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O termo “acesso à justiça” aparenta ser de simples compreensão, uma vez que a maioria dos indivíduos, em algum momento de suas vidas, já refletiram acerca do tema e sobre ele formaram um conceito. Esse é um assunto que facilmente integra o senso comum, pois traduz o desejo de todos. Entretanto, não se pode restringir a compreensão ao entendimento popular, sendo importante buscar sua essência e as questões jurídicas envolvidas.

Pode-se começar tal compreensão a partir da visão apresentada por Cappelletti: “O acesso à justiça pode [...] ser encarado como o requisito fundamental

126 DIDIER JÚNIOR, Fredie (Coord.). Ministério público: coleção repercussões do novo CPC. Salvador: Juspodvim, 2015. v. 6. p. 71.

– o mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos.” Observa-se que esse destacado autor elenca obstáculos para o efetivo acesso à justiça, sendo um deles a “Aptidão para Reconhecer um Direito”. Considera entrave a falta de informação do povo, especialmente dos menos favorecidos, que pela condição social e educacional não identificam o direito lesado, deixando de recorrer ao amparo do judiciário.128

Donizetti e Cerqueira destacam que “o acesso à justiça pressupõe a tutela jurisdicional diferenciada”, para eles devem ser empreendidos “os meios mais amplos e satisfatórios” para a solução de conflitos de forma justa e razoável. Esse conceito está coordenado com os objetivos das ações coletivas, que visam solucionar os chamados conflitos de massa da sociedade.129

A doutrina demonstra a consciência das dificuldades encontradas para a efetivação do acesso à justiça e dos movimentos adotados para superar tais obstáculos. Como reflexo, percebe-se um amadurecimento na legislação no sentido de simplificar a atuação do judiciário para que a tutela de direitos seja alcançada de forma mais rápida e disseminada. Como exemplos, cita-se a instalação dos juizados especiais e o próprio fortalecimento das ações coletivas.

Esse esforço para a democratização da justiça precisa de um braço importante: uma sociedade com acesso à informação. O aparelhamento do judiciário e a estruturação do Ministério Público não surtirá o efeito esperado se, em paralelo, a sociedade não for educada para buscar seus direitos. Sobre a questão, Carneiro destaca que “a acessibilidade pressupõe a existência de pessoas, em sentido lato (sujeitos de direito), capazes de estar em juízo[...] desempenhando adequadamente o seu labor (manejando […] os instrumentos legais judiciais e extrajudiciais existentes) [...]”, e acrescenta que o direito à informação sobre quais os direitos e quais as formas de utilizá-los é essencial para que o acesso à justiça seja possível a todos.130

128 CAPPELLETTI, Mauro. Acesso à justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988. p. 12-22.

129 DONIZETTI, Elpídio; CERQUEIRA, Marcelo Malheiros. Curso de processo coletivo. São Paulo: Atlas, 2010. p. 7.

130CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso à justiça: juizados especiais cíveis e ação civil pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 65.

Nessa linha de pensamento, cabe destacar que o direito a informação está previsto no texto constitucional131 e ensejou a promulgação da Lei nº

12.527/2011, Lei de Acesso a Informação (LAI)132, a chamada LAI. Esse dispositivo

regula a publicidade dos atos e de informações relacionadas a atividade dos órgãos públicos das esferas federal, estadual e municipal. Assim, o poder público demonstra estar atento a essa temática e proporciona condições para que a sociedade em geral possa estar ciente da dinâmica administrativa, inclusive quanto a natureza dos gastos públicos.

Constata-se, em consulta na internet, que os órgãos públicos, por meio de páginas institucionais, divulgam informações relevantes sobre sua administração e atuação. Destaque-se a página oficial do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União intitulada como Portal da Transparência133 que

disponibiliza as informações previstas na Lei de Acesso a Informação referentes aos entes federados. Como vivemos os tempos da era virtual, e o acesso à internet está muito facilitado, pode-se assegurar que essa disponibilização de informações está apta a atingir a grande massa da população.

Também o Ministério Público e os órgãos do judiciário, como órgãos públicos que são, subordinam-se à supracitada Lei. As páginas institucionais desses entes costumam conter tanto informações sobre a administração como sobre o andamento processual, o que já demonstra um grande avanço em relação a poucas décadas passadas. Em especial, os diversos ramos do Ministério Público utilizam o espaço virtual, também, como meio disseminador das campanhas institucionais de cunho educativo, que visam impulsionar o acesso à justiça.

As páginas institucionais do Ministério Público Federal134 e do Ministério

Público em Santa Catarina135 são bons exemplos, em razão do conteúdo disponível,

131 Inciso XXXIII, art. 5º, da Constituição Federativa da República Brasileira.

132 BRASIL. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 08 jun. 2017. 133 BRASIL. Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União. Portal da

Transparência. Disponível em: <http://www.portaldatransparencia.gov.br/>. Acesso em: 8 jun. 2017.

134 BRASIL. Ministério Público Federal. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/>. Acesso em: 8 jun. 2017.

da ampla divulgação da atuação ministerial, por essa via. Ainda, outros canais virtuais também são amplamente utilizados para tal fim, com destaque para as redes sociais (facebook, Twitter...) que atualmente constituem-se em poderoso instrumento formador de opinião e disseminador de informação.

Outro aspecto de destaque é que atualmente as denúncias e representações podem ser feitas virtualmente utilizando-se do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) desses órgãos. De forma simples, o cidadão pode realizar a denúncia a partir de um link nas páginas institucionais dos Ministérios Públicos136. Tal facilidade aliada à disponibilização das informações no site e,

também, às campanhas educativas sobre a atuação ministerial, tendem a ampliar as possibilidades de acesso à justiça.

A partir das considerações sobre a informação como instrumento de acesso à justiça e do breve panorama de disseminação dessa informação, tem-se como foco a discussão sobre a amplitude da atuação ministerial.