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Os homens que se confiam a uma unidade de medida definida por outros para avaliar o seu desenvolvimento pessoal,

3.6. A avaliação de professores com base na referencialização

Nunca se é inocente ao avaliar: quer o confessemos ou não, a avaliação remete sempre para um referente. “Avaliar não é pesar um objecto que se teria podido isolar no prato de uma balança; é apreciar um objecto em relação a outra coisa para além dele”. (Meirieu, 1994, p.13)

Considerando ser pertinente a concepção de que a avaliação é um processo, utilizado para equacionar o nível de adequação entre um conjunto de dados observados e um conjunto de critérios definidos com a intenção de se adoptarem as melhores decisões, entendemos partir da afirmação de Hadji (1994, p. 31) de que a avaliação é:

um acto pelo qual se formula um juízo de “valor” incidindo num objecto determinado (indivíduo, situação, acção, projecto, etc.) por meio de um confronto entre duas séries de dados que são postos em relação: dados que são da ordem do facto em si e que dizem respeito ao objecto real a avaliar; dados que são da ordem do ideal e que dizem respeito a expectativas, intenções ou a projectos que se aplicam ao mesmo objecto,

para introduzir a importância da referencialização no processo avaliativo.

Ao analisar os objectos e critérios de qualidade da avaliação, Paquay, afirma que: avaliar, não é apenas obter informações a respeito de um objecto, de uma pessoa ou de um acção. Avaliar é sempre fazer um julgamento quanto ao valor desse objecto, dessa pessoa ou dessa acção. É de facto comparar aquilo de que nos apercebemos (o que observamos ou o que medimos) com aquilo que entendemos.

Podemos dizer que, enquanto avaliamos, “construímos uma imagem da realidade observada (aquilo a que ele chama de “referido”) e comparamo-la com as características atendíveis dessa realidade (a que ele chama de “referente”). A maioria das vezes estas duas operações são simultâneas” (2004, p. 14 -15). Considerando que a avaliação consiste na relação entre o real e o ideal, entre o que existe e o que se espera, entre um desempenho efectivo e um desempenho desejado, Hadji (1994, p. 31) entende o acto de avaliar como uma “leitura de uma realidade observável (…) por meio de um confronto entre duas séries de dados que são postas em relação”.

Por seu lado, Lesne (1984, citado por Rodrigues, 1999, p. 25) entende que avaliar é “pôr em relação, de uma forma explícita ou implícita, um referido (o que é constatado ou apreendido de forma imediata, objecto de investigação sistemática, ou de medida) com um referente (que desempenha o papel de norma, de modelo, do que deve ser, objectivo perseguido, etc”, podendo ser considerado como o processo em que se determina o grau de adequação entre o referido e o referente. O mesmo considera Figari (1996, p. 48), quando afirma que a avaliação é “uma reflexão (para não a reduzir a uma medida) sobre o desvio entre o referente (que fixa o estado final necessário ou desejável e

“desempenha um papel instrumental”) e o referido (que designa a parte da realidade escolhida como “material” para esta reflexão ou para esta medida)”. O referido corresponde, então, a dados da ordem do facto “aquilo a partir de quê um juízo de valor é emitido (…) o referido é uma representação dos factos” (Barbier, 1985 citado por Figari, 1996, p. 48), ou aquilo que “é constatado ou apreendido de forma imediata, objecto de investigação sistemática ou de medida” (Lesne, 1985, citado por Rodrigues, 1999, p. 25). O referido pode, então, ser entendido como a representação dos factos, isto é, do objecto que está a ser avaliado, sendo o referente uma representação de objectivos, ou seja, dos critérios e indicadores em que se baseia a observação desse mesmo objecto.

