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Já faz mais de um quarto de século que o cientista norte-americano Dennis Meadows e seus colaboradores apresentaram o famoso relatório do Clube de Roma sobre "os Limites do Crescimento". Nele se mostra que o crescimento exponencial da economia moderna acarreta como conseqüência necessária, num espaço de tempo historicamente curto, uma catástrofe dos fundamentos naturais da vida. O consumo voraz de recursos e a emissão desenfreada de poluentes, afirma MEADOWS et al.(1972), põe em xeque a sobrevivência da humanidade.

A partir deste ponto começou a se pensar em "crescimento qualitativo" e "desenvolvimento sustentado" (sustainability) que devem pôr em consonância capital e natureza sobre o pano de fundo de um mercado global pautado pela "eficiência econômica" e pelo "desafio ecológico". A grande questão que surge é se esse é um objetivo realista ou uma tentativa ingênua de se apaziguar segmentos mais preocupados.

À parte desta questão, a crescente destruição dos recursos naturais e a busca frenética da "redução dos custos" são na verdade uma simples externalização dos custos

face à natureza e ao futuro. Do ponto de vista empresarial, a natureza e o futuro são espaços economicamente vazios para além do cálculo de custos, nos quais os "excrementos da produção” desaparecem sem deixar vestígios.

Os danos ambientais tais como o efeito estufa ou o buraco na camada de ozônio, longe de serem somente eventos alarmantes, são conseqüência do grande “boom” industrial da “Idade de Ouro”. E, a retomada industrial da década de 1980, só fez aumentar as catástrofes ambientais associadas às atividades industriais.

Conforme afirmam MARTINS & FELICIDADE (2001), não é preciso muito esforço para demonstrar que os problemas relativos à degradação ambiental estão estreitamente vinculados ao acelerado processo de acumulação de capital registrado nos últimos 50 anos. A apropriação e o uso de condições ecológicas favoráveis ao processo de valorização capitalista tem sido, historicamente, uma alternativa para ganhos de produtividade e competitividade dos capitalistas individuais.

No presente, os limites de qualquer modelo produtivista estão sendo mais claramente percebidos, seja no nível local ou global, sendo crescente o reconhecimento da necessidade de se pautar os futuros modelos de desenvolvimento em premissas de sustentabilidade. Começa a emergir uma nova maneira de pensar e agir: preocupação com o meio ambiente, com a segurança dos trabalhadores, bem como sua responsabilidade social e ética perante a comunidade onde a atividade está inserida. DONAIRE (1995) ressalta um crescimento da consciência ecológica, observado, ainda que de forma pequena e pontual, na sociedade, nos governos e nas próprias empresas que passam, pouco a pouco, a incorporar estas orientações em suas estratégias.

Estas orientações, no que se refere às empresas, no entanto, ainda deve-se, na sua maior parte, a fatores externos a elas, tais como: pressão por parte da sociedade; dos governos; das instituições financeiras internacionais; pressões decorrentes da acirrada concorrência devido à globalização da economia; pressões de organizações não governamentais; conceitos novos referentes a sistemas de qualidade total - ISO 9000; gestão ambiental e certificação ambiental (BS 7750 e ISO 14000) e a valorização de produtos que sejam detentores de “selos verdes” (LEMOS et al, 1998).

Para a maioria das empresas, ainda, trata-se de uma imposição externa adotar um posicionamento quanto à questão ambiental, e a ascensão desta variável pode ser vista por estas empresas como uma ameaça, na medida em que determinadas características

de conformidade ambiental, de processos ou de produtos, começam a ser requisitadas, podendo vir a se tornar barreiras protecionistas veladas.

Para outras empresas, no entanto, pode significar oportunidade, haja vista que pode se tornar uma estratégia de diferenciação de seus produtos e, portanto, valorização do capital. Segundo REYDON et al (2003), analisando informações de empresas no que se refere ao seu posicionamento ambiental, fica claro uma nítida mudança deste posicionamento do início para o final dos anos 90, indicando que existe uma outra forma de tratamento da questão ambiental em algumas empresas industriais que passaram a tratar a gestão ambiental como oportunidade estratégica, geralmente ligada ao marketing, à economia de recursos e a competitividade. Prova disto é o significativo número de empresas que ostentam certificações ambientais, ou estão em vias de obtê- las.

Assim, ao se analisar os agentes que optaram por adotar procedimentos e introduzir mudanças e inovações em seus processos produtivos, de tal forma a permitir que seus produtos ou processos possam ostentar certificados de caráter ambiental, é interessante questionar quais são as expectativas destes agentes econômicos com relação a esta ação e quais as oportunidades que eles vislumbram, tendo em vista a contemplação das questões ambientais.

