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Investigação Qualitativa e Investigação Quantitativa

II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

4.1. Natureza da Metodologia

4.1.1. Investigação Qualitativa e Investigação Quantitativa

A investigação em Ciências Sociais, desenvolveu-se ao longo do século XX assistindo ao confronto de dois paradigmas: o método qualitativo e o método quantitativo.

Fortin (2003:22) confirma o exposto, dizendo que: “Os dois métodos da investigação que concorrem para o desenvolvimento do conhecimento são, o método quantitativo e o método qualitativo”. Os métodos de inspiração quantitativa, “ (…) recorrem à medição, à contagem e a diversas operações da estatística”. Os métodos da inspiração qualitativa “ (…) recolhem discursos destinados a ser analisados tal como são”. Os primeiros situam-se a um nível macro-sociológico e os segundos situam-se a um nível micro-sociológico. No nível micro aqui referido o ponto de partida, segundo Javeau (1998:74) é: “ (…) o estudo das interacções entre indivíduos no interior de pequenos grupos (…) mas cujo modo de funcionamento pode revestir-se de um alcance mais vasto”

Os métodos quantitativos, segundo Fortin (2003:28) “ (…) valorizam as tendências, as médias, as bases, baseando-se na possibilidade de tornar mensuráveis os fenómenos sociais.” Os métodos qualitativos aproximam-se mais da forma de ser e interagir do ser humano e “ (…) baseiam-se na especificidade do objecto das ciências sociais, com características diferentes do objecto das ciências exatas e que valorizam as manifestações subjectivas, comportamentais na interpretação dos fenómenos”. (idem).

Kuhn, citado por Pérez (2004:61) refere que “ O mundo é transformado desde o ponto de vista qualitativo e enriquecido quantitativamente pelas novidades fundamentais aportados por factos e teorias”.

Cada um dos métodos de pesquisa tem pontos fortes e pontos fracos. Assim, Bell (1997:20) diz o seguinte:

“Os investigadores quantitativos recolhem os factos e estudam a relação entre eles. Realizam medições com a ajuda de técnicos científicos que conduzem a conclusões quantificadas e se possível generalizáveis. Os investigadores que adoptam uma perspectiva qualitativa, estão mais interessados em compreender as percepções individuais do mundo. Procuram compreensão em vez de análise de estatístico.”

Tradicionalmente a investigação quantitativa e a investigação qualitativa estão associadas a paradigmas.

Segundo Carmo & Ferreira (1998:175) “A distinção entre paradigmas diz respeito à produção do conhecimento e ao processo da investigação e pressupõe existir uma correspondência entre epistemologia, teoria e método”. Refere ainda que a distinção é usualmente empregue ao nível do método. Cada tipo de método está ligado a uma perspetiva paradigmática distinta e única.

Por considerarmos que os métodos qualitativos e quantitativo são complementares, optamos pela triangulação de ambos os métodos, de forma a diversificarem e enriquecerem a nossa investigação. Em nosso entender, os métodos associados na investigação respondem de forma mais profunda ao conhecimento da realidade, enquanto seres sociais. O método qualitativo imerge

num paradigma naturalista, enquanto o método quantitativo imerge no positivismo, complementando-se ambos.

A investigação qualitativa tem como objetivo principal aumentar o nosso conhecimento geral centrando-se essencialmente na mudança. Segundo Bogdan & Biklen (1994:265):

“A ênfase na visão pessoal e a preocupação com o processo permitem ao investigador antecipar as dificuldades inerentes à mudança. A orientação qualitativa permite ao investigador lidar com os participantes na mudança, quer se trate de uma única turma ou dos muitos e diferentes níveis de burocracia educacional”.

O investigador qualitativo deve tentar interagir com os seus sujeitos de estudo de forma natural, não intensiva e não ameaçadora. Desta forma, o seu grande objetivo é o de melhor compreender o comportamento e experiência humana. Tentam compreender o processo mediante o qual as pessoas constroem significados e descrever em que consistem esses mesmos significados. Na investigação qualitativa, o investigador deve estabelecer uma relação de empatia, de enfâse na confiança e de igualdade para com os sujeitos.

