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Práticas de Educação Intergeracional – sua importância

II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.4. Animação Sociocultural e Educação Intergeracional

2.4.2. Práticas de Educação Intergeracional – sua importância

Segundo Rosa (s/d) 5 “ O valor de um homem mede-se pelas contribuições deixadas para as gerações futuras”.

Não são assim tão poucos os autores que defendem a importância e o contributo que a ASC pode estabelecer entre indivíduos de vários gerações e as suas práticas.

Numa perspetiva recente Lopes, Galinha & Loureiro (2010:80), dizem- nos que a ASC é entendida como:

“(…) uma eficaz metodologia no seio da educação ou um conjunto de estratégias com vista ao desenho, desenvolvimento e avaliação de projectos, potenciadoras da relação, da comunicação e da interacção dos indivíduos, na sua expressão humana, em todos os âmbitos etários, transversal enquanto resposta social integrada, de interesse social, educativo, cultural, politico, económico e comunitário.”

Tal como pudemos verificar, na opinião destes autores a ASC, pode ser compreendida como uma metodologia educativa ou um conjunto de estratégias

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que visam potenciar as relações, da comunicação e da interação dos indivíduos em todas as faixas etárias de forma transversal.

Assim, achamos que a Educação Intergeracional (EI), pode desenvolver- se em vários espaços educativos, com maior proeminência numa base de Educação Não Formal.

Tal como referimos no ponto 2.3.26, a Educação Não Formal visa o pluralismo e a partilha de vivências, gera afetos e promove as relações humanas e abrange toda a população promovendo aprendizagens intergeracionais, numa perspetiva de Educação Permanente, associada com a vida. No entanto, se por um lado achamos indispensável os diálogos e as práticas entre as várias gerações, por outro lado assistimos, nos dias que correm, a um maior distanciamento entre os diferentes grupos etários.

Na nossa opinião, em Portugal, não há grande visibilidade, de práticas ou eventos que promovam, com a grandiosidade merecida, práticas de Educação Intergeracional. Muito pontualmente e ocasionalmente podem ocorrer mais nas zonas rurais do que nas urbanas. Longe vão os tempos em que os serões e as tertúlias de antigamente juntavam avós, pais e netos em partilhas de saberes, experiências e vivências. A participação da população, ainda pode ser vista em participações sociais, culturais, religiosas, desportivas e recreativas, em meios mais rurais, em atividades como: a matança do porco, as ceifas, as vindimas, as lagaradas, os jogos tradicionais, os encontros de folclore, a visita Pascal, o artesanato, as festas, etc. De facto, o meio rural ainda é um espaço onde são promovidas ações que fazem encontrar indivíduos disponíveis para trocar e partilhar ideias e saberes. Contudo, Palmeirão & Menezes (2009:25) dizem-nos que “ Em Portugal, o acto de participar é ainda um processo recente e, neste contexto, é necessário trabalhar para “activar a participação””.

Urge adotar estratégias adequadas, tal como referem Peres & Lopes (2007) no sentido de fornecer uma oferta cultural coerente e mantida no tempo

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para consolidar o público já existente, aumentando a intensidade e a frequência das suas práticas.

Conforme refere Moragas (2004), as novas estruturas familiares, menores e mais maleáveis, os mais velhos, que eram as figuras centrais do modelo de família patriarcal, passaram a exercer papéis periféricos. Se, por um lado, os idosos ganharam mais autonomia e independência, por outro, houve um afastamento entre os grupos. Assim, o convívio dos mais velhos com os mais novos - condição primeira para o aprendizado de um vocabulário comum – é muito menor e agrava ainda mais o isolamento e o estranhamento entre as gerações. O respeito aos velhos, por sua experiência como base social, é substituído pelo respeito à ciência e à inovação tecnológica. Para o autor, a estigmatização de uma geração transformou-se num conflito silencioso, que categoriza os idosos como inúteis e forma um bloqueio intergeracional, o que fortalece o encerramento de grupos etários. Ainda que a segmentação das idades seja significativa para o desenvolvimento em determinados momentos, é, porém, alienante enquanto postura definitiva. Para Galindo (2009:49) para as pessoas idosas é importante integrar-se e participar em práticas, sendo que através delas se “(…) procura romper o isolamento, o que as leva a fazer coisas sendo também uma forma de relacionar-se e em definitivo sentir-se no mundo e sentir- se vivo mediante o contacto com os outros”.