Um outro fator importante diz respeito às capacidades que estes agentes possuem de antemão que lhes diferenciam, ou as capacidades que eles não possuem, mas têm potencial para desenvolver ou a explorar, na busca do incremento da vantagem competitiva de sua empresa.

Assim, conforme afirma LEMOS (1998), existe um conjunto de expectativas dos agentes econômicos, bem como um quadro de suas capacidades e das oportunidades relativas a empreitada. É o entendimento destes fatores (expectativa dos agentes econômicos, capacidade empreendedora destes e oportunidades da empreitada) que norteiam a tomada de decisão sobre que estratégia adotar com relação à possibilidade de novos cenários produtivos.

Segundo MARX (1985), as expectativas dos agentes econômicos, quando procuram introduzir alguma mudança no processo produtivo (o que o autor chamou de progresso técnico) é a busca da valorização do capital e do aumento da taxa de lucro.

Assim, na visão de Marx, o progresso técnico significa o progresso das técnicas capitalistas de produção, visando valorizar o capital.

Naturalmente a operação neste sentido não está isenta de risco, dado que é sancionada pelo mercado e, como tal, tem implícito um risco. O cálculo da probabilidade da empreitada dar ou não certo é algo próprio à produção capitalista.

A inversão de capital para o progresso técnico é uma decisão do capitalista, mediada por toda uma análise conjuntural e estratégica das possibilidades de retorno, de valorização de capital, que leva em consideração, não apenas variáveis de natureza financeira, mas também variáveis de natureza política e estas variáveis políticas podem alterar o ritmo e a intensidade do progresso técnico (ALVES, 1991).

Entretanto no pensamento marxista, a dinâmica do progresso técnico não pode ser alterada, uma vez que é, para o autor, historicamente determinada, e a incorporação das mudanças técnicas constitui-se em um elemento endógeno do capitalista. Na visão de Marx todo progresso técnico visa o aumento da produtividade do trabalho, e isto significa superar limitações naturais existentes à valorização do capital.

Outro autor que procurou explicar a gênese das inovações foi o economista J. A . Schumpeter. Em seu trabalho The Teory Economic Development (1912), o autor teoriza sobre o fluxo circular, que representa um sistema de reprodução econômica em equilíbrio dinâmico. Schumpeter apresenta uma visão do desenvolvimento capitalista como um processo de mudança, cujo motor são as inovações. E é a inovação que deflagra um processo de destruição das estruturas econômicas existentes e de criação de novas estruturas. Desta forma, o desenvolvimento capitalista é marcado por rupturas, desequilíbrios e descontinuidades e a inovação é a causa última da instabilidade nas economias capitalistas.

A inovação caracteriza-se por uma mudança descontínua e de origem endógena que afasta a economia irrevogavelmente da possível posição de equilíbrio existente. Assim, não são mudanças externas, mas sim, as forças intrínsecas ao sistema econômico que promovem o progresso, que o autor chama de desenvolvimento econômico ou progresso econômico. As inovações geram reações não adaptativas, à medida que introduzem mudanças descontínuas, mas não podem ser descritas como avanços infinitesimais, mas sim, como ondas. A inovação, portanto, é a causa fundamental da instabilidade (impossibilidade de equilíbrio) do sistema econômico.

Através de um mecanismo que funciona em períodos de pressão, surge sempre, ou tende a surgir, um novo equilíbrio, o qual absorve os resultados da inovação, levadas a cabo nos períodos de prosperidade precedentes11. Os novos elementos encontram suas proporções de equilíbrio. Os antigos se adaptam ou desaparecem, as rendas são redistribuídas, a inflação é corrigida por uma auto-deflação, etc.. Assim, as instabilidades que surgem do processo de inovação, tendem a corrigirem-se por si mesmas e não continuam se acumulando. Embora haja instabilidade no Sistema Capitalista não existe instabilidade na Ordem Capitalista.

Para o autor, a inovação no capitalismo concorrencial está tipicamente na fundação de novas firmas constituindo-se na principal alavanca que permite inclusive a ascensão de novas famílias industriais.

Pelo exposto não há contradição entre o que afirma Marx e Schumpeter, a diferença é que Marx pensa o sistema capitalista como um todo e Schumpeter, embora pense no capitalismo toma como unidade de análise, o comportamento dos empresários inovadores (empreendedores), que para ele se constituem no motor das inovações12.