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II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3.1. Caracterização de Vilarelho da Raia Chaves

Enquadramento Geográfico e População

Vilarelho da Raia, aldeia situada no norte de Portugal, (Figura 4 -

Localização de Vilarelho da Raia - Chaves) terra raiana, encostada à Galiza,

dista 15 km da cidade de Chaves, é banhada pelo Rio Tâmega e faz limites com os concelhos Galegos de Oimbra e Verin. É sede de freguesia à qual pertencem as aldeias de Cambedo, Vila Meã e Vilarinho da Raia. As aldeias mais próximas são: Vilela Seca (Portugal), que dista 3 km e Rabal (Galiza), que dista cerca de 500 metros.

Figura 4 - Localização de Vilarelho da Raia - Chaves9

Em tempos, a freguesia de Vilarelho da Raia era muito populosa, decrescendo nos anos 60 e 70 com a emigração. Embora, a taxa de natalidade

8 Fonte: Centro Social Cultural e Desportivo de Vilarelho da Raia e Corpos Sociais 9http://www.cmchaves.pt acesso em 20-07-2011

sofresse um decréscimo, acompanhando o resto do mundo rural, houve a partir dos anos 80 uma variação positiva, com o regresso à aldeia de famílias que se encontravam emigradas.

Quanto à população (dados para a freguesia), segundo os censos de 2001, tinha 633 habitantes residentes, tendo baixado para os 558 habitantes, segundo os censos realizados no presente ano, sendo que a maioria da sua população é envelhecida.

A sua história

Quanto à sua história e olhando às inscrições das datas nas padieiras das portas, quase todas do Século XVII e algumas do Século XVIII, somos levados a crer que a aldeia será dessa data. Aliás a maioria da construção do seu núcleo são mesmo dessas datas, mas tudo indica que a aldeia é povoada desde a romanização como o seu topónimo sugere, existindo mesmo nos arredores numerosos vestígios dessa cultura, destacando-se entre eles uma sepultura, um altar e cerâmica muito variada.

Vilarelho e as restantes aldeias da freguesia, também desde sempre desempenharam um papel muito importante na defesa da região e do país sempre que foi invadida. Foi muito sacrificada durante a Guerra da Restauração, saqueada, assaltada e incendiada, mas sempre lutadora e fiel à bandeira portuguesa.

Também, constituem vestígios, as pedras de um castelo e de uma atalaia, o forno comunitário, igreja paroquial e construções tradicionais típicas que se podem apreciar percorrendo a aldeia.

Atividades Económicas

Distribuída por 17,75 Km2 e por terras essencialmente agrícolas e alguma floresta, com predominância do pinheiro, carvalho, cereais e vinha. A agricultura é praticamente a única atividade da aldeia, mas nem sempre foi assim, pelo menos até à abolição das fronteiras, pois como qualquer terra de fronteira que se preze, Vilarelho da Raia teve os seus destinos ligados aos

caminhos do contrabando. Sendo uma aldeia fronteiriça, com grande extensão de raia seca, num vale permeável, dedicou-se ao longo dos séculos, até 1993, ao contrabando, pelo que, a sua atividade principal era o comércio. Há quem ainda hoje se lembre de dizer, em tom de brincadeira, que antigamente só havia duas classes profissionais: os Contrabandistas e os Guardas-fiscais. Claro que não era bem assim, mas era quase. Aliás Vilarelho da Raia está referenciada como uma das terras dos caminhos do contrabando. Atualmente a sua população, bastante envelhecida, vive de uma agricultura de subsistência, mas essencialmente dos rendimentos e reformas que amealharam no estrangeiro

Património

Quanto ao património arquitetónico, a freguesia encontra-se bastante descaracterizada, em virtude das muitas construções (de estilo moderno), que estão em curso desde há uns anos a esta parte. No entanto, ainda são visíveis algumas casas antigas características da região, embora se encontrem em estado de degradação.

É de referir a existência de três fornos comunitários, um no Cambedo, outro em Vila Meã e outro em Vilarelho, que datam de 1880 e em funcionamento. O forno é de grandes dimensões, teve sempre grande importância para a população da aldeia e também para os pobres que por ali passavam para matar a fome e abrigar-se do frio. Assim como, a existência de um moinho a água, entre Vilarinho e Vila Meã.

Várias e de algum valor artístico, são as igrejas, capelas e cruzeiros, construídas em vários estilos, do românico ao barroco. É de referir, que cada uma das três entradas/saídas da aldeia têm uma capela como a da Nossa Senhora das Neves, à saída para Espanha, edificada em 1771 e reconstruída noutro local em 1995, para possibilitar a construção do polidesportivo. Também é de salientar a capela de santa Catarina, possivelmente transferida há vários séculos do Vale da Ermida (vila romana) e reedificada na estrada de Vilarelho para o Cambedo.

