• Nenhum resultado encontrado

A análise realizada permitiu verificar que no Mestrado em Ensino da Biologia e da Geologia se procura fomentar a inter-relação teoria e prática atuando em diferentes

dimensões. Numa primeira dimensão, procura-se potenciar, nos futuros professores, a vivência de experiências de aprendizagem, em diferentes contextos, onde os mestrandos sejam envolvidos no desenvolvimento de tarefas de natureza investigativa, baseada em problemas concretos e reais. Destas experiências, sobressaem as aulas de campo, onde é promovido e estimulado um diálogo permanente entre a formação didática e a formação científica. No entanto, um aspeto talvez menos conseguido nesta dimensão, seja exatamente a promoção de um maior diálogo entre as áreas científicas envolvidas, Biologia e Geologia, ou seja a promoção no futuro professor do desenvolvimento de práticas que fomentem o diálogo interdisciplinar.

Numa outra dimensão, procura-se promover uma compreensão mais aprofundada por parte dos mestrandos sobre a natureza do conhecimento científico e acerca das práticas e processos de fazer ciência. No entanto, observam-se algumas dificuldades por parte dos futuros professores, na operacionalização de situações de aprendizagem que integrem a Natureza da Ciência em diferentes contextos, pelo que poderão ser incrementadas e diversificadas tarefas em que tal operacionalização é problematizada.

Transversalmente a estas duas dimensões, neste Mestrado aposta-se fortemente na reflexão sobre a prática como eixo estruturante de toda a atividade do futuro professor desde o início da sua formação, através da vivência de situações escolares reais, com base nas quais o mestrando é desafiado a analisar, refletir, questionar e intervir. Este trabalho organiza-se segundo um processo de trabalho que segue um modelo em espiral (muito próxima da “abordagem realista” tal como descrita por Korthagen et al., 2001), tendo como ponto de partida problemas concretos, que surgem em contextos reais, e desenvolvendo-se com base na partilha e interação entre todos os envolvidos. Neste caso, existem alguns aspetos que poderão ser melhorados, nomeadamente através de uma melhor articulação entre a componente da escola e da universidade, através de um trabalho mais próximo com os professores cooperantes.

A análise realizada sugere que o Mestrado em Ensino da Biologia e da Geologia apresenta uma estrutura integrativa entre a teoria e a prática, tendo como principais estratégias, a vivência de situações reais, nas quais os futuros professores são chamados a questionar, investigar e/ou intervir, e a promoção de uma reflexão sistemática por parte dos mestrandos acerca dos seus próprios sentimentos, pensamentos e comportamentos,

e na sua inter-relação. No entanto, desta análise é possível identificar alguns aspetos menos conseguidos, nesta procura de inter-relação entre a teoria e a prática, levantando- se algumas questões que ficam por responder, nomeadamente, como assegurar que a promoção de uma maior interdisciplinaridade entre a biologia e a geologia esteja de facto presente nas práticas de sala de aula desenvolvidas pelos futuros professores. Para isso, será fundamental que a relação com os professores cooperantes seja fomentadora deste tipo de práticas, o que tem subjacente trabalho em conjunto e sintonia de conceções entre todos os intervenientes envolvidos sobre o que melhor se adequa à aprendizagem das ciências.

Tendo por base as principais estratégias identificadas, vivência de situações concretas e promoção de uma reflexão aprofundada acerca das vivências ocorridas, poder-se-á pensar na necessidade de desenvolver e implementar com os mestrandos atividades mais práticas e diversificadas, tais como de resolução de problemas e trabalho experimental, logo no primeiro ano da sua formação, encorajando-os a refletir sobre as mesmas, sempre na perspetiva da sua transposição para o ambiente escolar. Desta forma, dá-se oportunidade aos futuros professores de aprofundarem progressivamente as suas competências de reflexão, e simultaneamente, de compreender a natureza das ciências que irão lecionar e a sua ligação à promoção da literacia científica dos seus alunos, envolvendo-os num processo contínuo e progressivo de desenvolvimento da sua identidade profissional logo desde o início da formação.

Referências

Abd-El-Khalick, F. (2012). Nature of science in science education: Toward a coherent framework for synergistic research and development. In B. J. Fraser, K. Tobin, & C. McRobbie (Eds.), Second international handbook of science education (pp. 1041- 1060). New York: Springer Science Business Media.

Alarcão, l. (1997). Supervisão da prática pedagógica: Uma perspectiva de desenvolvimento

Alarcão, I., Freitas, C. V., Ponte, J. P., Alarcão, J., & Tavares, M. J. F. (1997). A formação de

professores no Portugal de hoje (Documento de um grupo de trabalho do CRUP -

Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas).

Brouwer, N., & Korthagen, F. (2005). Can teacher education make a diference? American

Educational Research Journal, 42(1), 153-224.

Bybee, R. (1997). Achieving scientific literacy: From purposes to practical action. Portsmouth, NH: Heinemann.

