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Os homens que se confiam a uma unidade de medida definida por outros para avaliar o seu desenvolvimento pessoal,

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

E. Posições sobre os vários instrumentos de avaliação

E.2. Quanto à observação de aulas

O desempenho do professor é feito essencialmente na sala de aula com os alunos. Embora haja outros aspectos a serem avaliados aspectos administrativos, aspectos relacionados como trabalho na escola, participação em projectos etc., é na sala de aula que o professor faz o seu trabalho. Por isso, o modelo simplificado de avaliação veio, sem dúvida, retirar uma componente fundamental.

[Número de aulas observadas] Se o avaliador tem forma de obter outras informações sem ser através das aulas assistidas, poderão chegar, mas parece-me pouco uma por período. Por outro lado, se aulas assistidas são marcadas antecipadamente, leva a que se trabalhe tipo no estágio. As próprias grelhas também podem levar a isso. Em conversas informais nota-se que há certa resistência por parte dos professores, associa-se esta prática a um regresso ao estágio. (E1)

O professor tem de ser avaliado em contexto de sala de aula e não só. Não acho muito justo marcar os dias de aulas assistidas, pois naqueles dias o professor até pode dar as aulas muito bem, preparar-se para ser avaliado, pode não ser assim ao longo do ano e ser muito bom naqueles três dias. O que se deve observar na sala de aula deve ser a relação com as crianças, o trabalho que se faz com elas, os materiais que se usam, a planificação, mas a relação com a criança é o fundamental, porque se não houver uma boa relação o trabalho não é bom.

Eu penso que os professores ficam sempre um bocado retraídos quando há uma observação

por alguém. (E2)

Não tenho qualquer problema relativamente às aulas assistidas, mas um professor que é bom professor não precisa de ser avaliado por um colega numa aula.

Eu penso, que de uma maneira geral, o professor faz bem o seu trabalho e não tem receio de ser observado, mas a questão de sermos injustiçados por alguma leitura menos correcta em relação ao nosso comportamento. É preciso ver, que um bom momento de avaliação pode estar fora de um contexto em que possa ser avaliado. Aparecem ali três aulas completamente

As aulas assistidas: não sei em que é que o avaliador se possa basear para dizer que a aula foi bem dada ou não. Trabalhei vários anos na telescola e todos os trimestres, tinha aulas

assistidas pela inspecção, por isso não tenho receio das aulas assistidas. (E4)

Acho que uma avaliação que se possa basear na observação de uma aula, ou duas ou três, naquele momento pode não dizer nada sobre o que é aquele professor, é quando nós éramos estudantes e fazíamos o estágio. Naquele dia, fazíamos tudo muito bonito. O professor sabe que vai ser observado numa aula, pode muito bem “fazer flores” nesse dia, e nos outros dias? Eu penso que seria mais objectivo, ver o trabalho ao longo do ano, por exemplo através de um processo, ver de que maneira aquela criança evoluiu face ao trabalho que ia sendo desenvolvido, de que forma estruturou o trabalho. Por exemplo, o que eu faço depois de ter registado esta dificuldade, que estratégias vou utilizar, que materiais vou construir para aquela situação. Temos que pensar o que podemos fazer bem durante o ano inteiro e as aulas assistidas devem inserir-se nesse contexto. Este modelo pode levar ao contrário, pensar bem no que se faz naquelas 3 aulas. No caso específico de educação especial, há ainda a considerar a especificidade dos alunos. Por exemplo, no caso de se tratar de uma criança com problemas de carácter emocional ou de comportamento, e que se naquele dia não colaborar, basta a própria presença de outra pessoa, pode não se conseguir fazer o trabalho

que estava programado. (E5)

Não era nada, porque um professor pode preparar muito bem três aulas e não fazer nada daquilo nas outras todas. Também essas aulas, pela existência de elementos estranhos,

poderia correr menos bem. (E6)

Eu penso que se deve fazer a observação na aula. Mas acredito que possa causar algum mal estar. [Suficiente 3 aulas assistidas] Não sei. Nós sabemos que o trabalho com estas crianças, mesmo que a aula seja bem preparada, às vezes resulta, outras vezes não resulta. Não depende de nós, ou do nosso trabalho. Por vezes basta estar outra pessoa, que o

comportamento modifica totalmente. (E7)

Não sei se têm razão de ser. Numa aula observada um professor pode prepará-la e até fazer grandes floreados, e depois durante as outras aulas, não fazer nada. Penso que há outros

elementos mais válidos. (E8)

Não reconheço aspectos positivos. Parece-me que estar ali como estagiária, acho que não vai melhorar em nada.

