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A Força Motriz As Dinâmicas Avaliativas

Profissional de Futuros Professores

3. A Relação entre a Escola e a Universidade no MEEF

3.2. As Práticas de Formação

3.2.3. A Força Motriz As Dinâmicas Avaliativas

Como já mencionado anteriormente, as reuniões de agrupamento dedicadas ao processo de avaliação da formação dos estagiários são as únicas que estão formalmente assumidas nos documentos orientadores do estágio pedagógico. A par da reunião da comissão de estágio no início do ano letivo, as reuniões de avaliação intermédia e de final de ano são as únicas que, em todo os anos letivos, tem sempre agendamento definido no calendário anual do estágio pedagógico. Orientadores de faculdade e cooperantes têm formalmente definidas, no guia de estágio pedagógico (FMH, 2015), a(s) tarefa(s) de produção em conjunto de um relatório de avaliação para cada uma das três etapas de formação dos seus estagiários. Além dessas tarefas, a perceção generalizada de que é esta a tipologia de reuniões de agrupamento que mais mobiliza a participação dos orientadores e a maior atenção dos orientadores para os assuntos da avaliação fica explícita no momento em que se pronunciam acerca das reuniões de agrupamento porque ‘as reuniões que temos agora são quase só avaliação’, ‘ocupam a maioria do tempo das reuniões de agrupamento’, e esse é ‘um dos assuntos sempre tratados nas reuniões de agrupamento’.

A definição da agenda avaliativa como o motor principal da dinâmica de funcionamento das reuniões de agrupamento parece decorrer mais da sua complexidade e necessidade em fazê-lo bem e de modo participado, do que apenas no estrito cumprimento das tarefas definidas nos documentos orientadores.

É na importância dessa dimensão de partilha e da construção conjunta dos processos resultantes da formação dos estagiários e de todo o estágio pedagógico que estas reuniões de agrupamento parecem, de facto, ganhar uma maior relevância, no dizer de uma das orientadoras de estágio, elas...

são fundamentais porque os orientadores partilham, não só os resultados, ou o trabalho com os estagiários, mas também a forma como foram feitas as avaliações, as dificuldades que ambos tiveram em produzir esse trabalho, portanto estas reuniões são, digamos, imprescindíveis. (OF-SF)

Para alguns orientadores, estas reuniões de agrupamento são motivo para o envolvimento de todos na procura de um entendimento comum do que devem ser os processos avaliativos, sendo que este caminho conjunto visa simultaneamente a construção de uma intervenção que se possa estender a toda a dinâmica de intervenção no estágio pedagógico:

há uma preocupação entre todos os orientadores numa situação de aferição de critérios e tentarmos ter, no meio de pessoas tão diferentes, tentarmos ter um tronco

comum de atuação, um tronco comum de avaliação, um tronco comum de intervenção com os estagiários. (OE-RJ)

As dinâmicas de avaliação que se vêm estabelecendo no estágio pedagógico têm o seu momento mais globalizante em sede de reuniões de agrupamento, tratando-se de verdadeiros momentos de discussão e reflexão conjunta:

...vou dar um exemplo deste ano, antes da avaliação, da 1ª avaliação intercalar, tivemos uma reunião de reflexão e de debate e de partilha em que o tema, e onde só estavam orientadores, o tema foi precisamente a 1ª avaliação intercalar. A questão dos níveis, a questão do que é que é e do que deve orientar a nossa ação nessa matéria. E para quê? Para podermos conversar sobre os critérios, aferir melhor os critérios de avaliação. (OE-DL)

Além de entendidos como momentos exemplares, eles chegam a ser desejados como lógicas de ação que se estendessem a outras áreas de funcionamento das escolas, pois tratam-se simultaneamente de:

Um exemplo de como as coisas funcionam e como as coisas podiam funcionar, é pena que não funcionem assim nos outros panoramas da escola. (...). E este tipo de questão se não for refletiva, se não for debatida, existirá sempre, como existe sempre nos processos de avaliação. Portanto, eu estou a dar este exemplo porque ilustra bem aquilo que normalmente se faz que é haver a construção conjunta, como já se fez para o planeamento, como se fez para o plano individual de formação, uma reflexão sobre o que é que se pretende, como se fez para os relatórios finais de estágio. (OE-DL)

Estas lógicas de ação recusam de algum modo a ideia de que se trata de um processo em que o suposto especialista da Universidade tem um conhecimento que pode fornecer aos seus parceiros nas escolas básicas e secundárias como nos destaca um dos professores cooperantes de uma das Escolas que há mais tempo colabora com a FMH no acolhimento da formação dos estagiários:

