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OS DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 47-52)

CAPÍTULO 2 O DIREITO PREVIDENCIÁRIO COMO DIREITO

2.3 OS DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Para tratar do tema à luz do direito constitucional positivo, há que levar em conta que os direitos previdenciários como espécies de direitos sociais estão inseridos no Título II que se refere aos "Direitos e Garantias Fundamentais", o qual abrange todas as categorias de direitos fundamentais.

A expressão constitucional "Direitos e Garantias Fundamentais" exprime as prerrogativas fundamentais do cidadão em suas relações com o Estado. Pontes de

93 BERBEL, Fábio Lopes Vilela. Teoria geral da previdência social. São Paulo: Quartier Latin,

Miranda os considera "direitos absolutos" que antecederam ao próprio Estado como princípios reitores da Ordem Política"94.

Nesse sentido, os direitos sociais – gênero dos direitos previdenciários – se confundem com os direitos fundamentais uma vez que são essenciais, inafastáveis e positivados.

A Constituição de 1988 posicionou-se como figura central na realização da justiça social, incumbida da promoção dos direitos sociais (gênero dos direitos previdenciários) e na formulação de políticas públicas voltadas redução de desigualdades sociais.95

Os direitos sociais, nas constituições antecedentes, situavam-se misturados com a ordem econômica. Mas a partir da Constituição de 1988 foi instituído um capítulo próprio dos direitos sociais (capítulo II do título II) e, bem distanciado deste, um título especial sobre a ordem social (título VIII). O artigo 6.o do referido documento estabelece que são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.96

Desse modo, compete à Constituição a atribuição de indicar ao Estado e aos particulares os caminhos para garantir a redução das desigualdades entre os indivíduos, a participação democrática na vida em comunidade e a proteção dos direitos fundamentais, observando-se os valores eleitos por um povo como supremos para a sua existência e seu desenvolvimento.

Os direitos sociais especificamente previdenciários passaram a ser positivados nas constituições brasileiras em decorrência da reação dos postulados da Revolução Francesa que, assegurando, a autonomia da vontade nas relações de trabalho, resultavam na exploração do trabalhador, sendo que as modernas constituições passaram a introduzir normas restritivas de liberdade nas relações trabalhistas.97

94 CRETELLA JÚNIOR, José. A Constituição brasileira de 1988: interpretações. Rio de Janeiro:

Forense Universitária; Fundação Dom Cabral; Academia Internacional de Direitos e Economia, 1988. p.33.

95 DERBLI, Felipe. Proibição de retrocesso social: uma proposta de sistematização à Luz da

Constituição de 1988. In: BARROSO, Luís Roberto. A reconstrução democrática do direito público no Brasil. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p.433.

96 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 21.ed. Malheiros: São Paulo,

2002. p.284.

97 BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil:

Considerando-se que os direitos previdenciários, sob uma visão geral, são direitos dos trabalhadores, é importante salientar que a criação de normas sobre a previdência na Constituição não significou o nascimento, mas a hierarquização da legislação social. Pode-se dizer a partir disso que o positivismo constitucional social é decorrente do reflexo das conquistas e progressos alcançados, em virtude das necessidades sociais.

A evolução histórica dos direitos previdenciários inseridos nas constituições brasileiras confirma que a previdência social está em processo de expansão, avançando gradativamente, desde a Constituição de 1934, ampliando o seu âmbito para alcançar a chamada segurança social com o propósito de reduzir os riscos sociais, notadamente os mais graves: doença, velhice, invalidez, acidentes de trabalho e desemprego, por meio de prestações previdenciárias.

Portanto, pode-se dizer que a previdência social tem como escopo garantir ao trabalhador uma prestação pecuniária, sem mais a respectiva contraprestação laboral, de maneira que assegure os meios suficientes de subsistência e à sua família quando, em razão da sua idade ou mesmo da sua condição física, não possuir mais condições mínimas de exercer atividade laborativa.98

Assim, a previdência social a partir da Constituição Federal de 1988 passa a ser reconhecida como instrumento fundamental para a realização da Seguridade Social. A Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio do "Estado Social" que "obriga o legislador à edição de normais mais socializantes, especialmente no interesse dos economicamente mais fracos em favor de uma existência que corresponda à dignidade humana"99; em virtude da importância de proteção social é

que foi introduzido nesta Carta um capítulo específico (art. 194 a 204) destinado a tratar apenas de matéria de cunho securitário que compreende em assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

98 BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil..., p.478. 99 DERZI, Misabel Abreu Machado. Contribuições sociais. In: MARTINS, Ives Granda da Silva

(Coord). Cadernos de pesquisas tributárias: contribuições sociais. São Paulo: Resenha Tributária, 1992. p.114.

