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De acordo com a definição do Código de Defesa do Consumidor, os direitos difusos são aqueles “transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”.56

Aplicando-se ao conceito de Direitos Difusos, expresso no parágrafo anterior, o modelo de classificação de direito coletivo, tem-se: a) quanto à titularidade: pessoas indeterminadas ou indetermináveis; b) quanto a divisibilidade: direito de natureza indivisível e c) quanto a origem: ligadas por circunstância de fato.

Dessa maneira o conceito de direitos difusos mostra-se, inicialmente, de fácil compreensão, mas é importante que sejam formuladas algumas considerações para melhor caracterizá-los. Na doutrina, encontram-se definições mais aprofundadas, como a elaborada por Mazzilli:

[...] os interesses difusos compreendem grupos menos determinados de pessoas (melhor do que pessoas indeterminadas, são antes pessoas indetermináveis), entre as quais inexiste vínculo jurídico ou fático preciso. São como um feixe ou conjunto de interesses individuais, de objeto indivisível, compartilhados por pessoas indetermináveis, que se encontrem unidas por circunstâncias de fato conexas.57

Considerando a titularidade do direito difuso, Zaneti pondera que, tem-se “um número tão significativo de componentes que não podem ser identificados” e, também, que “a impossibilidade de se determinar os titulares dos direitos difusos é marca singular dessa espécie de direitos coletivos”. Sobre a divisibilidade, o autor explica que o direito envolvido pertence a todos ao mesmo tempo, e repete a expressão da doutrina para definir a tutela aplicada a um direito difuso: “tutela um, tutela todos”..58

56 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 20 maio 2017.

57 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor,

patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 53. 58 ZANETI JUNIOR, Hermes; GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direitos difusos e coletivos. 2. ed. Salvador: JusPOIVM, 2011. p.199-200.

Avançando na compreensão do conceito de direito difuso, tem-se a diferenciação entre as duas espécies de direitos: coletivos e difusos, segundo a qual considerando o aspecto quantitativo o “interesse difuso concerne a um universo maior do que o interesse coletivo, visto que, aquele pode concernir até a toda humanidade” enquanto que este (o coletivo) possui o “vínculo jurídico” como limitador do grupo de seus integrantes (esse aspecto será clareado no item dedicado aos direitos coletivos).59

Pelos conceitos tratados, percebe-se que a indeterminabilidade dos titulares do direito ofendido ou, melhor dizendo, a impossibilidade de identificar quem ou quantos são esses titulares, pode ser considerada como a principal característica dos direitos difusos. Por essa característica, é possível mensurar o alcance da tutela jurisdicional aplicada a esse tipo de direito.

Sobre essa questão, posicionou-se Souza, afirmando que “a indeterminabilidade dos sujeitos [...] consiste justamente na impossibilidade de delimitação do número exato de pessoas afetadas, potencial ou concretamente, por um determinado fato”. Para ele, significa dizer que é matematicamente impossível obter o número exato de pessoas atingidas. Pondera, contudo, ser passível de uma estimativa estatística.60

Por outro lado, na seara do interesse difuso, não se pode afirmar que alguém “[...]não esteja sofrendo ameaça ou dano concretamente falando, mas [...] que se trata de uma espécie de direito que, apesar de atingir alguém em particular, merece especial guarida, pois atinge simultaneamente a todos.”61 Assim, a identificação do direito que será tutelado é que determinará sua característica coletiva.

Tratando-se do segundo item da classificação do direito difuso, tem-se a natureza indivisível do direito tutelado. Neves menciona que tal direito está “voltado para a incindibilidade do direito, ou seja, o direito difuso é um direito que não pode

59 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceitos e legitimação para agir. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 75-76.

60 SOUZA, Motauri Ciocchetti de. Interesses difusos em espécie: direito ambiental, direito do consumidor e probidade administrativa. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 188 61 NUNES, Rizzatto. A natureza das ações coletivas e as definições de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos no direito do consumidor. Revista de Direito Recuperacional e Empresa, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 4, abr./jun. 2017.

ser fracionado entre os membros que compõem a coletividade. [...] havendo uma violação ao direito difuso, todos suportarão por igual tal violação. [...]”62.

O conceito acima torna-se de mais fácil compreensão quando considerado um exemplo concreto, tal como a poluição da nascente de um rio. No caso toda a população ribeirinha utiliza-se dos recursos hídricos (é o direito difuso envolvido), em havendo a poluição da nascente todos eles suportarão a violação do seu direito.63

Como outros exemplos inclusos entre os direitos difusos tuteláveis, tem- se a propaganda enganosa, ou com viés abusivo, que afete número incalculável de pessoas; a proteção ao meio-ambiente; questões ligadas à moralidade administrativa, estão inclusos entre os direitos difusos tuteláveis. Isso porque, caracterizam-se como transindividuais, ou seja, pertencentes a uma coletividade; indivisíveis e seus titulares são indivíduos indetermináveis (grupo de pessoas atingidas pelo dano) “[...] ligadas por circunstâncias de fato, não existindo um vínculo comum de natureza jurídica”.64

Assim, o terceiro item da classificação dos direitos difusos implica em que os indivíduos estejam ligados por circunstâncias de fato. No caso do exemplo citado anteriormente, a circunstância que ligou toda a população ribeirinha foi a poluição da nascente do rio. Sobre esse aspecto, leciona Donizetti:

Significa que basta certo evento acarretar lesão ou ameaça de lesão a um bem indivisível entre indivíduos indetermináveis para que esses se unam, quer queriam ou não, formando uma coletividade; esta, por sua vez, passa a ser identificada como a titular do direito – difuso – de proteção do bem indivisível lesado ou ameaçado.65

Acrescente-se sobre os direitos coletivos e, em consequência, aos direitos difusos, que são caracterizados como uma categoria especial do direito, que

62 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo: volume único. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 154.

63 Para maior compreensão sobre a questão, Mazzilli apresenta, na obra A defesa dos interesses

difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros

interesses, um exemplo do direito difuso aplicado à questão ambiental que contém importantes detalhes doutrinários.

64 DIDIER JÚNIOR, Fredie; ZANETI JÚNIOR, Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 8. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v. 4. p. 78.

65 DONIZETTI, Elpídio; CERQUEIRA, Marcelo Malheiros. Curso de processo coletivo. São Paulo: Atlas, 2010. p. 47

ultrapassa a classificação entre direito público e direito privado. Pertencem “[...] a um grupo de pessoas, a uma classe, a uma categoria, ou à própria sociedade, considerada em seu sentido amplo.”66

Dentre os direitos coletivos, o direito difuso apresenta-se como aquele de maior abrangência, que tem o maior alcance, considerados os interesses da coletividade. Configura-se, pois, como um “direito da sociedade” e, por tal razão, sua defesa em juízo (ou mesmo fora dele) é de fundamental importância. Para o assunto, passa-se à conceituação do Direito Coletivo stricto sensu.