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A Animação Desportiva como meio de Animação Sociocultural

II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.2. Conceitos de Animação Desportiva

2.3.1. A Animação Desportiva como meio de Animação Sociocultural

Tal como referido no capítulo anterior a Animação Desportiva pode ser entendida como um recurso e um método de intervenção desportiva, uma vez que a Animação Sociocultural, como refere Lopes, (2008) assenta em técnicas que visam combinar o domínio social, cultural e educativo.

Neste contexto, é necessário que se promova uma relação interdisciplinar e transversal entre a Animação Desportiva e a Animação Sociocultural de forma a impulsionar uma dinamização e intervenção de práticas, fomentando os vários domínios em que assenta a tríade.

A comunidade, quando envolvida, põe em prática os seus saberes, a sua criatividade. O indivíduo instrui e é instruído, recebe e dá e, é neste processo de partilha, consciencialização e envolvimento que se processa o desenvolvimento e a transformação social.

Nesta perspetiva, Carvalho (1979) diz que o desporto pode desempenhar um papel fundamental, na medida em que poderá constituir uma das condições do aperfeiçoamento do homem e do desenvolvimento da sociedade.

Também no século passado, Gomes, T. (1979:7) escrevia na Revista Intervenção que a ASC é “ um elemento dinamizador de todas as formas de participação social, podendo assumir um papel determinante na mobilização dos dinamismos potenciais de uma sociedade para objectivos comuns”. Diz ainda, que dado o seu carácter instrumental, a ASC não tem um domínio de atuação específico: pode ser posta ao serviço de qualquer aspeto ou sector do desenvolvimento global, depreendendo-se daqui uma possível mudança, transformação da sociedade a partir de processos de participação.

Face ao enunciado por Gomes, T. (1979) também entendemos que a Animação Desportiva pode ser um instrumento de desenvolvimento social, em que, por exemplo os programas e os encontros desportivos poderão ser representativos de intercâmbio comunitário; já os culturais, como os jogos tradicionais, poderão ressuscitar atividades perdidas no tempo, se bem que imortalizadas de geração em geração, tornando-se intemporais e educativos, tendo como mote principal a união entre a cultura, a sociedade e a educação, contribuindo para a construção do saber absoluto. Certos de que com isto nos tornamos mais preenchidos e humanizados.

Inicialmente, a prática desportiva, segundo Carvalho (1979) estava centrada numa classe elitista, com um perfil extremamente regulamentado, enquanto atividade específica de competição. Era seletiva.

Com o 25 de Abril e a liberdade de participação gerou-se uma profunda transformação das necessidades das populações originando o direito do chamado “desporto para todos”, com base na difusão da prática desportiva ao serviço da

melhoria da “ qualidade de vida” de todos os cidadãos. A partir de então, quase podemos dizer que da mesma maneira que “ o sol nasce para todos”, também o desporto é e deve ser para todos, independentemente da idade, condição, raça ou etnia.

O desporto foi transformado na procura duma educação dos tempos livres e de lazer e a par do desenvolvimento da animação, segundo Lança (2003), com o aparecimento do chamado “ desporto para todos”, em que os valores da competição foram substituídos pelos valores inerentes à participação e à recreação física.

Brito (1977) sustentava que a Animação Desportiva deveria incidir, em particular, fora da especialização e do desporto de elite. Já nesta altura, as formas recreativas e de manutenção adquirem uma grande importância face às práticas em clubes, em associações e em empresas, dando preferência a uma determinada modalidade. A AD tinha como missão motivar os restantes, os que abandonaram e ainda aqueles que nunca passaram por nenhuma prática desportiva.

Segundo Soria e Cañellas, (1998) consideram a Animação Sociocultural como uma forma de intervenção na população de acordo com os seus interesses e necessidades e, ainda, com o objetivo de promover a sua participação voluntária em diversas atividades, como por exemplo, o desporto, a música e a pintura.

A Animação Desportiva para Lança (2003) herda muitas das suas características do denominado desporto para todos. A sua programação e orientação abrangem grupos heterogéneos relativamente ao sexo, à faixa etária, às vivências a nível desportivo e cultural num contexto de pedagogia que pressupõe a manutenção dos efeitos da atividade de forma continuada.

Também Silva & Moinhos (2010:85) referem que: “A ASC na área do Desporto surgiu quando o conceito de

desporto se alterou, ou seja, quando o desporto deixou de ser apenas encarado na óptica da competição para passar a ser encarado também na óptica da participação, ou seja, quando o desporto passou a ser considerado um “ desporto para todos” – todos têm direito a praticar desporto.”

Tal como refere Yde, citado por Lança (2003), A Animação Desportiva, longe de ser elitista e seletiva pretende abranger o máximo da população, por isso, a atividade deve respeitar os seguintes princípios: Acessibilidade física, prazer na participação, facilidade de compreensão, adaptabilidade, bem-estar nos participantes, ilusão, segurança, cooperação, boa relação e simplicidade do material.

