• Nenhum resultado encontrado

Animação Sociocultural/Animação Desportiva e Práticas de Educação

II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.4. Animação Sociocultural e Educação Intergeracional

2.4.3. Animação Sociocultural/Animação Desportiva e Práticas de Educação

Já por nós foi referido que a ASC, tem por pressupostos a intervenção, a participação dos cidadãos, as práticas, a mudança, a consciencialização do indivíduo com vista à transformação da sociedade.

Assim, a Animação Desportiva surge como um método/instrumento de intervenção no sistema desportivo, cujos objetivos seriam animar e estimular os indivíduos de todas as faixas etárias (crianças, jovens, adultos, população sénior, pessoas com deficiência, etc.) promovendo uma ocupação agradável do seu tempo livre, através de atividades desportivas, entendidas como fator lúdico – recreativo e que possam potenciar a relação social e de saúde.

Para Lopes (2008) a animação, tem dois espaços centrais de intervenção: o espaço urbano e o espaço rural.

O espaço urbano está muitas vezes associado à delinquência, ao tráfico, à violência, ao racismo, ao consumo, as famílias muitas delas desestruturadas, os vizinhos pouco ou nada interagem, os jovens crescem sem acompanhamento parental. A terceira idade é ignorada ou depositada em lares. Neste sentido concordamos com Lopes (2008) quando afirma que o indivíduo é, muitas vezes, reduzido à condição de cidadão sem cidadania, sem qualidade de vida, sem hábitos e práticas culturais, porque o tempo não o permite. O tempo livre, aquele que não é ocupado pelo trabalho, é, normalmente, consumido a viajar e raramente animado, quer no espaço familiar, quer em atividades culturais, lúdicas e desportivas.

A pertinência do nosso estudo está centrada na promoção desportiva, entre as várias gerações de pessoas e em contexto rural.

À semelhança do meio urbano, a ASC no meio rural surge como uma necessidade e uma consequência do mal-estar social causado pelo subdesenvolvimento e desertificação.

Parafraseando Lopes (2008) a ação no meio rural deve assentar em programas que promovam quer o meio rural como espaço de valorização cultural, quer a auto-estima dos que nele vivem.

Um programa de Animação deve ter em conta que, no espaço rural, a estrutura familiar mantém, laços de solidariedade muito fortes já que se mantêm relações de vizinhança onde à partida todos se conhecem.

Segundo Veja citado por Lopes (2008:340), a Animação Sociocultural no meio rural deve assentar a sua intervenção em três elementos chave:

“A promoção do meio rural deve surgir do próprio meio e desenvolver-se às suas custas para que seja realmente eficaz; quando assim não acontece é porque obedece a uma iniciativa exterior e vai necessitar que se enquadre rapidamente no meio para que se torne própria;

Apoio através de uma verdadeira acção educativa, facilitando ordenadamente os conteúdos e procedimentos adequados para o seu desenvolvimento;

Aproximar as actividades de animação ao estudo e análise da realidade económica e social da região ou zona intervencionada. Podemos dizer que o objectivo geral de todos os programas de ASC no âmbito rural, é melhorar a qualidade de vida da comunidade, potenciando a participação, dando impulso ao associativismo e criando uma consciência de solidariedade.”

Sempre que se concebam projetos no meio rural, estes devem ter em conta o desenvolvimento da convivência pessoal; favorecer o desenvolvimento comunitário com a realização de ações que contemplem as condições de vida e de trabalho no meio rural; potenciar o associativismo e o cooperativismo; promover o meio rural, a partir de ações vindas do próprio meio e facilitar uma eficaz ação educativa, fornecendo os meios para que esta se desenvolva.

Assistindo-se em Portugal, a um crescimento cada vez maior da população sénior (graças aos avanços da medicina e a uma melhor qualidade de

vida), a uma maior desertificação dos meios rurais, a Animação Desportiva tem um papel fundamental como meio de intervenção social. É importante que os nossos idosos, envelheçam de forma ativa e dinâmica, com qualidade de vida a par com uma melhor autoestima.