Bybee, R. W. (2006). Scientific inquiry and science teaching. In L. B. Flick, & N. G. Lederman (Eds.), Scientific inquiry and nature of science (pp. 1-14). Dordrecht: Springer.

Chagas, I. (1993). Literacia científica. O grande desafio para a escola. Comunicação apresentada no 1.º Encontro Nacional de Investigação e Formação, Globalização e Desenvolvimento Profissional do Professor. Escola Superior de Educação de Lisboa. Chalmers, A. (2013). What is this thing called science? (4.ª ed.). Indianapolis, IN: Hackett

Publishing.

Comissão Europeia [CE] (2004). Europe needs more scientists. Report by the High Level Group on Increasing Human Resources for Science and Technology in Europe. Bruxelas: Autor.

Comissão Europeia (2015). Science education for responsible citizenship. Report of the

Expert Group on Science Education. Luxembourg: European Union. Disponível em:

http://ec.europa.eu/research/swafs/pdf/pub_science_education/KI-NA-26-893- EN-N.pdf

Darling-Hammond, L., & Bransford, J. (Eds.). (2005). Preparing teachers for a changing

world: What teachers should learn and be able to do. San Francisco, CA: Jossey Bass.

Day, C. (2004). A passion for teaching. London/New York: Routledge-Falmer.

DeBoer, G. (2000). Scientific literacy: Another look at its historical and contemporary meanings and its relationship to science education reform. Journal of Research in

Dierking, L. D., Falk, J. H., Rennie, L., Anderson, D., & Ellenbogen, K. (2003) Policy statement of the ‘Informal Science Education’ Ad hoc Committee. Journal of

Research in Science Teaching, 40, 108-11.

Duggan, S., & Gott, R. (2002). What sort of Science Education do we Really Need Quest.

International Journal of Science Education, 24(7), 661-680.

European Commission/EACEA/Eurydice (2015). The teaching profession in Europe:

Practices, perceptions, and policies. Eurydice Report. Luxembourg: Publications

Office of the European Union.

Fensham, P. (2008). Science education policy-making. Paris: UNESCO.

Galvão, C. (2005). Narrativas em Educação. Ciência & Educação, 11(2), 327-345.

Galvão, C., & Abrantes, P. (2005). Physical and natural sciences-a new curriculum in Portugal. In P. Nentwig, & D. Waddington (Eds.), Making it relevant. Context based

learning of science (pp. 175-194). Münster: Waxmann Verlag.

Galvão, C. (Coord.), Neves, A., Freire, A. M., Lopes, A. M., Santos, M. C., Vilela, M. C., Oliveira, M. T., & Pereira, M. (2001). Ciências Físicas e Naturais. Orientações

curriculares para o 3.º ciclo do ensino básico. Lisboa: Ministério da Educação,

Departamento da Educação Básica.

Hargreaves, A. (1998). The emotions of teaching and educational change. In A. Hargreaves, A. Lieberman, M. Fullan, & D. Hopkins (Eds.), International handbook of

educational change (pp. 558-575). Dordrecht/Boston/London: Kluwer.

Kelly, G. (2014). Inquiry teaching and learning: Philosophical considerations. In M. Matthews (Ed.), International handbook of research in history, philosophy and

science teaching (pp. 1363-1380). New York: Springer Science Business Media.

Körkkö, M., Kyrö-Ämmälä, O., & Turunen, T. (2016). Professional development through reflection in teacher education. Teaching and Teacher Education, 55, 198-206. Korthagen, F. A. (2011). Making teacher education relevant for practice: the pedagogy

Korthagen, F. A. J., Kessels, J., Koster, B., Lagerwerf, B., & Wubbels, T. (2001). Linking

practice and theory: The pedagogy of realistic teacher education. Mahwah, NJ:

Lawrence Erlbaum Associates.

Korthagen, F., & Lagerwerf, B. (2001). Teachers’ professional learning: how does it work? In F. A. J. Korthagen, J. Kessels, B. Koster, B. Lagerwerf, & T. Wubbels (Eds.), Linking

practice and theory: The pedagogy of realistic teacher education (pp. 175-206).

Mahwah: Lawrence Erlbaum Associates.

Korthagen, F., & Vasalos, A. (2005). Levels in refection: Core refection as a means to enhance professional development. Teachers and Teaching: Theory and Practice,

11(1), 47-71.

Lanier, J., & Little, J. W. (1986). Research in teacher education. In M. C. Wittrock (Ed.),

Handbook of research on teaching (3rd ed., pp. 527-560). New York: MacMillan.

Leden, L., Hansson, L., Redfors, A., & Ideland. M. (2013). Why, when, and how to teach nature of science in compulsory school - teachers’ views. In C. P. Constantinou, N. Papadouris, & A. Hadjigeorgiou (Eds), E-Book Proceedings of the ESERA 2013

Conference: Science education research for evidence-based teaching and coherence in learning (pp. 60-71). Nicosia: European Science Education Research Association.

