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A admissibilidade da causalidade indirecta segundo o pressuposto do nexo de causalidade

II. A delimitação dos sujeitos titulares do direito a indemnização por dano moral a partir da

3. A admissibilidade da causalidade indirecta segundo o pressuposto do nexo de causalidade

A admissibilidade da reparação do dano sofrido por vítima que indirectamente foi atingida pelo facto depende do juízo formulado quanto à compatibilidade da causalidade indirecta com o pressuposto do nexo de causalidade entre o facto e o dano.

Ao tempo do Código Civil de 1867, a doutrina aceitou, de um modo geral, a causalidade indirecta, que entendeu não colidir com o requisito da pessoalidade do dano176 nem com o pressuposto do nexo de causalidade. Na verdade, a teoria da causa

dever jurídico de respeito por parte de todas as pessoas, distinguindo-o, com base neste critério, do direito relativo, cfr. CUNHA GONÇALVES, Tratado de Direito Civil em Comentário ao Código Civil Português, Vol XII, Coimbra, 1937, págs. 742 e a 753, onde trata desenvolvidamente o problema da "responsabilidade de terceiros na inexecução de contratos". Recusa esta responsabilidade MANUEL DE ANDRADE, Teoria Geral das Obrigações, I, cit., págs. 50 e segs. (como referimos, o autor admite, porém, em certos termos, a tutela do credor através da teoria do abuso do direito) e INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Manual de Direito das Obrigações, Tomo I, cit., págs. 68 e segs. Recusando que terceiro seja obrigado a reparar o dano causado ao titular do direito de preferência convencional, salvo abuso de direito, cfr. VAZ SERRA, Anotação ao Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 16 de Junho de 1964, in «Revista de Legislação e Jurisprudência», ano 98.º - 1965, n.º 3287, págs. 19 e segs. e Responsabilidade de terceiros no não cumprimento das obrigações, in «Boletim do Ministério da Justiça» n.º 85, págs. 345 e segs., onde sustenta a natureza relativa dos direitos de crédito, do que resultaria que a obrigação só poderia ser infringida pelo devedor. Sobre a contraposição entre direitos de crédito, enquanto direitos relativos, e direitos absolutos, no sentido tradicional, e a defesa da eficácia relativa da obrigação, cfr. ainda, VAZ SERRA, Obrigações – ideias preliminares gerais, in «Boletim do Ministério da Justiça» n.º 77, Junho de 1958, págs. 13 e segs. e pág. 121.

176 MANUEL DIAS DA SILVA afirmou que "o damno deve ser "pessoal", isto é, suportado pela pessoa ou bens

d’aquelle que pretende a reparação. Mas não é necessario para isso que o offendido tenha sido directamente atingido na sua pessoa e bens pelo facto criminoso; basta que tenha sido attingido indirectamente" (Estudo sobre a Responsabilidade Civil Connexa Com a Criminal, I, cit., pág. 201). A págs. 195 a 197 desta obra, o autor refere-se ao nexo de causalidade, considerando indemnizável o dano indirecto, desde que, sendo consequência do crime, não pudesse ter ser sido evitado e não derivasse de culpa do próprio lesado ou de terceiro. Também para GUILHERME MOREIRA, A indemnisação do damno pode ser exigida por qualquer pessoa que o haja soffrido, embora não seja a victima principal ou directa do facto illicito" (Estudo sobre a Responsabilidade Civil, in «Revista de Legislação e Jurisprudência», 38.º anno (1905), n.º 1637, pág. 83). Ao exemplificar o critério exposto, GUILHERME MOREIRA não desenvolve, no entanto, a ideia a propósito da responsabilidade delitual, apenas a concretizando com um exemplo aplicável à responsabilidade obrigacional. Atendendo a que estes dois autores, como vimos, não prescindiram do requisito da ilicitude e o identificaram com a violação do direito subjectivo, admitimos como interpretação correcta do seu entendimento a de que a vitima indirecta teria direito a indemnização se fosse titular de um direito subjectivo violado, ainda que indirectamente.

