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A definição do Código de Defesa do Consumidor sobre direitos individuais homogêneos é sucinta e limita-se a conceituá-los como “aqueles entendidos os decorrentes de origem comum”.80 Em razão desse motivo, coube à doutrina uma

discussão mais aprofundada sobre o tema, em que se extrai-se a cognição de que,

Os direitos individuais homogêneos correspondem àqueles direitos que, embora individuais em essência, são tratados coletivamente por ficção jurídica, em razão da sua origem comum. Assim, em função da eficácia, conveniência e segurança jurídica de se conferir proteção coletiva a uma gama de direitos individuais decorrentes de mesma origem, tratou a lei de, artificialmente, criar a espécie “direito individual homogêneo […].81

Na mesma linha, concebe-se que os direitos individuais homogêneos são aqueles que se revestem de características dos direitos coletivos, mas não possuem o viés de transindividualidade comum as outras duas espécies. Podem ser “classificados como 'acidentalmente coletivos', ou ainda, como 'subespécie dos interesses coletivos'[...]”. Para Zavascki, os direitos individuais homogêneos não deixarão de ser direitos subjetivos individuais, ainda que possam ser tutelados coletivamente.82

Contudo, de outra parte, encontra-se no posicionamento doutrinário que:

O que caracteriza os interesses transindividuais é o fato de não se enquadrarem nas categorias tradicionais de interesse público e privado; de pertencerem a um grupo, categoria ou classe de pessoas que mantém entre si um vínculo jurídico ou fático; e de poderem ser objeto de tutela coletiva, atribuída a determinados entes, com peculiaridades inerentes a essa forma de acesso à justiça. Esses interesses coletivos em sentido amplo podem ser classificados em três grupos, conforme o seu objeto, a sua origem e a

80BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 20 maio 2017.

81 DONIZETTI, Elpídio; CERQUEIRA, Marcelo Malheiros. Curso de processo coletivo. São Paulo: Atlas, 2010. p. 49.

82 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 47.

possibilidade ou não de identificar os seus titulares. A lei menciona os interesses difusos, os coletivos (em sentido estrito) e os individuais homogêneos [...]83

Da lição de Didier, colhe-se que “a importância prática desta categoria é cristalina. Sem sua criação pelo direito positivo nacional não existiria possibilidade de tutela coletiva de direitos individuais com natural dimensão coletiva em razão de sua homogeneidade”.84

Para trazer mais alguns elementos sobre a questão, cuida-se do concebido por Pimentel:

De fato, foi a norma do parágrafo único, do art. 81 do CDC, que outorgou mais um progresso para a tutela jurisdicional coletiva, proporcionando, inclusive, a alteração de sua taxonomia, na medida em que instituíra uma terceira categoria de direito coletivo, o qual, apesar de não ser transindividual em sua gênese material, necessitava de um tratamento processual que requeria uma “coletivização” procedimentalizante, um tratamento, portanto, diferenciado do outorgado à tutela individual e que se destinava à tutela dos direitos individuais homogêneos.85

Para finalizar a discussão, apresenta-se posicionamento expressado por Zaneti: “[...] considerar os direitos individuais homogêneos como direitos individuais, sendo 'coletivamente tratados' em decorrência da homogeneidade das lesões, seria permitir o afastamento da aplicação dos princípios gerais da tutela coletiva a tais direitos.”86 Assim, assume-se como possível o enquadramento do direito individual homogêneo como um dos tipos de direitos coletivos lato sensu e, por isso, sujeito aos princípios e regras do direito processual coletivo.

Resgatando-se o modelo de classificação de direito coletivo, tem-se para os direitos individuais homogêneos: a) quanto à titularidade: pessoas determinadas

83 GONÇALVES, Carlos Roberto. Tutela de interesses difusos e coletivos. 9. ed. Saraiva, 2015. (Sinopses, v. 26). Acesso restrito via Minha Biblioteca. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788502622616/pageid/16>. Acesso em: 13 jun. 2017.

84 DIDIER JÚNIOR, Fredie; ZANETI JÚNIOR, Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 8. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v. 4. p. 78.

85PIMENTEL, Alexandre Freire. VASCONCELOS, Dimitri de Lima. Direitos coletivos em perspectiva histórica: análise dos critérios taxonômicos a partir dos planos processual e material. Revista dos

Tribunais Nordeste, RTNE, v. 2, n. 4, p. 53-67, mar./abr. 2013. Acesso em: 14 jun. 2017.

86 ZANETI JUNIOR, Hermes; GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direitos difusos e coletivos. 2. ed. Salvador: JusPOIVM, 2011. p. 205.

ou determináveis; b) quanto a divisibilidade: direito de natureza divisível e c) quanto a origem: situações de fato ou de direito equivalentes.

Sobre o conceito de direitos individuais homogêneos, “aqueles entendidos os decorrentes de origem comum”, Neves propôs a compreensão do termo “origem comum”. Segundo ele, na perspectiva do processo, tem-se “dois elementos que compõem a causa de pedir: fato e fundamento jurídico. Havendo um dano a grupo de pessoas em razão de um mesmo fato [...]pode-se afirmar que os direitos individuais [...] ao ressarcimento[...] são de origem comum”.87

Tratando-se das características do direito individual homogêneo, a divisibilidade do objeto apresenta-se como a sua grande peculiaridade, relacionando-o com os outros dois tipos de direito coletivo analisados. Essa divisibilidade do objeto faz com que seus titulares tenham condições de mover ações individuais a fim de tutelá-los.88

Cabe ressaltar o posicionamento de Mazzilli sobre este tipo de direito. O autor alega que em sentido lato, podem sim ser considerado como interesse coletivo. Destaca que os “interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos sempre existiram […] apenas se acentuou a preocupação doutrinária e legislativa em identificá-los e protegê-los judicialmente por meio do processo coletivo”. Aprofunda sua argumentação dizendo que esses interesses são “intrinsecamente transindividuais” e, ainda, que a defesa desses direitos deve ser coletiva.89

Sobre a tutela dos interesses individuais homogêneos, Lenza apresenta alguns exemplos, de onde destaca-se: “compradores de carros de um lote com o mesmo defeito de fabricação”; “um alimento que venha gerar a intoxicação de muitos consumidores”; “dano sofrido por inúmeros consumidores em razão de uma prática comercial abusiva”.

Considerados os tipos de direitos coletivos lato sensu, encontra-se na doutrina recursos para a adequada conceituação. Diante da síntese ora realizada,

87 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo: volume único. 3. ed. Salvador:

JusPodivm, 2016. p.157

88 SOUZA, Motauri de. Interesses difusos em espécie: direito ambiental, direito do consumidor e probidade administrativa. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Acesso restrito via Minha Biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788502203365/pageid/209>. Acesso em: 13 jun. 2017.

89 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 61-62

pode-se compreender a importância desses elementos para a construção do ordenamento jurídico e da efetiva tutela de direitos. Diante das possibilidades jurídicas apresentadas, evolui-se para o reconhecimento dos instrumentos para a defesa dos direitos coletivos.