Lederman, J., Lederman, N., Bartos, S., Bartels, S., Meyer, A., & Schwartz, R. (2014). Meaningful assessment of learners' understandings about scientific inquiry - The views about scientific inquiry (VASI) questionnaire. Journal of Research in Science

Teaching, 51, 65-83.

Lederman, N. G. (1992). Students' and teachers' conceptions of the nature of science: A review of the research. Journal of Research in Science Teaching, 29, 331-359. Linn, M. C., Davis, E. A., & Bell, P. (Eds.) (2004). Internet Environments for Science Education.

Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.

Lortie, S. (1975). Schoolteacher: A sociological study. Chicago: University of Chicago Press. Matthews, M. R. (2012). Changing the focus: From nature of science (NOS) to features of science (FOS). In M. S. Khine (Ed.), Advances in nature of science research:

Maurício, P. (2015). História e filosofia da ciência na formação inicial em ciências de

educadores e professores do 1.º e 2.º ciclo do ensino básico: Uma investigação-ação.

Tese de doutoramento não publicada. Universidade de Lisboa, Lisboa.

Millar, R., & Osborne, J. (1998). Beyond 2000: Science education for the future. London: Kings College.

National Research Council [NRC] (2010). Exploring the intersection of Science Education

and 21st century skills. A workshop summary. Washington: National Academy Press.

National Research Council [NRC] (2011). A framework for science education. Washington: National Academy Press.

Nóvoa, A. (2009). Para una formación de profesores construida dentro de la profesión.

Revista de Educación, 350, 203-218.

Osborne, J., & Dillon, J. (2008). Science Education in Europe: Critical Reflections. London: King’s College London.

Osborne, J., & Dillon, J. (2010). How science works. What is the nature of scientific reasoning and what do we know about students’ understanding? In J. Osborne, & J. Dillon (Eds.), Good practice in science teaching. What research has to say (pp. 20- 45). Maidenhead, UK: Open University Press.

Osborne, J., Erduran, S., & Simon S. (2004). Enhancing the quality of argumentation in school science. Journal of Research in Science Teaching, 41(10), 994-1020.

Pedretti, E. (2002). T. Kuhn meets T. Rex: critical conversations and new directions in science centres and science museums. Studies in Science Education, 37, 1-42. Pintassilgo, J., & Oliveira, H. (2013). A formação inicial de professores em Portugal:

reflexões em torno do atual modelo. Revista Contemporânea de Educação, 8(15), 24-40.

Praia, J., Gil-Pérez, D., & Vilches, A. (2007). O papel da natureza da ciência na educação para a cidadania. Ciência & Educação, 13(2), 141-156.

Ryder, J. (2001). Identifying Science Understanding for Functional Scientific Literacy.

Sadler, T. D. (2004). Informal reasoning regarding socio-scientific issues: A critical review of the literature. Journal of Research in Science Teaching, 41(4), 513-536.

Sadler, T. D., & Zeidler, D. L. (2005). Patterns of informal reasoning in the context of socioscientific decision making. Journal of Research in Science Teaching, 42(1), 112- 138.

Schön, D. A. (1983). The reflective practitioner: How professionals think in action. New York: Basic Books.

Seligman, M. E. P., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: An introduction.

American Psychologist, 55(1), 5-14.

Shore, L. (2013). What is science? S. Francisco, CA: Exploratorium.

Shulman, L. (1986). Those who understand: Knowledge growth in teaching. Educational

Researcher, 15(2), 4- 31.

Shulman, L. (1987) Knowledge and Teaching: Foundations of the New Reform. Harvard

Educational Review, 57(1), 1-23.

Turunen, T. A., & Tuovila, S. (2012). Mind the gap. Combining theory and practice in a field experience. Teaching Education, 23(2), 115-130.

UNESCO (1999). Science for the twenty-first century. A new commitment. Consultado em maio 2016. Disponível em: http://www.unesco.org/science/wcs/abstracts/I_7_ education.htm

Van Hiele, P. M. (1986). Structure and insight: A theory of mathematics education. Orlando: Academic Press.

Waege, K., & Haugaløkken, O. K. (2013). Research-based and hands-on practical teacher education: An attempt to combine the two. Journal of Education for Teaching, 39(2), 235-249.

Wideen, M., Mayer-Smith, J., & Moon, B. (1998). A critical analysis of the research on learning to teach: Making the case for an ecological perspective on inquiry. Review

Zeidler, D. L., Sadler, T. D., Simmons, M. L., & Howes, E. V. (2005). A research based framework for socio-scientific issues education. Science Education, 89(3), 357-377. Ziman, J. (1984). An introduction to science studies - The philosophical and social aspect

4. Contributo da Iniciação à Prática Profissional

Documentos relacionados