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CAPÍTULO II – A LEITURA: DUAS CONCEPÇÕES

2.3 Alfabetização e leitura: a gênese do Programa Ler e Escrever

2.3.3 Suportes do Programa: formação, acompanhamento e materiais

2.3.3.1 Formação

O Programa Ler e Escrever tem o compromisso de, legal e institucionalmente apoiado pela SEESP, desenvolver processos de formação continuada para todos os profissionais envolvidos com o Ciclo I do Ensino Fundamental da rede estadual de ensino, uma vez que considera que eles têm função estratégica na melhoria da qualidade do ensino, seu maior objetivo.

Nessa direção, o documento legal que orienta a implementação do Programa oferece as diretrizes preliminares para a organização dos processos de formação continuada:

a. Formação do Trio Gestor – Diretores, Supervisores e ATP do Ciclo I [...] O chamado trio Gestor terá, mensalmente, um encontro com formadoras do programa para analisar, discutir e aprender sobre os processos pedagógicos envolvidos na alfabetização e, principalmente, sobre sua participação no avanço da aprendizagem dos alunos. A efetiva participação de cada um é essencial para garantir as condições necessárias ao trabalho dos docentes e professores coordenadores e a aprendizagem dos alunos. Entre outras ações, acompanharão a avaliação, durante todo o ano letivo. b. Formação do Professor Coordenador, responsável pelo Ciclo I – a formação contínua desse grupo de profissionais será promovida pela CENP/FDE e pelas Diretorias de Ensino. Os professores Coordenadores serão preparados para atuar na formação dos professores de 1ª a 4ª séries para a complexa tarefa de fazer com que os alunos se tornem capazes de ler e escrever com competência e autonomia. Este trabalho envolve momentos de formação, planejamento, acompanhamento e avaliação, durante todo o ano letivo.

d. Formação do Professor Regente – Nenhum projeto ou material que possa ser elaborado será eficaz sem uma formação continuada articulada à prática dos professores. E, para efetivá-la, a escola precisa ser tomada como locus dessa formação. E aí, no próprio do contexto de trabalho, na relação direta com seus colegas, que os professores podem, da melhor forma, colocar suas questões, refletir sobre as práticas que desenvolvem, detectar problemas, estudar e buscar soluções e avanços. Por isso o Programa estabelece que a formação dos professores será feita pelo PC, no acompanhamento das salas de aula e na HTPC, possibilitando o atendimento às especificidades das séries. (SEE, 2007, p.23).

Esse processos formativos do Programa seguem, então, a linha de ação do Programa Letra e Vida, que, pautado nos Referenciais para a Formação de Professores (MEC,1998), concebe a formação continuada de profissionais como “(...) um processo de educação de adultos, um processo de ensino aprendizagem em que adultos aprendem com adultos os conteúdos relacionados, direta ou indiretamente, ao exercício de uma profissão”.(CARDOSO, 2007,p.14).

Diferentemente das ações de formação continuada de professores e gestores, implementadas anteriormente no âmbito da SEESP, que se apresentavam em formato de cursos, ou, ainda, de ações pontuais como palestras, seminários, o Programa Ler e Escrever adota uma estratégia por meio da qual os processos formativos são, de fato, contínuos, ou seja, desenvolvidos paralelamente ao cotidiano da sala de aula. Os encontros mensais, ou quinzenais, de formação possibilitam que os avanços, as dificuldades e os questionamentos dos profissionais em relação às atividades sugeridas possam ser objeto de reflexão/ discussão, ou seja, permitem que haja a tematização da prática.

Para atingir todos os profissionais envolvidos com o Ciclo I do Ensino Fundamental, foi constituída, no contexto da organização estadual de ensino, uma complexa rede de formação continuada de profissionais da educação que, hierarquicamente, se responsabiliza pelo compartilhamento dos saberes e conhecimentos trabalhados nos encontros de formação do Programa. Assim, em primeira instância, a SEESP, por meio de sua Equipe de Formadores, oferece orientações técnicas aos Professores Coordenadores das Oficinas Pedagógicas (PCOP) e aos Supervisores de Ensino responsáveis pelo Ciclo I. Estes, por sua vez, atuam junto aos Professores Coordenadores das unidades escolares que atendem ao Ciclo I. Finalizando esse processo de replicação do trabalho, os Professores Coordenadores, nos Horários de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), desenvolvem as pautas de formação com professores. O fluxograma abaixo põe à vista esse processo:

Figura 3 – O percurso da formação continuada no Programa Ler e Escrever SEESP Equipe Central de formadores: CENP/FDE Supervisão Pedagógica Telma Weisz Consultoria Pedagógica / Linguística Katia Bräkling Katia Brackling

Supervisor de Ensino, PCOP e PC (encontros mensais em pólos

regionais) Supervisor de Ensino e PCOP

(encontros mensais em pólos regionais)

Professor

(encontros quinzenais nas UE em HTPC)

PC

(encontros quinzenais nas DE)

Fonte: Comunicado SE de 19/12/2007

Essa organização visa, entre outros objetivos, dar um caráter permanente às ações de formação continuada do Programa e, ao mesmo tempo, superar o problema da transitoriedade, que, normalmente, atinge as ações institucionais de formação em serviço no âmbito público, instaurando, assim, uma sólida cultura profissional voltada para as atividades de docência na tarefa de replicar os conteúdos formativos.

Podemos então afirmar que, segundo a visão oficial, no âmbito do Programa Ler e

Escrever, “o processo formativo ocorre da contextualização para a

descontextualização e possibilita uma contextualização com outro nível de apropriação. A aprendizagem contínua faz com que novos conceitos sejam apropriados e se tornem instrumentais [...]” (NOGUEIRA, 2007, p.22).

Analisando as pautas desses encontros de formação, observa-se que elas se apresentam ancoradas nos Cadernos do Aluno e nos Guias de Planejamento e Orientações Curriculares, abarcando, também, os fundamentos teóricos subjacentes ao Programa. Além disso, adotam estratégias que levam o professores a se colocarem como profissionais, se reconhecerem e serem reconhecidos como tal em seus processos de formação continuada institucional.

Para que os professores possam agir como profissionais no espaço de formação temos de reconhecer o seu lugar e aquilo que é de sua responsabilidade profissional, ainda que eles não tenham, no momento, todas as condições para exercê-la. (...) Uma das questões da formação é justamente como oferecer subsídios para que atuem dessa maneira. Por isso, além de tratar das tarefas relacionadas ao seu papel profissional, é preciso tematizar a responsabilidade intrínseca ao trabalho. (NOGUEIRA, 2007, p.37).

Todavia, esse modelo de formação continuada aborda diferentes grupos de profissionais envolvidos no Programa, privilegiando, na maioria das situações, os temas relacionados à ação docente, sem, contudo, oportunizar a construção de estratégias específicas para preparar/subsidiar os profissionais que, na intrincada cadeia de formação continuada do Programa, atuam também como formadores de outros profissionais: supervisores de ensino, PCOP e PC.