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A Ambição Primeira, as Dinâmicas Colaborativas/Cooperativas

Profissional de Futuros Professores

3. A Relação entre a Escola e a Universidade no MEEF

3.2. As Práticas de Formação

3.2.4. A Ambição Primeira, as Dinâmicas Colaborativas/Cooperativas

No seguimento das alterações introduzidas pelo processo de Bolonha na formação inicial de professores, a alteração da responsabilidade do processo dos estágios pedagógicos passou para as Universidades e Agrupamentos de Escolas e deixando de estar na alçada das Direções Regionais de Educação. Com esta alteração, a responsabilidade da formação dos professores cooperantes, a haver, passou, também ela, a estar sob a responsabilidade das Faculdades com quem as Escolas ou Agrupamentos de Escolas estabelecem os protocolos no âmbito do estágio pedagógico. As reuniões de agrupamento com caráter formativo procuram ir ao encontro dessa necessidade mas são também fruto de um desiderato que a própria coordenação do estágio pedagógico do MEEF possui para o seu bom funcionamento.

As reuniões de agrupamento com caráter formativo são momentos especificamente planeados onde se os objetivos passam pela análise e reflexão conjunta: das atividades e processos de supervisão do estágio pedagógico; das demais práticas que possa ser necessário uniformizar - os processos de aferição de critérios de avaliação será talvez o mais reportado neste processo -; ou, eventualmente, analisar e discutir a diversidade de práticas e de experiências que ocorrem no desenvolvimento do estágio pedagógico nas diferentes escolas em que ele decorre. Podem existir ainda outros momentos de formação, e que se reportam à eventual necessidade de fornecer formação a novos orientadores e professores cooperantes mas, atualmente, já não se desenrolam no âmbito das reuniões de agrupamento.

Se os objetivos mais imediatos para a realização das reuniões de agrupamento com caráter formativo são a procura de um conhecimento comum que oriente as práticas, o propósito primeiro

passa mesmo pela possibilidade de implementação de dinâmicas de trabalho cooperativo entre a coordenação do estágio pedagógico, orientadores universitários - Universidade - e os professores cooperantes - Escolas e Agrupamentos de Escolas. A assunção da paridade, entre todos os orientadores, assume um peso fulcral neste processo de relacionamento entre a Faculdade e as Escolas. A promoção de uma cooperação interinstitucional passa pela concretização de dinâmicas organizativas e de trabalho colaborativo entre todos aqueles que se encontram envolvidos na orientação e supervisão do estágio pedagógico do MEEF. E este é um sentimento que perpassa por todos os intervenientes, seja na sua configuração, como por exemplo:

Temos também as reuniões de formação, em que a tipologia de formação decorre do trabalho de grupo, da síntese do trabalho de grupo, apresentação das conclusões e depois ilações em conjunto, no grupo mais alargado...o que me parece adequado; estamos entre formadores, toda a gente já tem alguma experiência e então vamos ver entre colegas como se fazem as coisas... (OE-SH)

Seja mesmo no seu conteúdo:

..., lembro-me de uma reunião formativa que foi sobre a análise de um plano de unidade de ensino, em que identificámos as coisas que faltavam, as coisas que estavam bem, aquilo que para nós era considerado um ponto de excelência do documento, etc. Eu acho que isso é bom, é bom para todos podermos olhar para as coisas com um olhar idêntico. (OE-DL)

A reciprocidade das relações interinstitucionais está também presente na forma como as reuniões de agrupamento são entendidas e do grau de importância que assumem no processo de construção da ação coletiva. As vozes a favor desta lógica de ação para o trabalho entre orientadores de faculdade e professores cooperantes surgem de ambos os parceiros de orientação e supervisão do estágio pedagógico:

[A] solução está na formação recíproca, não tenho assim muitas dúvidas sobre isso. Cada vez mais temos que entender que a experiência de cada um tem que ser divulgada e que as pessoas têm que intervir no sentido de se formarem umas às outras, não temos que estar à espera que venha uma grande formação para resolver os nossos problemas. A solução para os nossos problemas de supervisão passam um bocado por nós e pela nossa dinâmica de intervenção entre nós, é importante que sejamos capazes de resolver isso um bocado internamente não é. Pronto, às vezes as rotinas e o acumular de de determinados assuntos tantas vezes, leva-nos a ficar mais calados e não participarmos tanto, temos que ser espevitados, e estas reuniões têm esse condão (OF-FL)