O professor deve preparar a aula sempre, mas só o facto de estar a ser observado, vai inibir o professor. Mesmo que a aula seja preparada da mesma maneira que outras, não vai correr

da mesma maneira que uma aula normal. (E9)

Na segunda-feira, estive a trabalhar com um aluno, uma actividade de leitura, e consegui alguns resultados. Porém, hoje, já não foi possível consegui-los. No caso de educação especial, o trabalho tem que ser visto num contínuo e dentro de um determinado contexto. Por exemplo, a presença de outra pessoa, na sala de aula, pode alterar o comportamento do

aluno. E por experiência própria posso afirmar que isso acontece. (E10)

A posição demonstrada pelos entrevistados quanto à observação de aulas é, genericamente, no sentido de que o trabalho do professor não pode ser correctamente avaliado a partir da observação de duas ou três aulas, considerando alguns este item de avaliação como pouco importante: não acho que seja muito importante para o processo de avaliação. (E3); penso que não é fundamental (E4); não me parece que se

consiga retirar muita informação (E8); não reconheço aspectos positivos. (E9). A isso, acresce o facto de quase todos os entrevistados considerarem que a marcação das aulas a assistir pode ser um factor de perturbação nos resultados da avaliação porque nessas aulas os professores terão a possibilidade de “ fazer flores” (E5), “ser muito bom naqueles 3 dias” (E2), “pode preparar muito bem 3 aulas” (E6), “pode preparar e até fazer floreados” (E8) e nas restantes aulas ter uma actuação diferente.

Encontramos, no entanto, entrevistados que consideram que a observação de aulas deve ser claramente considerada:o desempenho do professor é feito essencialmente na sala de aula com os alunos. É aqui na sala de aula que o professor faz o seu trabalho (E1); eu penso que se deve fazer a observação na aula (E7); outro

entrevistado considera importante, mas não só naqueles momentos: é importante mas de uma forma diferente, não só naqueles momentos (E5).

Achamos necessário focar aqui as observações feitas por dois entrevistados quanto a este assunto que são, na nossa perspectiva demonstrativas da ausência de uma cultura de avaliação, se não no ensino, pelo menos numa parte dos seus agentes: “mas um professor que é bom professor não precisa de ser avaliado por um colega numa aula” (E3) e “não sei em que é que o avaliador se possa basear para dizer que a aula foi bem dada ou não” (E4). A acompanhar estas posições podemos encontrar também algumas expressões demonstrativas da forma como os professores poderão sentir- se durante uma aula observada: “um bocado retraídos”; “sermos injustiçados” “algum incómodo”; “vai inibir”.

Consideramos importante o realce dado por alguns entrevistados à situação particular da EE que, pela especificidade dos alunos poderá ocasionar situações de aulas absolutamente diversas do inicialmente programado: mas, no caso específico de educação especial, há ainda a considerar a especificidade dos alunos. Por exemplo, no caso de se tratar de uma criança com problemas de carácter emocional ou de comportamento, e que se naquele dia não colaborar, basta a própria presença de outra pessoa, pode não se conseguir fazer o trabalho que estava programado e não se conseguir mostrar naqueles 45 minutos que se é muito bom (E5); nós sabemos que o trabalho com estas crianças, mesmo que a aula seja bem preparada, às vezes resulta, outras vezes não resulta. Não depende de nós, ou do nosso trabalho. Por vezes basta estar outra pessoa, que o comportamento modifica totalmente (E7); no caso de educação especial, o trabalho tem que ser visto num contínuo e dentro de um determinado contexto. Por exemplo, a presença de outra pessoa, na sala de aula, pode alterar o comportamento do aluno. E por experiência própria posso afirmar que isso acontece (E10).

Na tabela 20, evidenciamos a opinião dos entrevistados relativa à auto-avaliação:

Tabela 20 – Posição dos professores sobre os vários instrumentos de avaliação: Quanto à

auto-avaliação

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E. Posições sobre os vários instrumentos de avaliação