogêneos em relação aos quais - e não obstante sua natureza de direitos divisíveis, disponíveis e com titular determinado ou determinável -, o Supremo Tribunal Federal considerou que sua tutela se revestia de interesse social qualificado, autorizando, por isso mesmo, a iniciativa do Ministério Público de, com base no art. 127 da Constituição, defendê-los em juízo mediante ação coletiva (RE 163.231/SP, AI 637.853 AgR/SP, AI 606.235 AgR/DF, RE 475.010 AgR/RS, RE 328.910 AgR/SP e RE 514.023 AgR/RJ). 8. Recurso extraordinário a que se dá provimento. (RE 631111, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 07/08/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213 DIVULG 29- 10-2014 PUBLIC 30-10-2014)161

Trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal a fim de garantir “o acesso adequado aos alunos surdos, regularmente matriculados na UFRGS, ou interessados em efetuar matrícula” pleiteando “a implantação de uma

161 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 631111. Relator: Min. Teori Zavascki. Brasília, 07 de agosto de 2014. DJe, Brasília, 30 de outubro de 2014. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000251099&base=baseAcordao s.> Acesso em 14 de junho de 2014.

política adequada de acessibilidade aos estudantes surdos em geral.” Configura-se como defesa de interesse difuso pois tutela um interesse de natureza indivisível (o acesso à educação), que atinge um grupo de pessoas indeterminadas (grupo de deficientes físicos portadores de deficiência auditiva) e ligadas por circunstâncias de fato (provável negativa de acesso aos cursos da UFRGS, em razão da deficiência física).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS. PROPAGANDA ENGANOSA. DESCONHECIMENTO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS. DIREITO DO CONSUMIDOR. VÍTIMAS IDOSAS. ESTATUTO DO IDOSO. ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. EXTINÇÃO DO FEITO. SENTENÇA REFORMADA. INTERESSE SOCIAL EVIDENCIADO. RETORNO À ORIGEM. RECURSO PROVIDO. O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação em defesa de direito difuso, de futuras eventuais vítimas, e individuais homogêneos, de pessoas já vitimadas, integrantes do mercado consumidor. Precedentes. (REsp n. 976.217/RO, rela. Mina. Maria Isabel Gallotti, j. em 11.09.2012) Possui legitimidade ativa o Ministério Público para ajuizar ação civil pública em defesa do direito indisponível, ainda que em benefício individual. De fato, "certos direitos individuais homogêneos podem ser classificados como interesses ou direitos coletivos, ou identificar-se com interesses sociais e individuais indisponíveis. Nesses casos, a ação civil pública presta-se à defesa dos mesmos, legitimando o Ministério Público para a causa. C.F., art. 127, caput, e art. 129, III" (STF, RE n. 195.056, Min. Carlos Velloso). Mormente quando o titular do direito é pessoa idosa que, nos termos do Estatuto do Idoso, pode ser representada em Juízo pelo Ministério Público. (Apelação Cível n. 2008.023041-8, de Lages, rel. Des. Jaime Ramos, j. em 12.06.2008) (TJSC, Apelação Cível n. 2012.075126-9, de Lages, rel. Des. Júlio César Knoll, j. 20-03-2014).162

Trata-se de jurisprudência colhida na página institucional do Supremo Tribunal Federal – STF, em 14 de junho de 2017. Para tanto, foi utilizada a expressão de busca “direitos transindividuais”, retornando 3(três documentos).

No Recurso Especial 631111, onde o Ministério Público figura como recorrente, a Suprema Corte autorizou a atuação ministerial em ação coletiva para tutela de direito individual homogêneo, dando provimento ao recurso. Dessa forma, reconheceu, para o caso em comento, a natureza coletiva do direito individual homogêneo, por se revestir de interesse social. O julgado guarda relação com este

162 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 2008.023041-8. Relator: Des. Jaime Ramos, Florianópolis, 20 de março e 2014. Disponível em:

<http://app6.tjsc.jus.br/cposg/pcpoSelecaoProcesso2Grau.jsp?cbPesquisa=NUMPROC&Pesquisar=P esquisar&dePesquisa=20120751269>. Acesso em: 10 jun. 2017.