No entanto, parece existir no seio dos orientadores um certo saudosismo de um período em que as reuniões de agrupamento com caráter formativo eram mais profícuas e contribuíam de outro modo para uma melhoria das práticas de orientação de estágio:

Relativamente aos meus parceiros, aos meus pares orientadores de escola, eu acho, eu acho que, neste momento, existe muito pouco trabalho. O que é que eu quero dizer com isto, e eu já ando nisto há dez anos; houve uma altura em que se conseguia fazer muitas reuniões, onde se tentava definir critérios, onde se discutia planeamento, onde era possível discutir em conjunto as dificuldades e as estratégias para as ultrapassar; mas isso teria que ser um processo a médio ou longo prazo, que neste momento não se faz e não parece haver tempo para se querer fazer. (OE-JM)

O sentimento de perda em relação ao que existia a este nível há uns anos atrás, acaba por conduzir a uma perceção de que seria necessário existir uma mudança na lógica organizativa e metodológica na tipologia de reuniões:

Também sinto que há uns anos a parte formativa era convocada posteriormente, após uma perceção das necessidades; que tal se fizéssemos esta formação? Havia formação nas próprias matérias, mas tudo isto acabou, o que significa que a disponibilidade de tempo para o processo de quem está a coordenar deve ter diminuído (...) às vezes diz- se, sim senhor havemos de reunir para resolver isso e depois não acontece, (...). As condições que existiam não são mais as mesmas, mas continua-se a fazer tudo com o mesmo modelo, que já não é adequado (OE-SH)

Ainda assim estas reuniões de agrupamento constituem-se como uma oportunidade para construir algo em comum entre todos os orientadores do estágio pedagógico e, nesse processo de construção conjunta, vão estabelecendo as relações de reciprocidade que sustentam muito do valor que se atribui à formação no estágio pedagógico do MEEF:

Acho que isto que eu sinto, e tenho falado com todos os orientadores, e acho que é partilhado por todos. (...) O que nos move a continuar como orientadores de estágio é muito também isto, é o crescimento profissional e não nos sentirmos a estagnar que permitem a partilha de ideias entre aquelas vinte pessoas que ali estão envolvidas no processo. E com quem lidera o processo também, tem sempre aquela preocupação em que aquilo seja útil, que nós não continuemos a repetir ano após ano sempre os mesmos padrões, os mesmos modelos, mas que haja uma inovação saudável e com conta peso e medida. (OE-RJ)

O entendimento de que a qualidade da formação dos estudantes do MEEF, particularmente no âmbito do estágio pedagógico, procura suportar-se na consolidação de uma comunidade de prática entre os profissionais da FMH leva a que se procure constantemente a realização de atividades onde o fator cooperação esteja presente nas práticas de todos os membros integrantes desta comunidade:

As reuniões de agrupamento também me trouxeram essa sensibilidade que, por um lado há um padrão, uma matriz de conjunto que nos ajuda a perceber o caminho que vamos fazer, mas também, depois, ver em função deste contexto, que há coisas que nós temos que dar uma margem para definir então o que é podemos fazer, até onde é que podemos desviar, sem ferir o compromisso coletivo. São compromissos de um grupo, eu faço parte do grupo e não posso deixar que a minha perspetiva se

sobreponha à do grupo, outras vezes não posso deixar de valorizar o facto de ser diferente do grupo, e eu tenho que ser convencido que a minha perspetiva não é a melhor, mas isso demora muito tempo, e quantos mais somos mais temos que (nos reunir) para nos convencer (OF-JN)

A estrutura em agrupamentos e a sua concretização nas reuniões, mais do que uma forma de organização e procura de eficiência no funcionamento das atividades do estágio pedagógico, pretende introduzir dinâmicas de reciprocidade nas relações, entre orientadores de faculdade e os professores cooperantes das escolas básicas e secundárias, onde o trabalho de orientação e supervisão no estágio pedagógico possa ser efetuado conjuntamente onde o fator cooperação é afinal o mote principal.

3.2.5. As Visitas Interescolas - Dos Documentos Orientadores às Orientações

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