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A Animação Desportiva no contexto da Educação Não Formal

II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.2. Conceitos de Animação Desportiva

2.3.2. A Animação Desportiva no contexto da Educação Não Formal

A Animação Desportiva (AD) não pode ser entendida num contexto unilateral. Ela pode ser multiplicada em vários contextos socioculturais e educativos. A AD pode ser promovida em vários espaços: educativos, culturais e sociais, conforme o espaço de intervenção e dirigida a vários públicos-alvo.

Lopes (2008) diz-nos que a ASC assenta numa tríade educacional formada a partir da educação formal, educação informal e educação não formal, dependendo da área onde intervém.

Apesar do nosso estudo se centrar numa perspetiva de educação não formal, apresentamos de seguida, (Quadro 3 - Síntese das Características da

Tríade Educacional: Educação Formal, Não Formal e Informal) de forma

breve e sucinta, as caraterísticas das diferentes áreas de intervenção na educação, do ponto de vista do espaço, da intencionalidade e do reconhecimento, segundo alguns autores.

De uma maneira geral a educação formal está associada a uma ação educativa que é regida por um sistema formal de administração competente e é ministrada numa instituição/escola. A educação formal é institucional onde se obtêm títulos oficiais, tais como diplomas credenciados. A administração de conteúdos/matérias obedece a toda uma legislação que é orientada e regulada por critérios estabelecidos pelo sistema educativo. A educação formal é estruturada, tem um plano de estudos (currículo) e papéis definidos para quem ensina e para quem aprende.

Quadro 3 - Síntese das Características da Tríade Educacional: Educação Formal,

Não Formal e Informal

Educação formal

 Sistema educativo/ação educativa  Institucional/escola

 Educação estruturada

 Obtenção de títulos/diplomas credenciados  Dotar competências

Educação Não Formal

 Tendência educativa

 Pluralismo e partilha de vivências  Complementa a educação formal  Gera afetos/relações humanas

 Abrange toda a população promovendo aprendizagens intergeracionais

 Certificados de participação

Educação Informal

 Processo de aprendizagem livre

 Práticas comunitárias (saberes/tradições culturais)  Aprendizagens não institucionalizadas

 Informação/formação veiculadas pelos meios de comunicação

 Durante toda a vida/processo permanente Fonte: Lopes (2008) e Ventosa (2005) - Adaptação Própria

Segundo Lança (2003), a prática desportiva que se pode enquadrar na educação formal é o sector federativo, na medida em que é caracterizado por normas e regulamentos estandardizados. Nós acrescentamos ainda a Educação Física, ministrada nas escolas e que obedece a um currículo nacional e às orientações definidas pelo Sistema Educativo e respetivo Ministério da Educação.

De acordo com Lopes (2008), os procedimentos adotados na educação informal não são diretamente escolares nem de natureza curricular. A educação informal resulta da ação da família, dos amigos e dos meios de comunicação de massas. É considerada a prática educativa mais antiga, centrando-se essencialmente na família. Também segundo Lança (2003) a prática desportiva se pode evidenciar no plano da educação informal, em que a autossuficiência e a autogestão são as principais características, ou seja, são aquelas ações isoladas em que o indivíduo faz uma gestão muito pessoal e peculiar da sua atividade física. É apenas desenvolvida atividade que o próprio indivíduo gere e se autorrealiza, sem recorrer a instrumentos de orientação.

Com a democratização do ensino em Portugal, segundo Lopes (2008) houve a necessidade de incrementar programas em contexto de educação não formal no sentido de a associar com a vida. Desta associação resulta uma participação cívica comprometida com o desenvolvimento social e pessoal. A Educação não formal é uma educação não regulada por normas rígidas, é orientada pelos propósitos do pluralismo educativo e centrado na relação interpessoal. É caracterizada pelo pluralismo e na partilha de vivências podendo ser um complemento à rigidez de uma educação formal. Aproxima umas pessoas às outras e dá ênfase aos afetos, à partilha, à envolvência e é ainda geradora de afetos.

A educação não formal é segundo Lopes; Galinha e Loureiro (2010) realizada fora da escola institucionalizada. Entenda-se por escola institucionalizada, aquela que obedece a regras muito criteriosas estabelecidas nos currículos nacionais. A educação não formal procura responder às necessidades da sociedade atual, que vive um processo acelerado de

modernização. Pode complementar a educação formal, nos âmbitos que esta não cobre.

Para Lopes (2008) na educação não formal não são emitidos diplomas académicos mas sim certificados de participação. É um meio de educação que pode abranger toda a população promovendo relações e aprendizagens intergeracionais.

Para Trilla (2004) é habitual situar a ASC basicamente no espaço não formal. Este espaço não formal é o que nos interessa no nosso estudo, desenvolvido no Centro Social Cultural e Desportivo de Vilarelho da Raia já que é um espaço de educação que vai ao encontro de práticas desportivas que se realizam fora da escola, permitindo assim dar atenção às necessidades e interesses concretos das populações recetoras, utilizando metodologias ativas e participativas, escassas ou nulas exigências académicas e administrativas para a inclusão nas atividades, conteúdos geralmente muito contextualizados, pouca uniformidade quanto a espaços e tempos, etc.

Lança (2003) considera que as práticas desportivas não formais são aquelas que se diferenciam pela descontinuidade em alguns graus de prática, apesar de pressuporem também a prática regular.

Lima, A. (1997: 20) também é de opinião que: “ Uma das formas fundamentais que a animação possui para intervir passa pelo aproveitamento de uma não-formalização desportiva”, onde se desvaloriza a competitividade e a especialização. A Animação Desportiva implica uma sobreposição ao saber social, através de uma atitude onde, segundo o mesmo autor (1997:21) “ O saber ser é mais importante que o saber fazer”. Não importa a aquisição de técnicas ou de especialidades desportivas, nem de troféus, importa sim que o indivíduo se anime, tenha prazer de forma lúdica e recreativa e se sinta feliz com as suas opções, como ser social que é.

É imperativo que a prática regular de atividades desportivas seja realizada durante toda a vida do indivíduo, daí a importância de uma educação permanente em articulação com a educação não formal.

Ainda recorrendo a Lima, A. (1997:6) ele refere que “ A AD perspetiva- se no contexto desportivo nos domínios de prática não formal e informal, assumindo funções bem determinadas, relativamente aos valores recreativos e formativos.”

Gelpi, citado por Lopes (2008:402), refere que:

“ (…) A Educação permanente não é para reforçar a função educativa das estruturas educativas existentes, mas é sobretudo um projeto que tende a tomar cada vez mais homem e os homens, nas suas cidades, nos seus meios, na vida coletiva, donos de si e capazes de controlar os seus processos de desenvolvimento.”

Também Ander-Egg, citado por Lopes (2008:402-403), considera que a educação permanente, para constituir uma ação válida, deve ser complementada por ações de Animação. Afirma ele que:

“Esta questão de animação - educação permanente, constitui o verso e o reverso de uma mesma realidade e pode resumir-se no seguinte: a educação permanente está centrada na necessidade de uma capacitação contínua e no desenvolvimento de novas actividades culturais de acordo com as mudanças que se produzem na sociedade, nas ciências e nas tecnologias. (…) trata de superar e vencer atitudes de apatia e fatalismo em relação com o esforço por “aprender durante toda a vida” que é o substancial da educação permanente”.

Podemos assim inferir que a Animação Desportiva pode e deve ser desenvolvida e processada ao longo da vida (educação permanente) e cessará somente no termo dessa vida.

2.3.3. A Animação Desportiva como estratégia para o tempo livre e