trabalho, uma vez que o assunto foi discutido no item 3.3, quando tratou dos Direitos Individuais Homogêneos.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO DO CONSUMIDOR. PUBLICIDADE ABUSIVA. SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO PARA ADEQUAÇÃO DA PUBLICIDADE A CARACTERES UNIFORMES. MULTA COMINATÓRIA POR DESCUMPRIMENTO. INSURGÊNCIA DA EMPRESA DEMANDADA. PRELIMINARES DE AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR E IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. TESES AFASTADAS. O MINISTÉRIO PÚBLICO POSSUI ATRIBUIÇÃO CONSTITUCIONAL PARA A DEFESA DE DIREITOS COLETIVOS POR INTERMÉDIO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POSSIBILIDADE DO PLEITO A FIM DE DAR CUMPRIMENTO AO DISPOSTO NA LEI N. 10.962/04 E NO DECRETO N. 5.903/04. PREJUDICIAL DE CERCEAMENTO DE DEFESA EM FACE DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. ARTIGO 330, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INOCORRÊNCIA. MÉRITO RECURSAL. ATUAÇÃO DO PARQUET ALÉM DOS LIMITES CONSTITUCIONAIS, AFRONTA À CONSTITUIÇÃO E AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E LIVRE CONCORRÊNCIA/INICIATIVA. TESES INACOLHIDAS. ATRIBUIÇÃO CONSTITUCIONAL DO ÓRGÃO MINISTERIAL NA DEFESA DA ORDEM JURÍDICA E DA PROTEÇÃO DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS. EXEGESE DOS ARTIGOS 127 E 129, III, DA CARTA POLÍTICA BRASILEIRA. SENTENÇA GUERREADA QUE ESTIPULA CARACTERES UNIFORMES EM CARTAZES DE PREÇOS E INFORMES PUBLICITÁRIOS. PLEITO PARA A MANUTENÇÃO DA FORMA UTILIZADA ANTES DO INGRESSO DA DEMANDA. REFORMA NECESSÁRIA. VIA INTERMEDIÁRIA CONSTANTE EM TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA QUE MELHOR ATENTA À CORREÇÃO, À CLAREZA, À PRECISÃO E À LEGIBILIDADE DA INFORMAÇÃO PUBLICITÁRIA. PUBLICIDADE QUE DEVERÁ SER AJUSTADA AOS TERMOS PROPOSTOS A OUTRAS EMPRESAS DO MESMO RAMO. MULTA COMINATÓRIA FIXADA NO IMPORTE DE R$ 50.000,00, POR DESCUMPRIMENTO DO COMANDO JUDICIAL. PREVISÃO PRINCIPIOLÓGICA OBSERVADA. MANUTENÇÃO QUE SE IMPÕE, POSTO QUE FIXADA EM CONSONÂNCIA COM OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. ALEGAÇÃO DE MÁ-FÉ POR PARTE DO ÓRGÃO MINISTERIAL. SITUAÇÃO NÃO VERIFICADA NOS AUTOS. ATUAÇÃO EM CONSONÂNCIA COM OS TERMOS LEGAIS E CONSTITUCIONAIS. EFEITOS DA COISA JULGADA. AÇÃO PROPOSTA NA COMARCA DA CAPITAL, COM EFEITO ERGA OMNES, QUE SE LIMITA AO ESTADO DE SANTA CATARINA. CONDENAÇÃO DA APELANTE AO ADIMPLEMENTO DAS DESPESAS PROCESSUAIS. HONORÁRIOS DISPENSADOS EM RAZÃO DE EXPRESSA PREVISÃO LEGAL. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 2011.095274-1, da Capital, rel. Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior, j. 18-11-2014).163

163 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Acórdão nº 2011.095274-1. Relator: Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior. Florianópolis, 18 de novembro de 2014. Disponível em:

<http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=%22direitos%20coletivos%22%20%22a%E7%E3o %20civil%20p%FAblica%22%20Minist%E9rio%20P%FAblico%22&only_ementa=&frase=&id=AAAbm QAACAAI0mtAAR&categoria=acordao>. Acesso em: 14 jun. 2017.

Trata-se de jurisprudência colhida na página institucional do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em 14 de junho de 2017. Para tanto, foi utilizada a expressões de busca “direitos coletivos”, “Ministério Público” e “Ação civil pública”, no período de 14/06/2014 a 14/06/17. Retornaram 30 (documentos).

