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A abordagem evolucionista está diretamente articulada com a idéia da destruição criadora colocada por SCHUMPETER (1984), que coloca a inovação no centro do processo de mudança do sistema econômico, alterando e criando novas posições no mercado. A idéia da destruição criativa propõe que, diante de um processo de mudança tecnológica, algumas firmas inovariam, acompanhando o dinamismo tecnológico, enquanto outras, submetidas à margem do processo tecnológico, declinariam e desapareceriam do mercado.

A abordagem evolucionista, portanto, parte de um referencial dinâmico, onde impera a lógica dos desequilíbrios e da geração de assimetrias. Os autores desta escola chamam de estratégia o posicionamento racional diante deste quadro.

FREEMAN (1982), citado por SANTINI (2002), distingue seis tipos de estratégias relativas à inovação tecnológica, as quais oferecem uma aproximação interessante à variedade e natureza dos grupos estratégicos na indústria:

• Estratégia ofensiva: consiste na obtenção da liderança técnica e do mercado, sendo a empresa pioneira na introdução de novos produtos. As empresas que adotam tal estratégia são intensivas em P&D e apresentam uma elevada capacidade em engenharia de projeto e em atividades de pesquisa aplicada. O grande esforço de pesquisa básica na empresa (assim como um contato estreito com os centros de pesquisa básica), fazem com que a empresa seja bem- sucedida adotando uma estratégia ofensiva.

• Estratégia defensiva: as empresas que adotam estratégias defensivas também são intensivas em P&D, porém se diferenciam das primeiras na natureza e no timing das inovações. Não são capazes de desenvolver inovações originais, são capazes apenas de responder rapidamente às inovações introduzidas pelo líder, conservando assim suas participações no mercado. Isto porque aproveitam os novos mercados abertos pelo inovador e aprendem com os erros que este comete e, freqüentemente, obtêm resultados superiores aos do próprio inovador.

• Estratégia imitativa: as empresas imitativas devem obter certas vantagens para poder competir com os inovadores, como acesso aos mercados cativos, proteção política ou custos menores. Devem apresentar elevadas capacidades em

engenharia de produção e projeto, podendo ser capazes de operar com alta eficiência o processo de produção. Quando a tecnologia da indústria tende a se estabilizar, tais empresas podem disputar agressivamente o mercado.

• Estratégia dependente: empresas que adotam, e que são normalmente obrigadas a adotar, a estratégia dependente, desempenham um papel subordinado na indústria. Não realizam atividades de P&D e dependem das especificações técnicas de seus clientes. Empresas dependentes são utilizadas, freqüentemente, como um "colchão amortecedor" das flutuações de mercado.

• Estratégia tradicional: tais empresas atuam em indústrias onde tem diminuído o dinamismo tecnológico. Não realizam atividades de P&D e atuam em mercados altamente atomizados ou em oligopólios fragmentados.

• Estratégia oportunista: esta estratégia é adotada nas situações em que a empresa pode ocupar um nicho ou oportunidade de mercado a partir do senso ou capacidade empresarial, sem incorrer em gastos de P&D. Ou seja, adotando a estratégia oportunista, alguns empresários podem encontrar novas oportunidades que têm escassa relação com o processo de P&D, ainda que em indústrias intensivas em P&D.

No enfoque evolucionista, a inovação realizada pelo empresário caracteriza a contínua mutação do sistema econômico, onde algumas empresas são bem sucedidas e crescem enquanto outras declinam e morrem.

Neste contexto, diversos autores da nova economia institucional ressaltam a importância do papel do ambiente institucional na dinâmica da inovação. O ambiente institucional, também chamado de tecido institucional, é constituído pelo conjunto das instituições e WILLIAMSON (1993), define as instituições como um conjunto de obrigações que se manifestam na forma de regras e regulações sobre o comportamento individual e no nível organizacional. É um conjunto de procedimentos para detectar desvios dessas mesmas regras e regulações, na forma de uma série de normas de comportamento moral e ético, dos quais definem os limites e obrigações no meio ao qual as regras e regulações são especificadas e a imposição é exigida.

O ambiente institucional fornece o quadro fundamental de regras que condiciona o aparecimento e seleção de formas organizacionais que comporão a estrutura de governança.

Assim, na abordagem de WILLIAMSON (1993), o ambiente institucional é constituído de regras jurídicas e normas de conduta econômica que estabelecem restrições para a atuação das empresas ou grupos econômicos. Se mudanças em direitos de propriedade, leis contratuais, normas, costumes e outros fatores induzem alterações na governança dos custos comparativos, então se configura uma nova organização econômica. Elas estruturam a interação social, econômica e política e moldam verdadeiras estruturas de governança. Essas estruturas representam o espaço de atuação dos atores privados e públicos, o locus em que se gesta o processo competitivo, a efetivação das estratégias dos atores e a realização das políticas públicas. É neste espaço que concorre o comportamento dos indivíduos, seus interesses e a busca de recursos econômicos e tecnológicos (SANTINI, 2002).