Assim entendidas as funções do referido e do referente, Hadji considera que ninguém pode desenvolver um processo de avaliação sem, antecipadamente, “adoptar um valor, quer dizer, quando constituir uma ideia ou um conjunto de ideias como referente, em nome do qual se torne possível apreciar a realidade” (1994, p. 29) pelo que considera haver uma dupla articulação no processo de avaliação. Por um lado “entre o referido e o referente, visto que avaliar consiste em atribuir um “valor” (…) a uma situação real à luz de uma situação desejada, ao confrontar o campo da realidade concreta com o das expectativas”, e, por outro, “entre o referido e o referente, e “as “realidades” de que eles constituem um modelo reduzido. Com efeito é preciso construir o referente e o referido” (1994, p. 32).

Explicita Alves (2004, p. 49), que a “avaliação conceber-se-á, então, como uma actividade de comparação entre a produção observada e o modelo de referência do avaliador (…). Compreender, assim, as decisões avaliativas do professor é debruçar-se sobre a estrutura e o funcionamento do seu modelo de referência”.

Avaliar implica, portanto, a utilização de um conjunto de procedimentos que levem à construção do referente e do referido e à posterior análise do grau de adequação entre ambos (Hadji, 1994; Figari, 1996). Por isso, e conforme Rodrigues (1999, p. 25) o aspecto mais importante da avaliação consiste, antes mesmo da produção de juízos de valor, na articulação entre a construção de objectivos (enquanto referentes) e a produção desses mesmos juízos de valor, dada a capital importância do referente em todo o processo que culmina na produção desses juízos, o que vai no sentido de Figari (1996, p. 52) que considera que o elemento central de todo o processo de avaliação é o da construção do referente advogando, assim, a necessidade de se recorrer à referencialização, entendida como “o processo de elaboração do referente (articulado em torno das suas duas dimensões: geral e situacional)”:

a referencialização consiste em levantar os índices de um dado contexto e em construir, justificando-o com dados, um corpo de referências relativas a um objecto (ou a uma situação), por relação ao qual poderão estabelecer-se diagnósticos,

projectos de formação e avaliações. A referencialização pretende ser um método de delimitação de um conjunto de referentes e distingue-se, nisso, do referencial, o qual designa um produto acabado, e mais exactamente, uma formulação momentânea da referencialização” (Figari, 1996, p.52).

Actualmente, vem-se assistindo a uma tendência, nos países industrializados, para construção de referenciais de competência (chamados standards), que Paquay (2004, p. 19) considera serem, no fundo, uma compilação “de situações profissionais às quais os docentes devem poder fazer face assumindo esta ou aquela tarefas profissionais”.

Portanto, o processo de avaliação terá que se iniciar sempre com a construção do referido, defendendo Alves (2001) que essa construção se deve desenvolver de forma faseada, abrangendo os momentos de identificação do objecto real a avaliar, de determinação dos seus aspectos mais importantes, de definição dos indicadores relativos a cada um dos aspectos a analisar, da recolha de dados de partida e, finalmente, da recolha de informações concretas.

Para Figari (1996, p. 36) só será possível avaliar um objecto (seja ele “um estabelecimento, uma organização, um serviço, um dispositivo”) se ele tiver sido “já referenciado, definido, circunscrito” tendo dado “lugar a uma descrição das suas finalidades, funções, especificidades, ou seja, um objecto de qualquer forma já conceptualizado”. Veloz (2000) refere que se a avaliação se constitui como um juízo de valor que precisa de referentes bem definidos a ter em conta no momento de os confrontar com a situação a avaliar, é contudo essencial ter consciência da necessidade da identificação plena desses referentes com a sua aplicação. O mesmo será dizer que construir referentes e depois aplicá- los de forma não adequada aos pressupostos que levaram à sua construção não constitui uma avaliação séria e que, nesse caso, o que resulta do processo avaliativo não é adequado aos fins de uma avaliação que, no nosso entender, deverão estar voltados para a identificação dos pontos mais frágeis, tanto do objecto avaliado como do contexto em que está inserido, de forma a permitir ultrapassa-los, promovendo a melhoria do processo educativo.