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Os homens que se confiam a uma unidade de medida definida por outros para avaliar o seu desenvolvimento pessoal,

3.1. Aproximações à definição de um conceito

3.1.1. Considerações gerais

A avaliação, além de constituir um dos temas que tem sido objecto de atenção mais intensa nos últimos anos, tem vindo, ao longo das épocas, a adquirir uma grande variedade de significados, de acordo com a evolução da própria sociedade: alterações económicas, sociais, políticas e culturais (Alves, 2004, p. 31).

Apesar da avaliação ser imanente a toda a actividade humana, porque a todo o momento as nossas acções, e as dos outros, são analisadas e avaliadas e a contínua emissão de juízos de valor fazer parte da nossa racionalidade, ela não é, e nunca foi, uma questão pacífica, pois “inflama necessariamente as paixões, já que estigmatiza a ignorância de alguns para melhor celebrar a excelência de outros” (Perrenoud, 1999, p. 9), implicando sempre posturas emocionais, para além dos fundamentos racionais, mais ou menos subjectivos, que lhe estão subjacentes.

Sendo a avaliação uma “parte inevitável de todo o empreendimento humano” (Rodrigues, 1999, p. 18), ela é igualmente “uma das actividades fundamentais de todos os serviços profissionais” (Stufflebeam & Skinfield 1989, p. 17), e “tem vindo a assumir uma importância crescente nos mais variados domínios da sociedade” (Simões, 2000, p. 7) por ser uma poderosa ferramenta de gestão no sentido em que pode proporcionar dados que permitam a melhoria e desenvolvimento das práticas, o planeamento das estratégias, fornecer sustentabilidade à tomada de decisões em todos os domínios, e porque, como diz Clímaco (2000, p.5), “introduz mecanismos de organização da informação sobre aspectos ou sectores específicos de uma organização ou área de actividade, que têm como consequência promover um olhar sobre si mesma, procurar uma explicação, um sentido para a acção empreendida, melhorar os resultados ou a sua eficácia”.

Mas, se é verdade que o Homem é capaz “de julgar o que é e o que faz, e possuindo, para isso, uma certa ideia de perfeição que se exprime na (…) capacidade de distanciação crítica face à realidade, e, sobretudo, face à sua própria realidade” (Hadji, 1994, p. 42), é igualmente verdade, especialmente quando está em jogo a avaliação do desempenho, que essa não é uma tarefa leve. Avaliar pessoas não é fácil, como não é fácil ser-se avaliado, o que de alguma forma se pode inferir da posição de Hadji (1994, pp. 22-23) quando considera que a avaliação se desenvolve “no espaço aberto entre a dúvida e a certeza pela vontade de exercer uma influência sobre o curso das coisas, de “gerir” sistemas de evolução, constituindo o homem o primeiro desses sistemas. A avaliação é o instrumento da própria ambição do homem de “pesar” o presente para “pesar” no futuro”.

No entanto, e apesar da sua importância a vários níveis, Méndez (2002, p. 56) afirma que a avaliação é, muitas vezes, tratada “com demasiada ligeireza, porque se parte da premissa inquestionada de que “é preciso avaliar”, sinónimo equívoco de que “é preciso examinar”, antes de averiguar ou de interrogar o sentido e o significado próprio do acto de avaliar”. Hadji (1994, p 27), ao considerar que “a primeira dificuldade, quando se trata de avaliação, é sobretudo entendermo-nos sobre uma acepção” e isto porque um dos principais problemas com que nos deparamos é

a confusão que reina em torno da própria noção de avaliação: com efeito, e de acordo com as diversas operações que realiza, à avaliação é atribuído o sentido de

controlo, de verificação, de comparação de indicadores, de medida de nível, de sanção, etc. O mesmo é dizer que o sentido da avaliação, enquanto processo de regulação … nem sempre surge de forma evidente aos interessados, na primeira fila dos quais figuram, como é óbvio, os avaliados (Figari, 1996, p. 35).

Com efeito, a grande variedade de domínios que envolve, dos métodos que podem ser utilizados e dos actores envolvidos, levam Guba e Lincoln (1989, p. 22) a afirmar que a avaliação é um “processo de construção e reconstrução que envolve um número interactivo de influências”, sendo, portanto, uma construção mental “cuja correspondência com alguma “realidade” não é e não pode ser um fim”. Daí concluírem que “não existe um modo “correcto” para definir avaliação”, do mesmo modo que Figari (1996, p. 179) a considera difícil de caracterizar pelas suas “diversas concepções e abordagens infinitas”.

