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CAPÍTULO II – A LEITURA: DUAS CONCEPÇÕES

2.3 Alfabetização e leitura: a gênese do Programa Ler e Escrever

2.3.1 Ações gerais e específicas

Nesse contexto, os gestores dos órgãos centrais da Secretaria Estadual de Educação avaliaram que o Programa Ler e Escrever poderia constituir-se em uma resposta político-administrativa e pedagógica para o problema, uma vez que dispunha de instrumental teórico e prático para reverter o cenário da alfabetização, apresentando-o, oficialmente, como uma política pública para o Ciclo I, que visava promover a melhoria do ensino em toda a rede estadual.

A forma pela qual foi implantado o Programa, com grande divulgação e investimentos financeiros, indicava a intenção do Governo Paulista de legitimá-lo perante os profissionais da rede estadual e a sociedade, como uma iniciativa sólida e consistente em relação à educação das primeiras letras. Inicialmente, a Resolução SE 86, de 19/12/2007 definiu os seguintes objetivos para o Programa Ler e Escrever:

I alfabetizar, até 2010, a todos os alunos com idade de até oito anos do Ensino Fundamental da rede estadual de ensino;

II recuperar a aprendizagem de leitura e escrita dos alunos de todas as séries do Ciclo I do Ensino Fundamental. (SEE, 2007, p. 23).

O mesmo documento legal, com o intuito de organizar e manter ações específicas para cada série do Ciclo I do Ensino Fundamental, criou os Projetos que integram o Programa Ler e Escrever:

I Ler e Escrever na 1ª série do Ciclo I; II Ler e Escrever na 2ª séries do Ciclo I;

III Projeto Intensivo no Ciclo - 3ª série - PIC 3ª série;

IV Projeto Intensivo no Ciclo - 4ª série - PIC 4ª série (SEE, 2007, p.27).

Nesse mesmo ano de 2007, o Governo do Estado de São Paulo havia lançado o Plano Político Educacional, contendo 10 (dez) metas para atingir até 2010, dentre as quais, duas delas – “Todos os alunos de 8 (oito) anos plenamente alfabetizados” e “Promover a recuperação das aprendizagens daqueles que não alcançaram as expectativas previstas ao longo do Ciclo I” (SEE, 2008.p. 30) – coincidem plenamente com os objetivos do Programa Ler e Escrever, indicando que este teria, também, a função de contribuir diretamente com o alcance das metas educacionais do próprio poder central do Estado.

Posteriormente, em conformidade com as diretrizes emanadas da CENP, foram traçados novos objetivos para o Programa, especificando aqueles iniciais:

- Apoiar o Professor Coordenador (PC)7 em seu papel de formador de

professores dentro da escola;

- Apoiar os professores regentes8 na complexa ação pedagógica de garantir aprendizagem de leitura e escrita a todos os alunos, até o final da 2ª série do Ciclo I/EF;

- Criar condições institucionais adequadas para mudanças em sala de aula, referentes à estrutura organizacional e espacial da escola, para que o trabalho pedagógico não seja comprometido.

Com o intuito de viabilizar a implementação do Programa, a SEESP desencadeou uma série de ações, de caráter geral e específico, que podem ser assim sintetizadas:

a. Formação do Trio Gestor (Supervisores, Diretores, Assistentes Técnicos Pedagógicos (ATP)9;

b. Formação do Professor Coordenador responsável pelo Ciclo I,

c. Acompanhamento pelos Dirigentes Regionais de Ensino;

d. Formação do Professor Regente;

e. Publicação e distribuição de materiais de apoio à sala de aula;

f. Critérios diferenciados para regência das turmas que participam dos Projetos;

7 Refere-se a um posto de trabalho ocupado por professor pertencente à rede estadual, que,

designado a partir de critérios determinados em legislação específica, afasta-se das funções docentes para ocupar-se da gestão pedagógica da escola. Os PC são designados para atender aos segmentos: Ciclo I do Ensino Fundamental, Ciclo II do Ensino Fundamental e Ensino Médio.

8 Professor Regente: o docente, titular de cargo ou substituto, que, tendo determinada turma de

alunos atribuída, tem a responsabilidade de reger o trabalho pedagógico a ser desenvolvido com a mesma. A expressão procura, por oposição, diferenciá-lo do segundo professor da turma, que são alunos de cursos de graduação que atuam, juntamente como professor regente nas classes, nos horários de aula da rede estadual de ensino ou projetos de recuperação e apoio à aprendizagem, na condição de bolsistas: alunos pesquisadores do Programa Bolsa Alfabetização da SEESP.

9 Assistente Técnico Pedagógico (ATP), designação anteriormente dada ao professor afastado junto à

Oficina Pedagógica da Diretoria de Ensino para exercer atividades de apoio pedagógico às escolas. A nomenclatura atual desse profissional é Professor Coordenador de Oficina Pedagógica (PCOP).

Em 2009, o Programa Ler e Escrever foi estendido às escolas de Ensino Fundamental das Diretorias de Ensino, sob a responsabilidade da Coordenadoria de Ensino do Interior, por meio da Resolução SE 96, de 23/12/2008, considerando, especialmente, “os resultados alcançados com a implantação em 2008, do Programa Ler e Escrever nas escolas das Diretoria de Ensino da Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo”. (SEE, 2008, p. 13).

Hoje, a SEESP exporta o Programa Ler e Escrever às prefeituras do interior do Estado de São Paulo, celebrando convênios de parcerias, por meio dos quais as redes municipais de ensino adquirem os direitos legais para implantar o Programa e recebem, também, sem custo financeiro, o material para professores e alunos, além da formação de um pequeno quadro de seus profissionais, com vistas a desencadear o processo formativo em suas redes de ensino.

Figura 2 – Origem e movimentos do Programa Ler e Escrever Prefeitura Municipal de São Paulo 2006 Elabora e implanta o Programa SEESP 2007 Institui o Programa (parceria com a Prefeitura

Municipal de São Paulo)

COGESP 2008 Implanta o Programa (escolas da Grande SP) COGESP 2007 Implanta o Programa (escolas piloto) CEI 2009 Implanta o Programa (escolas do interior de São

Paulo) CEI 63 Diretorias de Ensino Diretorias de Ensino – região de Taubaté: (Municípios jurisdicionados:8) Prefeitura dos municípios do

Estado de São Paulo (interessadas) C on vê nio s d e P arc eri as COGESP 28 Diretorias de Ensino

Natividade da Serra Redenção da Serra Lagoinha

Jambeiro Paraibuna Caçapava

São Luiz do Paraitinga Taubaté

Conveniados

Vê-se, então, que o Programa Ler e Escrever apresenta-se como resultante de um percurso, que, por cerca de três décadas, envolveu os poderes públicos do Estado de São Paulo e educadores dedicados à questão da aprendizagem da leitura e da escrita, em sua fase inicial. Sua proposta constitui-se, portanto, como uma alternativa importante para sistemas de ensino e docentes que buscam caminhos para um ensino proficiente da leitura e da escrita, que, desde a alfabetização, ancore-se nos pressupostos da educação linguística, e, dessa forma, atenda às necessidades de uma escola fundamental democratizada/democrática.