As instituições conformam novas estruturas organizacionais e, conseqüentemente, dão impulso à adaptação dos indivíduos frente a mudança institucional. Ao mesmo tempo, a capacidade inovadora e criadora da firma impulsiona a evolução das instituições, no sentido de fazê-las incorporar as mudanças da organização.

Desta forma o ambiente institucional é o conjunto de atores de um dado território (indústrias, agricultores, prestadores de serviço, comerciantes, agências públicas do Estado, prefeitura municipal, associações de representação de interesses, sindicatos, universidades, centros de pesquisa e demais grupos) bem como as regras e normas que regem este conjunto.

Estas regras e normas podem ser tanto formais quanto informais, sendo que as chamadas políticas públicas representam a formalidade dessas regras. Desta maneira, as políticas públicas representam um importante papel para a competitividade de um setor na medida em que pode atuar fomentando a busca da inovação.

Pode-se destacar na história do país o posicionamento do Estado no que se refere ao um direcionamento de ações que se configuram como políticas públicas para os diversos setores. No setor industrial (no qual o agroindustrial está contido), pode-se

elencar as políticas industriais e tecnológicas adotadas para este segmento ao longo do tempo. AMATO NETO (1999) define:

“As políticas industriais e tecnológicas envolvem o estabelecimento de “projetos prioritários, através da adoção de medidas legais, administrativas e institucionais, constituindo-se em um poderoso instrumento para orientar a estrutura e a dinâmica da indústria, segundo paradigmas e trajetórias tecnológicas determinadas (...). Referem-se a um conjunto de ações públicas orientadas a direcionar e controlar o processo de transformação estrutural de uma economia”.

O mesmo autor ressalta a definição de CASAROTTO (1998) sobre políticas industriais locais, destacando a delimitação da região na formulação de políticas direcionadas às necessidades específicas de cada localidade.

As principais políticas industriais no Brasil encontram-se resumidas no Quadro 2.2.13

QUADRO 2.2: Evolução geral das políticas industriais brasileiras ao longo do tempo.

Década Política

50/60 (“50 anos em 5”) Modelo de Substituição de Importações 70 (“milagre econômico”) Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND’s)

80 (“década perdida”) Ausência de política industrial 90 (“abertura de mercado”) Política de Integração Competitiva Fonte: elaborada a partir de texto contido em Amato Neto (1999).

No setor produtivo agrícola além da importância das políticas públicas setoriais, a conformação do ambiente institucional também é extremamente relevante, na medida em que reconhece (ou não) a propriedade privada, e na forma como regula o direito do proprietário de usar e dispor livremente esta mercadoria (GUEDES, 2000).

Neste contexto é interessante analisar como as instituições têm-se comportado no que se refere à questão ambiental e os sistemas produtivos, bem como verificar a existência de políticas voltadas ao fomento de ações que equacionem de forma satisfatória a questão ambiental no contexto da produção agrícola e industrial.

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Neste cenário, a importância da atuação das instituições é de fundamental importância. REYDON et al. (2003) ressaltam que apenas a iniciativa do ambientalismo empresarial aliado a um contexto tecnológico favorável, no que diz respeito a técnicas de despoluição e equacionamento dos impactos ambientais, é insuficiente para induzir a internalização da questão ambiental por parte das empresas. Ainda, segundo os autores, as forças de mercado precisam da efetiva intervenção do Estado como agente regulador e incentivador de tais práticas.

Analisando as ações ambientais tomadas pelo empresariado pode-se dizer que para a adoção de práticas industriais sustentáveis existem dois caminhos: o coercitivo e o espontâneo, e ambos passam pela questão institucional, recaindo-se, necessariamente, na obrigatoriedade de se gerar mecanismos que permitam a administração e incorporação desta problemática ao processo decisório dos agentes econômicos, ou seja, instituir regras e convenções gerindo a interface coerção/ oportunidade. Ambos os mecanismos, coercitivo e espontâneo, têm efeito sobre as estratégias dos agentes econômicos e interferem nos mecanismos de busca e seleção e a importância de cada um será dada em função, principalmente, da legitimação do problema na sociedade.

Por este raciocínio, são de fundamental importância as pressões e mobilizações dos grupos sociais que compõe a sociedade consciente e organizada, na dinâmica da adoção por parte da elite produtiva, das práticas sintonizadas com a sustentabilidade. Fica claro, também, que as instituições detêm papel fundamental na condução e disciplina do processo.

Neste contexto, é preciso destacar o papel da sociedade organizada na disciplina de diversas atividades produtivas que vinham causando dano ao meio ambiente e à sociedade. Também teve papel fundamental nesta dinâmica o estabelecimento e a fiscalização de uma legislação ambiental disciplinadora, que contribuiu como agente coercitivo, para a adoção de ações mitigadoras eficientes por parte de algumas empresas, sanando problemas crônicos.