Na Apelação Cível 2011.095274-1, em que o Ministério Público figura como recorrido. Trata-se de recurso em Ação Civil Pública que cuida de Direito do Consumidor, onde o órgão ministerial agiu a fim de tutelar direito coletivo. O julgado guarda relação com este trabalho, uma vez que o assunto foi discutido no capítulo 3, que tratou dos Direitos Transindividuais Tuteláveis.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTRATOS DE PUBLICIDADE EM GUIA TELEFÔNICO. "GOLPE DA LISTA TELEFÔNICA". PRETENSÃO INICIAL JULGADA PROCEDENTE EM RELAÇÃO À TOTALIDADE DE EMPRESAS INSERIDAS NO PÓLO PASSIVO DA LIDE (DEZ). APELO DE DUAS DAS DEMANDADAS. RELAÇÃO JURÍDICA-BASE DE CONSUMO. DIREITOS DIFUSOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. O direito individual homogêneo é um tipo de direito coletivo, pois ambos derivam de uma mesma base jurídica e relacionam-se a grupos, categorias ou classes de pessoas. Está posto na Carta Magna, portanto, a legitimidade do Ministério Público para a propositura da ação civil pública - art. 129, inciso III. Ademais, porque a relação jurídica-base é de consumo, o Ministério Público igualmente possui legitimidade para propor a ação coletiva, ainda que se trate, exclusivamente, de direitos individuais homogêneos - inciso III do parágrafo único do art. 81 e inciso I do art. 82 da Lei nº 8.078/1990. CDC. APLICABILIDADE. Equipara-se a figura de consumidor qualquer vítima de defeito na prestação de serviços, ainda que pessoa jurídica, mormente quando inexistente qualquer vínculo jurídico entre as partes. LITISCONSÓRCIO PASSIVO FACULTATIVO SIMPLES. A formação de litisconsórcio passivo facultativo simples em demanda judicial implica em duas situações distintas. No plano processual, é certo que o autor poderia acionar uma ou outra empresa separada ou conjuntamente. Se esta é a opção processual, no plano de direito material a solução do caso pode ser diversa para cada um dos acionados. Se o Ministério Público, ao propor ação civil pública para defesa dos interesses dos consumidores de determinada região, opta por formar litisconsórcio passivo facultativo e simples em razão da afinidade nas questões de fato (induzir o consumidor em erro) e de direito (proteção, inclusive de índole constitucional, do consumidor) que são imputadas (art. 46, inciso IV, do CPC/73) a todas as empresas acionadas, certo é que a resolução da controvérsia depende de análise casuística, circunscrita, portanto, à prova produzida nos autos acerca da conduta desempenhada por cada uma das acionadas no desenvolvimento do seu mister perante seus clientes em potencial no mercado de consumo. AUSÊNCIA DE PROVA INCONTESTE DE PRÁTICA COMERCIAL ILÍCITA OU MESMO ABUSIVA POR PARTE DAS DUAS EMPRESAS APELANTES, QUE COMPROVAM A LIVRE E VÁLIDA PACTUAÇÃO DOS SEUS SERVIÇOS PELOS SEUS CONSUMIDORES. IMPROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO INICIAL APENAS EM RELAÇÃO A ELAS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA EM RELAÇÃO ÀS DEMAIS. O

Microssistema Protetivo que, consabido, veio cumprir a determinação de índole constitucional, veda no mercado de consumo tanto a prática comercial ilegal, contrária ao ordenamento jurídico, como a abusiva, que ultrapassa a regularidade do exercício do comércio e viola os deveres de moralidade e ética. A conduta de prática comercial abusiva não pode ser genericamente atribuída à todas as empresas que atuam em um mesmo ramo em uma determinada região; antes, deve ser comprovada pelo Ministério Público, em relação a cada uma delas, para que a ação civil pública proposta pelo seu titular possa ser julgada integralmente procedente impondo-lhes as sanções legais. É forçosa a tese do "golpe da lista telefônica" quando reconhecido pela empresa contratante que a pessoa que assinou o contrato é seu funcionário e os poderes para tanto não foram sequer questionados. RECURSOS PROVIDOS. (TJSC, Apelação n. 0004062-92.2007.8.24.0067, de São Miguel do Oeste, rel. Des. Gilberto Gomes de Oliveira, j. 20-09-2016).164

Trata-se de jurisprudência colhida na página institucional do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em 14 de junho de 2017. Para tanto, foi utilizada a expressões de busca “direitos difusos”, “Ministério Público”, no período de 14/06/2016 a 14/06/17. Retornaram 41 (documentos).

Na Apelação Cível 0004062-92.2007.8.24.0067, o Ministério Público figura como recorrido. Trata-se de recurso em Ação Civil Pública que cuida de Direito do Consumidor, onde o órgão ministerial agiu a fim de tutelar direito difuso e direito individual homogêneo. O julgado guarda relação com este trabalho, uma vez que o assunto foi discutido no capítulo 3, que tratou dos Direitos Transindividuais Tuteláveis.

