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3.2 Tipos de certificações mais comuns no setor agroindustrial e agroalimentar

3.2.7 Certificações de caráter ambiental

3.2.7.5 Certificação de produtos orgânicos

A preocupação fundamental desta certificação é garantir a não utilização de produtos químicos sintéticos na produção agrícola (fertilizantes e agrotóxicos) e que aspectos relacionados com o cuidado com o meio ambiente sejam incorporados nas práticas agrícolas. Desta forma esta certificação pode ser também considerada de caráter ambiental.

Os produtos orgânicos são aqueles que provêm de um método de produção agrícola que segue as premissas da chamada agricultura orgânica. A agricultura orgânica por sua vez, pertence a um conjunto de métodos e técnicas agrícolas que constitui a denominada agricultura alternativa ou sustentável24.

Dentro do conceito da agricultura alternativa existe uma variedade de técnicas de produção, que inclui além da produção orgânica, a agricultura natural, a agricultura biodinâmica, a biológica, a permacultura, entre outras, diferindo uma das outra apenas pela incorporação de pequenos conceitos.

Embora desde o início do século XX e até mesmo final do século XIX já tivessem estudos sobre essas formas de produção agrícola, foi somente nos anos 60 e 70 que elas começaram a despertar atenção como alternativa à produção que se dava nas bases da Revolução Verde. E somente nas últimas décadas do século XX estes produtos começam a ganhar a maior popularidade nos países desenvolvidos, que é onde este mercado é maior. Nos países em desenvolvimento essa demanda ainda é incipiente.

Um importante passo para o reconhecimento da agricultura orgânica se deu em 1972 com a fundação da IFOAM (International Federation of Organic Agriculture

Movements), com a finalidade de agregar todas as associações e pessoas que pesquisam,

ensinam e divulgam as técnicas não convencionais de agricultura, bem como as que produzem, processam e comercializam alimentos orgânicos e insumos naturais.

Hoje a IFOAM é integrada por mais de 100 associações e 600 membros, em 100 países e apesar de ser uma federação de agricultura orgânica reúne associações de todos os modelos de produção não convencionais de agricultura. O IFOAM além de coordenar a troca de conhecimento e experiências entre seus membros e informar o público sobre a agricultura orgânica, ela representa o Movimento Orgânico em parlamentos e fóruns de decisão de políticas. Também possui uma revista própria para difusão do conceito e realiza congressos internacionais a cada dois anos (NUNES, 1998).

A produção orgânica é marcada pela não utilização de agrotóxicos, fertilizantes solúveis, hormônios, sulfas, aditivos e outros produtos químicos. Além disto, leis e princípios ecológicos e de conservação de recursos naturais são parte integrante deste

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No próximo capítulo deste trabalho estes conceitos serão trabalhados com mais detalhes e as premissas das diversas correntes que compõem a chamada agricultura alternativa, da qual a agricultura orgânica é uma delas, serão amplamente discutidas.

método, cujo objetivo principal não é a exploração imediatista e inconseqüente, mas a exploração em longo prazo mantendo o agroecossistema estável e sustentável. As questões sociais são prioritárias, procurando-se preservar métodos agrícolas tradicionais apropriados, ou aperfeiçoa-los (PASCHOAL, 1994).

A agricultura orgânica apresenta alguns princípios e técnicas que formam os pilares que sustentam este método agrícola. Estes princípios e técnicas, chamadas diretrizes, podem ser resumidos pelas suas idéias gerais:

• Manejo e conservação do solo e da água;

• Incorporação de matéria orgânica e de nutrientes minerais; • Rotação de culturas e cultivo múltiplo;

• Manejo natural de pragas, patógenos e ervas invasoras; • Uso adequado de máquinas e implementos agrícolas; • Uso de fontes alternativas de energia;

• Integração agricultura – criação animal; • Qualidade dos alimentos;

• Produtividade e economia agrícola; • Comercialização;

• Conservação da natureza e da dignidade humana.

A utilização de mecanismos de certificação para esta classe de produtos é indispensável e muito rigorosa, pois se trata de características muito específicas que se pretende certificar. Como já foi discutido no início deste capítulo, esta classe de produtos se encaixa nos chamados bens de crença e apresenta uma forte assimetria de informações envolvendo o produto uma vez que os atributos destes não podem ser auferidos pelos consumidores. È necessário então acompanhar o processo de produção, em todas as suas etapas para poder garantir que o produto final obtido é realmente um produto orgânico.

Neste papel entram os organismos certificadores que têm, portanto, um papel fundamental na diminuição desta assimetria informacional e, por conseqüência, na expansão do consumo desta classe de produtos. A credibilidade, idoneidade e imparcialidade do organismo certificador são, portanto fundamentais neste processo.

O passo inicial para a organização de um mecanismo de certificação para os produtos orgânicos foi dado pela IFOAM, que elaborou as normas básicas para a agricultura orgânica, a serem seguidas por todas as associações afiliadas, quando da elaboração de suas normas próprias. A partir deste documento central da IFOAM, cada associação de agricultura orgânica deve elaborar suas próprias normas, com rigor e nível de detalhamento condizente com as características ambientais e sócio-econômicas de cada região ou país (PASCHOAL, 1994). No Brasil, o órgão pioneiro a ser credenciado oficialmente pela IFOAM foi o IBD – Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural. Além da acreditação do IFOAM, o IBD é a única entidade brasileira que possui acreditação internacional, pelo Demeter Internacional para produtos biodinâmicos. Além disso, é também acreditado pela Biossuisse, certificadora Suíça que adota normas de produção orgânica ainda mais rigorosas que os demais países.

