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II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.4. Animação Sociocultural e Educação Intergeracional

2.4.1. Educação Intergeracional

O conceito de geração não envolve somente o carácter cronológico de um determinado indivíduo. Segundo Souza (2004:439) cada geração tem “ (…) um sentido próprio decorrente não só das vontades dos indivíduos, mas também das influências políticas, económicas, sociais e culturais”, possuindo assim características próprias que situadas em diferentes contextos podem ser compartilhadas por toda a sociedade, possibilitando assim um convívio sociocultural semelhante numa geração inteira.

A noção de geração, segundo Sarmento (2005), também corresponde a um fenómeno cuja natureza é essencialmente cultural, que possui características e marcas próprias o que leva a uma consciência comum e permanece ao longo do respetivo curso de vida. A ação de cada geração, em interação com as imediatamente precedentes, origina tensões potencializadoras de mudança social.

O conceito de geração, no contexto histórico e sociológico é mais amplo do que o conceito de idade, ou seja, quando as manifestações de cada geração em interação com as outras gerações, sejam mais novas ou mais velhas,

aparentadas ou não por laços de sangue, provocam efeitos, potenciando mudanças sociais. Cada geração é a expressão coletiva e o reflexo de estágios de mudança no desenvolvimento da personalidade, no comportamento e nos valores dum grupo etário num período de tempo.

Para Sarmento (2005), a inclusão do conceito de “geração” na análise das relações sociais contemporâneas parece ser uma indisfarçável necessidade, não apenas porque os processos de estratificação têm uma dimensão geracional, mas também porque as relações intergeracionais têm constituído um aspeto vital na mudança social. A necessidade de associar os conceitos de geração e intergeracionalidade encontra-se principalmente no facto de que os papéis sociais, o estilo de vida e as relações entre as gerações são elementos chave na mudança das estruturas sociais.

Para Moragas (2004: 127) as relações intergeracionais são: “ (…) Relações que ocorrem entre indivíduos pertencentes a

diferentes gerações que compartilham os mesmos eventos históricos, sociais e culturais, como por exemplo: guerras, momentos políticos, revoluções, moda, … e que determinam diferentes trajectórias e estilos de vida e que quando se encontram, se reúnem, proporcionam oportunidades de trocas, com conteúdos e atribuições diferentes seja de conflito, de competição, de indiferença, de autoritarismo ou cooperação, afetividade e igualitarismo. “

Garcia (2005:13) interpreta Educação Intergeracional (EI) nos seguintes termos: “ Um dialogo libré entre personas de culturas distintas que partiendo de campos Y motivaciones comunes intenta descobrir los valores conducentes a enriquecer los proyectos de vida de las personas en la sociedade”.

Ainda, segundo Garcia (2005) deverá existir reciprocidade entre as várias gerações, baseada na comunicação, cooperação e interação nos intercâmbios. Implica partilhar habilidades, conhecimentos, ou experiências entre jovens e maiores.

Para Miranda (2003), atualmente o que vemos é que existe uma separação entre as diferentes faixas etárias, com papéis pré-estabelecidos para a criança, jovem, adulto e o idoso, com áreas reservadas para cada um como os infantários, escolas, oficinas, empresas, escritórios, lares, entre outros locais. Sendo a família o único espaço favorável para esse encontro entre gerações, nem que seja apenas pela aproximação física.

Cada vez mais assistimos a um avanço alucinante de indivíduos maiores de 65 anos de idade, o que deveria, segundo Palmeirão & Menezes (2007), introduzir renovados desafios à sociedade e, principalmente, à Educação Intergeracional (EI).

Ainda, segundo as mesmas autoras (2007) deveria haver um comprometimento de todas as pessoas e uma aprendizagem de uma cidadania responsável, onde a educação deveria ser um instrumento vital para a defesa dos interesses dos cidadãos.

Para Ferrigno (2003), o crescimento vertiginoso das cidades, a situação da família nuclear e a popularização da televisão, além da consolidação dos novos valores constituintes da cultura de massa, têm sido alguns dos fatores mais importantes para o distanciamento das gerações e como consequência levam ao enfraquecimento da transmissão de conhecimentos de uma geração para outra.

As crianças, desde os primeiros meses de vida passam muitas horas em infantários e creches, porque os pais e as mães trabalham durante todo o dia. Apesar de, nestes locais haver contactos com adultos, eles são reduzidos e têm como função cuidar delas, estabelecendo-se uma convivência muito diminuta e limitativa, marcada essencialmente pela autoridade e autoritarismo do adulto.

A atuação dos jovens e adolescentes além de se circunscrever à escola, onde a convivência mais frequente se verifica com os seus pares, parecem frequentemente motivados a formarem grupos de amizade formados por indivíduos da mesma idade ou muito próxima.

O universo do adulto é formado essencialmente pelo mundo do trabalho, no qual interagem basicamente com outros adultos. Ainda, segundo Ferrigno (s/d)4, os adultos ligam-se com outros adultos em relacionamentos desenvolvidos em espaços dedicados ao estudo, ao lazer ou em alguma outra atividade relacionada com militância social, cultural, política ou religiosa.

Na terceira idade, os contactos sociais tendem a tornar-se rarefeitos. Assiste-se a um progressivo despejo de papéis, facto que determina ao idoso um crescente isolamento em lares de terceira idade ou a um recolhimento no espaço doméstico. Estes fenómenos impõem aos mais idosos uma expressiva diminuição de funções sociais.

É imperativo que as sociedades atuais baseiem, na sua cultura educativa, espaços promocionais que propiciem o diálogo ao encontro de gerações.

Fox & Gilles (1993:423) referem que não é tão importante a promoção de encontros entre gerações, mas sim a natureza desses contactos e, mais ainda o tipo de participação e a qualidade da intervenção e a comunicação estabelecida.

Carvalhos & Peixoto (2000:9) defendem que:

“ a prática intergeracional é inclusiva, visa o respeito pela diversidade, a pluralidade de valores, costumes e identidades individuais e colectivas e a construção de novos espaços de conhecimento, comunicação e de relação”.

Também Mendes (2005:55) refere que o progresso mundial exige uma atualização permanente do saber que facilite a comunicação, a integração social e a uma outra atitude relacional instituída em fundamentos e estruturas resistentes que sustentem não apenas a convivência entre gerações, mas que “ fazem e refazem os contornos do nexo geracional”.

Também Palmeirão e Menezes (2009:23) nos dizem que nos dias de hoje “ ser velho «dura» mais tempo” e que por isso a educação intergeracional é um desafio com maior interesse na sociedade atual.

Face ao descrito neste ponto, entendemos que a EI é a educação que emerge da relação entre os vários níveis etários, através de diálogos livres e participações de culturas diferentes, entre as várias idades, no sentido de todos descobrirem os valores que possam conduzir ao enriquecimento de projetos de vida das pessoas em sociedade.