Partilhamos da opinião de Ventosa, quando em 23 de Novembro de 2004, numa Conferência em Chaves, proferiu a seguinte frase: “ não para dar mais anos à vida, mas sim, para dar mais vida aos anos”.

É imperativo que as populações rurais estabeleçam diálogos intergeracionais de partilha, de sabedoria, de experiências ligadas à vida e que cruzem esses saberes, na procura de uma melhor qualidade de vida (QV) para todos.

É certo que as cidades começaram por ser o primeiro local de realização de atividades de animação, tal como refere Lança (2003). Os espaços urbanos são altamente codificados, com elevada densidade de uso, com regras para todas as utilizações dos espaços e dos tempos livres e para as quais subsistem expectativas em relação ao comportamento de quem os utiliza. Os campos, os pavilhões, as piscinas e os ginásios, estão comummente situados nas cidades.

Em geral e pelo conhecimento comum, a maior parte das aldeias possui um campo ou até mesmo um polidesportivo, ainda que às vezes em más condições. A maior parte das nossas aldeias também possuem centros sociais e/ou culturais onde podem dar azo à imaginação, como espaços de participação. Possuem ainda um aspeto muito importante, raro nos centros urbanos, a Natureza e os espaços naturais que ela contém. O contacto com a natureza é de tal forma importante que Cunha, citado por Lança (2003:87), diz o seguinte: “ As actividades e as animações desportivas aqui praticadas são aquelas que não se encontram no espaço urbano, devido ao envolvimento necessário à sua realização”.

A Animação Desportiva pode ser um recurso a que a comunidade pode valer-se através da ação e da participação de todos os indivíduos,

independentemente dos seus credos, das suas idades e dos seus estratos sociais. A AD, segundo Lima (1998:22) caracteriza-se por:

“ (…) proporcionar aos intervenientes, de forma não - lucrativa, livre e voluntária, acção, movimento, com o duplo objectivo de proporcionar prazer e de corresponder às necessidades motivacionais e de realização formativa individual e colectiva dos participantes”.

Nós entendemos que a AD pode ser pode ser promovida no âmbito de uma EI, onde todos se encontram para um mesmo processo: crescimento individual e grupal.

Há razões para se afirmar que o desporto e a AF regular desempenha um papel importante na sociedade moderna. Contudo, segundo Olin (1999:39) “ (…) devem-se fazer mais esforços para explicar às pessoas de diferentes grupos etários, o que o desporto e a actividade física significam para o seu modo de vida, não só do ponto de vista da saúde e capacidade funcional, mas das relações sociais também”.

Peres (2008) diz-nos que: “ O tempo é vida”. A vida é adotar interesse nos projetos em que se acredita e, por isso, “ urge animar a animação”. Face ao mundo complexo em que vivemos, existem múltiplos âmbitos da animação e vários espaços de intervenção, importa pôr em prática a criatividade e a imaginação.

Estamos de acordo com Marchioni (1997), citado por Lopes (2008:375- 376) quando enuncia que: “ – uma acção social para a comunidade, - uma acção social na comunidade, - uma acção social com a comunidade.” Nesta perspetiva, não podemos ser alheios ao facto de que o indivíduo enquanto ser social, nascer já fazendo parte integrante de uma determinada comunidade, na qual irá desenvolver todo um percurso de vida.

Neste estudo, a nossa intervenção teve lugar em Vilarelho da Raia, aldeia rural situada no norte, do nosso país. É uma aldeia raiana, do concelho de

Chaves e que faz fronteira com Espanha. No capítulo III – Objeto de Estudo – Contexto da Investigação, fazemos uma caracterização onde o nosso estudo foi efetuado.

III. CONTEXTO DA

INVESTIGAÇÃO