Tal como referem Bogdan e Biklen (1994:265), “a qualidade do trabalho de campo passa pelo estabelecimento de relações entre pessoas”.

Para Pérez (2004:27) “Os fenómenos culturais são mais susceptíveis à descrição e análises qualitativas do que a quantificação”. “ (…) Os valores incidem na investigação e formam parte da realidade e a própria investigação é influenciada por valores do contexto social e cultural.”

Segundo Carmo & Ferreira (1998), a utilização de métodos quantitativos está essencialmente ligada à investigação experimental ou quase-experimental o que pressupõe a observação de fenómenos, a formulação de hipóteses explicativos desses mesmos fenómenos, testar teorias. Ainda segundo os mesmos autores, os métodos qualitativos são “humanísticos” – Quando os investigadores estudam os sujeitos de uma forma qualitativa, tentam conhecê-los como pessoas e experimentar o que eles experimentam na sua vida diária (não

reduzem a palavra e os atos a equações estatísticas). Os investigadores interessam-se mais pelo processo de investigação do que unicamente pelos resultados ou produtos que dela recorrem.

Em investigação qualitativa o paradigma metodológico é a compreensão, já que o mundo social é constituído por diferentes pessoas que se explicam de forma diferente, enquanto que, na investigação quantitativa, segundo Costa, M. (2005:150) “ (…) o mundo existe e é cognoscível tal qual é (…)”.

Também para Bogdan e Biklen (1994:70), em investigação qualitativa “a preocupação central não é a de saber se os resultados são susceptíveis de generalização, mas sim a de que outros contextos e sujeitos a eles podem ser generalizados”.

A metodologia qualitativa, como alega Pérez (2004:29) “ (…) é a investigação que produz dados descritivos: as próprias palavras das pessoas, faladas ou escritas e a conduta observável”.

Flick (2005:286) afirma que “ a compreensão da investigação qualitativa não pode ser unicamente mediada pela teoria. O treino tem de incluir, (…), experiência prática da aplicação dos métodos e do contacto com os sujeitos concretos da investigação”.

A vida social é fluída e aberta. A realidade social e cultural não pode reduzir-se exclusivamente às reações observadas e medidas do homem, não podendo ignorar-se o campo da intencionalidade e o significado das ações.

Na investigação qualitativa, o indivíduo é um sujeito interativo, comunicativo que partilha significados. Tal como refere Pérez (1990:20) citada por Serrano (2004:30) “No existe una única realidade sino múltiples realidades interrelacionadas”.

A Investigação Qualitativa esforça-se por compreender como funcionam todas as partes juntas para formar um todo.

Pérez (2004) afirma ainda que o planeamento naturalista deve incidir na relevância do fenómeno, ao contrário do rigor do enfoque racionalista. Por isso,

a investigação qualitativa, defende, deve apoiar-se na observação participativa, no estudo de caso e na investigação-ação.

Kirk & Miller citados por Lessard-Hébert.; Goyette e Boutin (2008) sublinham o carácter de proximidade entre o investigador e os participantes na investigação qualitativa. Esta proximidade manifesta-se tanto no plano físico (o terreno) como no simbólico (a linguagem).

“Os seres humanos distinguem-se dos outros animais e dos seres inanimados pela sua capacidade de estabelecer e de partilhar significados”. (Erickson citado por Lessar-Hébert; Gouette. e Boutin (2008:56).

Na atualidade, segundo Lopes (2008:82) “ (…) há cada vez mais investigadores a praticar um pluralismo metodológico de carácter integrador (…).” Refere ainda que, a investigação orientada para melhorar e transformar o social, não deve fazer-se exclusivamente mediante o recurso a um dos paradigmas, mas sim com o recurso ao uso plural de teorias e enfoques metodológicos.

Também Pérez (2004) sustenta que, na investigação para se evoluir e crescer se deve recorrer a diferentes paradigmas metodológicos, visto que é na variedade e na diversidade de contributos que se encontra a riqueza, pois deve ser contemplado um pluralismo metodológico.

Face ao exposto achamos que todos os paradigmas se complementam uns aos outros e não têm que ser necessariamente incompatíveis e adversários, daí que tenhamos optado pelo pluralismo metodológico no nosso estudo.