próxima177, que considera causa apenas a que está mais perto do resultado, levando a que

só sejam reparáveis os prejuízos que se seguem imediatamente ao facto e, assim, recusando a responsabilidade por danos indirectamente causados, foi criticada pela doutrina da época178. Contra a doutrina da causa próxima, vários argumentos foram

esgrimidos: as dificuldades que podem surgir para saber qual foi efectivamente a última condição; a inexistência de uma justificação objectiva, fundada nos princípios gerais da responsabilidade civil, para a adopção do critério segundo o qual causa é a que está mais próxima do resultado (arbitrariedade do critério do maior ou menor afastamento do facto relativamente ao prejuízo)179; o defeito de excluir a ponderação de outras circunstâncias

que podem determinar a responsabilidade de diversa pessoa180.

Na perspectiva do direito constituído, o Código Civil de Seabra, em matéria de responsabilidade delitual, limitou-se a determinar, pelo seu artigo 2361.º, que “todo aquele

que viola ou ofende os direitos de outrem, constitue-se na obrigação de indemnizar o lesado, por

177 Sobre a teoria da causa próxima ou doutrina da última condição, cfr., em particular, PEREIRA

COELHO, O nexo de causalidade na responsabilidade civil, cit., págs. 130 e segs.

178 Cfr. CUNHA GONÇALVES, Tratado de Direito Civil em Comentário ao Código Civil Português, vol. XII,

cit., pág. 448 e GUILHERME MOREIRA, que, sem criticar directamente a teoria da causa próxima, não aceita os seus corolários, admitindo a causalidade indirecta, ao escrever que "se deve considerar consequência necessária do facto illicito o prejuizo que, embora não seja immediato, tenha com elle relação de causalidade ou de relação logica" (in Estudo sobre a Responsabilidade Civil, in «Revista de Legislação e Jurisprudência», anno 38.º (1905), n.º 1632, pág. 3). Criticando a doutrina da causa próxima ou última condição, cfr. MANUEL GOMES DA SILVA, O dever de prestar e o dever de indemnizar, vol. I, cit., pág. 94; PEREIRA COELHO, O nexo de causalidade na responsabilidade civil, cit., pág. 132, e Obrigações, Aditamentos à Teoria Geral das Obrigações de Manuel de Andrade, por Abílio Neto e Miguel J. A. Pupo Correia, cit., págs. 455 a 457 e 468 e 469; MANUEL A. DOMINGUES DE ANDRADE, Teoria Geral das Obrigações, I, cit., pág. 353, INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Manual de Direito das Obrigações, Tomo I, cit., págs. 208 e 209. Afirmando que a teoria da última condição não teria sido aceite no Direito Português, cfr. FERNANDO PESSOA JORGE, Ensaio sobre os pressupostos da responsabilidade civil, cit., pág. 391 e 392.

179 Cfr. PEREIRA COELHO, O nexo de causalidade na responsabilidade civil, cit., pág. 132. Já MANUEL

GOMES DA SILVA criticara, igualmente, esta tese por conduzir ao arbítrio, ao não ser o critério do maior ou menor afastamento do acto relativamente ao prejuízo que pode oferecer justificação para a responsabilidade. Refere ser, em muitos casos, manifesta a responsabilidade do homem na produção de um prejuízo, em que o homem se limita a dar lugar a uma condição que, provocando o aparecimento de outras, vem originar necessariamente o dano (O dever de prestar e o dever de indemnizar, vol. I, cit., págs. 94 e 95).

180 Apresenta este argumento CUNHA GONÇALVES, Tratado de Direito Civil em Comentário ao Código

todos os prejuízos que lhe causa”. Por seu turno, em sede de responsabilidade contratual, o

artigo 707.º exigiu um nexo de causalidade necessária, ao estabelecer que “Só podem ser

tomados em conta de perdas e damnos as perdas e danos que necessariamente resultam da falta de cumprimento do contracto”. Este último preceito teve por fonte o artigo 1151.º do Código

Civil francês, mas diferentemente da lei francesa, o nosso código não utilizou a fórmula “consequência directa e imediata”, substituindo-a pela fórmula perdas e danos que necessariamente resultam da falta de cumprimento do contrato. A generalidade da doutrina entendeu que, ao não utilizar a fórmula do Code Civil, o artigo 707.º quis deixar claro que os prejuízos causados não seriam todos aqueles que como tais fossem considerados pela teoria da equivalência das condições, mas que, ao mesmo tempo, não fossem só aqueles que se seguem directa e imediatamente à inexecução do contrato181-182.