No centro da aldeia ergue-se a Igreja Paroquial, reconstruída em 1698 depois de um incêndio, como consequência das lutas na Guerra da Restauração. A Igreja paroquial de Vilarelho foi várias vezes saqueada e destruída. A Igreja sofreu igualmente as vicissitudes do saqueamento e incêndio a que a aldeia foi submetida nas épocas passadas. Foi reedificada em 1698, conforme consta da inscrição mural. Tem por patrono Santiago e perto dela eleva-se um artístico cruzeiro, também de linhas barrocas. Desta localidade partiam peregrinações e constituía etapa de passagem de outros peregrinos, por isso, esta aldeia, tal como todo este percurso, é parte integrante de um dos históricos caminhos de Santiago.

Não se pode deixar de referir as águas minero-medicinais da fonte da facha. Construída em 1865, brotavam do fundo de uma escavação praticada numa rocha a um metro abaixo da superfície do solo (atualmente são captadas por motor elétrico). São carbonatadas-sódicas, têm sido utilizadas para tratamento de doenças gastrointestinais e artritismo há mais de uma centena de anos.

Mais recentemente, foi construído um polidesportivo e um Centro Comunitário de Assistência Social. Esta aldeia sempre demonstrou um grande interesse por atividades histórico-culturais, tendo sido construída a sede do Centro Social Cultural e Desportivo. Com o apoio da Junta de Freguesia, da Câmara Municipal, do Instituto Português da Juventude, apoio financeiro da comunidade emigrante, onde se destacam os Irmãos Ramos (Brasil) e Luso- Americanos, mão-de-obra gratuita dos residentes e pedra doada pelos amigos de San Ceprian (Galiza), de 1987 a 1995, a Direção do Centro Cultural e Desportivo, conseguiu concretizar, por administração direta, uma obra ímpar, toda em granito da região. Uma das prioridades deste Centro, foi a instalação de um importante Museu Etnográfico e Arqueológico.

É de realçar que este museu nasceu em 1988, por um grupo de pessoas, coordenado por um adulto e com o apoio do pároco da freguesia, um grupo de jovens, com as idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos, que efetuaram uma recolha de ditos, cantares, histórias e orações antigas. Levantamento, recolha e catalogação de móveis e utensílios de uso doméstico tradicional,

ferramentas artesanais e de muitas outras peças de utilização rural, para a formação do “Museu da Freguesia de Vilarelho da Raia”. Este projeto “Recuperação dos Valores Etno-Arqueológicos da Freguesia de Vilarelho da Raia” foi premiado pelos “Prémios de Conservação da Natureza e do Património Cultural – 1988”, patrocinado pela Ford Lusitana e organizado e apoiado pelo Ministério da Cultura. Este reconhecimento e estímulo económico serviram de base para a instalação do Museu que ainda hoje existe com cerca de 500 peças. Para o efeito, foi preponderante a colaboração dos responsáveis do Museu da Região flaviense, donde se destacam o Dr. Luís Carvalho, o Sr. João Baptista Martins e o Sr. Carlos Félix. Foi efetuada a respetiva inventariação e classificação das peças e instaladas por coleções e áreas de atividade. Atualmente, o espaço do Centro Cultural é reduzido para o espólio existente. Ao longo da última década, as sucessivas direções do Centro Social Cultural e Desportivo de Vilarelho da Raia, acumularam espólio e efetuaram apenas tratamento esporádico das peças, não dando continuidade à classificação nem à realização de qualquer estudo.

Aliás, é neste Centro Social que levamos a cabo o nosso estudo e desenvolvemos aqui o nosso trabalho.

Festas e Romarias

Quanto a festas e embora a capela do Campo seja de dedicação à Nossa Senhora das Neves e a igreja de devoção a Santiago, a festa é em honra do Senhor das Almas e realiza-se em finais de Agosto, embora o dia seja o primeiro Domingo de Setembro. A festa em honra do Senhor das Almas é muito conhecida e aplaudida pelo seu grandioso espetáculo de pirotecnia. É de grande importância para todos os Vilarraienses, uma vez que neste fim-de-semana, normalmente todos os emigrantes/imigrantes da terra estão de volta às suas origens. A esta festa ocorrem ainda alguns milhares de pessoas, nomeadamente Galegos, para apreciar uma das mais famosas descargas de fogo-de-artifício de toda a região.

Gastronomia

Tal como sucede na sede de concelho (Chaves), é o fumeiro, o presunto e o folar os reis da gastronomia da aldeia de Vilarelho da Raia. Por tradição, é no porco e seus derivados, que os naturais e habitantes desta aldeia vão buscar a sua fonte principal de alimentação

Atividades Culturais, Recreativas e Desportivas10

Para uma aldeia localizada tão no interior norte de Portugal, é com agrado que pudemos verificar o seu dinamismo e sua vastíssima ação em iniciativas sociais que envolvem os seus habitantes em atividades culturais, recreativas e desportivas. Aqui assume um papel primordial e importante o Centro Social, Cultural e Desportivo de Vilarelho da Raia que através das suas iniciativas promove ações de divulgação e dinamização de atividades às suas gentes.