• Nenhum resultado encontrado

O Inciso II, do art. 81, do Código de Defesa do Consumidor, leciona que os direitos coletivos são aqueles direitos “transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base”.67

Trata-se de direitos coletivos no sentido mais estreito da palavra, uma vez que no sentido mais abrangente diz respeito a todas as espécies de direitos coletivos (difusos, coletivos stricto sensu e individual homogêneo). Esse esclarecimento torna-se importante a fim de evitar possíveis equívocos, tendo em vista que diversos dispositivos legais, como o próprio Código de Defesa do Consumidor, costumam utilizar em seus textos a expressão mais ampliada.68

Para os direitos coletivos stricto sensu, aplica-se a seguinte classificação: a) quanto à titularidade: pessoas indeterminadas, mas determináveis; b) quanto a divisibilidade: direito de natureza indivisível e c) quanto a origem: prévia relação jurídica-base.

Importante destacar que o direito coletivo, assim como o direito difuso, tem como elemento constituinte a indivisibilidade. Isso quer dizer que “todos os

66 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 34

67 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 18 maio 2017.

68 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 55

indivíduos que compõem a titularidade do direito – grupo, classe ou categoria de pessoas – suportam uniformemente todos os efeitos que atinjam o direito material.”69

Ao abordar o tema, a doutrina afirma que a “determinabilidade dos titulares dos direitos coletivos stricto sensu é o aspecto que o diferencia dos direitos difusos”. Acrescenta, também, que a relação jurídica base, de que trata o dispositivo citado70, deverá ser anterior à lesão do direito.71 Nesse ponto é preciso fazer constar

a existência de duas possibilidades constitutivas desse direito, “costuma-se falar em interesses coletivos próprios (quando o vínculo jurídico liga entre si as pessoas determináveis) e impróprios ou por extensão (quando o vínculo os relaciona a um terceiro)”72.

Ainda sobre a relação jurídica base prévia, Mancuso cita os sindicatos e associações como exemplos de grupos, categorias ou classes de pessoas que reúnem condições para serem titulares nas questões afetas ao direito coletivo. Nesse passo, incluem-se, também, os grupos formados em razão da relação com a parte contrária. Pode-se afirmar “que o traço distintivo básico do interesse coletivo é a organização. Sem um mínimo de organização, os interesses não podem se “coletivizar”, não podem se aglutinar de forma coesa no seio de um grupo determinado.”73

Como exemplo, tratando-se o tema de forma genérica, é possível afirmar que os “membros de uma organização sindical [...], têm uma relação jurídica entre si que os identifica antes ou depois de qualquer lesão ao direito da coletividade. […] no caso de reivindicar a proteção de direito indivisível entre seus membros[...]”74

resultará na proteção de direito coletivo em sentido estrito. Sobre essa questão, Souza ensina que,

69 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo: volume único. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 116.

70 Inciso II, parágrafo único, artigo 81 do Código de Direito do Consumidor.

71 ZANETI JUNIOR, Hermes; GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direitos difusos e coletivos. 2. ed. Salvador: JusPOIVM, 2011. p. 201.

72 SOUZA, Motauri de. Interesses difusos em espécie: direito ambiental, direito do consumidor e probidade administrativa. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Acesso restrito via Minha Biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788502203365/pageid/208>. Acesso em: 14 jun. 2017.

73 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceitos e legitimação para agir. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 56

74 DONIZETTI, Elpídio; CERQUEIRA, Marcelo Malheiros. Curso de processo coletivo. São Paulo: Atlas, 2010. p. 48.

[...] consiste a determinação na efetiva possibilidade de aferir-se de forma precisa o número de pessoas que titularizam determinado direito. O dado, assim, não precisa ser desde logo conhecido: contenta-se a norma com a possibilidade de sua obtenção, ainda que para tanto sejam necessárias pesquisas ou investigações. Como exemplos de mencionada determinabilidade podemos citar os condôminos de um edifício, os integrantes de uma associação civil e os empregados de certa empresa. 75

No mesmo sentido, Didier posiciona-se afirmando que “para fins de tutela jurisdicional, o que importa é a possibilidade de identificar um grupo, categoria ou classe, vez que a tutela se revela indivisível, e a ação coletiva não está “à disposição” dos indivíduos que serão beneficiados.”76

Percebe-se, assim, que devido a previsão de determinabilidade do sujeito, os direitos coletivos stricto sensu adquirem uma amplitude menor do que aquela observada para os direitos difusos. Mas isso não lhes confere menor importância. Em razão do fato de estarem vinculados a uma relação jurídica base, anterior a lesão do direito, sugere-se a existência de importante organização que oportunizará mais facilmente o acesso à justiça. Tão assim, que as associações possuem legitimidade para propor a ação civil pública.77

Na tutela dos interesses coletivos stricto sensu apresentam-se várias possibilidades de atuação, conforme Lenza, tem-se “o aumento ilegal das prestações de um consórcio”, ou “o direito dos alunos de certa escola de terem a mesma qualidade de ensino em determinado curso”78.

Permitindo-se uma pequena digressão, inclusive, de acordo com Gonçalves, “É possível que se postule em uma mesma ação coletiva a tutela de mais de um tipo de interesse transindividual.”79 Com base nas considerações

apresentadas, é possível estabelece um paralelo entre os direitos coletivos estritos,

75 SOUZA, Motauri de. Interesses difusos em espécie: direito ambiental, direito do consumidor e probidade administrativa. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Acesso restrito via Minha Biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788502203365/pageid/206>. Acesso em: 13 jun. 2017.

76 DIDIER JÚNIOR, Fredie; ZANETI JÚNIOR, Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 8. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v. 4. p. 79.

77 Inciso V, artigo 5º, da Lei da Ação Civil Pública.

78 LENZA, Pedro. Teoria geral da ação civil pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p.100. 79 GONÇALVES, Carlos Roberto. Tutela de interesses difusos e coletivos. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. (Sinopses, v. 26) Acesso restrito via Minha Biblioteca. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788502622616/pageid/21>. Acesso em: 14 jun. 2017.

e os direitos difusos. Para o próximo item, será realizada a apreciação do último dos direitos tutelados, o direito individual homogêneo.