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A Abordagem de Ensino e Aprendizagem de Línguas para Fins

2.1 Traçado histórico da Abordagem de Ensino e Aprendizagem de Línguas para

2.1.1 A Abordagem de Ensino e Aprendizagem de Línguas para Fins

(...) algo novo, instigante, criativo,

desbravador de novos caminhos Maria Antonieta Alba Celani

Segundo Ramos, os primeiros passos da abordagem de Inglês para Fins Específicos em contexto nacional foram dados com o Projeto Nacional Ensino de Inglês Instrumental nas Universidades Brasileiras (RAMOS, 2009, p. 36), conduzido entre o fim da década de 1970 e início da década de 1990 (CELANI, 2005, p. 394), tendo por berço a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, instituição responsável pela implantação do projeto e liderado pela Profa. Dra. Maria Antonieta Alba Celani.

O projeto realizou o levantamento das necessidades de alunos, professores universitários e pesquisadores de vinte e seis universidades brasileiras, detectando a necessidade de leitura de textos específicos das áreas dos universitários (RAMOS, 2005, p. 115). Uma vez identificada essa necessidade, buscou-se investir na capacitação docente para ensino de inglês para fins acadêmicos, com foco em leitura e compreensão de literatura especializada (RAMOS, 2009, p. 36).

O desenvolvimento do projeto ocorreu em duas fases (CELANI et. al, 1988, p.4-5). A primeira, compreendida entre 1977 e 1980, foi caracterizada pelo pedido de apoio ao Ministério da Educação – MEC, que enviou fundos para financiar o estudo acerca da viabilidade do projeto. Nessa fase inicial, foram feitas visitas preliminares às universidades brasileiras, com o intuito de conhecer os cursos oferecidos,

37 recursos disponíveis e materiais de ensino para levantar a real necessidade de um projeto nacional de ensino de Inglês para Fins Específicos. Esse período também foi marcado pela organização de um seminário nacional, em 1979, com duração de duas semanas, objetivando trocar experiências e discutir sobre a viabilidade da produção de materiais didáticos de maneira coletiva.

A segunda fase, que ocorreu entre 1980 e 1985, foi marcada pela chegada de três especialistas britânicos, denominados KELTS – Key English Language

Teaching. Com o apoio do Conselho Britânico, os KELTS, isto é, John Holmes,

Anthony Deyes e Mike Scott, foram enviados ao Brasil com o intuito de ajudar a desenvolver a pesquisa, capacitação docente e produção de materiais no projeto. Holmes e Deyes atuaram na PUCSP, enquanto Scott foi enviado à Universidade Federal de Santa Catarina (RAMOS, 2009, p. 37).

Importante ressaltar que, conforme Ramos (2009, p. 37), o Projeto de Inglês Instrumental no Brasil foi caracterizado pela “não imposição de uma metodologia ‘oficial’ ” (p. 37), respeitando as diferenças existentes entre as universidades participantes. Foram criadas, durante o projeto, as publicações denominadas

Working Papers, Resource Packages e Newsletters, publicações que deixaram de

existir com o fim do projeto, em 1990. Outra publicação da época foi a revista the

ESPecialist, única publicação da área que continua divulgando as pesquisas e

práticas desenvolvidas até os dias de hoje (RAMOS, 2009, p. 38).

O projeto de Inglês Instrumental no Brasil deu início à chamada Abordagem Instrumental. Conforme Ramos (2005, p. 111), essa abordagem, ao longo de seu desenvolvimento no Brasil, começou a cercar-se de uma série de mitos que podem ter causado seu descrédito em alguns círculos acadêmicos em nosso país. Ramos, pesquisadora na área de Línguas para Fins Específicos, aponta para a urgência da desconstrução desses mitos e chama a atenção para os novos desafios e demandas da abordagem no Brasil nos últimos anos (RAMOS, 2005, p. 109).