No que tange a legislação disciplinadora é possível dizer que a maior parte dos países, independente de sua situação econômica, possui alguma legislação que trata da relação entre o homem, suas atividades produtivas e o meio ambiente. No Brasil existe, além da Legislação Ambiental, uma série de restrições discutidas em um conjunto de

Leis que vigoram nos âmbitos nacional e estadual e que procuram regular a atividade industrial e agrícola.

Além das restrições legais, formalmente instituídas, existem também as chamadas restrições de mercado, que se traduzem em sistemas que bloqueiam (ou facilitam) o acesso ao mercado consumidor de determinado produto. E se tem observado que o crescimento das barreiras, que têm sido levantadas nos mais diversos países e empresas do mundo, dentre as quais figura a questão ambiental, tem levado as unidades produtivas ao cumprimento da legislação que já existe.

A principal conclusão a que se chega quando se analisa a recente incorporação do paradigma de produção, que pode ser chamado de produção sustentável, é que a inclusão deste padrão de comportamento parece ser inexorável (partindo do pressuposto de uma sociedade democrática). Conforme afirma LAYRARGUES (1998), dentro deste processo o meio ambiente pode ser apresentado e percebido como uma ameaça, um sinônimo de custos extras no qual as forças produtivas, movidas por uma suposta consciência ecológica estariam dispostas a pagar o justo preço dos abusos anteriormente cometidos, por meio da incorporação das externalidades ambientais do processo produtivo, e também como oportunidades, no qual, desta vez as forças produtivas, movidas por uma provável conscientização econômica, conseguiram incorporar a variável ambiental como uma dimensão valorizada do mercado.

Da mesma forma, quando se fala nas técnicas da agricultura sustentável, também se discute a motivação para a sua adoção, isto é, se são motivações econômicas ou não econômicas que norteiam a mudança. SOUZA FILHO (2001) relata que estudos realizados no início dos anos 70 mostraram que uma das principais motivações para a adoção de práticas agrícolas sustentáveis eram as especificidades particulares dos produtores e/ou de suas propriedades que lhes garantiam um benefício econômico com a mudança, ou seja, possíveis vantagens econômicas era o aspecto relevante da mudança.

Estas vantagens econômicas pode ser a diminuição dos custos de produção que, após o período de transição que acompanha a conversão de uma propriedade, costumam ser menores, mas também pode advir de um sobre-preço aferido na comercialização dos produtos produzidos.

Este sobre-preço pode ser variável, quando ele advém de mecanismos de mercado como desequilíbrios momentâneos entre a oferta e procura, ou podem ser fixos

e duradouros, quando há um acordo tácito entre consumidores e produtores em torno de uma remuneração justa do produto, devido as suas especificidades produtivas, no tocante a internalização de custos ambientais.

Finalmente, é preciso destacar que alguns produtores podem optar por adotar sistemas de produção sustentáveis por outros motivos além do econômico. Existem motivações ideológicas que atingem valores relacionados com satisfação pessoal e qualidade de vida que, para determinados grupos possuem significado e valor.

Além das motivações econômicas e ideológicas existem ainda, como já foi discutido, motivações condicionadas por imposições institucionais na forma de mecanismos legais que, de certa forma, acabam conduzindo algumas práticas produtivas em direção à sustentabilidade. Este tipo de instrumento é o que ROMEIRO (1999) chama de “comando e controle”. E estes instrumentos têm caráter normativo uma vez que fixam limites e impõem proibições.

Entretanto, segundo destaca SOUZA FILHO (2001), além de motivação para a introdução de técnicas afinadas com a sustentabilidade, é necessário que a propriedade e o produtor rural tenham algumas características que facilitam a mudança. O autor destaca que no estudo desta questão devem ser observadas questões relativas a propriedade, como o tamanho e as características físico-ambientais da mesma além da disponibilidade de mão-de-obra e, também, no que diz respeito a características do proprietário, no que se refere ao seu nível educacional, experiência na agricultura e suas condições fundiárias.

Desta forma, diante do que foi discutido até aqui, a decisão por tomar um determinado caminho produtivo e tecnológico, como no caso das usinas que decidiram converter sua produção para o sistema orgânico, é complexa, uma vez que revela uma série de imbricações, como num mosaico, onde somente uma combinação adequada de fatores faz com que a estratégia seja interessante para uma usina e não seja para outra.

Até este ponto foram discutidas as recentes mudanças que ocorreram no cenário produtivo e comercial dos setores agroindustrial e agroalimentar, destacando a passagem da produção de produtos massificados para a produção de produtos diferenciados. No caminho da diferenciação dos produtos pode-se destacar a ascensão dos certificados ou selos, que conferem aos produtos que os detém, aptidão para explorar nichos específicos. Neste contexto, a agroindústria sucroalcooleira também

vem modificando sua atuação, diferenciando seus processos e produtos, procurando desta forma, oferecer produtos com maior valor agregado. Assim, na seqüência discute- se o comportamento deste setor diante deste cenário de mudanças.