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Evolução histórica da Previdência Social no Brasil

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 39-44)

CAPÍTULO 2 O DIREITO PREVIDENCIÁRIO COMO DIREITO

2.2 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO

2.2.2 Evolução histórica da Previdência Social no Brasil

O primeiro registro de Previdência Social no Brasil foi o Decreto n.o 9.192-A,

de 1989, que criou um plano de aposentadoria aos empregados dos Correios, com algumas regras relevantes, como a idade mínima de 60 anos e a concessão com 30 anos de serviço.70

Na Constituição de 1891 foi a primeira vez que surgiu a expressão "aposentadoria", mas era restrita apenas aos funcionários públicos em caso de

69 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 14.ed. Rio de Janeiro, 2009. p.51. 70 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Previdência social..., p.34.

invalidez decorrentes de serviços prestados à nação, e ainda não existia participação contributiva.71

O Decreto n.o 9.284/1911 criou a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos

Operários da Casa da Moeda, alguns anos depois; a Lei n.o 3.724/1919 instituiu a

indenização obrigatória de responsabilidade objetiva ao empregador, pela empresa, das consequências do acidente de trabalho. Mas o marco inicial da legislação previdenciária foi a chamada Lei Elói Chaves, o Decreto-Legislativo n.o 4.682, de 24 de janeiro de 1923.72

Essa lei determinou a criação de Caixas de Aposentadoria e Pensões para os empregados ferroviários, e nesse mesmo ano foi instituída a primeira delas, a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Empregados da Empresa Great Western do Brasil.73

A preocupação e as transformações dos sistemas protetivos ocorridos no mundo tiveram influência no texto constitucional brasileiro a partir da Constituição de 1924, em que surgiu o termo "socorros públicos".74

Anos depois, a Lei n.o 5.109/26 estendeu proteção previdenciária aos portuários e marítimos. Posteriormente, durante a década de 1930 tais caixas de aposentadorias foram aos poucos sendo substituídas por um regime de proteção de categorias profissionais.

Percebe-se que nesse período, embora houvesse limitação da atuação estatal nessas instituições previdenciárias de categoria profissional, havia um plano de benefícios previdenciários, mediante cotização, em que era realizada uma forma de mutualismo, isto é, quem contribuía tinha direito as prestações.

A partir da Constituição Federal de 1934 é que se utilizou o termo "previdência" pela primeira vez; portanto, a partir desse momento foram estabelecidos os direitos previdenciários, introduzindo o direito à gestante e ainda a instituição de regime

71 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Previdência social..., p.34.

72 LEITE, Celso Barroso. A proteção social do Brasil. São Paulo: LTr, 1972. p.29. 73 Id.

74 Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos cidadãos brasileiros, que tem por base

a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte: [...]

tríplice de custeio75, em que trabalhadores, empregados e Estado participam no

financiamento da previdência mediante a arrecadação de contribuições.

Mas somente na Constituição Federal de 1946 é que surgiu pela primeira vez a expressão "previdência social", dando fim ao termo seguro social. Essa Carta mantém o regime de custeio tripartite e acrescenta a obrigatoriedade da instituição do seguro pelo empregador contra acidentes de trabalho.76

Em 26.08.1960 foi promulgada a Lei Orgânica da Previdência Social. A LOPS (Lei Complementar n.o 3.807/1960) unificou a legislação previdenciária entre todos os institutos previdenciários e ampliou a cobertura previdenciária da população urbana, apenas deixando de incluir no rol de segurados obrigatórios os empregados domésticos e os ministros religiosos em geral, sendo estas duas categorias reconhecidas como segurados facultativos. 77

Uma grande inovação desta lei foi a inclusão dos trabalhadores autônomos em geral como segurados obrigatórios, que, vertendo contribuições previdenciárias, têm os mesmos direitos dos demais segurados, nas mesmas condições.

Em 1967, foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), o qual unificou os seis antigos Institutos de Aposentadoria e Pensões sob o domínio estatal.

A partir da criação de um órgão estatal gestor da previdência social, concretizava-se um grande avanço no sentido da racionalização da estrutura administrativa previdenciária, uma vez que a uniformidade de tratamento dos beneficiários se restringe a um determinado órgão governamental.78

A Constituição Federal de 1967 trouxe algumas inovações como a previsão do seguro-desemprego, redução do tempo de serviço da mulher para trinta anos e incluiu o salário-família como proteção social.79

75 Art. 121. A Lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições de trabalho, na cidade e

nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País. Parágrafo 1.o A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que

colimem melhorar as condições do trabalhador: [...]

h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a este descanso, antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte. (grifo nosso)

76 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário, p.33. 77 LEITE, Celso Barroso. A proteção social do Brasil, p.36. 78 Ibid., p.40.

O Decreto-Lei n.o 564/1969 demarcou outra medida de maior alcance e de

importante marco na evolução da previdência social brasileira ao trabalhador rural por meio de um Plano Básico.80

Somente após doze anos da criação da LOPS é que os empregados domésticos foram incluídos como segurados obrigatórios pela Lei n.o 5.859/1972.

O ano de 1974 foi caracterizado por duas modificações no âmbito previdenciário, a primeira foi a criação do Ministério da Previdência Social e Assistência, dando fim ao antigo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, e a segunda, constitui ao fato de que o benefício de salário-maternidade tornou-se uma prestação previdenciária.81

Portanto, nota-se que as questões previdenciárias passam a ter mais independência e autonomia.