Um dos mitos citados pela pesquisadora é o de que o instrumental6 é uma

disciplina fora de moda, monótona, que não trabalha com a linguagem e que

6 A pesquisadora se refere ao ensino de línguas utilizando a abordagem instrumental no Brasil como

“instrumental”. Ex: ensino de inglês instrumental, ensino de português instrumental, ensino de espanhol instrumental, etc. A abreviação LinFE, utilizada nesta dissertação, tem por sinônimos a abreviação inglesa LSP (Languages for Specific Purposes), bem como o termo “instrumental”, uma vez que abarca tanto as características da abordagem instrumental no Brasil bem como as práticas mais recentes em ensino e pesquisa em Línguas para Fins Específicos realizadas no Brasil.

38 qualquer pessoa, mesmo que não tenha habilidade e competência relativas à disciplina, tem condições de dar aula de instrumental.

Como relatado anteriormente, a abordagem teve início no Brasil em fins da década de 1970 com o projeto de ensino de inglês instrumental, colocando como prioridade o ensino de leitura, uma vez que o projeto contemplava as necessidades de alunos e profissionais do Ensino Superior de aprender a ler e escrever textos acadêmicos. Não é característico da Abordagem Instrumental priorizar somente o ensino de leitura, o que deu origem ao primeiro mito (RAMOS, 2005, p. 112) relacionado à área: o de que instrumental é primordialmente ensino de leitura.

Com a mudança no panorama de ensino-aprendizagem instrumental de inglês no Brasil, sobretudo preconizada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, e também pela demanda pela inclusão digital, pela formação de cidadãos e pela revisão dos currículos em face dessa mudança, Ramos (2005, p. 114-115) defende que a abordagem terá um lugar importante na educação se se desfizer dos mitos que a encobrem e consolidar-se como uma área do ensino que leve em consideração as necessidades específicas dos alunos, os quais devem ser colocados no centro do processo de ensino-aprendizagem, e, por consequência, que encoraje a autonomia desses aprendizes, contribuindo para a formação de cidadãos autônomos.

Ainda conforme Ramos (2005, p.115), devido às necessidades sentidas em diversas áreas acadêmicas, tais como turismo, hotelaria, publicidade, secretariado, etc, por alunos universitários que já se encontravam em serviço, a partir de 1998, as discussões sobre ensino e aprendizagem de Inglês para Fins Específicos ampliaram o escopo contemplando as habilidades comunicativas, tais como compreensão oral e produção oral e escrita, negligenciadas por vinte anos, desde o início do Projeto Ensino de Inglês Instrumental no Brasil.

Em 2002, foi cadastrado no CNPq o grupo de pesquisa Abordagem

Instrumental e Ensino-Aprendizagem de Línguas em Contextos Diversos,

denominado sob a sigla GEALIN, com sede na PUCSP, sob liderança de Rosinda de Castro Guerra Ramos, professora doutora da instituição.

Um dos trabalhos significativos do grupo foi a proposta de implementação de gêneros textuais em cursos de Inglês para Fins Específicos fornecida por Ramos (2004), bem como um curso de extensão oferecido pela Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão da PUCSP - COGEAE PUCSP,

39 denominado Inglês Instrumental: leitura para fins acadêmicos, ministrados por pesquisadores do grupo.

O GEALIN também começou a realizar pesquisa, mais recentemente, em contextos digitais, da qual resultaram dois cursos de extensão à distância oferecidos também pela COGEAE, um, intitulado ESPmed: leitura de abstracts, e outro intitulado Inglês Instrumental on-line: Leitura de Textos Acadêmicos (RAMOS, 2009, p. 43).

Conforme Ramos (2005, p. 122), o termo “Inglês Instrumental”, historicamente relacionado à “leitura”, deve ser colocado em contraste com o termo “Inglês para Fins Específicos”, que define a Abordagem de Ensino e Aprendizagem de Inglês para Fins Específicos no Brasil dos dias atuais. Em reuniões do Grupo GEALIN, tem se chegado a um consenso sobre adotar a abreviação LinFE para se referir à Abordagem de Ensino e Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos em contexto nacional (RAMOS, 2012).

A seguir, apresento a definição de Inglês para Fins Específicos fornecida pelos principais estudiosos da área, destacando a definição do conceito assumida para este trabalho com base na literatura apontada.