O artigo não poderia ser interpretado no sentigo de exigir que os prejuízos fossem uma consequência forçosa do inadimplemento, pois isso restringiria de um modo excessivo o conceito de causa. Na ausência de qualquer subsídio que pudesse retirar-se do artigo 707.º, para certos autores, haveria que integrar tal lacuna a partir da teoria da causalidade adequada, que o preceito não excluiria183. Ora, a doutrina que admitiu a doutrina da

181 Assim o refere PEREIRA COELHO, O nexo de causalidade na responsabilidade civil, cit., págs. 166 e

segs. e A causalidade na responsabilidade civil, em direito português, in «Revista de Direito e de Estudos Sociais», ano XII, 1965, n.º 3, pág. 47.

182 No que concerne ao requisito da imediação na responsabilidade obrigacional no domínio da

responsabilidade obrigacional, será de ressalvar a opinião de CUNHA GONÇALVES. Este autor parece exigir a causalidade directa no domínio da responsabilidade contratual, mas não para a responsabilidade extracontratual. Afirma, no que concerne à responsabilidade obrigacional, a pág. 416 do Tratado de Direito Civil em Comentário ao Código Civil Português, vol. XII, cit., que "O prejuízo deve ser efeito imediato do facto ilícito; mas o dano remoto ou indirecto, reflexo de outro prejuízo ou sofrido por outrem, não tem de ser indemnizado, porque falta neste caso um verdadeiro nexo de causalidade", conclusão que extrai do disposto artigo 707.º do Código. A pág. 736 do mesmo volume do seu Tratado, a propósito da responsabilidade pela inexecução do contrato, reitera a tese da não reparabilidade do dano indirecto, por lhe faltar o requisito de efeito necessário da inexecução.

183 Cfr. PAULO CUNHA, Direito das Obrigações. O Objecto da relação obrigacional, cit.: "Desde que, ocorrido

determinado facto, é normal produzir-se determinada consequência danosa, que a êsse facto se reconduz numa relação de causa a efeito, diz-se que tal consequência danosa "resulta necessàriamente" de tal facto, muito embora esta "normalidade" na verificação do fenómeno pressuponha a permanente ocorrência de certas circunstâncias que, por isso mesmo que fazem parte do normal condicionalismo das coisas humanas, não são consideradas como impeditivas do carácter necessário do nexo de causalidade. Por outras palavras: a causalidade há-de ser necessária, sim, mas no sentido de ser aquela causalidade que, segundo as normas da

causalidade adequada na vigência do Código de Seabra sublinhou que a “adequação pode perfeitamente coexistir com uma ligação apenas indirecta ou mediata entre o evento condicionante e o dano”184. O obrigado a indemnizar devia responder pelos danos

indirectos, até onde estes fossem consequência adequada da sua acção.185 Outros autores,

que não perfilharam a teoria da causalidade adequada à luz do Código Civil de 1867, admitiram, não obstante, a causalidade indirecta186.

experiência, é "normalmente adequada" para a produção dos prejuízos de que se trata. Como se verá (...) este entendimento da lei corresponde ao que se costuma chamar "teoria da causalidade adequada"" (págs. 359 e 360). Cfr. ainda, PEREIRA COELHO, Culpa do lesante e extensão da reparação, in «Revista de Direito e Estudos Sociais», ano VI, 1950-1951, págs. 68 e segs., em especial pág. 81 e 72 e segs.; MANUEL A. DOMINGUES DE ANDRADE, Teoria Geral das Obrigações, I, cit., págs. 351 e segs., em especial, págs. 362 e 363, e INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Manual de Direito das Obrigações, Tomo I, cit., 1965, págs. 209 e 210. Cfr. nos trabalhos preparatórios do Código Civil de 1966, a favor da teoria da causalidade adequada, VAZ SERRA, Obrigação de indemnização (Colocação. Fontes. Conceito e espécies de dano. Nexo causal. Extensão do dever de indemnizar. Espécies de indemnização). Direito de abstenção e de remoção, cit., pág 35.