O que poderemos, então, entender por avaliar? Vocábulo oriundo do latim, avaliar (

a + valere

) tem como primeiro sentido a atribuição de valor e mérito, ou seja, a formulação de um juízo de valor sobre algo com o intuito de determinar a sua qualidade. No Dicionário de Língua Portuguesa encontramos:

Avaliação,

s.f.

acto de avaliar; valor determinado pelos avaliadores; cômputo; precisão;

fig.

apreço; estima.

Avaliar,

v.tr.

determinar a valia ou o valor de; apreciar o merecimento de; reconhecer a grandeza,

força ou intensidade de; orçar; computar;

refl.

reputar-se; apreciar-se; julgar-se como. (

De valia)

A avaliação é, assim, um conceito polissémico e ambíguo, que pode ser entendida em múltiplas perspectivas - como um juízo da qualidade, uma forma sistemática de analisar algo importante, um acto rotineiro e diário que levamos a cabo sempre que pretendemos tomar uma decisão ou uma acção, que executamos de forma informal relativamente a centenas de coisas no dia a dia. É, também, um processo complexo mas, no entanto, fundamental para a credibilidade de qualquer projecto ou programa, complexidade reafirmada por Correia (2006, p. 18) quando considera que são vários os significados atribuídos à avaliação: se, para uns, avaliar pode significar, entre outras coisas, medir, seleccionar, acreditar, quantificar e classificar, para outros, pode significar aprender, dialogar, melhorar, compreender. Do mesmo modo, Stufflebeam e Skinfield (1989, p. 19) dizem que “uma definição importante, e que se vem dando desde há muito tempo, afirma que a avaliação supõe comparar objectivos e resultados, enquanto que outras exigem uma conceptualização mais ampla, apelando a um estudo combinado do trabalho em si e dos valores”.

Se Hadji (1994, p. 27), por um lado, considera que “avaliar pode significar, entre outras coisas: verificar, julgar, estimar, situar, representar, determinar, dar um conselho”, por outro Méndez (2002,

p. 70) afirma, não sem razão, que existe “uma tendência tradicional para avaliar sempre com intenção de corrigir, penalizar, sancionar, classificar”, de alguma forma em função de uma concepção de avaliação, que persistiu durante muito tempo tendo, essencialmente, por base a medida e a classificação. Pacheco (2001, p. 128), entende-a como “um processo global, realizado por diferentes pessoas e em sucessivos níveis e dependente de uma estrutura facetada que implica, entre outros aspectos, a perfilhação de uma noção de avaliação e a consideração das suas diferentes dimensões” que, por um lado implica medida, no sentido da descrição quantitativa de um determinado comportamento e, por outro, classificação, ou seja, integração do resultado obtido numa determinada escala ou ordenação dentro de uma estrutura hierárquica, acabando por ser um processo de obtenção e tratamento de informação que conduz à elaboração de um juízo de valor, que leva a uma tomada de decisão.

Nessa mesma linha, Hadji (1995, pp. 28-29), considera que avaliar é “um acto de julgamento”, que tem por base um determinado modelo (referente), com o objectivo de “preparar e esclarecer uma decisão de acção, com vista a uma melhor “adaptação” das acções subsequentes”.

Por seu lado, Scriven (1967, citado por Stufflebeam, 1978, p. 104), defende que a avaliação é uma “actividade metodológica que consiste simplesmente na recolha e na combinação de dados relativos ao desempenho, usando um conjunto ponderado de escalas de critérios que levem a classificações comparativas ou numéricas, e na justificação dos instrumentos de recolha de dados, das ponderações e da selecção dos critérios”, enquanto Ribeiro (1997, p. 75) entende que ela deve ser “uma operação descritiva e informativa nos meios que emprega, formativa na intenção que lhe preside e independente face à classificação”.

Tendo em conta tudo o que atrás foi referido, podemos considerar, numa primeira análise, que avaliar será, em sentido lato, o processo de recolha de informação, feito de determinada forma e com um determinado objectivo. É, certamente, um processo complexo, dirigido para a obtenção de dados de vária ordem no sentido de corresponder a diversas abordagens. E a sua complexidade reside, não tanto na escolha da forma de recolha dos dados (ou método), mas, essencialmente, nos objectivos que se pretende atingir a partir das conclusões alcançadas.