Reforçamos a ideia que a Animação Desportiva, criou a sua própria identidade dentro do quadro do desporto em Portugal. Com base no exposto podemos afirmar que a referida Animação Desportiva se apresenta como recurso metodológico já que promove a participação, a interação, a partilha e ainda a perspetiva de tornar a pessoa autónoma e protagonista do seu próprio desenvolvimento.

Ainda segundo Lança (2003), cada vez menos as atividades desportivas e de exercícios físicos dispensam a dimensão de animação, com o intuito de aumentar a motivação dos participantes nas atividades. A prioridade não é proporcionar ou aperfeiçoar técnicas de modalidades específicas, mas sim promover práticas de atividades destinadas a gerar no maior número de pessoas participações desportivas. Estas participações promovem dinâmica social e são uma ferramenta privilegiada para a mudança social e para o desenvolvimento e democratização cultural.

Trilla (2004:156) diz-nos que a agência das Nações Unidas para o desenvolvimento (UNDP) na informação “Human Development Report” refere que uma das dimensões chave para o desenvolvimento humano é o “ uso que as

pessoas fazem das suas qualidades adquiridas para utilizarem os tempos livres… ou para a actividade cultural, social e política.” Neste sentido, Delgado citado por Trilla, (2004) constata que a validade das práticas socioculturais, como motor da consciência dos cidadãos e do exercício dos direitos humanos, é uma dimensão que aumenta ao longo dos anos.

Perante esta consciencialização, a Animação Sociocultural adota um papel primordial, sendo que a Animação Desportiva pode ser assumida como uma metodologia de intervenção no campo desportivo, de forma a dar resposta aos vários problemas com que os cidadãos nos dias de hoje se debatem e na procura de uma melhor qualidade de vida.

Também Garcia, citado por Trilla (2004), nos diz que o ser humano necessita de se sentir útil, de se autorrealizar através da ação e intervenções participativas conducentes a uma maior felicidade e, segundo Lança (2003) a animação emerge com o objetivo de descontrair e de superar as dificuldades criadas pelos problemas quotidianos, através de atividades praticadas de acordo com os princípios inerentes à motivação e à recreação.

Concordamos com Lança (2003:53), quando projeta uma visão social e estimulativa, todavia perspetivamos uma outra dimensão assente no cultural e no educativo e daí rejeitarmos a visão redutora de ocupação do tempo, pois de acordo com os nossos pressupostos apresenta-se nos antípodas daquilo que deve ser a AD como âmbito da ASC.

“(…) uma parte da animação social, entendida como um instrumento suscetível de ser utilizado por todos os componentes do sistema desportivo, cujos objetivos seriam: animar e estimular os diferentes sectores da sociedade (crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência, etc.) promovendo uma ocupação positiva do seu tempo livre, mediante as atividades físico – desportivas, entendidas como fator lúdico – recreativo, que potencializem a relação social e de saúde.” Lança, R. (2003:53).

Horta (1979:10) refere na Revista Intervenção, que a Animação Desportiva, como parte integrante da ASC é:

“(…) um sector muito importante, sendo um campo muito privilegiado pela facilidade com que as populações aceitam as iniciativas de Animação, devido não só às necessidades por elas sentidas, mas também pelo impacto que o desporto tem junto das massas.”

As populações, por natureza, aderem com alguma facilidade a atividades que ligam e envolvem o indivíduo com a sociedade. As atividades desportivas não são exceção, elas são geradoras de adeptos. A AD não pretende ser encarada sob o ponto de vista da competição, mas antes pelo contrário, sob o ponto de vista da satisfação, do prazer, da participação, da diversão. Em vez de um elevado rendimento desportivo, a AD, segundo Silva & Moinhos (2010) prevê que a atividade física se transforme num meio em que cada pessoa tenta alcançar os seus próprios objetivos (saúde, relaxamento, socialização, prazer, diversão entre outros) e a ausência de grandes regras ou obrigações leva o indivíduo a organizar o seu próprio programa desportivo.

Para Brito (1977:7), “ A Animação Desportiva passa por uma correcta conceptualização da Animação Sociocultural e integra-se nesta contribuindo com a especificidade dos seus processos e técnicas.”

Estamos de acordo com Brito (1977) quando refere que a AD pode contribuir decisivamente para as relações interpessoais, para a compreensão e desenvolvimento das relações intragrupais e intergrupais, pela via de um conjunto de situações em que o individuo é colocado e que vão desde o “reconhecimento do outro” até à “consciência de grupo”, passando pelo exercício e compreensão das diversas funções e papeis assumidos no grupo.

Resumindo podemos dizer que a Animação Desportiva, como técnica da ASC, visa a participação de todos os cidadãos, com vista à promoção do bem- estar e melhorar a qualidade de vida dos participantes. A AD além de contribuir para o desenvolvimento físico do indivíduo, também contribui para o seu

desenvolvimento psíquico, promovendo e fomentando a participação social e a partilha e adoção de comportamentos ativos e saudáveis.