184 PEREIRA COELHO, Obrigações, Aditamentos à Teoria Geral das Obrigações de Manuel de Andrade, por

Abílio Neto e Miguel J. A. Pupo Correia, cit., págs. 468 a 470 e A causalidade na responsabilidade civil, em direito português, in «Revista de Direito e de Estudos Sociais», ano XII, 1965, n.º 3, pág. 50, onde o autor refere igualmente a posição da jurisprudência, que seria favorável à causalidade indirecta.

185 PEREIRA COELHO, Obrigações, Aditamentos à Teoria Geral das Obrigações de Manuel de Andrade, por

Abílio Neto e Miguel J. A. Pupo Correia, cit., pág. 470, e O nexo de causalidade na responsabilidade civil, cit., págs. 149 e segs. Também VAZ SERRA, Obrigação de indemnização (Colocação. Fontes. Conceito e espécies de dano. Nexo causal. Extensão do dever de indemnizar. Espécies de indemnização). Direito de abstenção e de remoção, cit., págs. 45 e segs e A causalidade na responsabilidade civil, em direito português.

186 Assim, já MANUEL DIAS DA SILVA, Estudo sobre a Responsabilidade Civil Connexa Com a Criminal, I,

cit.. Este autor, a págs. 196 e 197, critica a teoria francesa de que só os danos que fosse consequência directa e imediata do crime obrigassem à reparação, dizendo: "Não nos parece inteiramente admissivel esta regra, pois se os damnos remotos não são consequencia necessaria do crime e podem ter outras causas, tambem podem não as ter e serem consequencia unicamente do facto criminoso, e é precisamente isto que tem de averiguar-se, pois, segundo a disposição do artigo 2361.º, cada um deve responder pelas consequencias prejudiciaes de que o seu facto foi causa. (...) Pondo de lado as difficeis e complicadas investigações e distincções em que se espraiam os estudos dos jurisconsultos sobre este argumento, julgamos admissivel perante o nosso direito a seguinte regra pratica: "Salvas as restricções dos artigos 2384.º a 2391.º, o criminoso deve reparar todos os damnos que forem consequencia do seu crime, e que, depois de commettido elle, não podiam ser evitados".Os damnos a que há dado occasião o crime, mas que derivam do dolo ou da culpa do proprio lesado ou de um terceiro, não devem imputar-se ao criminoso, e n'este sentido dizemos que este não é responsavel pelos damnos indirectos do crime; mas quando os damnos provierem, ainda que indirectamente, do crime, sem que possam imputar-se a facto ou omissão de outrem, não vemos por que o criminoso não deva responder por elles". Para GUILHERME MOREIRA, "do mesmo modo se deve considerar consequência necessária do facto illicito o prejuízo que, embora não seja immediato, tenha com elle relação de causalidade ou de relação lógica" (In Estudo sobre a Responsabilidade Civil, in «Revista de Legislação e Jurisprudência», anno 38.º (1905), n.º 1632, págs. 2 e 3). O autor perfilha a tese de que o autor do

