• Nenhum resultado encontrado

Os Orientadores, uma “Colaboração Confortável”

Profissional de Futuros Professores

3. A Relação entre a Escola e a Universidade no MEEF

3.1. O Contexto da Formação Dos Constrangimentos Institucionais aos Processos Facilitadores no Grupo de Trabalho

3.1.10. Os Orientadores, uma “Colaboração Confortável”

A última dimensão que define contextualmente a qualidade da relação FMH e a rede de escolas cooperantes surge no âmbito do seu corpo de orientadores de faculdade e de escola. Como já foi

referido, a coordenação valoriza, em partes iguais, o campo profissional e o campo académico, numa lógica de integração da teoria e da prática em qualquer um desses campos. É na base deste princípio que se procura construir um entendimento comum sobre quais são as grandes caraterísticas dos processos de supervisão. Segundo os orientadores, o grau deste entendimento depende dos processos específicos para o efeito e das oportunidades decorrente da permanência dos orientadores neste projeto: “…uma certa estabilidade desse corpo docente. É importante não estarmos a começar as coisas sempre do zero, essa estabilidade permite avançar para patamares de crescimento importantes e decisivos…” (OF-FL).

Quando esta estabilidade não pode ser totalmente assegurada, os novos elementos são imediatamente acolhidos e integrados em todos os processos de formação:

Não há uma estabilidade completa no corpo de orientadores, e eu penso que é... dentro dos aspetos mais positivos está a forma como são recebidos, como são integrados os orientadores novos, e como se procura tentar transmitir a esses orientadores aquilo que é o processo de estágio… (OF-SF)

De facto, este cuidado reflete-se na maneira como os orientadores percecionam os traços de identidade comuns no grupo, particularmente importantes no que respeita ao ensino da Educação Física e, naturalmente, da própria atividade de supervisão, apesar de também se evidenciarem algumas possibilidades de desvio.

Sobre o ensino da Educação Física transpareceu a ideia de que a identidade construída no estágio pode sustentar a forma de pensar e agir dos professores desta área disciplinar:

eu acho que isto tem revolucionado a Educação Física e a qualidade do seu ensino...desde que comecei a lecionar tenho assistido a uma verdadeira revolução do ensino da EF e o processo de estágio tem tido um grande contributo nisso, da prática profissional... (OC-SH)

Ou,

…a oportunidade que todos nós temos de falar entre nós e discutir entre nós assuntos da Educação Física, portanto é sempre uma coisa boa, não é. No momento em que as escolas, às vezes, negligenciam esse aspeto, portanto só essa oportunidade é uma coisa boa, portanto um grupo, restrito que seja, pelo menos é um grupo de reflexão sobre aquilo que se anda a fazer… (OF-FL)

Da mesma forma, subsiste a ideia de que há um entendimento comum e uma coesão entre os orientadores sobre a conceção e práticas de supervisão:

(...) estamos a apontar no mesmo caminho, apesar de, depois, do ponto de vista operacional hajam alguns desfasamentos em relação à forma como nós vemos aquilo que deverá ser a operacionalização... (OF-JN)

Estes elementos articulam-se com o clima positivo que é identificado pelos orientadores através do qual se fortalece a relação entre a FMH e as escolas cooperantes, na medida em que, “Entre os orientadores, o ambiente informal não põe em causa o rigor e um certo criticismo no tratamento dos assuntos. ” (OF-JN), passível de ser aprofundado da seguinte forma:

Há um clima que se foi criando, um clima positivo que é muito favorável ao bom funcionamento do estágio, tem a ver com as pessoas e com a aproximação das pessoas, a identificação com aquilo que fazemos, que acho que é muito produtivo. (OC-DL)

Contudo, também são salientados alguns aspetos que carecem de melhoria como, por exemplo, os níveis de envolvimento diferenciados dos diferentes orientadores, por vezes traduzidos em diferentes níveis de exigência: “Depois, quando nós vamos querer aferir o trabalho que os colegas desenvolvem na sua escola, com os parâmetros que uso para a minha escola, aí é que começa o perigo...da comparação exagerada...” (OF-JN), ou,