164 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Acórdão 0004062-92.2007.8.24.0067. Relator: Gilberto Gomes de Oliveira. 20 de setembro de 2016. Disponível em:

<http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=%22direitos%20difusos%22%20%22minist%E9rio% 20publico%22&only_ementa=&frase=&id=AABAg7AADAAG/JqAAT&categoria=acordao_5>. Acesso em: 14 jun. 2017.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração da pesquisa possibilitou discutir sobre a defesa dos direitos transindividuais no ordenamento jurídico brasileiro, acerca da atuação do Ministério Público nesse mister e quanto à viabilização do acesso à justiça. Não teve, contudo, a pretensão de esgotar o estudo sobre tais questões. Com efeito, o tema mostrou-se bastante rico, incluindo denso conteúdo doutrinário, o que, por si, denota a sua significação para a construção da nossa sociedade.

A defesa em juízo dos direitos coletivos foi construída, ao longo do tempo, no arcabouço jurídico pátrio, culminando no modelo do Processo Coletivo. Estabeleceu-se, então, um microssistema próprio - denominado Microssistema Processual Coletivo -, composto por dispositivos legais inter-relacionados entre si. É inconteste a importância do Processo Coletivo, dada sua característica de tutelar o direito de um determinado grupo de forma mais efetiva e com economia processual. Por tal razão, inclusive, possui princípios próprios como por exemplo o da máxima efetividade e da ampla divulgação da demanda.

Em decorrência da disseminação do Processo Coletivo tornou-se viável, para um maior número de pessoas, o acesso à justiça. E isso, não somente pela facilidade de provocação do judiciário, mas, também, pelos efeitos que a decisão poderá alcançar na vida da população. Pode-se afirmar, em consequência disso, que vem se efetivando uma maior e real democratização da justiça. De outra parte, pode-se afirmar que essa possibilidade de acesso à justiça dependerá do quanto a sociedade está informada sobre seus direitos. Portanto, além de mecanismos jurídicos, é preciso promover a conscientização dos cidadãos sobre as possibilidades de defesa dos seus direitos.

Na classificação dos direitos coletivos lato sensu identificam-se três tipos: Difusos, Coletivos (stricto sensu) e Individuais Homogêneos. Todos eles são passíveis de defesa coletiva, fundamentados nos mesmos diplomas legais. A partir da conceituação desses direitos, é possível determinar a titularidade de cada um deles, bem como, identificar a característica de transindividualidade (interesse de um grupo ou coletividade) a eles inerente.

Na legislação pátria, vários são os dispositivos que regulam a defesa dos direitos transindividuais. O texto constitucional, por exemplo, traz expressa referência ao tema, cuidando para que sejam definidos os principais atores e garantias dos direitos coletivos. Em complemento, compondo o microssistema processual coletivo, cabe destaque para a Lei da Ação Civil Pública e para o Código de Defesa do Consumidor. Este último é considerado, pela doutrina, como “código do processo coletivo”, em razão da relevância do seu conteúdo.

A partir desse panorama jurídico, é possível responder à questão inicial do trabalho: como a legislação vigente prevê os mecanismos de atuação do Ministério Público na defesa dos direitos transindividuais?

O Ministério Público recebeu a missão Constitucional de ser um dos principais atores do processo coletivo para a defesa dos direitos transindividuais. Tal atribuição consolidou-se com o advento da Lei da Ação Civil Pública, onde este também figura como legitimado para defender os referidos direitos. A partir daí, a Ação Civil Pública tornou-se umas das principais formas de atuação ministerial para a garantia dos direitos da coletividade. Além de atuar judicialmente, também age pela via extrajudicial, promovendo o Inquérito Civil, firmando Termos de Ajustamento de Conduta e expedindo Recomendações. Tudo com o fim de efetivar a defesa dos direitos da coletividade.

Pela concreta atividade do Parquet, a sociedade tem possibilidade de alcançar soluções para as ameaças ou lesões a direitos coletivos. Por tal razão, o Ministério Público assume papel de agente transformador da realidade social. Ao ouvir o povo, promover ações e desempenhar atividades extrajudiciais, promove, por conseguinte, a cidadania. Representa a possibilidade de acesso à justiça que muitos grupos sociais não teriam, não fosse essa tarefa por ele assumida. Assim, dentre as notáveis atribuições desse órgão, a defesa dos Direitos Transindividuais assume posição de destaque

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Gregório Assagra de; ALMEIDA, Flávia Vigatti Coelho. Temas

avançados do ministério público: o direito processual coletivo e a proposta de

reforma do sistema das ações coletivas no código de defesa do consumidor no Brasil. Salvador: JusPODIVM, 2012.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 5139/2009. Disciplina a ação civil pública para a tutela de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=43248 5>. Acesso em: 27 maio 2017.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 maio 2017.

BRASIL. Lei n 12.016, de 7 de agosto de 2009. Disciplina o mandado de segurança individual e coletivo e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12016.htm>. Acesso em: 27 maio 2017.

BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm>. Acesso em: 27 maio