facto ilícito deve ser responsável pelos prejuízos que sejam devidos a esse facto ou que não se haveriam dado, pela superveniência de causas fortuitas, se não fôra o facto ilícito; exclui a responsabilidade pelos prejuízos devidos a culpa da vítima ou de terceiro (Estudo sobre a Responsabilidade Civil, in «Revista de Legislação e Jurisprudência», anno 38.º (1905), n.º 1632, págs. 3 e 4). SIDÓNIO PEREIRA RITO apela ao bom senso do juiz para limitar a teoria da equivalência das condições e interpreta o artigo 707.º do Código Civil, aplicável à responsabilidade extracontratual, como obrigando a indemnizar os prejuízos que "inevitavelmente resultam do acto ilícito" (Elementos da responsabilidade civil delitual, cit., págs. 118 e 119). JAIME DE GOUVEIA aceitou a teoria da equivalência das condições e interpreta os artigos 707.º e 2361.º de acordo com esta teoria (assim, admite que o Código português determinara a reparação dos prejuízos directos e indirectos), apontando como crítica à teoria da causalidade adequada a sua complexidade na distinção entre efeitos normais e fortuitos e o não permitir determinar a proporção em que cada fenómeno entrou para a efectivação do prejuízo (Da responsabilidade contratual, cit., págs. 124 e segs., em especial pág. 130). CUNHA GONÇALVES, como escrevemos em nota anterior, parece exigir o requisito da imediação na responsabilidade obrigacional, mas já não no domínio da responsabilidade extraobrigacional, apesar de reconhecer que o disposto no artigo 707.º seria de aplicar à responsabilidade extracontratual, pela remissão ditada pelo artigo 2393.º do Código. Todavia, admite, a pág. 441, que na responsabilidade extracontratual a relação de causalidade se pode apresentar de modo mais complexo e variado e, quando a págs. 439 e segs. do mesmo volume do seu Tratado, trata, desenvolvidamente, o problema do nexo de causalidade, parece admitir a causalidade indirecta. Critica a teoria da causalidade adequada, considerando que esta doutrina restringe excessivamente a responsabilidade, confunde culpa e causa e não é susceptível de aplicar-se, segundo o autor, aos casos de responsabilidade objectiva. Perfilha a "teoria da causa eficiente" ou "causa geradora", isto é, "a causa que necessariamente produziu o prejuízo em questão".A "causa eficiente" é aquela que, pela sua simples acção, provocou o dano, quer isoladamente, quer com o concurso de certas condições, ou de uma ocasião excepcional. A condição não produz o efeito; agrava e favorece o dinamismo normal da causa, afasta os obstáculos que impediriam os efeitos (...). A ocasião não produz o dano ou qualquer efeito; mas prepara o terreno, torna-se propícia para um prejuízo diverso ou superior àquêle que seria o efeito normal da causa" (obra citada, págs. 448 e 449). Para esta teoria, e segundo o autor, o facto lesivo deveria ser tomado na proporção da sua eficiência para produzir o dano; havendo causas complexas, o juiz deveria apreciar a diversa eficiência de cada elemento, destrinçando o que provocou, o que apressou e o que agravou o dano, assim graduando as responsabilidades — esta equidade não seria permitida nem pela teoria da equivalência das condições, nem pela teoria da causalidade adequada. Elucida a tese que perfilha com o seguinte exemplo, que ilustra, quanto a nós, que o autor admite, afinal, a ressarcibilidade dos danos indirectos: "Esta questão ficará elucidada com o seguinte caso, que se discutiu na Bélgica: - Um rapaz teve morte trágica por facto ou culpa de certo indivíduo, contra o qual seus pais instauraram acção, exigindo-lhe indemnização, tanto pelo dano moral, como pela afecção nervosa e mental, que o pai passara a sofrer por efeito do desgôsto, - doença de longa e difícil cura. O tribunal concedeu a reparação do dano moral, mas recusou a da afecção mental, já por se ter provado que o pai do morto tinha predisposição mórbida, já porque, na quási totalidade dos pais, a dor não causa tal abalo de saúde, e assim faltava o nexo de causalidade, isto é, não se mostrava que a dor fôra a causa eficiente da referida doença. Ora, segundo a teoria da equivalência das condições, o prejuízo da doença deveria ser reparado. Em Portugal, em face dos arts 707.º e 2393.º do presente Código, ter-se-ia de julgar, igualmente, que a doença mental do pai não resultou necessariamente da morte trágica do filho. Contudo, a reparação seria devida desde que se provasse que a dor "agravou" e "antecipou" o efeito da predisposição patológica" (págs. 449 e 450). Cfr. ainda, Tratado de Direito Civil em Comentário ao Código Civil Português", Coimbra Editora, 1937, pág. 404, onde CUNHA GONÇALVES se refere às vítimas indirectas ou por ricochete, sem, contudo, referir, qual o seu entendimento àcerca da reparabilidade deste dano. MANUEL GOMES DA SILVA considera

4. A delimitação do dano indemnizável: se os pressupostos do nexo de