É completamente diferente o grau de envolvimento de uns e de outros (orientadores de faculdade), em termos de relação com os estagiários, comprometimento com a tarefa, etc. (….) Acho que os orientadores da faculdade, tal como os orientadores da escola também têm de estar absolutamente sintonizados com o que são as tarefas e as exigências do estágio. (OC-DL)

Isto significa que, sendo a diversidade valorizada pelos orientadores, e apesar dos aspetos positivos que fortalecem e protegem o grupo de condições externas, é preciso cuidar permanentemente das suas condições socioprofissionais para que o processo se mantenha a avançar no sentido da melhoria. Surge assim um segundo aspeto desta dimensão dos orientadores que é dirigido aos processos de gestão da supervisão pedagógica.

Como referimos, é necessário que o processo de supervisão pedagógica se desenvolva sob alguma harmonização entre os orientadores, embora sem comprometer a sua necessária inovação pedagógica. Neste processo, foi reportada a necessidade de assegurar a estabilização de rotinas comuns e de um tempo para refletir autonomamente sobre o seu valor:

…há sempre aqui uma questão que, que vai ficando normalmente para trás, que é a questão das rotinas que as pessoas vão ganhando e das oportunidades de formação que, que vão sendo dadas, às vezes, para....para não cairmos nessa rotina, não é, (…) portanto não há dúvida que as pessoas, e uma pessoa como eu que já cá ando há uns anos nisto, temos que ter, temos que ter oportunidade de, às vezes, parar um bocadinho para pensar… (OF-FL)

A superação dos possíveis problemas da rotinização destes processos e de outros que vão sendo identificados, assenta em momentos de formação recíproca que valorizam o conhecimento e experiência de cada orientador, como por exemplo: “Portanto, essa partilha que não é propriamente a do especialista que vai ali debitar ou ensinar como é que devemos funcionar, mas sim como é que nós, a partir de exemplos concretos, podemos estar mais sintonizados…” (OC-DL). Nas referências aos processos comuns de inovação e aprendizagem, são indicados aspetos que carecem de melhoria, relacionados com a logística da supervisão e com a rentabilização da formação recíproca dos orientadores, como:

Acho que deveria ter sido um processo mais contínuo e devia ter sido fechado, nunca chegou a ser fechado. (…) na última reunião estava-se a discutir o que é que é o intervalo da avaliação, mas não se chegou a conclusão nenhuma. (OC-JM)

Ou,

Portanto, nós temos procurado fazer alguma formação a nível interno, e face aos orientadores, mas penso que não se têm tocado nalguns aspetos fundamentais e não tem sido possível aprofundar, tanto como seria desejável, (…) portanto sendo todos orientadores do mesmo estágio, não é, há coisas em que poderíamos ser mais articulados e mais, digamos, uniformizadas e, portanto, mais articuladas… (OF-SF)

Em suma, ao nível geral dos processos que gerem o estágio pedagógico, os orientadores referenciam pontos que ajudam a definir algumas práticas mais consolidadas e outros que permitem avançar para novas ou afinamento das existentes, mas que, no conjunto, carecem, tal como nas caraterísticas do grupo, de cuidado regular para garantir a sua eficácia. Neste conjunto de pontos de melhoria, são destacados aspetos tacitamente reconhecidos e percebidos como pouco trabalhados, traduzindo a ideia de “colaboração confortável” lançada por Fullan e Hargreaves (2001). Todavia, é importante destacar a perceção partilhada da equidade de participação e responsabilidade de decisão dos orientadores, independentemente da sua relação institucional com a FMH, partindo da valorização individual de cada um para a construção do saber e identidade coletiva, em prol de uma melhor formação dos estudantes.

De seguida, passamos a apresentar a segunda grande dimensão de relação entre a FMH e a rede de escolas cooperantes, ou seja, as práticas de formação.

Documentos relacionados