Fundado em 1982, o IBD é uma ONG sem fins lucrativos criada a partir de um projeto da Associação Tobias, com o objetivo de pesquisa aplicada em agricultura biodinâmica. Localiza-se na cidade de Botucatu no interior de São Paulo e além de atividades de certificação, o Instituto Biodinâmico realiza palestras, cursos, seminários, pesquisas e publicações sobre agricultura orgânica e biodinâmica.

Além do IBD, existem outras certificadoras atuando no país, inclusive internacionais, sendo que todas trabalham de forma parecida: a certificadora realiza a certificação e concede o uso de um selo, que tem o objetivo de destacar a procedência dos produtos orgânicos ou biodinâmicos, indicando que o estabelecimento rural ou a indústria processadora satisfaz as diretrizes de produção e processamento definidos nas normas. Existem um corpo de inspetores e um comitê de certificação formado por agricultores, processadores, acadêmicos, técnicos, e representante de consumidores.

O processo de certificação para a utilização do selo inicia-se com uma visita a propriedade e a apresentação de um plano de conversão, onde o produtor deve especificar os passos que serão seguidos para atingir o cumprimento de todas as normas. A partir da avaliação do primeiro relatório de inspeção pelo comitê, que pode aprovar de imediato ou requerer melhorias na propriedade necessárias para uma futura certificação. A transição ou conversão é o período em que o produtor deve seguir todas as normas, sem que a produção seja considerada orgânica. Após essa primeira

aprovação, a certificadora realiza visitas periódicas de inspetores ao local de produção e análises residuais dos produtos, sendo que 5% da visitas serão sem aviso prévio, por sorteio ou indicação do Comitê de Certificação. A certificadora não realiza consultorias, mas indica consultores independentes credenciados, nos casos em que o produtor necessite de um acompanhamento técnico (NUNES et al., 1998).

Um fato importante é que além de produtores individuais, as certificadoras possuem procedimentos para certificar uma associação ou empresa que reúna um grupo de pequenos produtores, que devido a suas condições econômicas não poderiam pagar inspeções individuais, bastando para isto que a associação esteja numa mesma região com os produtores tendo as mesmas características de produção no que se refere à área, culturas, tecnologia e nível social. Da mesma forma, no caso de uma empresa contratar e centralizar o processamento e comercialização desses produtos, estes devem estar reunidos em associação para exercer tarefas relativas à certificação. A associação deve ter um corpo interno de administração, que funcione como inspetores capazes de acompanhar com visitas anuais todos os produtores (IBD, 1999)

Além do IBD existe outra certificadora pioneira atuando no país: a AAO (Associação de Agricultura Orgânica) também certifica com credibilidade produtores nacionais porém, por não ser credenciada pelo IFOAM, não possui abrangência internacional, o que inviabiliza a certificação de produtos produzidos com vistas no mercado externo. Como o credenciamento junto ao IFOAM exige um investimento alto, a AAO está tentando resolver este problema através de uma parceria com uma certificadora argentina, a OIA (Organización Internacional Agropecuaria), já credenciado junto ao IFOAM.

Além da AAO que é um organismo certificador nacional, existem certificadoras originárias de outros países que estão penetrando no mercado brasileiro certificando principalmente produtos processados que tenham como destino o mercado externo, mais especificamente o mercado consumidor do país de onde provém a certificadora. Um exemplo típico deste fato é o açúcar orgânico produzido no interior de São Paulo, mas exportado, quase em sua totalidade, para fábricas de alimentos norte americanas. Este produto leva o selo FVO (Farm Verified Organic) que é um organismo certificador de produtos orgânicos com sede nos EUA.

A fim de evitar estratégias como esta, a IFOAM lançou em 1999 o Selo Internacional de Produção Orgânica. Este selo só poderá ser utilizado pelas certificadoras credenciadas pela IFOAM e por produtores e empresas acompanhadas pelas certificadoras.

As vantagens da certificação já foram discutidas, mas cabe salientar o fato de que a certificação torna a produção orgânica tecnicamente eficiente, a medida que exige planejamento e documentação criteriosos por parte do produtor.

No Brasil, a Instrução Normativa nº007, de 17/05/1999, do Ministério da Agricultura, dispõe detalhadamente sobre as normas de produção, tipificação, processamento, envase, distribuição, identificação e certificação da qualidade para os produtos orgânicos de origem vegetal e animal. Nela, destacam-se os seguintes pontos:

• exclusão do emprego de organismos geneticamente modificados (OGM’s) da produção orgânica;

• detalhamento das etapas de conversão e transição dos produtos convencionais para os orgânicos;

• criação de um órgão colegiado nacional e dos respectivos órgãos estaduais responsáveis pela implementação da Instrução Normativa e fiscalização das entidades certificadoras;

• exigência de que a certificação seja feita por entidades nacionais e sem fins lucrativos.

Desta forma, para certificar produtos brasileiros como orgânicos, a empresa certificadora deve estar instalada no país. Para cumprir esta exigência e, assim, ter acesso ao cenário de certificação nacional, as certificadoras reconhecidas no mercado europeu e americano estão se instalando no país.