Com a criação do Sistema de Seguridade Social previsto na Constituição atual, todos os cidadãos passam a ter direitos nas áreas de saúde, previdência e assistência, e fica a cargo do poder público organizar tal instrumento de proteção social universal em conformidade com os artigos citados.

Nesse sentido, entende-se por Seguridade Social um instrumento de realização de justiça social, que tem por finalidade primordial a distribuição de renda, proporcionando o acesso a todos um valor mínimo existencial para manutenção da subsistência, seja por meio da previdência, de caráter contributivo, seja pela assistência social, não contributiva ou, ainda, assegurando o direito à saúde.100

Cumpre enfatizar que este trabalho se destina a analisar os direitos previdenciários, que estão inseridos no Sistema de Seguridade Social por meio da Previdência Social, desde a Constituição de 1988, razão pela qual foi necessário tecer alguns apontamentos sobre a Seguridade Social.

Sendo assim, compreende-se que a previdência social é um dos pilares da Seguridade Social e que está constitucionalmente disciplinada pelos arts. 201 e 202.

Desse modo, a Carta Magna, mediante os artigos mencionados, estabelece que, a Previdência Social tem por finalidade amparar as pessoas hipossuficientes contra os imprevistos e infortúnios, a fim de que lhes seja garantido um mínimo existencial. Trata-se de um órgão que tem por escopo proteger o indivíduo, assegurando-lhe proteção, por meio de prestações previdenciárias, em casos de enfermidades, incapacidade, velhice, maternidade, desemprego, pensão por morte ou um complemento aos seus dependentes.

Somente a partir da criação do sistema de proteção social universal em que a Previdência Social se inclui desde a Constituição Federal de 1988 é que alguns direitos previdenciários passaram a ser reconhecidos, como, por exemplo: a pensão por morte para homens e mulheres, a aplicação de alíquotas e carências inferiores aos trabalhadores de baixa renda como forma de inclusão social, salário-maternidade às seguradas adotantes ou sob guarda judicial.

Em síntese, a Previdência Social desde que foi instituída nas Constituições brasileiras têm obtido progresso na proteção dos direitos sociais, mas foi somente a

100FERRARO, Suzani Andrade. Princípios constitucionais da seguridade social. In: PEIXINHO,

Manoel Messias; GUERRA, Isabella Franco; NASCIMENTO FILHO, Firly (Org.). Os princípios da Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2001. p.614.

partir da Constituição Federal de 1988, com a criação da Seguridade Social, ela que tem contribuído na melhoria da qualidade de vida da sociedade brasileira, principalmente daqueles que se encontram em situação desfavorecida economicamente.

Partindo do que foi demonstrado, os direitos previdenciários são direitos fundamentais de segunda dimensão, direitos fundamentais do homem, caracterizados como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria de condições de vida dos hipossuficientes, visando concretizar a igualdade social, sendo fundamentos do Estado Democrático estabelecido no art. 1º, IV, da Constituição Federal.101

O papel da previdência social é garantir um nível mínimo de dignidade existencial aos cidadãos nos momentos em que, inseridos no sistema previdenciário em virtude de atividade laboral remunerada, sofrem alguma limitação na sua atividade funcional, ou em diferentes situações, como na velhice, na gestação, pensão... como meio de subsistência.

Em virtude de a Carta Maior de 1988 instituir os direitos previdenciários como direitos sociais fundamentais, enquadrados no capítulo de Direitos e Garantias Fundamentais, isso acarreta em importantes consequências, como, por exemplo, à sujeição à regra do art. 5.o, parágrafo 1.o, segundo o qual as normas definidoras dos direitos e das garantias fundamentais têm aplicação imediata.

Sendo assim, o compromisso constitucional brasileiro de busca pela justiça social reconheceu a jusfundamentalidade dos direitos sociais, gravando-os com a cláusula de irrevogabilidade do art. 60, parágrafo 4.o, inciso IV.102

Conclui-se, a partir disso, que os direitos previdenciários são direitos sociais de cunho prestacional que representam mecanismos de equilíbrio e proteção social, como instrumento de transferência de renda aos mais frágeis, materializados por prestações materiais exigidas do poder público, assim tais prestações previdenciárias constitucionais devem ser preservadas, em virtude de serem reconhecidas como direitos fundamentais sociais.

101MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 26.ed. São Paulo: Atlas, 2010. p.195. 102BARROSO, Luís Roberto. A reconstrução democrática do direito público no Brasil, p.440.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 47-52)