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3.4 INSTRUMENTOS PARA DEFESA DOS DIREITOS COLETIVOS

3.4.1 Dispositivos legais

ordenamento jurídico e da efetiva tutela de direitos. Diante das possibilidades jurídicas apresentadas, evolui-se para o reconhecimento dos instrumentos para a defesa dos direitos coletivos.

3.4 INSTRUMENTOS PARA DEFESA DOS DIREITOS COLETIVOS

A transformação da sociedade e a conquista dos chamados novos direitos, provocou um amadurecimento do sistema processual brasileiro. Nessa evolução são criados “meios efetivos e alternativos para a solução dos conflitos, tentando adequar os seus instrumentos à natureza das problemáticas que[...] não se restringem aos conflitos meramente individuais […] mas abrangem não só os novos conflitos de massa […] como os de natureza difusa[...]”90.

Nesse contexto, construiu-se o Microssistema Processual Coletivo que tem por eixo principal o Código de Defesa do Consumidor, e, além dele, outros diplomas legais trazem importantes disposições sobre processo coletivo.91

A respeito da dinâmica processual coletiva, como já referenciado anteriormente (Projeto de Lei 5.139/200992), houve ampla discussão no meio jurídico

sobre a criação de um Código de Processo Coletivo, com a finalidade precípua de harmonização desse microssistema, em especial sobre os princípios e regras aplicáveis. Serão apresentados, a seguir, os dispositivos legais que compõem o referido microssistema e uma breve explanação sobre o seu funcionamento. Por fim, será dedicado um item específico acerca da Ação Civil Pública, recurso amplamente utilizado pelo Ministério Público na defesa dos direitos coletivos.

3.4.1 Dispositivos legais

90 LENZA, Pedro. Teoria geral da ação civil pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 30. 91 DIDIER JÚNIOR, Fredie; ZANETI JÚNIOR, Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 8. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v. 4. p. 52.

92 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 5139/2009. Disciplina a ação civil pública para a tutela de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos, e dá outras providências.

Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=432485>. Acesso em: 27 maio 2017.

A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, prevê expressamente a defesa dos direitos coletivos no Capítulo I – Dos direito e garantias individuais e coletivos do Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais. Como exemplo, destaca-se:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; [...] LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; [...]

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência […]. 93

A Carta Magna assume, também, o papel de normatizadora do processo coletivo quando, no inciso III, do artigo 129, dispõe que é função institucional do Ministério Público “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.

Além da Constituição da República Federativa do Brasil, vários dispositivos infraconstitucionais compõem o microssistema do processo coletivo. Elaborou-se o quadro a seguir, a fim de apresentar uma síntese desses dispositivos, organizados na linha do tempo.

Quadro 1 - Principais dispositivos legais para defesa de direitos coletivos

Dispositivo Lei/data da

promulgação

Ementa

93 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:

Lei da Ação Popular - LAP

Lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965.

Regula a ação popular.94 Lei da Política Nacional

do Meio Ambiente

Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.95

Lei da Ação Civil Pública (LACP)

Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.

Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,

histórico, turístico e paisagístico(VETADO)e dá outras providências. 96 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.

Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. 97 Código de Defesa do

Consumidor (CDC)

Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.

Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.98

Lei da Improbidade Administrativa

Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992.

dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências.99

Estatuto do Idoso Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.

Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. 100

Lei do Mandado de Segurança Coletivo

Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009.

Disciplina o mandado de segurança individual e coletivo e dá outras

94 BRASIL. Lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965. Regula a ação popular. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4717.htm>. Acesso em: 27 maio 2017.

95 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 27 maio 2017.

96 BRASIL. Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7347orig.htm>. Acesso em: 27 maio 2017. 97 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 27 maio 2017.

98BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 18 maio 2017.

99 BRASIL. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8429.htm>. Acesso em: 27 maio 2017.

100 BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm>. Acesso em: 27 maio 2017.

providências.101 Estatuto da Pessoa com

Deficiência

Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.

Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência102

Fonte: Elaboração da autora (2017).

Importante constatação é feita por Donizetti ao afirmar que “[...] há uma aplicação intercambiante dos diplomas legais que dispõem sobre a tutela coletiva”. Assim, não há equívoco em afirmar que um dispositivo da LAP poderá ser aplicado à uma ACP, no caso de não haver previsão regulatória na LACP ou CDC.103

Desse consistente rol de instrumentos jurídicos para a defesa dos interesses coletivos destaca-se, pela importância processual, a Ação Civil Pública. Razão pela qual torna-se necessária e apropriada uma análise mais detalhada desse instituto.

É possível constatar a importância da instalação do microssistema processual coletivo, que acaba por atender às necessidades de instrumentalizar o processo coletivo a fim de promover a tutela dos direitos transindividuais. Em que pese a existência de omissões e que algumas regras sejam criticadas, com a formatação desse microssistema tende-se a uma maior efetividade de defesa dos direitos coletivos, amplamente concebidos.104

Sobre o assunto, Didier arremata que o microssistema processual coletivo regula, por meio da legislação a ele integrada, os fundamentos do devido processo legal coletivo.105 Com base nesse posicionamento, assimila-se a importância do

conteúdo e a aplicabilidade de tais dispositivos.

101 BRASIL. Lei n 12.016, de 7 de agosto de 2009. Disciplina o mandado de segurança individual e coletivo e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2009/lei/l12016.htm>. Acesso em: 27 maio 2017.

102 BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 27 maio 2017. 103 DONIZETTI, Elpídio; CERQUEIRA, Marcelo Malheiros. Curso de processo coletivo. São Paulo: Atlas, 2010. p. 29.

104 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo: volume único. 3. ed.

Salvador: JusPodivm, 2016. p. 109.

105 DIDIER JÚNIOR, Fredie; Zaneti Júnior JÚNIOR, Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 8. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v. 4.