Portanto, essa partilha que não é propriamente a do especialista que vai ali debitar ou ensinar como é que devemos funcionar, mas sim como é que nós, a partir de exemplos concretos, podemos estar mais sintonizados, é um modelo que tem muito a ver com as reuniões de agrupamento. (OE-DL)

Se a comunhão de ideias sobre a importância destas reuniões de agrupamento existe de forma generalizada entre todos, e nos professores cooperantes que há mais tempo colaboram com a FMH na construção e consolidação deste modelo de formação dos estagiários, é os que há mais tempo estão envolvidos nesta lógica de ação coletiva que os ecos da erosão do tempo e da rotina com efeito nefasto que estas reuniões de agrupamento mais se parecem sentir. É uma sensação de desgaste e de frustração com os procedimentos e metodologias utilizadas que perpassa:

...,neste momento, estou a falar neste momento, trabalho de grupo não existe! Eu já estou há, talvez, mais de dez anos neste trabalho e agora faz-se muito pouco. Talvez porque não há tempo, deixámos de ter horas [para a orientação dos estagiários], mas isso também não pode ser desculpa; podíamos aferir a partir de temas, problemas e dificuldades que cada um tinha e depois, cada qual sugerir estratégias; na última reunião esta a discutir-se os critérios de avaliação, mas não se chegou a concluir na reunião,... (OE-JM)

Mas é igualmente uma certa incapacidade de lidar com as rotinas que o modelo de análise e reflexão em torno da avaliação dos estagiários suscita no funcionamento destas reuniões de agrupamento:

...acho que há um processo que sinto estereotipado. A avaliação tem que seguir alguns requisitos: a autoavaliação dos estagiários, a reunião com orientador da faculdade, o relatório conjunto que deve seguir para a comissão, ...; e é o que fazemos! A seguir, [nas RA] cada um de nós orientadores de escola faz um balanço das avaliações, depois o orientador de faculdade faz um balanço das avaliações...; eu entendo que isto é necessário, quando são 10 ou 20 escolas e que cada um de nós tem que fazer este balanço, mas depois uns falam imensíssimo, outros falam pouco, e este processo não está balizado...às tantas parece que estamos a falar para nós próprios e que o resto do fórum pouca atenção nos presta porque,...vezes dez a falar da Maria, do Manuel, do António, que não conheces...torna-se um pouco fastidioso e eu não percebo bem...quer dizer percebo, que o coordenador precisa de estar atento a este relato individual de cada um dos orientadores...percebo que haja necessidade de conhecer o que se passa no terreno...mas as coisas podiam ser diferentes... (OE-SH)

As reuniões de agrupamento onde as dinâmicas avaliativas estão presentes podem constituir- se como momentos em que a partilha e colaboração entre os orientadores universitários e os professores cooperantes das escolas extravasam a reflexão em torno da avaliação dos estagiários:

Permitem-nos estar muito aferidos em relação a muitos aspetos e pronto, são mesmo muito importantes. São estes os momentos em que nós partilhamos as nossas dúvidas, as nossas questões, em que nós tomamos decisões em conjunto, fazemos interpretações em conjunto daquilo que está escrito, não é, porque há muitas decisões que estão tomadas ao nível do guia, mas uma coisa é estar escrita e outra coisa é nós discutirmos qual é o nosso entendimento sobre aquilo que está escrito. Portanto estas RA são momentos muito importantes de crescimento de cada orientador individualmente, e também dos orientadores como grupo. (OF-SF)

É o crescimento do grupo enquanto corpo coletivo, embrenhado na construção da formação de outros, mas que simultaneamente amplifica a dimensão da partilha e do crescimento coletivo nestas reuniões de agrupamento. Nesses momentos, o que parece ressaltar são respingos de um sentimento de identificação coletiva em torno de princípios, valores e metodologias comuns e, com eles, uma maior agregação de ideias no grupo em presença. É no fundo o que nos deixam as

palavras de um dos professores cooperantes que há mais tempo está envolvido nesta dinâmica de colaboração entre a faculdade e as comunidades escolares:

A avaliação, não só a avaliação dos números mas a avaliação em si, do processo que fazemos, o acompanhamento do estágio, etc. Acho que essa partilha é fundamental para haver um grande tronco de identidade que eu acho que vai surgindo. (OE-DL)

As reuniões de agrupamento enquanto espaço de debate acerca dos processos avaliativos são também o despoletar de outra tipologia de reuniões e que se ligam mais com as necessidades formativas do grupo. Nelas se procuram potenciar a ação coletiva onde as dinâmicas colaborativas possam estar permanentemente a ser implementadas.

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