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CAPÍTULO 4 A EFICÁCIA TEMPORAL DAS DECISÕES DE

4.2 O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NA CONSTITUIÇÃO

4.2.2 O controle concentrado e abstrato das leis e atos normativos federais

4.2.2.2 A ação direta interventiva

O art. 34, inciso VII, da Constituição Federal de 1988, autoriza a intervenção

da União nos Estados e Distrito Federal para assegurar os chamados princípios constitucionais

sensíveis, a saber: (a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; (b)

direitos da pessoa humana; (c) autonomia municipal; (d) prestação de contas da administração

pública, direta e indireta; e e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos

estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento

do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde, este último incluído pela Emenda

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ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia das liminares nas ações de controle concentrado de

constitucionalidade. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/arquivos/Eficacia_das_liminares_nas_acoes_de_controle_concentrado_de_const

itucionalidade.htm>. Acesso em: 08 out. 2006. 457

Conforme ressaltado em julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal, “(...) impõe-se reconhecer que a atuação processual do Advogado-Geral da União, nas ações diretas de inconstitucionalidade, na condição de curador especial, não pode efetivar-se em detrimento da norma cuja impugnação é nelas veiculada. A intervenção do Advogado-Geral da União, em conseqüência, reveste-se de compulsoriedade, não só quanto ao seu chamamento judicial, mas, também, quanto ao seu pronunciamento defensivo em favor da norma impugnada. Essa intervenção, que é de ordem pública, possui extração constitucional. Não pode efetivar-se em desfavor do ato normativo cuja inconstitucionalidade é postulada pelo autor da ação direta. Atuando como verdadeiro curador da norma infraconstitucional — defensor legis — e velando pela preservação de sua presunção de constitucionalidade e de sua integridade no âmbito do sistema jurídico, não cabe ao Advogado- Geral da União ostentar posição processual a ela contrária, sob pena de frontal descumprimento do munus indisponível que lhe foi imposto pela própria Constituição da República. Nem se diga, finalmente, que, por ser de origem estadual a norma ora impugnada, não assistiria ao Advogado-Geral da União o encargo de defender- lhe a validez e a integridade jurídicas. O Supremo Tribunal Federal, ao interpretar o alcance normativo da cláusula inscrita no art. 103, § 3º, da Carta Política, enfatizou a indeclinabilidade do exercício, pelo Advogado- Geral da União, da atividade que lhe foi constitucionalmente outorgada, salientando a sua condição de defensor impessoal da validade dos preceitos questionados em ação direta, não importando a origem institucional ou a fonte de produção normativa de que tenham emanado” (BRASIL. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.350/RO. Supremo Tribunal Federal. Relator Ministro Celso de Mello. Julgamento monocrático em: 27 jun. 1996. Publicação no DJ: 04 ago. 1996. Disponível em <www.stf.gov.br>. Acesso em: 26 set. 2007). Tal regra, entretanto, deve ser entendida com temperamentos, não se exigindo do Advogado Geral da União a defesa do ato impugnado se em relação a este o Supremo Tribunal Federal já fixou entendimento no sentido da inconstitucionalidade. Nesse sentido, confira-se: BRASIL. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.616/PE. Supremo Tribunal Federal. Pleno. Relator Ministro Maurício Corrêa. Julgamento em: 24 maio 2001. Publicação no DJ: 24 ago. 2001. Disponível em <www.stf.gov.br>. Acesso em: 26 set. 2007.

Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996, com posterior alteração introduzida pela

Emenda Constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000

458

.

Nessas hipóteses, a decretação da intervenção dependerá de provimento, pelo

Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República (art. 36, inciso

III, da Constituição Federal de 1988), aqui chamada ação direta interventiva.

Trata-se de modalidade de controle direto e concentrado, para fins concretos de

intervenção da União nos Estados-membros

459

. Com efeito, o “contencioso da

inconstitucionalidade”

460

está relacionado “ao próprio conflito de interesses, potencial ou

efetivo, entre União e Estado, no tocante à observância de determinados princípios

federativos”

461

.

Desta forma, no referido procedimento, o Supremo Tribunal Federal se limita,

em princípio, a constatar ou declarar a existência de ofensa aos princípios constitucionais

sensíveis. Sob a perspectiva formal, então, o julgado não elimina do ordenamento jurídico a

lei eventualmente declarada inconstitucional, inserindo-se “no contexto do processo político

de intervenção como um elemento essencial à decisão a ser adotada pelo Presidente da

República”

462

.

458

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: (...) VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 16 set. 2007).

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ALVES, José Carlos Moreira. A evolução do controle de constitucionalidade no Brasil. In: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (coord.). As garantias do cidadão na justiça. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 11. No mesmo sentido, confira-se MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet (Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 1162-1163), que diferenciam a representação interventiva do controle abstrato de normas propriamente dito, no qual se manifesta o interesse público genérico na preservação da ordem jurídica.

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Expressão utilizada por Castro Nunes no julgamento da Representação nº 94/DF (BRASIL. Representação nº 94/DF. Supremo Tribunal Federal. Pleno. Relator Ministro Castro Nunes. Julgamento em: 17 jul. 1946. Publicação no DJ: 11 jul. 1949. Disponível em <www.stf.gov.br>. Acesso em: 26 set. 2007).

461

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. op. cit., p. 1162-1163. No mesmo sentido: FERRAZ, Anna Candida da Cunha. Anotações sobre o controle de constitucionalidade no Brasil e a proteção dos direitos fundamentais. Revista Mestrado em Direito, Osasco, Unifieo, v. 4, n. 4, 2004, p. 35.

462

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. op. cit., p. 1178-1179.