As práticas intergeracionais facilitam a partilha de projetos e aprendizagem entre os vários grupos etários, ao mesmo tempo que, segundo Palmeirão & Menezes (2009:29), “reforçam os laços de cooperação e de solidariedade, como princípios de uma sociedade que se quer igual para todos e democrática”.

Neste sentido, será imperativo criarem-se mecanismos de reeducação social para uma saudável convivência com a velhice, de garantir ao idoso a dignidade como um bem legitimamente reconhecido a qualquer ser humano e o respeito aos seus direitos não como próprio de uma minoria a ser protegida, mas como verdadeiro sistema de convívio de gerações.

Ainda há muito que aprender sobre a educação intergeracional e as suas práticas levando mesmo, Palmeirão & Menezes (2009:29) a afirmarem que: “A aprendizagem intergeracional em exercício é uma realidade em inúmeras partes do mundo”.

Neste contexto, Afonso (2009:55) oferece-nos um novo conceito e que ainda está pouco difundido: os Programas Intergeracionais (PI).

Segundo Afonso (2009:56), um PI consiste:

“(…) no desenho de situações de interacção continuada de recursos de aprendizagem, entre pessoas mais velhas e mais novas, sem laços biológicos, de modo a promover relações afectivas, trocas culturais e a criação de um sistema de apoio e de segurança entre gerações”, promovendo assim o desenvolvimento de relações interpessoais entre diferentes gerações.”

Os PI devem garantir benefícios para os diferentes grupos geracionais implicados, podendo incluir a partilha de habilidades, conhecimentos e experiências. Tal como nos refere Ventura-Merkel e Lidoff (1983) citados por Afonso (2009:56) que consideram que “(…) as actividades e programas intergeracionais devem promover a cooperação, a interacção e intercâmbio de indivíduos de diferentes gerações através da partilha de habilidades, conhecimento e experiências”.

Em síntese, os PI, segundo Afonso (2009), podem assumir diferentes formas, com atividades, objetivos, duração e grupos muito variáveis, no entanto, todos devem apresentar determinadas garantias para que de facto, promovam uma sociedade para todas as idades, nomeadamente:

 Envolver pessoas de diferentes gerações;

 Implicar benefícios para os participantes das diferentes gerações implicadas;

 Garantir a promoção de relações de intercâmbio entre os participantes de diferentes gerações.

A construção de um Programa Intergeracional deve estar vinculada à comunidade em que será implementado. Este aspeto implica que, no traçado do programa, seja contemplada uma fase do conhecimento da comunidade, características, potencialidades, limitações e um levantamento de necessidades das mesmas. Este diagnóstico do meio social a que o programa se dirige, pode fazer com que o PI constitua uma forma de resolução de problemáticas da comunidade. (Afonso:2009).

Os PI, através da promoção do diálogo intergeracional, apresentam importantes benefícios tanto para os participantes mais novos como para os mais velhos, sendo este um requisito básico deste tipo de programas. Os PI podem contribuir para que os participantes mais velhos se sintam como membros ativos e valorizados pela sociedade, se percebam melhor a si próprios, se sintam mais motivados, produzam melhorias na sua memória, nas suas funções cognitivas e nas suas relações interpessoais.

Para MacCallum et al. (2006), com os PI, os mais novos também obtêm ganhos: individuais, relacionais e comunitários. Os participantes mais jovens melhoram a sua perceção, atitudes, afinidades, conhecimentos sobre o envelhecimento, autoestima, comportamentos pró-sociais, comportamento e rendimento escolar, bem como nas relações sociais. Assim, os PI podem contribuir para a desconstrução que os mais velhos têm dos mais novos e vice- versa e, desta forma, facilitar as relações interpessoais entre diferentes grupos geracionais.

Concordamos com Adlai Stevenson (s/d), político e diplomata Americano, quando proferiu: “ O que parece o auge do absurdo numa geração, muitas vezes torna-se o auge da sensatez na seguinte”.7

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2.4.3. Animação Sociocultural/Animação Desportiva e Práticas de