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Conhecimento do aluno e dos seus processos de aprendizagem

Profissional de Futuros Professores

4. Desenvolvimento do Conhecimento Didático

4.1. Conhecimento do currículo

4.1.1. Conhecimento do aluno e dos seus processos de aprendizagem

Os processos de aprendizagem e as dificuldades dos alunos são aspetos amplamente discutidos e analisados no primeiro semestre na Iniciação à Prática Profissional. Como já foi mencionado, os mestrandos vão a uma escola realizar uma entrevista a um professor cooperante e aos seus alunos, tendo como foco as aprendizagens e dificuldades dos alunos, conforme dão a conhecer nas reflexões escritas:

Estes contactos deram para nos inteirarmos das dificuldades sentidas por ambos os lados, alunos e professores, percebendo que é necessário aprender a arranjar estratégias para ultrapassar essas dificuldades (…) quando pensava nas aprendizagens centrava-me nos conteúdos científicos e a entrevista à professora permitiu-me perceber que os alunos nas aulas de Física e Química também aprendem questões sobre os processos da ciência, etc. (…) as entrevistas aos alunos foram importantes porque ficamos a conhecer algumas das [suas] dificuldades sobre as forças. (Inês, IPPI, 2013)

A reflexão de Inês, apesar de não aprofundar os aspetos que aprendeu sobre como os alunos aprendem e pensam, dá a entender que a iniciação à prática profissional I lhe permitiu desenvolver o seu conhecimento neste domínio. O exemplo que se segue também é revelador desse desenvolvimento.

A segunda visita à escola surgiu com a entrevista à professora cooperante. Para além de ter aprendido e observado como se desenvolve uma entrevista individual semiestruturada, conheci a perspetiva que a professora tem dos seus alunos, as caraterísticas das suas duas turmas, conheci (…) os fatores que considera que condicionam a aprendizagem dos alunos. Com esta entrevista retirei alguns ensinamentos que penso que me irão acompanhar na minha futura carreira profissional, dos quais destaco: (i) a importância dos professores olharem mais para as dificuldades dos alunos; (ii) a importância da partilha de experiências entre os professores e (iii) a importância da utilização do ensino por investigação. (Mafalda, IPPI, 2013)

Nestas duas reflexões podemos verificar que o trabalho desenvolvido durante o primeiro semestre foi crucial para uma tomada de consciência sobre a importância de o professor estar atento às aprendizagens e dificuldades dos alunos. Contudo, à semelhança de Inês também Malfada não aprofunda na sua reflexão o que aprendeu sobre o modo como as entrevistas lhe permitiram compreender como os alunos aprendem e pensam.

O aprofundamento destas questões foi possível no segundo semestre, mas foi mais evidente no terceiro e quarto semestres com o planeamento, lecionação de aulas e reflexão sobre o trabalho desenvolvido. As reflexões escritas dos futuros professores são uma evidência, como mostram os exemplos que se seguem:

Aprendi a importância de analisar e refletir sobre o que os alunos aprendem e como aprendem e as dificuldades que sentem quando resolvem as tarefas que lhes propomos. Por exemplo, os alunos aprendem sobre densidade através de uma tarefa de investigação onde têm que formular um problema, colocar hipóteses, delinear um plano, experimentar, interpretar resultados, tirar conclusões. Neste processo tiveram dificuldades e tive que adoptar estratégias para os ajudar, por exemplo fui de grupo em grupo para tirar dúvidas e colocar questões (…) tenho experiência de ensino e nunca tinha pensado nestas questões desta forma e em definirmos estratégias que os ajudem a aprender e superar as dificuldades. (Ricardo, IPPIII, 2013)

Na reflexão de Ricardo é evidente que há um aprofundamento sobre o modo como os alunos aprendem. Essa compreensão permitiu que Ricardo apoiasse os seus alunos, recorrendo a estratégias que lhe permitiram ajudá-los a superar as suas dificuldades. Pela sua reflexão, nota-se que há um desenvolvimento do seu conhecimento durante a iniciação à prática profissional, pois tal como refere já tem “experiência de ensino e nunca tinha pensado nestas questões”. Nas reflexões dos relatórios de ensino da prática supervisionada este desenvolvimento também está presente. Os dois excertos que se seguem são uma evidência disso mesmo.

Os alunos, habituados a um ensino expositivo e centrado no professor, sentiram algumas dificuldades em assumir um papel mais ativo na sua aprendizagem. Contudo, com o decorrer das tarefas [mais desafiantes] foram conseguindo ultrapassar estas

dificuldades, constituindo os obstáculos enfrentados uma forma de aprendizagem que permitiu o desenvolvimento e aquisição de competências, ao nível dos domínios do conhecimento, raciocínio, atitudes e comunicação. A palavra “dificuldade” passou a ser vista como um desafio e promotora da aprendizagem. A mobilização de conceitos científicos e as várias estratégias usadas pelos alunos, como a pesquisa de informação e a partilha de ideias, apontaram também nesse sentido. (Alda, IPPIV, 2012)

No início da intervenção foi evidente que os alunos estavam pouco familiarizados com este tipo de estratégias [tarefas mais desafiantes], o que se traduziu num conjunto de dificuldades, como por exemplo, interpretar questões, trabalhar em grupo ou gerir o tempo disponível para a realização das tarefas. No entanto, estas dificuldades foram sendo superadas e os alunos reconheceram que ao realizarem este tipo de tarefas, desempenharam um papel mais ativo em sala de aula o que foi facilitador da sua aprendizagem. (Sandrina, IPPIV, 2014)

Nos dois exemplos anteriores, nota-se que há um reconhecimento de que tarefas com um grau de desafio maior para os alunos conduzem a dificuldades que constituem oportunidades de aprendizagem. Além disso, a atenção que os mestrandos passaram a dar às dificuldades dos alunos permitiu-lhes planear formas de ação adequadas para dar resposta aos obstáculos, como referiu uma futura professora “para os ajudar [os alunos] coloquei questões de grupo em grupo e promovi um momento de partilha em turma” (Maria, IPPIII, 2014). Estas estratégias ajudaram os alunos a superar as dificuldades e fomentaram a sua aprendizagem.

À semelhança do que aconteceu com o desenvolvimento do currículo, também o conhecimento dos alunos e dos seus processos de aprendizagem foi gradualmente evoluindo do primeiro para o quarto semestre. No primeiro semestre, os futuros professores começam a reconhecer a importância do professor estar atento ao que os alunos aprendem e ao modo como pensam e, nos dois últimos semestres, desenvolvem um conhecimento mais aprofundado sobre estes aspetos.

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