Em 1976 foi expedida a CLPS – Consolidação das Leis da Previdência Social por meio do Decreto n.o 89.312/84, que tinha força de decreto e não de lei, dando ensejo em determinados casos a consulta à LOPS.82

Em 1977 foi criado o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), para responder por três atribuições: conceder e manter benefícios e serviços; ser o responsável pelo custeio de atividades e programas e, por fim, proceder à gestão administrativa, financeira e patrimonial. O SINPAS era composto por sete órgãos com finalidades específicas, sendo uma delas o INPS, que tinha como atribuição conceder e manter os benefícios dos beneficiários, urbanos e rurais.83

A Constituição Federal de 1988 instituiu um capítulo próprio destinado à Seguridade Social84, compreendendo atuação estatal nas áreas de assistência

social, assistência à saúde e previdência social.

No Brasil, como nos demais países, os sistemas de seguridade social eram originalmente previdenciários, conforme analisado alhures, sendo geridos e promovidos por instituições privadas, até a criação do INPS, que unificou as categorias profissionais.

80 LEITE, Celso Barroso. A proteção social do Brasil, p.41. 81 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário, p.35. 82 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Previdência social..., p.34. 83 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Op.cit., p.34-35.

84 Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes

Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Dois anos após a Carta Magna de 1988, o SINPAS foi extinto, em função da unificação do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS).

Em 27.06.1990 foi criado o Instituto Nacional de Seguro Social, autarquia federal criada pelo Decreto n.o 99.350/1997, que substitui o antigo INPS.

A legislação infraconstitucional que hodiernamente regula o funcionamento do sistema securitário criou, no ano de 1991, a Lei n.o 8.212/91, que dispõe sobre o plano custeio, e a Lei n.o 8.213/91, que dispõe sobre o plano de benefício da previdência social. Nesse mesmo ano também foi aprovado o Regulamento dos Benefícios da Previdência Social – Decreto n.o 357/91.

Em 1999, o Decreto n.o 3.048/99 unificou as duas leis previdenciárias, de custeio e benefícios, em um único diploma.

As mães adotivas passaram a ter os mesmos direitos que as mães biológicas quanto ao direito ao benefício de salário-maternidade a partir da Lei n.o 10.421/2002. Em 2003, o Ministério da Previdência e Assistência Social é separado, passando a existir dois novos ministérios, o Ministério da Assistência e Promoção Social e Ministério da Previdência Social, o que consiste em dizer que, a partir dessa data, as questões previdenciárias são geridas em um órgão destinado à proteção previdenciária.85

Ademais, uma das importantes inovações da Previdência Social foi a edição da Lei n.o 11.098/2005, que estabeleceu a criação da Secretaria da Receita

Previdenciária; assim, tal órgão passa a gerir as questões de custeio e o INSS permanece, apenas, como gestor dos benefícios.86

No ano seguinte da referida lei, a Lei n.o 11.430/2006 trouxe significativa

modificação para a comprovação do acidente do trabalho ao instituir o Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP).87 Este instituto permite que o INSS por intermédio de seus

peritos determinem se a patologia apresentada pelo trabalhador é decorrente do trabalho, imputando ao empregador a responsabilidade de desconstituir o nexo causal definido

85 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário, p.37. 86 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Previdência social..., p.34.

87 Art. 21-A: A perícia médica do INSS considerará caracterizada a natureza acidentária da

incapacidade quando constatar ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente da relação entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade elencada na Classificação Internacional de Doenças - CID, em conformidade com o que dispuser o regulamento. § 1.o A perícia médica do INSS deixará de aplicar o disposto neste artigo quando demonstrada a inexistência do nexo de que trata o caput deste artigo. § 2.o A empresa poderá requerer a não aplicação do nexo técnico epidemiológico, de cuja decisão caberá recurso com efeito suspensivo, da empresa ou do segurado, ao Conselho de Recursos da Previdência Social.

pelo técnico do INSS. Esta inovação tem a finalidade de assegurar o ambiente de trabalho mais seguro e salubre, limitando a exposição do trabalhador ao esforço físico além do permitido, a fim de que a atividade laboral seja exercida de maneira digna, em conformidade ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.

A Lei n.o 11.520/2007 estabelece a concessão de pensão especial às

pessoas atingidas pela hanseníase, apenas aquelas que foram submetidas a isolamento e internamento compulsório. Tal benefício é requerido pela secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, mas o pagamento e a manutenção do benefício competem ao INSS.

Entre as muitas modificações legislativas, a Lei n.o 12.470/2011 se destacou, principalmente, por incluir e instituir alíquota reduzida, de apenas 5% sobre o limite mínimo mensal do salário de contribuição do segurado facultativo sem renda própria que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencente a família de baixa renda. Assim, as donas-de-casa passam a ter o direito de contribuir, de forma diferenciada e favorável, enquadrando-se como seguradas da previdência social.

Diante da abordagem da evolução histórica legislativa previdenciária, conclui-se que a previdência social é um instrumento de proteção social que sofre constantes mudanças em virtude de acontecimentos e necessidades sociais que exigem tais transformações e inovações.

Além disso, um dos grandes progressos na historicidade previdenciária ocorreu com o advento da Constituição Federal de 1988, que consagrou a Previdência Social como um dos pilares do Sistema de Seguridade Social, que tem como objetivo assegurar os meios indispensáveis para a manutenção dos beneficiários quando vitimados por situações de necessidade, sejam elas previsíveis, como aquelas que exigem auxílio-financeiro, materializadas através de prestações previdenciárias.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 39-44)